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    Aqueles que tinham a profissão de criar coisas, como escritores, artistas e escultores, eram muito orgulhosos. Esse orgulho crescia à medida que aprimoravam suas habilidades e aplicavam diretamente seus sentimentos em suas criações. Por isso, alguns consideravam sua obra-prima mais valiosa do que seus próprios filhos. O anão Vulcanus era o exemplo máximo desses criadores.

    — Ele é extremamente seletivo sobre quem recebe as preciosas obras-primas que ele criou com todo o coração.

    Vulcanus vendia suas obras-primas, as Espadas Numeradas, apenas para mestres espadachins. Ele não entregaria seus ‘filhos’ a qualquer um. Seu orgulho só permitia que ele passasse sua espada a pelo menos um mestre espadachim. Alguns poderiam considerar isso arrogância, mas ninguém o insultava por isso. Afinal, ele era o melhor ferreiro de sua geração e merecia tal orgulho.

    — É por isso que todos ficaram chocados quando ele entregou uma espada numerada a alguém que não era um mestre espadachim anos atrás.

    Isso aconteceu há dez anos. Vulcanus anunciou que havia criado a 7ª, 8ª e 9ª Espadas Numeradas, o que chocou o mundo. Foi a primeira vez que ele lançou três Espadas Numeradas de uma só vez. Mas o que surpreendeu ainda mais foi que nenhuma das três espadas foi parar nas mãos de mestres espadachins.

    As pessoas não gostaram da notícia. Pensaram que Vulcanus havia se amolecido, vendido seu orgulho por dinheiro ou que não era mais o melhor ferreiro. Alguns, que nem chegaram a ver nenhuma das três espadas, até insultaram o anão e suas obras-primas.

    Vulcanus sempre manteve-se orgulhoso diante de qualquer espadachim, e as pessoas admiravam sua teimosia tanto quanto suas habilidades. Por isso, sua escolha gerou tanta reação negativa.

    Mas, cinco anos depois, aqueles que insultaram as escolhas de Vulcanus tiveram que se arrepender e retirar o que disseram. Todos os três, que receberam a 7ª, 8ª e 9ª Espadas Numeradas acabaram se tornando mestres espadachins.

    — Isso é fascinante — disse Airen.

    — Não é? É incrível. Como um ferreiro consegue saber qual espadachim vai se tornar um mestre? Quero dizer, todos os três já eram famosos, mas ser um mestre espadachim exige muito mais do que fama! — falou o homem com entusiasmo.

    Airen assentiu. De fato, era uma história fascinante, mesmo para alguém que não tinha tanto interesse em espadas. Não era estranho, portanto, que a maioria dos espadachins na estalagem tivesse se reunido para ouvir o relato do homem.

    — Então, sobre a 10ª Espada Numerada de Vulcanus… Como ele vai escolher o dono? — perguntou Wolfgang, um mercenário veterano.

    Toda a atenção se voltou para o homem. Sim, essa era a pergunta mais importante. A espada em si era muito tentadora, mas o que mais os atraía era a história por trás das Espadas Numeradas.

    Era como se Vulcanus estivesse dizendo: ‘O próximo mestre espadachim é você!’, com sua escolha do dono, o que fazia todo espadachim desejar ser o escolhido. Alguns até engoliram em seco, esperando pela resposta do homem. Felizmente, ele respondeu rapidamente.

    — Pelo que ouvi, acho que haverá uma competição.

    — Uma competição? — perguntou Wolfgang.

    — Sim, embora ele mesmo não tenha dito… Um de seus aprendizes mencionou isso, então estou certo. Na próxima semana, haverá uma competição de espada para todos que quiserem a 10ª Espada Numerada.

    — Como participamos? Quais são as regras?

    — N-não tenho certeza. Acho que ainda não há detalhes sobre isso. Talvez anunciem no dia. — O homem parecia ligeiramente intimidado por Wolfgang, e os mercenários, ansiosos, murmuravam.

    Claro, era compreensível que todos estivessem tão animados, já que seria a chance de conseguir a melhor espada do continente. Todos os espadachins da estalagem se imaginavam empunhando a Espada Numerada de Vulcanus. Alguns sorriam, enquanto outros tremiam de empolgação. Até Wolfgang parecia entusiasmado. No entanto…

    — Isso parece divertido. Será uma boa experiência — disse Airen. — Acho que devo participar.

    A empolgação rapidamente se dissipou quando Airen, que ouvia em silêncio, decidiu falar.

    — Pensando bem, não tenho chance se você participar — disse Wolfgang.

