Capítulo 87: Espadas Numeradas de Vulcanus (1/7)
— Sr. Khajal — disse Airen.
— S-sim, senhor?
— De onde você conseguiu este colar? — Airen perguntou, olhando fixamente para Khajal.
Ele parecia frio. Embora não fosse tão ameaçador quanto demônios ou criaturas demoníacas, aquele colar contaminado também tinha uma quantidade significativa de energia demoníaca, incentivando o homem que haviam testemunhado antes a vir à tona.
Khajal, que nada sabia sobre isso, ficou aterrorizado com a possibilidade de Airen matá-lo.
“Preciso contar a verdade ou ele vai me matar!”
— Eu, eu, er… Eu consegui de… Hein?
Mas ele não conseguia se lembrar. Era estranho. Ele sabia que o colar estava com ele, mas não lembrava quando o adquiriu. Além disso, não conseguia compreender tudo o que tinha feito até agora, especialmente o que acabara de fazer.
“O que diabos eu estava fazendo?!”
Tomar metade dos pertences dos mercadores poderia beneficiá-los agora, mas terminaria mal para ele. Ou levaria os mercadores a falência, ou traria grupos de caça atrás dos bandidos, o que era pior do que a situação atual. Ele sabia muito bem disso e, até agora, nunca havia ultrapassado a linha.
— Perguntei de onde você conseguiu este colar — Airen repetiu.
— Ah! E-eu, er…
— Não se lembra?
— Desculpe…! Eu não consigo lembrar. Estou dizendo a verdade! Não tenho nenhuma memória disso! É como se eu estivesse alucinando ou algo assim… Na verdade, o que aconteceu agora… Senhores! Eu…
Khajal virou-se rapidamente para os mercadores para pedir desculpas, mas as coisas não pareciam estar a seu favor. Todos estavam com as espadas desembainhadas, prontos para atacar, caso Airen permitisse.
Khajal se encolheu e parou de falar, esperando pelo julgamento do jovem. Felizmente, Airen buscava a paz.
— Sr. Khajal — disse Airen.
— S-sim, senhor.
— Acredito que você estava sob influência.
— Obrigado. Muito obrigado!
— Você deve saber que os nobres desta área deixaram você em paz porque você nunca ultrapassou o limite. Espero que não cometa mais erros como o de hoje.
— Claro, senhor!
Khajal rapidamente se curvou. Ele não foi o único. Todos os bandidos atrás dele também se curvaram. Alguns até se ajoelharam no chão. Nenhum deles conseguia entender o que haviam feito. Felizmente, Airen tinha o poder para deter sua fúria e não gostava de tirar vidas, o que, no fim, salvou as deles.
Airen voltou-se para os mercadores.
— Tudo resolvido aqui. Vamos embora.
Assim, a tensão que estava prestes a explodir em combate foi rapidamente dissipada, graças a Airen Farreira, da 27ª Classe da Academia de Esgrima Krono, também conhecida como a Geração Dourada.
— Obrigado, muito obrigado!
— Você salvou nossas vidas! Certamente, a 27ª Classe de Krono é o futuro do nosso continente…! É uma honra testemunhar o início disso!
— Glória a Krono!
— Viva! Viva!
— Er… Obrigado, pessoal — respondeu Airen, um tanto constrangido.
Depois que tudo foi resolvido com segurança na Fortaleza Alhaad e as pessoas recuperaram a calma, todos passaram a tratar Airen como um grande herói.
— Eu sinto muito, cometi um grande erro! Peço desculpas por incomodá-lo com meu mal-entendido! Pode tirar minha vida, se desejar!
Trent e outros mercenários que o ignoraram vieram se desculpar. Os mercadores até o consideraram como um rei e o trataram como tal.
— Não, por favor, relaxem. Está tudo bem, de verdade… Eu estou bem.
Naturalmente, Airen achava tudo isso desconfortável. Ele apenas fez o que achava que deveria fazer. E nem tinha certeza se aquilo era a melhor opção.
Talvez o que fiz tenha alguns problemas. Talvez eu pudesse ter encontrado uma solução melhor.
Airen refletiu profundamente sobre o assunto, e Lulu respondeu com seriedade.
— Foi bom sairmos de lá com segurança… Mas não sei se foi uma boa ideia deixar os bandidos vivos — disse Airen.
— Claro que não foi! Não deveria ter feito isso! Esses malvadões! Como ousam tentar nos machucar? Deveríamos ter arrancado os pescoços de todos! — gritou Lulu.
— Er… Acho que isso é um pouco demais. Mas talvez eu devesse ter pensado em alguma medida de segurança. Eles podem machucar outros mercadores que passarem por lá depois… Ou talvez não, porque eu peguei o colar.
— Então as pernas! Deveríamos ter quebrado todas as pernas deles!
