Capítulo 299: A Resolução do Herói (1/5)
O Reino Sagrado de Arvilius era amplamente dividido em duas facções de poder.
A primeira, é claro, eram os Paladinos. Centrados em torno de Julius Hule, o espadachim mais forte do reino, os Cavaleiros Brancos, Cavaleiros Vermelhos e Cavaleiros Negros eram renomados e respeitados em toda a terra.
Mas não se podia subestimar os Sacerdotes, liderados pelo sumo sacerdote Ashlin Godeverta. Considerando o fato de que os sacerdotes ouviam os paroquianos, resolviam seus problemas e compartilhavam suas alegrias e tristezas, podia-se até dizer que exerciam uma influência muito maior.
Foi nessa segunda facção que Gael Wise depositou sua fé.
“Especialmente depois de todo o dinheiro que já doei!”
A Guilda Wise havia doado quantias astronômicas ao Reino Sagrado, beneficiando tantas pessoas que era impossível até mesmo contar. A maioria dos templos erguidos pelo continente havia recebido financiamento da guilda pelo menos uma vez, e alguns até dependiam inteiramente de suas doações. Essa era a razão pela qual Gael Wise era uma figura tão celebrada.
Também significava que os sacerdotes provavelmente tomariam seu lado, não importava o quê.
Somado ao seu status especial como meio-elfo, havia uma grande chance de que este incidente, por mais sério que fosse, fosse encoberto de alguma forma. Especialmente porque os cavaleiros estavam todos ocupados demais com a expedição contra os diabos no momento.
E, no entanto…
“O que Quincy Meyers está fazendo aqui?”
Quincy Meyers. O ex-capitão dos Cavaleiros Vermelhos, dado como morto há mais de dez anos. Mas ele estava vivo e ainda permanecia firme. Passava seus dias servindo ao reino, ainda batalhando contra os demônios na linha de frente até hoje.
De fato, ele havia se aposentado do serviço público há muito tempo. Sua autoridade, que outrora pairava acima de todos durante seu auge, agora pertencia ao passado. Mas ao abandonar tudo, Quincy Meyers se tornou mais reverenciado do que nunca por sua moralidade honrada. Em outras palavras, não seria um exagero assumir que nem os Paladinos nem os Sacerdotes poderiam se dar ao luxo de ignorar suas palavras.
— Há quanto tempo.
— É bom vê-lo novamente.
E essa figura lendária… agora saudava calorosamente ninguém menos que Airen Farreira. Com um olhar tão afetuoso que tornava evidente para qualquer um que eles eram próximos.
Isso era perigoso. Isso não era bom. Gael Wise revirou o cérebro, analisando a situação e tentando encontrar uma solução. Mas nada lhe veio à mente. Não, antes disso, ele sequer conseguia imaginar como os acontecimentos se desenrolariam.
E se ele estava assim, como o restante deveria estar se sentindo? Todos olhavam de um para o outro, atordoados, entre Quincy Meyers e Airen Farreira, com os queixos caídos em choque. Apenas Vulcanus saboreava alegremente sua cerveja, claramente se divertindo.
Thud.
Quincy Meyers desmontou do cavalo e começou a caminhar à frente. Mas, curiosamente, ele estava sacando a espada que carregava às costas. Os mercadores da Wise e os membros do grupo de Ethan sentiram o terror encher seus corações. Embora fosse um velho de mais de 120 anos, a energia que emanava era inacreditavelmente poderosa.
Schwing.
Apenas Airen permaneceu impassível enquanto agarrava sua espada dourada, que já se tornara sua marca registrada. Ele avançou para encontrar seu oponente, seus passos firmes e decididos apesar do vento que soprava contra ele.
Por fim, ficou frente a frente com o paladino tão grandioso quanto o próprio Julius Hule, Quincy Meyers. Ele sorriu, e o velho retribuiu o gesto. E enquanto trocavam sorrisos, ambas as Auras da Espada se materializaram ao mesmo tempo.
Vmmm. Vmmmm!
— Não pode ser!
— Não!
— O que…
Ninguém sabia o que pensar daquilo. Já era chocante o bastante Quincy Meyers estar ali, mas vê-lo se preparando para lutar! Por que ele estava invocando sua Aura da Espada?
E não era uma Aura da Espada qualquer. Os brilhantes raios de luz que emanavam da espada de Quincy Meyers eram simplesmente colossais, mais altos e mais intensos do que os de qualquer outro mestre espadachim, muito além até mesmo do melhor espadachim da Guilda Wise, Brodie Sharper.
Era o tipo de luz que gigantes carregariam em mitos, girando ao redor do torso do jovem herói.
Boom!
— Ungh!
— Oof!