    — Ah…

    Os mercenários pareciam ter saído de um sonho com as palavras de Wolfgang. Mas isso era inevitável. O jovem fazia parte da Geração Dourada da Academia de Esgrima Krono e havia demonstrado uma força incrível. Eles testemunharam isso com seus próprios olhos, e ninguém conseguia sequer imaginar uma vitória contra ele.

    — É, temos o Sr. Airen aqui…

    — Não teríamos chance mesmo se ele não participasse… Vai haver tantos espadachins lá.

    — Isso também é verdade. Ouvi dizer que a cidade está cheia de cavaleiros dos Cinco Reinos do Oeste e até alguns mercenários de nível ouro.

    — Mas acho que nenhum deles venceria o Sr. Airen na competição…

    — Talvez o Sr. Airen seja o dono da 10ª Espada Numerada!

    — Sim, isso é possível!

    — Com certeza!

    O clima na estalagem mudou completamente. O novo assunto era emocionante, mesmo que eles já não acreditassem que seriam os donos da espada. A competição e o encontro de espadachins poderosos eram um tópico interessante por si só. Além disso, conhecer o possível vencedor os deixava orgulhosos.

    Enquanto mercenários e mercadores conversavam animadamente, Airen começou a se sentir desconfortável.

    — Acho que devo voltar para o meu quarto… — disse Airen.

    — Por quê? Olhe para todas essas pessoas torcendo por você.

    — Isso é desconfortável, de verdade. Há tantas pessoas no mundo mais fortes do que eu…

    Airen falou com o rosto corado. Ele realmente acreditava nisso. Sabia que era mais habilidoso do que a maioria, mas também sabia que havia incontáveis pessoas mais fortes. Aqueles da Academia de Krono estavam entre esses, e ele achava que poderia encontrar pessoas assim em Derinku.

    Foi então que uma voz alta veio do canto da estalagem.

    — Quem diabos é Airen Farreira, sobre quem estão fazendo tanto barulho?! Ele é algum mestre espadachim? — gritou o homem. — Se não for, calem a boca! Vocês nem sabem quem está em Derinku agora.

    — Ei, cara! Estamos só conversando entre nós. Não ligue para isso, tá?

    — Bah! Como posso ignorar quando estão falando sobre algum ninguém vencendo a competição?

    — Certo, então quem você acha que vai ganhar? Algum mestre está vindo?

    — Não. Pelo que sei, nenhum mestre espadachim vai aparecer. Não seria estranho se um aparecesse, mas não acho que o rumor tenha se espalhado tanto.

    — Pare de enrolar e diga logo quem você acha que vai ganhar! — gritou um dos mercenários bêbados, levantando-se. Era o que estava sentado ao lado de Trent, que mais elogiava Airen.

    O homem no canto também se levantou, aparentemente sem intenção de recuar. Então, ele mencionou dois nomes.

    — Charlot. E Victor.

    — O quê? Os Gêmeos Mais Fortes?

    — Uau, Charlot e Victor? Não esperava ouvir esses nomes — murmurou Khubaru, surpreso.

    — Você os conhece? — perguntou Airen, e Khubaru assentiu.

    — São bem famosos. Gêmeos espadachins e mercenários veteranos, muito fortes. Ouvi dizer que conseguem lutar de igual para igual contra um mestre espadachim, se lutarem juntos.

    — Sério?

    Airen ficou surpreso. Ele já havia enfrentado Ian e conhecido Keira Finn, então sabia o quão poderosos mestres espadachins eram.

    “Eu não tive chance contra o diretor… E não acho que teria chance contra a vice-diretora, mesmo se tivesse um clone meu.”

    Ele achava impossível. Mas, ao ouvir a explicação de Khubaru, mudou de ideia.

    — Mas é tudo exagero. Não entendo muito de espada, mas mestre é mestre.

    — Entendi.

    — Mas eles certamente devem ser fortes para criarem esses rumores. E suas boas ações os tornaram respeitados entre os mercenários.

    Khubaru começou a contar algumas histórias sobre os gêmeos. Eles caçavam covis de demônios por salários baixos em propriedades pobres no interior e ajudavam companhias mercantes contra grandes monstros… Todas essas ações eram admiráveis. Também era possível deduzir suas habilidades por essas histórias, já que caçar demônios sozinho era uma tarefa impossível para qualquer mercenário comum.

    — Você também é incrível, claro. Salvou toda a união mercante de bandidos sob a influência de energia demoníaca — disse Khubaru.

    — Não precisa me bajular.

    — Não, não. Estou apenas afirmando os fatos. Sua modéstia é a única coisa ruim em você. Sua irmã não lhe disse para ser mais orgulhoso? Acho que ela deu um bom conselho.

    — Hmm…

    — Falando nisso, por que não mostra suas habilidades para eles ali?

