— CAPÍTULO VINTE —

    Mãe e filha.

    Amanheceu e o sol estava bem forte, mas o céu ainda estava tomado por nuvens brancas como a neve, e uma das luas se mostrava levemente ao fundo. Era mais um dia de exploração e mapeamento. Cedo, quando saíram, viram algo estranho nos vizinhos: eles estavam apressados, como se estivessem atrasados para alguma coisa. Elas não se importaram muito e ignoraram. Desceram a montanha pela rota normal e depois moveram-se para a esquerda da montanha, pois era a única forma de acessar aquele lado de quem vinha do vilarejo, além de ser o único caminho para o deserto congelado. Por isso, era uma rota pouco frequentada.

    — Mãe? Você me ensina a usar sua magia?

    — A minha? Olha que ela é bem difícil, viu? Eu vou me preparar então para te ensinar, pode ser?
    — Claro!

    O silêncio tomou conta por alguns segundos, e logo foi interrompido.
    — Tô com saudade da Pearl…
    — Eu também, nunca achei que passaria tanto tempo sem ouvir a voz dela.

    Caminharam e viram-se em uma rota cheia de pedras e pedregulhos, terreno íngreme e passagens complicadas. Uma hora ou outra, Yuki se viu tropeçando em pedras e demorando para passar por áreas mais complicadas. Sua cabeça não parecia estar focada no caminho em si.
    — Você está bem, filha?

    — Eu tô… — falava ofegante. — É que eu sinto meu corpo muito pesado.
    — Vamos parar um pouco então, tudo bem?
    — Ótimo, mãe.

    Ela andou para se sentar em uma rocha um pouco confortável e ficou de costas para um muro enorme de pedras. Quando olhou para cima, viu apenas as pedras tocando as nuvens.
    — Mãe, o que você viu no papai? — perguntou curiosa.
    — Yuki!! — riu envergonhada.
    — É sério, você tá com ele desde que eu nasci, e a tia Hia disse uma vez que até antes de eu nascer.
    — Seu pai, Yuki, é um homem muito carinhoso, e eu me sentia segura com ele, mas claro, não só isso.

    — Ah, então esse é o critério que eu vou ter que usar quando for casar?
    — Yuki!!! Tá cedo para falar sobre isso!
    — Mas os meninos saíram de casa mesmo você dizendo que tava cedo, então você ama mais eles!
    — Mentira! Amo vocês todos igualmente, ninguém tem amor a mais nem amor a menos!
    — Mãe!!!
    — Yuki!!!

    As duas começaram a rir juntas. Se encararam por um momento, e Mila, com um semblante curioso, perguntou:
    — Você quer casar, Yuki?
    — Eu, mesmo não, eu hein! — respondeu com um deboche sincero.
    — Hum… acho bom.
    — Ah, mãe! — Yuki virou o rosto, envergonhada. — Nunca vi um menino normal que não fosse meus irmãos.

    — Um dia você vai achar sim, me apresente todos eles! Os que você achar que vão virar amiguinhos seus.
    — Mãe, para com isso, você tá me deixando sem graça!

    As duas pararam de conversar e continuaram a caminhar. O terreno ficou mais plano, quase como uma estrada de cascalho. De repente, ela puxou o casaco de Yuki. Ela olhou para baixo e viu a grande rachadura.
    — Quase caí, hein? — disse Mila, rindo disfarçadamente.

    O coração de Yuki quase saltou para fora de seu peito de tanto medo. Antes que Mila a puxasse totalmente, Yuki reparou em algo brilhando lá embaixo, como se fosse metal, refletindo a luz, talvez a brecha do sol.

    — Mãe, lá embaixo! Tem alguma coisa lá embaixo.
    — Sério?
    — Sim, tem. Eu acredito ter visto algo lá.

    Yuki olhou para o lado e notou que a rachadura continuava descendo pela montanha, como se estivesse partindo-a em duas partes. Elas começaram a seguir o desfecho que levava à rachadura, e quanto mais desciam, menor ficava a largura dela no terreno, até que se fechou.
    — É, mesmo que você tenha achado algo, não vai ter como descer lá.
    — Tem que haver uma forma! — respondeu, esperançosa.

    Yuki insistiu em ir mais à frente, na direção que a rachadura estava seguindo, e pisou em um chão falso. Ela caiu, e naquele momento Mila não conseguiu ter uma reação tão rápida e precisa para puxá-la de volta, mas rapidamente Yuki encontrou o chão e gemeu pela queda. De lá de cima, a voz de Mila ecoava, mesmo estando perto.

    — Yuki!! Você tá bem, filha?
    — Estou, mãe. Tem uma passagem por aqui.

    A passagem era como se fosse um portal, uma porta redonda que caberia perfeitamente ali, pensou Yuki. Mila pulou de cima e aterrissou confortavelmente, sem se machucar. Analisou o lugar; poderia ver espaços onde equipariam tochas, alguns ainda tinham restos de algumas delas apagadas, há tanto tempo que nem se podia imaginar. Também havia coisas de ferro enferrujadas espalhadas pelo lugar.
    — Me parece algo bem antigo isso aqui.
    — Você acha que tem relação com aquilo lá, mãe?
    — Não, não acho que seja isso.

    Mila acendeu o lampião, e então ambas atravessaram o portal, seguindo por um corredor escuro e vazio. Teias de aranhas e insetos estavam bem presentes no lugar, que começou a ficar mais estreito à medida que entravam.

    Chegaram à primeira área aberta, na qual podiam respirar normalmente, sem estarem sufocadas entre as paredes. Era uma área redonda, com uma enorme passagem no percurso. O chão era coberto por um tapete de grama, um ambiente agradável, com as paredes preenchidas por flores azuis e brancas.
    — Mãe… isso é lindo…
    — Muito lindo mesmo…

    Elas continuaram adentrando naquele espaço até enxergarem, de longe, uma construção diferente, algo que Yuki jamais tinha visto antes. A estrutura possuía pedestais enormes e uma placa gigante que já não era mais possível de ler, pois os nomes estavam envelhecidos e a tábua quebrada.

    Elas continuaram a andar, e Yuki, na frente, empurrou o portão, mas ele não se moveu. A força que usou contra ele não foi o suficiente para abri-lo, talvez exigisse mais do que ela possuía.

    Ela segurou firmemente a maçaneta e girou, mas novamente nada aconteceu. Mila tomou seu lugar e tentou o mesmo, fazendo o portão finalmente abrir. Ela havia usado toda sua força naquele momento.

    Yuki percebeu que seu braço estava machucado, meio ralado, talvez fosse pela queda que tomou. Pensou por um instante e seguiu em frente.

    Ao atravessarem o portão, se depararam com uma sala enorme, onde um sistema gigante estava transcrito no chão. Nada ali parecia normal.
    Ambas escutaram um barulho estranho, parecia passos, mas bem fracos, vindo na direção delas. Se prepararam, Mila colocou o lampião no chão e ambas ficaram em posição defensiva. Yuki segurava o arco, tremendo, enquanto Mila estava pronta para agir com as mãos.

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