— CAPÍTULO VINTE E NOVE —
Alegria e uma promessa
O céu cintilava, com faíscas que cruzavam de um lado a outro, testemunhando o poder da explosão da flecha. Era um espetáculo magnífico. Seus olhos também brilhavam, e um sorriso, interrompido pela respiração ofegante, denunciava o cansaço.
— Como você conseguiu criar isso com tanta facilidade? — perguntou, admirada, com a voz ainda um pouco trêmula pela surpresa.
— Talvez esteja no sangue, né? — respondeu, com um riso debochado.
— Yuki! Nya! — Um grito agudo as sobressaltou. Ambas olharam rapidamente para Hia, que parecia agitada. — A Pearl! A Pearl acordou!
Os olhos de Yuki se encheram de lágrimas. Por um instante, paralisou, sem saber como reagir. Mas, ao ver Nya correndo em direção à casa, conseguiu se mover e a seguiu. A cada passo, a respiração ficava mais pesada, e o coração apertava cada vez mais. Sem hesitar, tirou as sandálias, entrou na casa e correu em direção ao quarto, passando rapidamente por Nyoha.
Ao abrir a porta do quarto, finalmente a viu: sua irmã estava de volta. Um misto de alívio e uma pontada no peito a invadiu ao vê-la sentada na cama, abraçada a Mila. Quando Pearl olhou para a porta e viu Yuki, um lindo sorriso carinhoso iluminou seu rosto, expressando a felicidade de ver a irmã, e as bochechas ganharam um tom rosado.
— Yuki!
— Pearl!! — gritou, agitada, correndo em direção à irmã e pulando na cama para abraçá-la.
Em meio ao abraço apertado, Yuki chorava sem parar, com o ouvido encostado no corpo da irmã, ouvindo sua respiração e o coração bater mais forte do que nunca. Carinhosamente, Pearl acariciou seus cabelos, retribuindo o abraço com a mesma intensidade. A dor de ter passado tanto tempo distante da irmã em coma a fez abraçá-la como se não quisesse soltá-la nunca mais.
— Eu achei que fosse te perder, irmã… Nunca esperei passar tanto tempo longe de você.
— Está tudo bem agora, Yuki… — disse suavemente, apertando Yuki em seus braços enquanto acariciava suas costas, buscando acalmá-la.
O coração de Yuki estava acelerado, incapaz de decifrar a avalanche de emoções que a tomava. Quando finalmente se acalmou, permitiu a aproximação de Nyoha e Hia, que haviam cuidado de Pearl durante todo o tempo em que estiveram fora. Mila explicou tudo o que havia acontecido enquanto ela estava desacordada, e tudo o que fizeram até então, evitando entrar em detalhes sobre como foram os dias solitários e vazios dentro de casa sem ela.
As meninas continuaram a conversar com Pearl, bombardeando-a com perguntas. Um clima diferente se instaurou quando Mila se retirou do quarto a pedido de Hia, que ostentava uma expressão séria naquele momento, indicando que algo mais precisava ser discutido.
— Mila, a Ave Verde veio até aqui e me trouxe uma carta.
— A ave do reino elfo?
— Sim, ela mesma. Eu vou ter que ir, junto com a Nya. Estão nos chamando para tratar de um assunto importante.
— Vocês vão ficar bem?
— Vamos, claro. Não é nada que ameace nós duas.
— E a barreira, Hia? Como ela vai ficar?
— A barreira vai continuar exatamente como está, não mudará nada. Inclusive, quando eu for, é melhor que você vá lá a cada dois dias, ou até mesmo todo dia, para checar se algo saiu ou tentou entrar.
— Ok, tudo bem. Volte segura! — Mila a abraçou fortemente.
Após darem a notícia a todos, a família de Mila voltou para casa, todas radiantes, especialmente Mila e Yuki pelo retorno de Pearl. Elas estavam sendo extremamente cuidadosas com ela, não permitindo que fizesse nada, por isso, ela se manteve na cama, descansando a mente para o próximo dia, tentando retomar a rotina.
A noite estava fria, o vento uivava mais forte do que em qualquer outro dia. As três estavam juntas, deitadas na mesma cama, Pearl no meio, Yuki à esquerda e Mila à direita, ambas com o olhar fixo em Pearl.
— Como foi, irmã? Estar em coma?
— Ah, foi como uma noite normal. Lembro que eu estava naquele lugar e, de repente, acordei no quarto. Não aconteceu nada demais.
— Já aconteceu algumas vezes comigo, e há pessoas que não conseguem sobreviver, mas desde o início sabíamos que seu caso não era grave — comentou Mila.
— Sério, mãe? Qual foi sua última vez?
— Foi um dia amedrontador, sobrevivi por pouco.
Será que pergunto? pensou Yuki.
— E o que aconteceu nesse dia, mãe? — perguntou Pearl.
— Foi em uma viagem. Estávamos atravessando o oceano de barco, indo para uma cidade distante. No barco estávamos eu, o pai de vocês, um amigo do pai chamado Macedo e uma amiga minha chamada Aurora. O barco era especial, do reino de Falkenhein, um reino do extremo norte.
— Lá é mais frio que aqui? — perguntou Yuki.
— Bem mais, mas a capital não é fria graças à rainha.
— Como assim?
— Um dia levo vocês lá — sorriu.
— Continua, mãe! — insistiu Pearl.
— Do fundo do oceano, emergiu um peixe branco enorme. Era tão grande que cobriu o mar com uma sombra colossal. Ele tinha asas ainda maiores, que batiam com força, dois pares de asas brancas e imponentes como ele. A aparência era grotesca, porém magnífica, uma existência impressionante. Tinha vários dentes enormes e, ao perceber nossa presença, moveu-se de forma tão rápida e forte que o mar acompanhou o giro. Ficou cara a cara conosco. Seu pai se colocou na frente, e o monstro começou a preparar um ataque de energia escura, uma energia fora do comum.
— E o que aconteceu, mãe?!
— Eu não queria que seu pai morresse, então usei toda a energia do meu corpo para protegê-lo, mas foi instintivamente, não sei como fiz aquilo… Foi quando eu passei quase 17 dias dormindo.
— E o que aconteceu com o monstro? — perguntou Yuki, levantando-se um pouco e sentando na cama.
— Depois do ataque, Kael me disse que fomos jogados para longe, mas ele conseguiu dividir o ataque do monstro em dois e, por sorte, Aurora havia protegido o barco, que não foi destruído.
— Então você salvou todo mundo, mãe! — disse Yuki.
— Talvez, talvez eu tenha salvado a todos — Mila se sentou e puxou as duas para um abraço apertado. — Quero que me prometam uma coisa, e depois vocês irão dormir, pode ser?
— Claro, mãe, o que é? — perguntou Pearl.
— Quero que me prometam que nunca irão lutar, a não ser que estejam sob duas condições: se forem lutar por algo importante ou se forem lutar para salvar alguém.
— Por que, mãe? Por que isso?
— Quero que vocês estejam seguras!
— Tudo bem, mãe… Eu prometo.
— Eu também prometo!
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