— Seja o que for, deveríamos ter feito algo! Ou jogado todos na prisão!
— Mas aí teríamos que lutar, e alguém poderia ter se machucado. Pensando bem, acho que foi certo termos apenas saído. Os bandidos têm conexões com mercadores e nobres por aqui. Não vou resolver todos esses problemas, então acho que eles devem lidar com isso sozinhos… Pelo menos por enquanto.
“Talvez a notícia do incidente já tivesse chegado aos nobres, e eles começassem a lidar com isso.” Airen continuou pensando na questão enquanto falava, tentando encontrar uma solução melhor.
Khubaru o observava com um olhar significativo.
“Ele não para de pensar no que fez.”
A princípio, achava que Airen era jovem e ingênuo. Um nobre que vivia numa bolha, sem experiência nem conhecimento. Pensou que seria divertido ensinar diversas perspectivas da vida a um homem assim, por isso juntou-se ao grupo. Mas toda vez que observava Airen pensando tão profundamente, acreditava que era ele quem poderia aprender com o jovem.
“Ele não evita enfrentar problemas que podem não ter resposta e continua pensando para encontrar seu próprio caminho.”
Isso não era algo que a maioria das pessoas faria. A questão de se o incidente na Fortaleza Alhaad foi certo ou errado era um debate incômodo e sem resposta definitiva. Assim, a maioria apenas desistiria e seguiria o que era costume.
Mas poucas pessoas no mundo escolheriam enfrentar tantos problemas desse tipo sem fugir, tentando arduamente encontrar sua própria resposta, mesmo que não fosse a correta. Essas pessoas eram aquelas que tinham vontade e empunhavam uma esgrima inquebrável.
“Tenho certeza de que Airen será uma delas.”
Khubaru sorriu, então disse a Airen o que pensava. Airen ficou constrangido. Isso combinava com ele, já que a modéstia era um de seus pontos positivos.
Naturalmente, Airen sentia-se envergonhado com os elogios de Khubaru.
Ele sempre evitava dificuldades até poucos anos atrás. Tapava os ouvidos contra as zombarias e forçava-se a dormir para esquecer as memórias da infância. Ele merecia ser chamado de Nobre Preguiçoso.
“Mas… talvez eu tenha amadurecido desde então.”
Ele também sentia orgulho. Como Khubaru dissera, ele não fugia mais das adversidades. Então disse ao orc:
— Obrigado, Khubaru. É constrangedor, mas é bom ouvir isso.
— Haha. Meus elogios não são nada comparados aos daqueles ali te admirando. Isso não é ainda mais constrangedor?
— Acho que devo começar o treinamento de espada novamente.
Airen disse isso enquanto ignorava os olhares cheios de paixão e admiração dos mercenários. Khubaru estreitou os olhos com as palavras repentinas.
— Por quê? Você já não é forte o suficiente? Olhe o que fez hoje — disse Khubaru.
— Eu sei. E você poderia ter ficado na academia se quisesse fazer isso — disse Lulu, pulando na cabeça de Khubaru.
— Argh! Suas garras! — gritou Khubaru, franzindo o rosto.
Airen riu. Os dois sempre o faziam feliz. Então, com um sorriso, começou a explicar seus pensamentos.
— Percebi que teria mais opções se eu fosse mais forte.
— Hoje aprendi que, se eu não fosse forte o suficiente para assustar Khajal… então não teria escolha a não ser lutar. Muitos teriam morrido.
— Hmm. Isso é verdade — Khubaru assentiu.
Airen estava certo no que dizia. Mesmo que tivesse chegado a uma excelente solução, precisava de força para torná-la realidade. Ele tinha razão nisso.
— Você disse que a Cidade Derinku também é popular entre espadachins? — perguntou Airen.
— Certo. Até ouvi dizer que as pessoas duelam lá para receber uma espada de artesões famosos. Tenho certeza de que você vai aprender algumas coisas por lá — respondeu Khubaru.
— Estou ansioso por isso.
Airen assentiu lentamente, enquanto Khubaru parava de repente. Ele sentiu uma mudança dentro de Airen, mesmo que tenha durado tão pouco que não conseguiu compreender completamente o que era.
“Acho que o fogo dentro do coração dele ficou mais forte por um momento…”
— Khubaru? O que foi? — perguntou Airen.
— Er… Não é nada.
Ele balançou a cabeça e voltou a caminhar. Airen parecia curioso, enquanto Lulu roncava levemente, dormindo sobre a cabeça do orc. Khubaru, por sua vez, caminhava adiante com um grande sorriso no rosto.
