Capítulo 94: Encontro Inesperado (1/2)
Conforme mencionado antes, as obras-primas de Vulcanus, as chamadas Espadas Numeradas, valiam mais do que qualquer quantia de dinheiro poderia comprar. A espada em si tinha uma habilidade artesanal impecável, mas o fato de todos os seus donos serem mestres espadachins conferia a ela um valor incomparável.
Na verdade, inúmeros espadachins, nobres e homens ricos tentaram pagar quantias exorbitantes para colocar as mãos em uma. Os valores oferecidos superavam todas as expectativas, a ponto de até os mais ricos ficarem incrédulos.
Mas nem Vulcanus nem qualquer um dos nove mestres espadachins venderam suas espadas. Como resultado, as Espadas Numeradas de Vulcanus se tornaram um tesouro que dinheiro algum poderia comprar. Porém, isso não se aplicava a Airen Farreira.
— Eu, o melhor ferreiro do continente, tenho que vender uma espada de graça…?
Vulcanus soltou um suspiro após finalizar sua negociação com Khubaru. Ele não tinha escolha. Nunca havia dado uma espada de graça até aquele momento. Quando dizia que entregava uma espada, significava apenas que concedia à pessoa o ‘direito de comprá-la’, de modo que todos os nove mestres espadachins tiveram de pagar um preço exorbitante ou contrair empréstimos para pagá-lo.
Mas desta vez, as coisas mudaram. Aquele orc, lento e despretensioso, com suas habilidades de negociação tranquilas, acertou diretamente seu ponto fraco.
— Você diz que é uma colaboração entre o ferreiro e o espadachim, e que eles podem se ajudar a criar uma boa espada… Isso não beneficia só você?
— O quê?
— Vamos ser honestos. Você está apenas usando nosso Airen para te ajudar a sair da sua crise.
— Isso é…
— E o mesmo vale para vocês, Pablo e Dwanson.
Khubaru tinha razão. Os espadachins não eram os únicos que treinavam até atingir seus limites. Os ferreiros também queriam aprimorar suas habilidades e, ao se depararem com um obstáculo, tinham um desejo insano de superá-lo.
Os três ferreiros estavam nesse estado. Nos últimos dez anos, tentaram de tudo. Fizeram coisas que outros chamariam de loucura, voltaram aos fundamentos e continuaram tentando. Mas tudo falhou.
Não tiveram progresso algum e, eventualmente, chegaram à conclusão de que apenas uma nova inspiração os elevaria a um nível superior. Foi por isso que voltaram à cena pública e abriram uma competição.
“E então, ele apareceu como um milagre, aquele homem.”
Sim. Não havia outra palavra para descrever o encontro deles com o jovem loiro. Airen Farreira era como um minério bruto misterioso, com um potencial infinito que ainda precisava ser refinado para alcançar a durabilidade mais forte. Observá-lo trazia inspiração sem fim, então, de fato, era um milagre.
Os três ferreiros perceberam imediatamente, com toda a experiência que tinham trabalhando com metais, que, se perdessem esse homem, nunca teriam uma oportunidade de tal magnitude. Foi por isso que Vulcanus e os outros ferreiros concordaram com as quatro condições de Khubaru.
Swoosh!
— Hmph. Está bom — disse Lulu.
— E então? Fiz leve o suficiente para até você conseguir manejar. Tem um bom equilíbrio e ainda parece maravilhosa — perguntou Vulcanus.
— Boa! Isso está ótimo!
— Er… sim.
A primeira condição de Khubaru era dispensar o custo da Espada Numerada. A segunda era fornecer a espada de Lulu, a armadura de Airen e outros equipamentos gratuitamente.
O grupo de Airen, especialmente ele, tinha equipamentos inferiores em comparação com suas habilidades. Ele não gostava de usar armaduras pesadas, e Khubaru não aprovava a qualidade dos produtos artesanais que encontraram nas cidades por onde passaram.
É claro que as roupas de Vulcanus eram da mais alta qualidade. Ele tinha o talento de um deus e era o melhor em qualquer tipo de artesanato. Sua habilidade excelente em trabalhar com couro criou armaduras fáceis de movimentar, mas duráveis, e Airen recebeu um conjunto completo. Lulu também sorriu satisfeita enquanto balançava sua espada, que emitia um brilho azulado.
— E então? Sou ou não um bom guia? — perguntou Khubaru.
— Sim, isso mesmo. Eu até me esqueci de que você era nosso guia, Khubaru.
