Capítulo 9 (IX) — Ignis qui egreditur.
Abriu os olhos, despertando para a realidade. Tremendo e com o coração acelerado, ela se levantou devagar, encarando o lagarto que vinha em sua direção, correndo, pronto para atacá-la. Ela pulou bem alto para trás, jogando-se contra um pilar, e se impulsionou para frente com suas duas pernas, ultrapassando os lagartos. Sentiu uma dor forte por causa do machucado, que começou a sangrar novamente.
Levantou a mão atrás do lagarto, tremendo, e sussurrou:
— Flammas!
Várias coisas de fogo se formaram. Era diferente de uma bola de fogo; parecia como se fossem várias pedrinhas de fogo no ar, girando muito rápido. Ao todo, quatro pedras giravam ao redor do seu corpo, rápido o suficiente para que a própria Pearl não conseguisse reconhecer o formato daquilo.
Pearl respirou fundo, com a mão apontada para o lagarto. Ela a levantou, deixando todos os seus dedos apontados para baixo, com a palma aberta. As pequenas bolas de fogo haviam acompanhado o movimento das suas mãos, ficando acima dela, como ela desejava. Quando o lagarto se aproximou, ela baixou sua mão, fazendo as pedras caírem sobre o lagarto. O lagarto foi atingido quatro vezes: uma vez na cabeça, derretendo sua estrutura óssea, duas vezes no corpo, fazendo dois grandes buracos, e uma vez na pata que iria atacá-la, sendo completamente derretida pelo calor das bolas de fogo.
Ela manifestou uma força e coragem que nunca tivera antes. O cheiro de carne queimada encheu o ar, e Pearl quase engasgou.
O outro lagarto estava à espreita; quando atacou pelas costas, Pearl tentou desviar, mas sentiu a garra roçar sua perna já machucada, rasgando ainda mais o tecido e deixando uma linha quente de sangue escorrer. Pearl estava ali, se segurando para se manter de pé. Ela não parava de pensar em sua família e em tudo o que ainda queria fazer com eles. Uma força de repente surgiu dentro dela, quando ela lembrou que ainda queria cuidar deles, lutar por eles.
Vendo aquele lagarto se aproximar, ela se ergueu.
— FLAMMAS! — gritou, conjurando mais uma vez.
Ela olhava o lagarto vindo em sua direção. Ela sabia dos erros que tinha cometido, e só de pensar que aquilo poderia roubar seu futuro, a raiva só crescia. As bolas de fogo ficaram ainda maiores; não eram mais como pedrinhas, agora tinham o tamanho de uma única bola de fogo imensa.
— Aaaaah! — vociferou com toda a sua raiva
Com a mão levemente estendida para trás, ela puxou as bolas na direção do lagarto. No exato momento em que ele iria atacá-la, o lagarto foi completamente destruído pelas quatro bolas de fogo.
Ela caiu no chão, ajoelhada, olhando para suas pernas e vendo o sangue escorrer. Já estava tonta, os braços tremiam, e ela não sabia mais o que fazer. Respirou, mas antes que pudesse descansar, mais cinco lagartos foram invocados.
Eu vou morrer? Eu? Agora? Aqui? Eu vou morrer… Sua respiração estava cada vez mais o fegante, seus braços tremiam ainda mais. Parou por alguns segundos e voltou a pensar.
Eu vou me levantar. Levanta, Pearl! Levanta! Ela se lembrou das palavras de seu pai.
Ela se ergueu mais uma vez. Com os lagartos à sua frente.
É isso! Acho que posso fazer uma coisa assim. Vamos, anel, me ajude!
Mostrou suas palmas, com a perna machucada levemente para trás, e se preparou para lutar. Quando dois dos lagartos se aproximaram para atacá-la, pela sorte de Pearl, um deles saltou para pegá-la por cima.
Ela se jogou por baixo dele, levantou-se, e o outro lagarto tentou atacá-la com suas garras. Ela saltou, girando com a cauda do lagarto. Com a força que tinha, o fez virar, ao mesmo tempo em que desviou do ataque do outro. O primeiro lagarto estava com o corpo virado para cima, enquanto o segundo passava por cima dele para atacá-la. Ela girou, enganando a direção em que o segundo ia, e pulou com a palma aberta e os dedos juntos, por cima do corpo do primeiro lagarto.
— Ignis Cover!! — Ela gritou com toda a sua vontade.
Funciona!
A palma dela começou a brilhar em chamas ardentes. Ela mirou exatamente no peito do lagarto e o atingiu com toda a sua força. A magia explodiu por dentro do corpo do lagarto, e ele morreu com o peito estourado por dentro.
Isso!
O segundo, terceiro e quarto lagartos saltaram para pegá-la, em cima do lagarto morto. Um pela costas, um pela frente e outro na diagonal, do lado do terceiro lagarto. O das costas estava mais perto.