Fazia três dias desde que passaram em segurança pelas Montanhas Alhaad. Airen ainda viajava com a caravana mercante, já que a maioria dos mercadores estava indo para a cidade de Derinku. Além disso, após o ocorrido na montanha, todos os mercadores se esforçavam para garantir o conforto de Airen e de seu grupo, o que tornou a viagem tranquila. A única preocupação de Airen era o colar carregado com energia demoníaca que havia tirado de Khajal, mas ele não podia lidar com isso no momento. Para adiar o problema, Khubaru o selou em uma bolsa elemental, impedindo que causasse mais problemas.
— Me pergunto como ele conseguiu isso. Não é o tipo de coisa que simplesmente aparece do nada… — disse Airen.
— Não vamos encontrar uma resposta, por mais que pensemos nisso. Vamos parar em um templo depois e perguntar a eles. Minha bolsa elemental de fogo possui poder anti-demoníaco, então deve mantê-lo seguro por cerca de um mês — disse Khubaru.
E, depois de lidarem com a energia demoníaca, nada poderia impedi-los.
— Como está se sentindo, senhorita?
— Nngh. Sim, aí. Escove atrás do pescoço.
— Sim, senhora! Por favor, aproveite nossa escova mágica! Nós, da Companhia Mercante Reika, criamos isso para remover todos os pelos mortos!
— O quê? Isso não é um item mágico?
— Não, não é… mas é tão bom quanto, senhorita.
— Ah, entendi.
Lulu estava aninhada nos braços de um trabalhador, que a escovava com dedicação.
— Hmm. Este aroma… Parece bem envelhecido. No mínimo, uns dezessete anos, eu diria…
— Sim, senhor. É um Tallista de vinte e um anos. Este uísque possui um leve toque defumado, que alguns podem achar insuportável… Mas tenho certeza de que alguém como o senhor, Sr. Khubaru, saberá apreciar o charme dele…
— Claro! O sabor é maravilhoso. Mas tem certeza de que vai me oferecer um licor tão precioso…?
— Ah, não se preocupe! Eu consigo coisas ainda mais valiosas se for para alguém do grupo do Sr. Airen Farreira!
— É mesmo? Então você tem…
— Ah, mas por favor, aproveite este primeiro!
— Hein? Ah, certo. Ah… é delicioso.
Khubaru saboreava o uísque caro trazido por um mercador. Todos os tratavam como se fossem nobres.
Mas Airen, responsável por todo aquele tratamento, não pedia nada e tentava agir normalmente.
“Isso é demais para mim.”
Ainda assim, ele não rejeitava toda a hospitalidade. Recusar cada gesto seria complicado e faria com que aqueles que ele salvou se sentissem desconfortáveis. Além disso, gostava de ter um quarto melhor para ele e seu grupo.
Depois de desfazer suas malas em um grande quarto para cinco pessoas, ele desceu para o salão do primeiro andar. Lulu estava dormindo enquanto um trabalhador a escovava, e Khubaru bebia com um mercador e outro homem.
— Airen! Venha aqui! — chamou Khubaru ao vê-lo descendo as escadas.
— Não vou beber hoje. Só vim buscar algo para comer e levar para o quarto…
— Não estou dizendo para beber. Só achei que deveria ouvir isso. Este homem aqui traz notícias sobre Derinku.
— Sobre a cidade? — perguntou Airen, intrigado.
— Oh, você é o jovem herói que espantou os bandidos da Fortaleza Alhaad? E muito bonito, por sinal! — comentou o homem sentado ao lado de Khubaru.
— Obrigado, senhor… Então, o que há sobre Derinku? — perguntou Airen.
— Ah, sim. Você ouviu dizer que o ferreiro mais habilidoso de Derinku voltou recentemente de seu retiro? Ele está procurando um dono para sua nova espada — disse o homem.
— O ferreiro mais habilidoso, você disse? — perguntou Airen.
— Sim. É um anão chamado Vulcanus. E há uma história interessante envolvendo ele. Por favor, sente-se, se estiver interessado.
Airen aceitou a oferta do homem e se sentou. Ele conhecia o nome Vulcanus. Se até ele, com seu conhecimento limitado sobre o mundo, sabia quem era, o anão devia ser um ferreiro famoso. Mas qual era o problema relacionado a ele, que deixava aquele homem tão ansioso para compartilhar? O homem respondeu à pergunta de Airen imediatamente.
— Vulcanus numera algumas de suas espadas, aquelas que considera muito bem feitas. Elas são chamadas de Espadas Numeradas, e nove estão espalhadas pelo continente agora. Ele só dá uma Espada Numerada a dois tipos de pessoas.
— Que tipos de pessoas?
— O primeiro é um mestre espadachim. O segundo… é alguém que vai se tornar um mestre espadachim.
— O quê?
— O que quero dizer é que todos os que receberam uma Espada Numerada acabaram se tornando mestres espadachins.