Airen sorriu enquanto experimentava o equipamento de couro. Pensando bem, Khubaru deveria ser seu funcionário, embora Airen não o visse dessa forma. Em certo sentido, Khubaru era o terceiro professor, depois do Diretor Ian e da Feiticeira Lulu.
E, mesmo sem dizer, Khubaru também devia considerá-lo mais do que um empregador. Sua terceira condição provava isso.
— Bom dia, senhor Airen Farreira. É uma honra conhecer um ex-aluno da Academia de Esgrima Krono. Sou Halifa, aprendiz do mestre Vulcanus.
— Oh, sim.
— Farei o meu melhor para explicar cada etapa da fabricação de espadas enquanto você estiver aqui. Sinta-se à vontade para perguntar qualquer coisa!
O jovem anão parecia muito disciplinado, mas era fácil de conversar. Ele tratava Airen com o máximo respeito. Parecia que Vulcanus e os outros ferreiros o haviam advertido muito bem.
Airen sorriu. Sim. Ele foi à Cidade dos Artesãos de Derinku antes de seguir para os Cinco Reinos do Oeste para observar o processo de forja e usar a imagem real como auxílio em seu treinamento mental. Ele estava tentando moldar a estaca de ferro profundamente cravada no centro de seu coração com esse treinamento.
Khubaru insistiu muito nisso. Airen percebeu que ele fez um grande esforço para convencer os ferreiros, que odiavam revelar seus segredos, a permitirem que Airen observasse.
“Estou acumulando mais pessoas a quem devo agradecer.”
Ele era grato por tudo. Não havia outras palavras. E Airen era ruim em descrever suas emoções com palavras pomposas. Tudo o que podia fazer era focar em seu treinamento mental para aproveitar ao máximo o esforço de Khubaru.
— Phew.
Após ouvir as etapas gerais da fabricação de espadas do aprendiz Halifa e fazer um tour pelo trabalho na oficina, Airen fechou os olhos.
Obter um minério de qualidade, refiná-lo em uma barra de metal, aquecê-lo para moldá-lo como necessário e depois polir. Havia outros detalhes, mas esses eram os passos gerais para fabricar uma espada.
Airen não precisava de todas essas etapas, pois a estaca de ferro em seu coração era mais pura do que qualquer coisa. Era durável e robusta, como se tivesse sido criada por pura vontade. Não precisava de refinamento, filtragem ou outros processos menores no momento.
Portanto, Airen precisava aquecer a estaca de ferro e martelá-la. De novo, de novo e de novo, até que pudesse moldá-la em uma espada.
Ele assentiu e pensou em algumas imagens. Primeiro, uma massa de ferro no centro de seu coração. Depois, a chama ardente que aqueceria e amoleceria o ferro. Só então ele poderia usar o martelo para moldá-lo como desejasse. Airen imediatamente usou o fogo em seu coração para aquecer o ferro.
“Não é fácil.”
Depois de dez minutos, o rosto de Airen demonstrava frustração. Era estranho. Ele estava apenas imaginando em sua mente, o que significava que o lugar onde estava tinha possibilidades infinitas para sua imaginação se tornar realidade.
Mas a massa de ferro era muito mais densa do que Airen imaginava, e o fogo que ele criou era ínfimo. Seus esforços para amolecer o ferro ou aumentar a chama foram inúteis. Por mais que tentasse, não conseguia o resultado desejado.
Ele não se moveu um centímetro, mas o suor escorria por todo seu corpo. Também não conseguia respirar direito. Uma pressão que uma pessoa comum não suportaria por mais de um minuto recaía sobre ele.
Mas, é claro, Airen não era um homem comum. Ele havia acumulado paciência suficiente para se autodenominar um homem esforçado, mesmo sem a ajuda do homem no sonho. Ele continuou aquecendo a estaca de ferro enquanto tentava fazer sua chama arder mais intensamente. Não tentou amolecer o ferro por enquanto, pois instintivamente percebeu que isso estava além de suas capacidades no momento. Persistiu nisso por três horas.
— Ufa…
Airen não conseguiu realizar nada e saiu da meditação com uma expressão cansada.
— Ugh… Isso é realmente difícil.
Isso não era exagero. Airen normalmente não se cansava devido a treinamentos físicos intensos, mas não conseguiu evitar o gemido de frustração. Principalmente porque não tinha obtido nenhum resultado. Era uma sensação de vazio profundo, como um poço sem fundo. Ainda assim, ele não estava disposto a desistir.
“Não achei que melhoraria em um ou dois dias.”
Levou um ano para ele se tornar um aprendiz formal da Academia de Esgrima Krono. E, no mundo da feitiçaria, demorou cinco anos para encontrar sua própria esgrima e proteger sua família.
