Capítulo 89: Espadas Numeradas de Vulcanus (3/7)
— É brilhante…
— O que é isso?
— É-é ouro!
— O-ouro! Um porco dourado!
Os observadores exclamaram as palavras mais inesperadas. Um porco? E dourado? Mas estavam dizendo a verdade. Um porco gigante, grande o suficiente para que a pequena Anya pudesse montar nele, estava diante de Airen, brilhando com sua majestosa aparência dourada.
“Está vivo?”
Airen, tão surpreso quanto os outros, observou o porco. Olhando mais de perto, percebeu que o porco não estava vivo. Não se movia e parecia redondo e adorável demais para ser real. Parecia um brinquedo de criança.
Para que serve isso?
Ele observava, confuso, quando a garota de vestido preto se agarrou a ele, pulando em direção ao seu braço.
— A espada! A espada! Deixe-me tocá-la! — disse Anya.
— Deixe-me tocá-la! Anya vai balançá-la!
— Vou colocá-la aqui. Mas para que serve esse porco? — perguntou Airen enquanto deixava a espada ao seu lado.
Anya não respondeu; em vez disso, começou a balançar a grande espada de Airen com um olhar inocente. Seus golpes eram bastante ameaçadores, apesar de seu tamanho pequeno e aparência frágil. O mais surpreendente era que ela conseguia ‘empunhá-la’.
Nem Lulu consegue empunhá-la…
O porco também era impressionante. Anya não explicou nada, pois estava encantada com a espada, mas o porco parecia conter um poder formidável em seu interior. O poder era tão forte que até Airen, com suas habilidades limitadas em feitiçaria, podia senti-lo.
— O que é isso? Como você fez isso?! — perguntou um dos observadores.
— Hein, isso? Anya fez economizando dinheiro por um ano inteiro!
— Posso tocar?
— Pode tocar, mas não pode ficar com ele. Eu vou trocar pela espada dele.
“Eu… não disse que ia trocar ainda”, pensou Airen.
Enquanto isso, Lulu estava completamente mesmerizada. Parecia semelhante à primeira vez que Khubaru lhe mostrou o pó da fruta Taihoi. A gata caminhou em direção ao porco de forma desajeitada, abraçou-o, lambeu-o e esfregou-se nele. Depois de fazer isso por um bom tempo, voltou para Airen.
— Airen! Podemos trocar a espada por isso? — perguntou Lulu.
— Podemos? — repetiu Anya.
— Espere, eu perguntei primeiro para que serve esse por… — disse Airen.
— Podemos trocar? — Lulu insistiu novamente.
— Podemos? — Anya repetiu outra vez.
Anya, quase ganhando o apoio de Lulu, continuava repetindo depois dela. Ambas pareciam adoráveis dessa forma, mas também irritantes.
“Ela não responde minha pergunta, mas responde Lulu.”
— Não, não vou trocar. E Lulu, volte ao normal — recusou Airen com firmeza, segurando Lulu no ar.
— Ack?! Não sei o que deu em mim! Desculpa. — Lulu, após sair de seu estado de fascínio, pediu desculpas. Mas seus olhos ainda estavam fixos no porco dourado.
Airen balançou a cabeça e recuperou sua espada.
— Ah!
Anya ficou decepcionada, como se tivesse perdido um doce precioso. Mas Airen não tinha escolha, então recusou novamente.
— Desculpe. Mas realmente não posso trocar.
— Sério? — perguntou Anya.
— Sério.
— E se eu fizer o porco crescer mais?
— Não…
— Espere! Decida depois de vê-lo! Vou fazê-lo crescer até chegarmos a Derinku. Vai parecer muito mais legal! Talvez você mude de ideia!
Anya falou apressadamente o que queria e saiu correndo. Ela parou na frente do mercador mais experiente.
— Senhor — disse Anya.
— H-hã?
— Você está indo para Derinku? Eu também estou indo.
— S-sim?
— Certo. Então me deixe ir com você — declarou ao mercador. — Anya pode fazer muitas coisas. Vou fazer várias coisas. Não cobro muito. Serei útil a um preço razoável, cliente.
Anya falou educadamente e fez uma reverência ao final, enquanto o mercador parecia frustrado. Quem era aquela criança? E onde estavam seus pais? Além disso, ela era realmente uma criança? Ele ficou confuso enquanto observava a misteriosa feiticeira.
— Haha… Garota interessante, não é? — disse Khubaru.
— Sim. Eu gosto dela — respondeu Lulu.
Airen estava com uma expressão de desagrado.
Dois dias se passaram desde então. Agora, eles estavam quase no destino. Deveriam chegar à cidade artesanal de Derinku em cerca de dois dias.
— Que bom que não tivemos muitos problemas no caminho.