Após o som ensurdecedor, ondas de choque se espalharam em círculos concêntricos. Aqueles que eram fracos demais recuaram com gemidos, e até os mais fortes fizeram caretas e lutaram para manter-se firmes. Ainda assim, cada um deles forçou os olhos bem abertos, sem querer perder o que acontecia diante deles.
O jovem espadachim loiro, Airen Farreira, continuava seus ataques com tranquilidade.
BOOM! Boom! BOOOM!
Não havia técnicas extravagantes envolvidas. Tanto Quincy Meyers quanto Airen Farreira moviam-se de maneira franca e direta. Seus olhos corriam de um lado para o outro enquanto suas espadas colidiam no centro. Se fosse um combate corpo a corpo, pareceria uma disputa de queda de braço, tão simples era a luta.
Mas ninguém ousava desviar o olhar, nem achava aquilo monótono. Justamente por esses movimentos simples, seu poder podia ser sentido em toda sua plenitude. E que força monstruosa era essa! A energia emanada por aqueles dois espadachins fazia os pelos de todos se arrepiarem.
Boom! BOOM! BOOOOM!
Crrrack!
Além do som das espadas se chocando, outro ruído ecoou do chão sob eles. A terra se partira em uma fissura, incapaz de suportar a força. As forças não pareciam estar equilibradas, pois o solo ao redor dos pés de Airen mostrava mais dano.
Mas Quincy Meyers não parou. Pelo contrário, balançou sua espada com ainda mais ferocidade. Isso se evidenciava pelo fato de sua Aura da Espada estar ficando mais curta a cada golpe, não porque estava perdendo força, mas porque sua aura estava sendo comprimida para consolidar seu poder. Era uma técnica que permitia aos paladinos maximizar o uso de sua aura, uma demonstração essencial da esgrima de Arvilius.
— Hyah!
BOOM!
No entanto, Airen Farreira não cedeu. A terra sob seus pés estava destroçada. Ele afundara tanto que já não estavam mais no mesmo nível, e agora precisava receber ataques vindos de cima. Ainda assim, conseguiu suportar cada golpe. Ele afundou ainda mais no solo, mas jamais deu um único passo para trás.
Isso significava que a espada de Airen Farreira também havia superado o nível de uma Aura da Espada comum de um mestre espadachim. O primeiro a perceber isso foi o mestre espadachim Brodie Sharper.
“Como!” ele gritou em sua mente. Ele não podia acreditar. Não, ele não queria acreditar.
Quincy Meyers não era uma surpresa. Já havia pessoas dizendo que ele deveria ser adicionado à lista dos maiores espadachins vivos, Ian, Khun e Julius Hule, e assim formar o que chamavam de os Quatro Grandes. Nesse caso, aquele nível absurdo de aura, bem como a capacidade de refiná-la na forma de uma espada e mantê-la ao longo de toda a batalha, era mais do que compreensível.
Mas como era possível que Airen Farreira fizesse o mesmo, quando mal havia passado dos 25 anos?
— Huh — Brodie exclamou suavemente. Ele nem sequer se sentia irritado; apenas perplexo. Só agora conseguia entender por que se sentira tão intimidado pelo aviso de Airen. Agora tudo fazia sentido para ele.
“Ele está em outro nível.”
Naquele momento, Brodie Sharper estava em puro deslumbramento diante daqueles dois espadachins, não como um membro da Guilda Wise, mas como um companheiro portador da espada.
BOOM!
Um instante depois, a luta terminou. Bem, era difícil chamar aquilo de luta, quando tudo o que fizeram foi manter as espadas unidas do começo ao fim. Mas cada pessoa presente estava maravilhada com essa batalha simples. O queixo de Ethan havia caído tanto que agora sua baba escorria de sua boca.
— Você aprendeu a esgrima do Reino Sagrado melhor do que eu esperava — disse Quincy Meyers.
— Obrigado — respondeu Airen.
— Seu controle sempre foi excelente, mas como sua aura chegou a esse nível? O que aconteceu?
— Tive ajuda.
— O que isso quer dizer…
— Bem, é… um pouco difícil explicar isso em poucas palavras — Airen disse com um sorriso sem jeito.
E não era mentira. Desde que aprendeu o Caminho da Água, ele se tornara devedor de um grande número de pessoas. Recebera seu amor, seu apoio e sua fé. E também havia retribuído, apenas para receber ainda mais…
Foi através desse processo de troca que sua aura cresceu, enraizando-se em uma base moldada para conter todo esse amor, crescendo lentamente como uma árvore que fazia de Airen quem ele era hoje. Seria necessário um bom tempo para explicar tudo isso em palavras.
Claro, não que ele não pudesse fazê-lo. Quincy Meyers não era exatamente um amigo próximo, mas era alguém que Airen respeitava profundamente. Ele não teria problema algum em compartilhar tudo isso com ele.