Pularam os três ao mesmo tempo. Pearl soltou uma bola de fogo precipitada, que acertou em cheio o primeiro — ele não morreu, mas seus olhos ficaram bastante debilitados. Antes que fosse levado pelo impacto, agarrou as garras afiadas, o que consequentemente feriu suas mãos com cortes. Mas, antes que ela conseguisse jogá-lo na direção dos dois outros, as garras saíram do aperto de sua mão, fazendo-o voar por cima deles, não os impedindo de chegar perto dela. Ela recuou, saindo de cima do primeiro lagarto morto.
Ela chutou o corpo do lagarto morto na direção dos outros dois, e os lagartos foram empurrados para longe.
— Mais uma vez, tenho que conseguir! — Quando ia correr na direção dos lagartos, sentiu a dor de sua perna e das mãos cortadas.
Dá para aguentar! Ela estava se esforçando para ignorar a dor.
Ela correu na direção deles. Enquanto os dois, já recuperados, correram na direção dela. O primeiro a atacar tentou abocanhá-la, enquanto o segundo tentou acertá-la com suas garras.
Um lobo e um urso, um urso e um lobo!
Ela pulou por cima do primeiro, quase sendo acertada pela garra do segundo. Deslizando ao cair, mudou de direção. Quando o segundo se virou para ver onde ela estava, não a viu.
— Ignis Cover! — Surpreendendo-o, pela direção oposta à qual ele olhava, ela o acertou bem no pescoço exposto, sem escamas, fazendo sua garganta e sistema se desativarem ali, paralisando-o.
Para completar, ela o acertou novamente no mesmo ponto, destruindo-o de uma vez.
Ela sentiu uma presença que iria atacá-la pelas costas. O lagarto que ela havia atingido com a bola de fogo a atacou, e antes que pudesse desviar completamente, ele a acertou na sua outra perna, a qual não estava machucada, com suas enormes garras.
Ela recuou, quase caindo e sua perna começou a sangrar. Viu mais quatro invocações de lagartos e teve uma reação:
— Flammas! — Conjurou mais uma vez.
Eu não vou perder para vocês!
Dessa vez, não foram apenas quatro pedrinhas de fogo. Foram dezesseis, que brilhavam intensamente e a circulavam implacavelmente.
Ela lançou as pequenas bolas de fogo em direção aos lagartos, que voaram em linha reta na tentativa de acertá-los e pôr fim a isso. No entanto, acertou apenas cinco deles, fazendo com que seus corpos se enchessem de furos, agonizando antes de morrer. Um, porém, conseguiu desviar e recuou, circulando lentamente ao redor dela.
Pearl estava exausta. Ela não conseguia mais andar; ambas as pernas estavam gravemente feridas. Os pilares brilhavam novamente, e seu olhar, antes firme, agora perdia a esperança. Mais lagartos foram invocados, e Pearl caiu de joelhos no chão, sem forças para se levantar.
Eu não…consigo mais…
Os rugidos dos lagartos ecoavam ao seu redor, cada vez mais altos, cada vez mais próximos. Ela apertou o punho com força, tentou invocar a magia de fogo novamente, mas seu corpo estava completamente exausto. Nada saiu.
— Por que… — sussurrou para si mesma, com seus lábios pálidos. — Por que eu achei que podia fazer isso sozinha?
Sem esperanças, apenas observou o momento em que o lagarto a atacaria. Fechou os olhos e chorou, lembrando-se das muitas vezes em que brigava com Yuki por ser animada demais ou com os meninos por serem bobos demais. Mas não era arrependimento; era saudade. De repente, ouviu um grito distante.
No alto da montanha, uma figura se destacava contra o céu pálido. Com um movimento firme, ela criou uma flecha de luz e puxou a corda, fazendo o arco brilhar intensamente.
— Quem… é? Quem me… buscaria agora?? Eu acho que… não dá mais tempo… — sussurrou, com a voz cansada, enquanto abria minimamente os olhos pesados.
Os diversos lagartos que estavam ao redor pularam na direção dela, prontos para matá-la de uma vez.
A flecha de energia foi disparada com uma velocidade incrível e, no meio do caminho, se dividiu em várias outras flechas.
Quando os olhos de Pearl se abriram completamente, ela viu dezenas de feixes de luz cruzando o ar e atingindo os lagartos que estavam prestes a atacá-la. Ela via tudo isso lentamente, com as mãos pressionando o rosto.
— Me desculpa, mãe… — sussurrou, com lágrimas nos olhos.
Enquanto as últimas faíscas das flechas de luz desapareciam, Pearl caiu no chão. A neve caía junto, e aquele frio mordia sua pele, mas tudo o que sentia era o medo e a dor dos ferimentos.
Eu não deveria ter vindo… pensou, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto.
Sentiu um calafrio percorrer seu corpo e, então, apagou.
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