— CAPÍTULO VINTE E UM —

    A criatura e a fuga

    Aquilo se aproximava cada vez mais, e o som dos passos fracos se intensificava. Não parecia ser algo comum que elas já tinham visto antes, até que, da escuridão no meio da sala, surgiu algo pequeno.

    Nenhuma das duas fez nada, não conseguindo acreditar no que viam. Era uma criatura totalmente estranha, parecia um cogumelo branco com braços e pernas, e uma cara fofinha, que guardava um sorriso ainda mais lindo.

    O coração de Yuki se encheu de pena, e ela logo colocou o arco nas costas novamente.

    — Ó que bichinho fofinho, mãe! Que bonitinho, lindinho. Vem cá, vem! — Ela estendia a mão para ele, falando com uma voz carinhosa.

    Sutilmente e cuidadosamente, a criatura subiu sobre as mãos de Yuki e se sentou, cruzando as pernas.

    — Olha, mãe, olha! — Yuki mostrou a criatura para Mila, que reagiu franzindo o rosto, claramente estranhando muito aquilo.

    — Larga isso, menina! Não me parece algo bom de ficar interagindo.

    — Ô, mãe! Olha que pobrezinho. Deixa eu levar, deixa?

    — Você quer levar isso pra casa? Você nem sabe o que é esse negócio e quer levar? Imagina se ele solta alguma coisa lá em casa, pronto, a gente morre e ninguém vai saber o porquê. Ele deve estar aqui por algum motivo, e não é um motivo bom!

    — Olha que fofifucho, que delícia, meu bem! — Yuki esfregava seu rosto contra a criatura.

    — Para de ficar esfregando a cara nisso, Yuki! Me dá ele aqui. — Mila segurou a criatura pelo pequeno pedaço de pano que usava como roupa. — Que esquisito!!

    A criatura fez uma carinha maravilhosamente fofa, como se estivesse triste com a reação de Mila.

    — Ô mãe, olha o que você fez com o coitado! Ele não merece isso, vamos, mãe, me devolve.

    — Tá, tá, tá, fica com esse trocinho aí, só não deixa ele fazer nada e nem tentar nada contra a gente, senão eu arranco a cabeça dele.

    — Bluo! — disse a criatura com a voz mais aguda possível.

    — É o seu nominho é? Bluo? Que delícia! — Yuki pegou a criatura das mãos de Mila.


    Nossa, que bicho estranho. Eu acredito que isso seja uma fada, pela energia que emana, talvez seja mesmo.


    — Mãe!! O que você tá pensando do meu Bluozinho?
    — Você deu um nome pra isso? Minha deusa… eu estou lascada.
    Enquanto Yuki brincava com a nova criatura, tratando-a como um bichinho de estimação, Mila analisava o local e viu diversas palavras mágicas marcadas nas paredes. Estavam escritas entre versos, como se fosse uma profecia antiga.
    Yuki colocou a criatura no ombro e começou a explorar o ambiente também. Ela observou as escrituras e tocou nelas.

    — Yuki, não toque em nada, viu?

    Foi então que pedrinhas começaram a cair. Mila olhou para o alto e viu que a estrutura estava se desfazendo aos poucos.

    — Então, mãe — coçando a cabeça — parece que eu já toquei.

    — Não dá pra acreditar! Vamos!

    Elas se viraram e começaram a correr para o portão, mas estava fechado. Mila tentou abrir, uma, duas, três vezes, mas não conseguiu.

    — Bluo! — falou a criatura, apontando com seus minúsculos dedos para a escada.

    — Mãe!

    — Vamos!

    Elas subiram as escadas e ele apontou para uma porta. Yuki abriu a porta e quase caiu de vez, já que ela ficava muito acima do chão, mas era a única maneira de descer. Nesse momento, uma enorme pedra caiu no salão, e Mila pulou na frente, aterrizando com precisão.

    — Pula, Yuki! Eu te pego!

    Yuki pulou, e ao mesmo tempo, uma pedra caiu sobre a porta, quase acertando-a.

    Mila a segurou com força e a pôs no chão. Elas começaram a correr novamente. Yuki seguiu à frente, mas quando chegaram perto da passagem para voltar, uma pedra enorme caiu, tapando-a.

    — Mãe!!! O que faremos?

    O lugar estava desmoronando, pedras caíam e a terra deslizava para todos os lados.

    — Uo! — disse a criatura novamente, apontando para um lugar, era um buraco, parecendo um caminho.

    Elas correram rapidamente enquanto várias pedras caíam. Yuki estava começando a cansar, seus passos ficavam mais pesados e sua respiração mais ofegante, mas não havia tempo para respirar. Yuki passou pelo buraco com a criatura em seu ombro, e Mila logo em seguida. A criatura emitia uma luz própria, iluminando a passagem e tornando-a clara.

    A passagem parecia segura por enquanto. Rapidamente, Yuki colocou a mochila no chão e retirou apenas o mapa e a bússola que usava.

    — Mãe, tô muito cansada!

    — Tudo bem, acho que dá pra descansar um pouco.

    — Ele salvou a gente, mãe!

    — Verdade… tenho que admitir, se não fosse por ele…

    Blocos pequenos de barro começaram a cair, e, instintivamente, começaram a correr sem parar. Quando Mila olhou para trás, viu que tudo estava realmente desabando.

    — Corre! Corre, Yuki!

    Ambas estavam em um corredor escuro que começou a se inclinar. Yuki, cada vez mais sem forças, continuava a subir sem olhar para trás. Mila percebeu o ritmo de Yuki mudando e se preocupou.

    O chão tremeu, e Yuki caiu, machucando o joelho. Mila a pegou com um braço, e a criatura se prendeu a ela. Mila continuou a correr, desta vez com mais urgência, enquanto o chão desmoronava ao redor. Algumas pedras a acertaram, e ela gemia a cada impacto, sentindo a dor das pedras caindo como ferro batendo em ferro.

    Até que uma claridade apareceu à distância, parecia ser o fim daquele sofrimento, mas o teto desabou, fechando a passagem. Mila correu ainda mais rápido, e com apenas uma das mãos, gerou um arco. Com grande dificuldade, puxou a flecha e disparou, acertando a estrutura à frente e empurrando tudo para o céu, abrindo a passagem.

    Ela estava cada vez mais perto da superfície. Quando pulou para alcançá-la, a passagem se fechou de vez. Ao olhar para frente, viu que estava em queda livre em direção a um rio.

    — Aaaaah!!! — gritou Yuki, desesperada.

    — Fecha os braços e mergulha! — gritou Mila.

    Yuki a obedeceu, e quando chegou perto, afundou e mergulhou nas águas frias do lago. Emergindo, viu a criatura ao seu lado, enquanto sua mãe pisava nas águas, como se fosse capaz de andar sobre elas.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota