— CAPÍTULO DEZESSEIS —

    Navio Negro

    Ele olhava para o livro com extrema curiosidade, passou os dedos para abrir uma página; escutou um barulho vindo da escada e, imediatamente, colocou o livro nas costas.

    — Tá tudo bem? — revelou-se Karl, com uma expressão preocupada.

    — Está… t-tudo b-bem sim, estou bem. — respondeu, gaguejando, enquanto escondia o livro nas costas.

    — É que você não foi no quarto.

    — Ah… é…

    — Você não vai…? 

    — Por agora não, tá tudo bem, sério, pode ir. — Sorriu, escondendo ainda mais o livro em suas costas.

    — Ok, então. — Karl desceu novamente.

    Luca suspirou aliviado, mas sua curiosidade não cessou. Não havia motivos para deixar isso para outra hora, as luas iluminavam tudo, podia ver claramente tudo o que estava ali na sua frente. Ele fechou os olhos, segurou a capa e a virou, abriu a primeira página do livro.

    Quando abriu os olhos, se surpreendeu, pois não havia mais nada lá, nada que ele pudesse ler, as páginas estavam em branco. Ele folheou cada folha e não havia sequer uma única palavra.

    — Porque? Porque me deram um livro vazio? — questionou frustrado olhando para o mar.

    Ele pensou em fazer algo — devolver o livro ao mar ou tentar algo diferente —, mas o sono o venceu. Ele desceu as escadas e foi dormir.

    Na manhã seguinte, a tripulação estava ocupada analisando a rota que seguiam. A preocupação era palpável. O céu estava parcialmente nublado, e, no horizonte, uma nuvem escura se formava. Era evidente que aquilo não significava algo bom.

    De repente, o vento começou a soprar com mais força, fazendo as velas do navio balançarem furiosamente. A tripulação trocava olhares tensos, sentindo o cheiro salgado e amargo da tempestade que se aproximava.

    Anna por segurança levou os meninos, Hassini e Kael, para a sala do capitão, a parte mais segura do navio. Ela também se manteve lá.

    — Será que eles não precisam da nos-

    Uma onda colossal atingiu o navio, fazendo todos sentirem o impacto.

    — …da nossa ajuda, não? — concluiu Kael, segurando-se para não cair.

    O clima piorava a cada segundo. A chuva começou a cair, as gotas pesadas batiam como pedras.O céu se transformou em uma massa escura de nuvens densas, ocultando qualquer sinal de luz.

    — Capitão!! Estamos entrando!! — gritou Mateo, segurando o leme com dificuldade.

    — Isso vai ser divertido!!

    À medida que o tempo passava, a tempestade ficava mais intensa. A chuva aumentava, e cada onda parecia engolir o barco. Mateo segurava firmemente o leme, enquanto o rosto estava encharcado. Ele precisava parar a cada poucos segundos para enxugar os olhos com as mangas de suas roupas, que estavam mais molhadas. O capitão, por outro lado, estava mais animado do que nunca. Ele sorria enquanto corria pelas cercas laterais do barco, puxava cordas e as usava para balançar de um lado para o outro. Com destreza, amarrava as velas, preparando o barco para as piores situações que estavam por vir.

    Enquanto isso, Churra desceu para o andar inferior, inspecionando cada canto para garantir que tudo estivesse preso, seguro, sem afetar o equilíbrio do barco, enquanto a água invadia o local. Ele tirou dois papéis estranhos do bolso e os colou nas portas dos quartos antes de subir novamente.

    — Tudo certin, Capitão!

    Por algum motivo, aquele barco parecia mais rápido e animado, refletia as sensações do capitão.Ele segurou uma corda, pulou de um lado para o outro sem hesitar e, ao cair, escorregou sobre o convés, pisando na cerca para evitar ser jogado no mar. Levantando-se com energia, segurou-se no barco e ao ombro de Mateo, enquanto analisava as ondas do mar.

    — À bombordo!

    Antes que uma onda gigantesca se formasse, Mateo já havia desviado, inclinando o barco levemente para a esquerda, como se o capitão tivesse previsto o movimento do mar. 

    Dentro da cabine, Karl notou algo curioso.

    — Anna, por que essa sala não está molhada? Não tem como entrar água aqui?

    — Ah, isso? Nós temos uns papéis de isolamento de espaço contra água. Apliquei um na porta para impedir que qualquer água entre aqui. Imagine só, todo esse monte de mapas e roupas molhados.

    — Que-

    Outra onda bateu fortemente no navio, lançando ao ar todos os que estavam sentados.

    O capitão, por outro lado, continuava animado. Era como se ele se deliciasse com o perigo, como se cada risco iminente o deixasse mais eufórico em meio à tempestade implacável.

    Churra notou algo em meio ao mar turbulento.

    — Capitão! Olhe a Través!

    Ele olhou para onde Churra apontava. Quando avistou, se assustou: uma sombra colossal se destacava no horizonte. Era outro barco, quase três vezes maior que o Lamart, vindo direto em sua direção.

    A embarcação era de ferro enorme e intimidadora. Parecia uma fortaleza flutuante, com cicatrizes de batalha tão visíveis quanto o brilho de um raio. Comparado a ele, o porto de Yeni parecia minúsculo. O casco escuro, sem nenhuma luz para guiá-lo, se destacava como uma ameaça opressora.

    O capitão assumiu o leme e o girou com toda a força, tentando escapar da grande embarcação, mas o barco se aproximava rapidamente. Apesar da tentativa do capitão de fugir a embarcação gigantesca já estava quase sobre a popa. Mateo e Churra observavam, aterrorizados, enquanto figuras começavam a pular do convés do grande navio para o Lamart.

    Houve uma sequência de estrondos, como se objetos rígidos estivessem caindo fora da cabine, chocando-se contra a madeira. Por um instante, o silêncio tomou conta do navio, mas logo foi interrompido de forma brutal: a porta da cabine foi arrombada com um chute.

    Algo estranho entrou. Não tinha pele, nem órgãos — apenas ossos amarelados que rangiam a cada passo. Vestia roupas rasgadas, sujas e pretas, desbotadas pelo tempo. Sobre o crânio vazio, um chapéu reto e grande balançava, mal se equilibrando.

    Na mão do esqueleto, uma espada fina e longa cintilava. Com um guarda redondo de ferro que envolvia a sua mão de ossos com firmeza. A criatura inclinou levemente a cabeça para o lado, e seu crânio sem olhos pareceu analisar um a um. Primeiro Karl, depois Kael, Hassini, Lótus, Luca e, por último, Anna.

    O silêncio se manteve. Todos ficaram quietos, presos na ideia de que, talvez, a criatura não conseguisse enxergá-los. Então, com uma voz maliciosa e rouca, ela exclamou:

    — Hora do lanchinho, babe!

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