E assim, ele disse:
— Se tiver tempo, posso contar tudo o que aconteceu.
— Estou intrigado — Quincy Meyers respondeu. — No entanto, agora não é o momento.
— Perdão?
— Na verdade, fui enviado em uma missão para buscá-lo.
Todos, incluindo Airen, arregalaram os olhos surpresos. Afinal, quem era Quincy Meyers? Era um homem que exigia respeito até do maior cavaleiro do reino, Julius Hule, e do sumo sacerdote Ashlin Godeverta. Ele tinha os meios para exercer poder absoluto, se quisesse. Então, quem ousaria enviar um homem como ele em uma missão?
Não podia ser…
— Sua Santidade deseja vê-lo.
Airen ficou tão atônito que não conseguiu responder.
— Ele jamais o forçaria, pois é bondoso demais para isso, mas espero que aceite o convite.
— Ah, uh… — Airen balbuciou, confuso.
O Rei Sagrado. Ele era o ser mais santo que existia, um servo tão devotado aos deuses que até abandonara seu próprio nome. Francamente, Airen não sabia muito sobre ele, pois Sua Santidade não se mostrava muito em público. Mas ninguém ousava ignorar o Rei Sagrado. Até Airen se sentia tão nervoso que sua boca ficou seca. Mais do que qualquer coisa, ele ainda precisava lidar com Gael Wise. Não ficaria tranquilo enquanto aquela questão não fosse resolvida.
Talvez Quincy Meyers tivesse percebido isso, pois rapidamente acrescentou:
— Ouvi dizer que Sua Santidade também tem algo a dizer sobre o incidente com a Guilda Wise.
“Droga.”, o rosto de Gael se contorceu em uma careta.
Aquilo estava se tornando muito pior do que ele esperava. Seus olhos brilharam com intensidade feroz, mas, além disso, ele não ousou expressar nada. Engolindo em seco, abaixou o olhar com hesitação.
— Entendido — Airen disse com um aceno.
Quincy Meyers assentiu de volta e então se virou.
Uma garotinha saltou para fora da multidão, era Anya Marta.
— Hyah! — ela gritou.
Zzzing.
Um portal dourado se abriu no ar.
Exageradamente limpando a testa, Anya disse docemente:
— Entre, Lorde Airen Farreira.
Airen apenas ficou olhando para ela, parado no lugar.
— Por que está me olhando assim?
— Oh, er, nada…
“Ela já tem catorze anos agora? Suponho que faz sentido parecer mais madura”, Airen disse para si mesmo, voltando seus olhos para o portal.
Vários pensamentos cruzaram sua mente: Por que o Rei Sagrado queria vê-lo? O que Sua Santidade pensava sobre o incidente da Guilda Wise? Antes disso, ele realmente não sabia sobre suas ações malignas? Quais eram seus pensamentos sobre os demônios vagando pelo mundo? E sobre os humanos, que eram muito mais perversos do que esses demônios? E quanto a…
— Já chega. Vamos.
Seus devaneios foram abruptamente interrompidos.
Vulcanus cutucou sua lateral e disse:
— Se for ver o Rei Sagrado, suponho que vá para a capital de Arvilius.
— Sim.
— Posso ir junto? Estou com preguiça de me mexer.
Quando ninguém respondeu, Vulcanus acrescentou:
— Se não quiserem mais ninguém além de Airen, podem simplesmente me deixar em qualquer lugar na capital.
Era uma exigência bastante petulante, mas Anya Marta assentiu.
— Tudo bem, você pode ir. Provavelmente.
— Provavelmente?
— Sim. Sua Santidade não é tão inflexível. Vocês também querem ir?
— Hã? Você quer dizer… nós? — Ethan perguntou, atordoado.
Anya assentiu.
— Sim. O portal custa o mesmo, independentemente de quantas pessoas passem por ele.
“Ah, então ela só não quer desperdiçar suas moedas de feitiçaria.” Airen assentiu para si mesmo em compreensão, então se virou para Quincy Meyers para se despedir.
— Foi maravilhoso reencontrá-lo — ele disse.
— Nos veremos por aí.
— Tchau. — Airen então entrou no portal. Vulcanus o seguiu imediatamente, depois Jarin. Ethan, Giovanni e Keenan Reyes hesitaram por um momento, mas acabaram se juntando ao restante do grupo.
Whoosh!
O portal se fechou, e agora os únicos que restavam na planície eram Quincy Meyers, o Conde Esteban Pritchard e os mercadores da Guilda Wise.
— Agora, creio que temos trabalho a fazer — disse o velho cavaleiro.
O rosto de Gael Wise escureceu.
Naquela hora, duas pessoas apareceram diante de Airen Farreira e seu grupo.
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