— CAPÍTULO TRINTA E UM —

    Monstros

    A visão ficou distorcida por um momento, um calafrio e uma dor estranha percorreram todo o seu corpo. Karl abriu os olhos, seu coração batia tão rápido que ele o sentia nas orelhas. Seus músculos se contraíram involuntariamente, enquanto ele lutava contra a sensação de náusea. Ao perceber, estava em um corredor com paredes de concreto, janelas de vidro pretas que permitiam a passagem de uma luz fraca, o suficiente para enxergar uma porta à frente. O corredor, mesmo com a luz, era escuro, não parecia vivo, e o ar ao redor estava cheio de poeira que brilhava com a luz das janelas.

    Onde estou? Como vim parar aqui? Não posso gritar… Acho que tenho que manter a calma e procurar meu pai.

    Ao observar as costas, com um leve giro do pescoço, notou que havia outra porta, idêntica à primeira, porém com a maçaneta em um tom mais escuro, quase enferrujado. Olhou para cima e viu um lustre simples, sem luz, e para os lados, pequenos armários com gavetas abertas. Ele suspirou e levantou-se, caminhou até um dos armários, suas sandálias simples ecoando no piso de concreto, e notou que as gavetas estavam empoeiradas e vazias.

    O que é tudo isso? Essas paredes rígidas me fazem sentir pressionado.

    Olhou pela janela, aproximando o rosto do vidro frio e embaçado, que não abria, e observou o lado de fora. Estava em um lugar grande, com várias torres e um enorme castelo no qual ele se encontrava. Mas o que é isso? Estranhou por nunca ter visto algo parecido. Caminhou até a porta da frente e a abriu. Ao abri-la, deparou-se com um salão enorme e vazio, com janelas imensas que permitiam observar o vasto mundo lá fora. O céu era escuro e preto, e a única iluminação vinha de uma lua vermelha que deixava todo o lugar no mesmo tom, um brilho rubro e sinistro que impregnava o ar.

    Pelo tapete vermelho, que estava meio acinzentado em algumas regiões, ele andou até uma porta grandiosa no final, ornada com detalhes intrincados que agora pareciam grotescos sob a luz vermelha. Mas seus olhos foram atraídos por um corpo no chão, escondido em meio às sombras. Ao notar, apertou as mãos; seu coração, antes calmo, voltou a acelerar. Será que é… não pode ser… A garganta secou, e ele engoliu em seco, tentando disfarçar o tremor nas pernas.

    Ele andou despretensiosamente na direção do corpo e o virou, mas não era nenhum de seus irmãos ou seu pai. Por um momento, sentiu alívio. O corpo abriu os olhos, sorriu revelando dentes super afiados. Rapidamente, Karl recuou, saltando para trás enquanto o corpo se levantava. Karl sacou rapidamente sua espada; suas mãos tremiam e o suor escorria, formando pequenas gotas que brilhavam como orvalho.

    O rosto revelou um tom de morte, uma palidez doentia, como a de alguém que retornara do além, algo semelhante a um cadáver vivo; suas mãos eram grandes e as unhas ainda maiores. A criatura olhou para Karl. Ele se arrepiou, estava imóvel, como se os pés tivessem fincado no chão; suas mãos tremiam, e ele precisou segurar a espada com ambas as mãos. Será que eu vou conseguir derrotá-lo? Aquela coisa tinha quase o dobro de seu tamanho.

    Isso é um monstro…!

    A criatura guiou seus olhos profundos e vazios na direção de Karl e, em um piscar de olhos, moveu-se. Com suas garras, tentou cortar seu peito. Ele reagiu, defendendo-se com a espada, mas acabou sendo empurrado violentamente pela força do monstro, sendo jogado para fora da sala pela janela. O vidro se espatifou, em uma chuva de estilhaços cintilantes que voaram por todos os lados, e o impulso o jogou contra outro vidro, no corredor adjacente que quebrou com o impacto, fazendo-o entrar em mais um corredor e bater as costas. Seus braços estavam cortados e sangrando, suas costas arranhadas, ardendo como se estivessem em brasa, e suas roupas manchadas por poeira.

    Que dor! O que eu posso fazer?

    Ele escutou um barulho de vidro quebrando e reagiu, levantando e correndo para trás. O monstro quebrou a outra parte da janela e começou a persegui-lo, correndo violentamente, pisando forte no chão, estremecendo o lugar. Ao chegar perto da porta, ele preparou o ombro e arrombou-a. Olhou para trás e viu o monstro pular. Rapidamente, ele se jogou para o lado e o monstro passou com as unhas afiadas, arranhando o chão. Tentando se virar, ele parou o corpo com as pernas para voltar a correr. A nova sala tinha duas escadarias que se cruzavam de forma perfeita, formando um X imponente no centro do espaço, e um lustre ligado em tons de vermelho.

    Karl, antes que o monstro pudesse se virar, segurou a espada firmemente e lançou um corte, acertando e cortando o braço da criatura por inteiro fazendo um som de carne rasgando e osso quebrando.. De forma violenta e instintiva, o monstro abocanhou seu punho e tentou arrancá-lo, fincando seus dentes na pele de Karl, acertando os ossos. Com dor, socou a cabeça do monstro com o cabo da sua espada. Este, por sua vez, tentou pegá-lo com a outra mão, atacando-o com suas garras, mas Karl chutou, impedindo o ataque. Grudado nos dentes do monstro, que se levantava com a mão dele, ele ajeitou a espada, segurou-a com o outro braço e, com ela firmemente em suas mãos, enfiou-a na região onde seria a clavícula do monstro, fazendo-o soltá-lo imediatamente.

    Caído no chão, levantou-se com dificuldade de mexer a mão direita e correu para uma das salas que estavam com as portas fechadas. O monstro se sacudia e tentava tirar a espada de sua clavícula, presa ao seu corpo. Ele abriu outra porta e entrou em outro corredor, fechou a porta e continuou correndo, mas, no fim desse corredor, havia outro ser. Dessa vez, aquele tinha uma cauda, longa e escamosa, que se arrastava pelo chão, e, para piorar, tinha a mesma feição do outro, os mesmos olhos vermelhos e vazios, a mesma palidez cadavérica.. Estava rastejando como se fosse um lagarto com uma cauda que começou a correr na direção de Karl. O mesmo se virou para voltar e, antes que pudesse correr de novo, o monstro que o seguia arrombou a porta.

    Correndo na direção de Karl, com um rugido gutural que ecoava pelo corredor, ele suspirou, respirou fundo e encarou o monstro que corria violentamente, preparando um ataque com suas garras enormes, que brilhavam sob a luz avermelhada, e o outro já estava na cola dele, preparado para atacá-lo também. Foi quando Karl correu na direção do monstro que tinha arrancado o braço e, quando o monstro foi atacá-lo, ele pulou e chutou o rosto do monstro. O monstro jacaré atacou o grande monstro, e Karl voltou ao salão, pulou as escadas, abriu a porta à sua frente e a fechou, colocando um dos armários do novo corredor na porta. Sentando, encostado na parede, acalmou-se e, com um pedaço de roupa rasgada, fez uma espécie de curativo em suas mãos, amarrando o tecido em volta das feridas e tentando estancar o sangue.

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