Isso era só o começo. Airen saiu do quarto com um olhar determinado e seguiu para a oficina de Vulcanus. Lá, três ferreiros ansiosos o aguardavam, gritando irritados.
— Por que demorou tanto?
— É mesmo!
— Esqueça isso. Apenas invoque a espada! Depressa!
— Vamos lá! Está me matando! Apenas tire logo ela!
Vulcanus parecia prestes a morrer de ansiedade, e Airen rapidamente invocou sua espada larga, colocando-a sobre a mesa. Imediatamente, toda a atenção foi desviada para a espada. Os ferreiros começaram a discutir todas as possibilidades de trabalho sobre ela.
A quarta condição de Khubaru era que eles reparassem a velha espada de feitiçaria, com aparência desgastada e sem fio.
— Santo Deus. Que tipo de metal é esse? Eu sei que foi criado com feitiçaria, mas como pode ser tão denso…
— Não consigo nem arranhá-lo. Exceto pelas marcas já existentes, não há como alterar sua forma.
— É exatamente isso… se encontrarmos um jeito de trabalhar nela, talvez consigamos nos aproximar do deus dos ferreiros…
Mas os ferreiros ficaram satisfeitos com o pedido, quase não sendo um problema. Isso era compreensível, já que eles estavam interessados em Airen não por causa dele, mas por causa do homem do sonho. Aquela grande espada era um avatar do próprio homem. Para os ferreiros, era um tesouro insubstituível, então não tinham escolha a não ser se interessar obsessivamente por ela.
Porém, para Airen, a sensação amarga era inevitável. Ver os melhores ferreiros tentando de tudo e ainda assim falhando em alterar a grande espada fez com que ele começasse a duvidar se conseguiria mudar a estaca de ferro em seu coração.
“Tudo bem.”
Airen fechou os olhos novamente e respirou lentamente. Ele estava realmente bem. Tornar o impossível possível e fazer coisas fora do convencional. Ele já havia feito isso antes.
Vou fazer o que for necessário. Mesmo que isso signifique aumentar o fogo em meu coração.
E, com o calor formigando em seu peito, sua respiração também se tornou quente.
Fazia um mês desde que Airen e seu grupo estavam em Derinku. Infelizmente, Vulcanus não conseguiu completar a Espada Numerada. Ele tinha inspiração infinita, mas também autocrítica severa por não conseguir reparar a grande espada, o que afetou seu estado mental.
— Sinto muito. Não acho que consigo terminá-la agora — disse Vulcanus.
— Então… — murmurou Airen.
— Um ano! Apenas me dê um ano! Vou refletir sobre tudo que aprendi e criar a melhor espada que existe! Algo superior à sua espada larga! Será a maior obra-prima que Vulcanus já fez!
— Eu também! Vou reivindicar o título de melhor ferreiro para mim!
— Era isso que eu queria dizer! Eu vou ser o…
— Calem a boca, vocês dois! O melhor ferreiro fui, sou e sempre serei eu! — gritou Vulcanus.
— Bem… então vejo vocês em um ano.
— Estou contando com vocês. Até mais, musculosos! — Lulu se despediu animadamente.
E assim, Airen e seu grupo deixaram a cidade. Ele não conseguiu a Espada Numerada no fim, mas isso não importava. Recebeu equipamentos que seriam os melhores em qualquer lugar que fosse e fez amizade com os melhores ferreiros do continente.
Mas o mais importante foi que sua razão para alcançar seu objetivo se solidificou. Em apenas um mês e meio de viagem, ele compreendeu o desejo de crescer e se tornar competitivo. Aprendeu a treinar sua mente e a cultivar um forte desejo de controlar a vontade do homem.
Duas horas haviam se passado desde que deixaram a cidade. Airen olhou para o céu claro de outono, que o refrescava. Khubaru e Lulu também olharam para cima, parecendo confortáveis.
Mas… ele percebeu que algo parecia estranho pouco depois.
Airen abaixou o olhar do céu e olhou à distância. Uma figura, que parecia um ponto, começou a crescer. Khubaru e Lulu também olharam para frente.
— É perigoso. Posso sentir cheiro de sangue — disse Lulu.
Airen assentiu. Sabia disso sem que Lulu precisasse dizer.
O fedor nauseante no ar indicava a presença de uma criatura demoníaca. Os olhos de Airen ficaram frios. Uma raiva gelada repousava abaixo da superfície, pronta para explodir como um monstro. Logo, dois homens se aproximaram. Charlot e Victor sorriram como se fossem bons amigos.
— Que tal conversarmos?