— Do que está falando? Esqueceu a fortaleza?
— Ah, sim. Aquilo foi um problema. Ainda me dá arrepios quando penso nisso… Ugh.
Como os trabalhadores disseram, nada aconteceu nos últimos dois dias, exceto alguns ataques de monstros facilmente resolvidos pelos mercenários. Mas ouviram muitas notícias durante o caminho.
A maioria era sobre os poderosos guerreiros reunidos para participar da competição. Os rumores diziam que mercenários de nível ouro estavam a caminho, um cavaleiro errante com habilidades impressionantes de espada dupla havia chegado à cidade, ou que um especialista em espadas rápidas, famoso no Oeste, estava indo competir.
As notícias sobre a competição geraram conversas animadas entre os mercenários. Até aqueles que não planejavam ficar em Derinku mudaram de ideia para assistir.
“Parece que alguns espadachins poderosos estão vindo.”
Claro, Airen não deu muita atenção aos rumores. Charlot e Victor eram bons espadachins, mas o boato dizia que muitos outros espadachins experientes estavam a caminho. Em vez disso, a feiticeira de dez anos, Anya, chamou sua atenção.
— Ufa. Ensopado para cinquenta pessoas pronto! — gritou Anya depois de trabalhar em um enorme caldeirão.
— O quê! Isso está delicioso!
— Como fez isso?
— Haha! Eu disse que Anya pode fazer muitas coisas! Sou boa na cozinha! — disse Anya, mostrando incríveis habilidades culinárias.
— Aqui, terminei de limpar suas botas e armaduras! — disse Anya.
— Está tão limpo!
— Ela faz um trabalho melhor que um artesão…
— Posso fazer mais coisas! Só diga o que quer! Ah, mas tem que pagar! — disse Anya.
— Claro! Você é fofa, trabalha bem e é brilhante. Acho que devo pagar mais…
— Não! Só aceito o preço justo pelo meu trabalho. Não quero ser paga a mais.
Ela também tinha excelentes habilidades em trabalhos manuais e fazia muito bem outras tarefas simples. Quando recebia o pagamento, colocava todo o dinheiro no porco dourado. O porco era, na verdade, um cofrinho, mas algo surpreendente acontecia quando ela o alimentava com dinheiro.
“O porco fica mais poderoso a cada moeda que ela coloca!”
Não era apenas uma questão de tamanho. Airen sentia que a energia dentro do cofrinho crescia a cada vez que Anya colocava dinheiro nele. O poder era tão impressionante que parecia haver outro feiticeiro lá dentro.
“Ela é mais forte do que pensei. Talvez…”
Talvez tão forte quanto Skeena Kitten, a professora de Kiril. Mas ele não tinha certeza, e tal comparação era inútil, já que feiticeiros desafiavam explicações lógicas, tornando difícil medir seu poder. O fato de Anya conseguir empunhar sua espada demonstrava até mesmo para Airen que ela era uma feiticeira poderosa.
“Mas ainda não sei o que ela pode fazer com aquele cofrinho…”
Anya não explicava bem, e Lulu também não conseguia entender.
— Ela é uma feiticeira incrível — disse Khubaru.
— Você também acha isso? Khubaru?
Khubaru se aproximou de Airen, rindo enquanto observava o jovem concordar.
— Claro. Feiticeiros são muito instáveis, então só de vê-la coletando e preservando seu poder naquele cofrinho já me faz pensar que ela é incrível — disse o orc.
— Também acho.
— Por isso estou curioso.
— Sobre o quê?
— Sobre a pessoa que ela chama de ‘capitã’. Quem é essa pessoa que consegue ter uma feiticeira assim ao seu lado?
— Hmm.
Airen ficou sério. Khubaru tinha razão. A maioria dos feiticeiros era muito independente, tinha personalidades erráticas e era mais orgulhosa do que até mesmo os anões mercenários. Era um fato, não um estereótipo. Lulu era considerado muito sociável para os padrões dos feiticeiros.
Então, uma feiticeira tão habilidosa servindo a uma capitã despertava sua curiosidade.
— Acho que você está certo. Estou curioso também — disse Airen.
— Certo? A princípio, pensei que ela estivesse apenas usando isso como um apelido ou algo assim… Estou realmente curioso se a ‘capitã’ é uma feiticeira ou uma espadachim. Bem, acho que vamos descobrir quando chegarmos a Derinku. Ouvi dizer que a capitã dela está esperando por ela lá.
— Certo. Acho que pode ser uma espadachim.
Airen ficou surpreso. Inicialmente, ele naturalmente pensou que a capitã de Anya fosse uma feiticeira, mas não parecia estranho pensar que a pessoa pudesse ser uma espadachim. Isso se devia ao que ela disse. A ousada jovem feiticeira mencionou que queria levar a espada para sua capitã como um presente. Com isso em mente, parecia mais estranho se a capitã dela não fosse uma espadachim. Não, ele desejava que fosse uma espadachim.
