— CAPÍTULO VINTE E OITO —
Aprendizados
Com a mão erguida, abaixou-a em um gesto sutil e, num movimento fluido, elevou-a de novo, arremessando a bola de fogo para o alto, mas em vez de explodir, ela sumiu, desapareceu, como se fosse engolida pelo ar.
Nossa, ela é incrível… Parece controlar a magia com perfeição.
— Pronto, agora é sua vez.
Yuki suspirou, meio hesitante e com os olhos fixos no chão, como se procurasse um ponto de apoio, nervosa por tentar algo complexo, ela reuniu coragem e deu alguns passos à frente para começar, sentindo o coração bater mais forte no peito.
— Não se cobre tanto para conseguir de primeira.
Posicionou as mãos à frente, imitando Nyoha, ela fechou os olhos, respirou fundo e concentrou-se, sentindo o ar frio em seus pulmões.
Imaginar uma bola de fogo girando? Como eu poderia fazer isso? Tá…Vamos lá…
— Ignis… magnus… pila… flammis! — recitou as palavras, mas nada aconteceu. Ela olhou para as próprias mãos, confusa. — Ué?
— Sim, é o que acontece quando você não consegue fazer uma magia. Talvez seja por falta de imaginação.
— Vou tentar mais uma vez!
Alguns minutos se passaram enquanto Yuki persistia. Ela tentou mais três vezes seguidas (mesmo Nyoha tendo dito que eram apenas três chances), usando a mesma fórmula da primeira vez, aprimorando alguns pensamentos, mas sem sucesso. Em todas as tentativas, a bola simplesmente não se formava, sem nenhum indício de que iria aparecer.
— Você não tem motivos para continuar tentando magia de fogo. Talvez não seja seu forte. Vamos tentar algo mais importante, algo que você realmente queira saber…
Já sei o que farei depois.
— Hum… o que eu talvez queira tanto?
— Magia de cura.
— Magia de cura? Foi assim que sua mãe curou os ferimentos de Pearl tão rápido?
— Queria que fosse totalmente, mas ajudou quase perfeitamente a se recuperar. A magia de cura é muito mais complicada do que simples imaginação. Sua conjuração tem que estar alinhada aos seus sentimentos. Vamos até uma árvore morta. Lá é mais fácil ver os resultados sem precisar de alguém ferido como cobaia.
Então, árvores e seres vivos são tratados igualmente no sentido mágico…
— Seu objetivo será renovar o máximo possível da árvore.
Ambas se embrenharam na floresta, buscando árvores secas, aparentemente sem vida. Não foi fácil. Encontraram árvores grandes, pequenas, descascadas, com folhas amareladas ou alaranjadas, árvores tortas cheias de trilhas para formigas. Após muita procura, acharam uma que ficava em um local semelhante a um bosque rodeada por neve e afastada das demais árvores, como se ela fosse o centro de tudo.
— Essa é impressionante. Antes de te ensinar a conjurar magia de cura, você precisa saber algo importante. As magias de cura que eu aprendi com minha mãe, vêm de uma deusa élfica.
— A deusa Pan?
— Exatamente. Como sabia disso?
— Minha mãe acredita muito nela.
— Devia imaginar… a aura dela é tão linda… — Nyoha sorriu gentilmente.
— Aura?
— Sim, deixamos esse assunto para depois. Como você já sabe a origem da magia de cura, vamos começar sem enrolação.
Nyoha se aproximou da árvore e colocou ambas as mãos gentilmente, passando os dedos sobre a casca descascada que parecia morta e começou:
— Dolor, qui sentitur, evanescit et nova spes apparet, divina restitutio, sanatio! — As mãos de Nyoha começaram a brilhar em tons de verde, um verde tão puro que Yuki achou único. A região tocada por Nyoha começou a se restaurar, o tronco seco e sem vida agora se tornava um tronco forte, escuro, resistente, quase úmido e vivo, com a seiva correndo novamente por suas veias.
— Uma magia linda… que só pode ser feita pelos corações puros.
As palavras não entraram na mente de Yuki. Nyoha teve que repetir mais de cinco vezes para ela conseguir se lembrar. Quando finalmente aprendeu as palavras para conjurar, ela segurou a árvore e se preparou, sentindo a textura áspera da casca sob seus dedos.
— Dolor, qui sentitur, evanescit et nova spes apparet, divina restitutio, sanatio! — Conjurou, laconicamente.
O brilho emanou das mãos dela, forte e intenso,e a árvore começou a emanar algo que Yuki sentia profundamente em seu interior: a árvore estava se revigorando. Antes meio morta, meio viva, agora estava com troncos vivos e flores vermelhas e folhas verdes cristalinas que cresceram repentinamente.
— Ela é linda… — falou, ofegante, com os olhos fixos na beleza da árvore.
— Cansada?
— Sim… um pouco…
— Deixa eu ver… — Nyoha aproximou-se de Yuki e colocou a mão em sua testa, Yuki sentiu uma sensação estranha, um calafrio que a fez tremer suavemente. — Hummm, você tem pouca mana. Só nessa brincadeira de cura você já gastou mais de um terço da sua energia… Por isso se cansa rápido, talvez isso esteja bloqueando a bola de fogo.
Que droga…Imaginei que o cansaço fosse isso, já que com as flechas ontem também aconteceu, pensou ela, franzindo a testa.
— Sério? E como posso aumentar minha mana?
— Usando. Quanto mais você usar, mais ela vai evoluir.
Vou tentar evoluir… Mas… sobre a criação de uma magia… talvez eu consiga…
— Quero fazer um teste, pode ser? Quero criar algo. Pode me ajudar, Nya?
— Criar uma nova magia, é isso? O que está pensando?
— Vamos voltar para aquele lugar lá. — Elas caminharam de volta para o campo semiaberto, o vento suave acariciando seus rostos. Yuki parou no meio do campo, com uma expressão diferente, como da última vez que sua magia funcionou.
Se minha teoria estiver certa, se eu misturar algo que quero aprender com algo que já sei, talvez funcione de forma mais natural.
Ela olhou para uma direção, como se estivesse visualizando algo distante, tirou o arco das costas, pegou-o e o apontou, segurando as cordas e puxando.
Vamos!, pensava determinada.
Então, começou a se formar uma flecha clara, em tons de amarelo, fogo, uma flecha banhada em fogo cintilante, chamas dançando em volta da ponta afiada. Nyoha ficou encantada com o que via, os olhos arregalados em surpresa. Yuki mirou para o céu e a flecha explodiu em fogo, liberando um brilho intenso que iluminou o céu acima delas.
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