    — Hã?

    — Você sabe, assim eles não começam uma briga com nossos mercenários.

    Khubaru apontou para um canto da estalagem. Lá estavam, começando pelo homem que os provocou inicialmente, cerca de dez pessoas discutindo calorosamente. Eles argumentavam de forma infantil sobre quem era mais forte: Charlot e Victor ou Airen Farreira.

    — Mostre suas habilidades antes que comecem uma briga. Tenho certeza de que isso ajudaria aqueles que nos provocaram a entender e a irem embora — disse Khubaru, cutucando um Airen relutante. — Não está com vontade?

    — Não… Eu farei.

    Airen não queria, mas concordava que aquilo poderia ajudar a aliviar a situação.

    “Talvez Kiril esteja certa às vezes.”

    Ele precisava saber como mostrar sua força para evitar uma briga. Pensando nas palavras de sua irmã, Airen levantou-se, convocou sua espada e bateu na lâmina com o punho.

    Todos os olhares se voltaram para ele. O homem que começou a provocá-los, um mercenário, segurou a gola da camisa, enquanto os outros, prontos para começar uma briga, também olharam. Airen falou com eles de forma um tanto desajeitada.

    — Er, bem… Por que não relaxam e saem para ver minha habilidade com a espada?


    — Hmph! Vamos ver. Eu posso não ser um bom espadachim, mas sei reconhecer um quando vejo!

    — Você nem precisa saber disso. Vai perceber o quão incrível o Sr. Airen é, a menos que seja cego!

    Airen suspirou enquanto observava as pessoas continuarem discutindo entre si. Ele então lembrou-se do que o diretor lhe dissera no dia anterior à sua saída da academia. Ian o alertou que ele chamaria a atenção das pessoas e que deveria se acostumar com isso.

    “É, agora que cheguei até aqui, vamos fazer valer a pena.”

    Airen assentiu. Não planejava devastar o chão como fez no forte, já que isso causaria um grande problema. Em vez disso, decidiu mostrar a técnica de espada de Illia. Era a mais elegante que conhecia, enquanto as de Judith ou Brett eram difíceis de usar sem um oponente.

    Depois de se decidir, convocou novamente sua espada. As pessoas que chegaram atrasadas ao espetáculo deixaram escapar exclamações surpresas. Algumas até bateram palmas.

    Clap, clap.

    — Isso é magia?

    — Mas ele não é espadachim?

    Clap, clap.

    — É? Então o que é isso?

    — Quem sabe? Vamos apenas assistir.

    Clap, clap.

    — Quem ainda está batendo palmas?

    — Eu sei que é fascinante, mas pode parar de…

    Clap, clap.

    As pessoas ficaram chocadas ao perceberem que as palmas não paravam, e Airen também. Alguns franziram a testa, mas não disseram nada, já que quem estava batendo palmas era uma criança.

    — Uau, isso é incrível! — disse a menina. — É tão legal! Muito legal!

    Uma jovem de vestido preto continuava gritando de admiração. Era estranho ver uma garota, que aparentava ter no máximo dez anos, parada entre mercenários gigantes sem demonstrar medo. Ela tinha uma maquiagem pesada nos olhos que não combinava com sua idade, e sua pele pálida dava a ela um ar peculiar.

    Depois de parar de aplaudir, ela foi saltitando até Airen. Nesse momento, Lulu correu rapidamente até ele e sussurrou.

    — Ela é uma feiticeira.

    — Pois é — Airen assentiu. Ele era um feiticeiro, então podia identificar quem a garota era. Foi então que a menina chegou perto dele e perguntou.

    — Isso. Pode dar isso para a Anya?

    — Está falando da espada?

    — Sim. Quero dar para a capitã como presente.

    Ela parecia mesmo uma criança ao dizer algo tão absurdo. Claro, Airen não entregaria a espada. Ele não queria, e sua espada, criada com feitiçaria, não era algo que outras pessoas pudessem empunhar. Nem Khubaru, com sua força de orc, nem Lulu, como feiticeira, conseguiam segurá-la. Airen tinha certeza de que ninguém poderia.

    — Desculpe, não posso dar isso a você — Airen recusou.

    — Por quê?

    — É minha espada preciosa. Além disso, ninguém mais pode empunhá-la.

    — Mas Anya pode.

    — Hã?

    — Anya pode. Ah! Eu sou Anya, a propósito. Então, me dê, tá?

    — Se me der a espada, Anya também lhe dará algo.

    — Espere, calma aí…

    Mas a menina, Anya, estendeu a mão para o ar. Os observadores ficaram chocados novamente com aquela visão extraordinária. Logo, um objeto fascinante surgiu do subespaço.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

    Nota