— Espero que a capitã dela seja uma espadachim, em vez de uma feiticeira — disse Airen.
— Hmm? Não deveria ser o contrário? Você teria menos chances de vencer a competição assim… — disse Khubaru, franzindo o cenho.
Ele não estava errado. Se alguém como Anya, uma feiticeira tão capaz, servia àquela pessoa, era certo que a capitã seria uma figura muito poderosa e provavelmente também desejava a Espada Numerada de Vulcanus.
Era compreensível se Airen não gostasse dessa ideia. Mas o que ele disse a seguir foi completamente diferente do que Khubaru pensava.
— Eu não vim a Derinku porque queria a espada, de qualquer forma — disse Airen. — Se eu puder encontrar espadachins incríveis e aprender com eles, acho que é ainda melhor.
Khubaru ficou em silêncio por um momento. Era estranho. Todo espadachim desejava a Espada Numerada, famosa por fazer de seu portador um mestre espadachim. A espada era desejada por todos, o suficiente para despertar ganância. Mas Airen não parecia ver a espada dessa forma.
— Sabia que você é um espadachim, mas às vezes eu penso que não age como um? — disse Khubaru.
— Na verdade… também ouvi isso na academia — respondeu Airen.
— Mas, pelo menos no meu padrão, você acabou de soar como um verdadeiro espadachim — disse o orc com um sorriso. — Sei que a espada é muito importante para um espadachim, mas o mais importante é treinar a técnica em um duelo contra um oponente habilidoso. Parece que você ficou mais motivado a melhorar depois do que aconteceu na fortaleza.
Khubaru se afastou após terminar de falar. Parecia que ele foi até os outros mercadores para conseguir mais bebidas.
Airen sorriu ao observá-lo. Em qualquer lugar onde estivesse, seja na academia, em casa ou longe de ambos, ele sempre encontrava professores para guiá-lo.
Dois dias se passaram. Durante esse tempo, Anya assumiu inúmeras tarefas por conta própria. Ela podia soar um pouco arrogante, mas trabalhava tão bem que todos os mercadores gostavam de tê-la viajando com eles.
Mas ela não apenas trabalhava. No dia da chegada esperada a Derinku, Anya fez um anúncio:
— Vou tirar o dia de folga hoje.
— Por quê?
— As pessoas precisam descansar. Quanto mais descanso, mais trabalho depois.
A garota anunciou isso de forma digna, e então pediu a Lulu para ler um livro com ela, o que ela aceitou prontamente. Apesar de estarem juntas há apenas quatro dias, haviam se tornado boas amigas. Uma menina fofa com uma adorável gata alegrava tantas pessoas que os observavam.
— ‘O rei subiu sem dono’? Lulu, olhe. Ficou estranho de repente.
— Sua tola! Você leu errado. E também errou as palavras.
— É mesmo? Como você lê isso, então?
— Isso é: ‘O rei sumiu de tonto’. Viu?
— Oh! Por que ele sumiu? Ele morreu? Não achei que esse livro fosse tão triste.
— Sim, é triste.
“Não é, não! Diz apenas: ‘O Rei sentou no trono!’”
Airen ficou perplexo. Pareciam ler frequentemente, mas não tinham boas habilidades de leitura. Claro, uma gata falando a língua humana já era incrível o suficiente, então Airen decidiu ser mais tolerante.
Uma manhã pacífica passou, e finalmente avistaram a cidade de Derinku no horizonte, logo após o almoço.
Alguém havia vindo buscar Anya. Era um homem de cabelos prateados, aparentando ter cerca de 30 anos, com uma espada presa ao cinto.
— Ei, mão de vaca.
— Hã? Por que você está sozinho?! Onde está a capitã?
— A capitã vai se atrasar.
— Então por que você veio? Não tenho utilidade para você.
— Vim para garantir que você não cause problemas. Aliás, por que veio com mercadores?
— Porque é menos entediante, e eu posso ganhar dinheiro! Os mercadores têm muitos trabalhos para mim. É bom.
— Ugh, sua mão de vaca.
— Eu não sou mão de vaca!
O homem discutindo infantilmente com Anya claramente não era o capitão dela. A forma como ela reagia provava isso. Mas Airen e seus amigos estavam sérios enquanto observavam o homem.
— Ele parece muito forte — sussurrou Khubaru.
— Eu também senti isso — disse Airen.
— Ele está, no mínimo, no nível de especialista… E não é um especialista qualquer — disse Khubaru.
Foi então que Lulu, observando silenciosamente o homem de cabelos prateados, falou:
— Ele é um mestre.