Em uma noite cruel, um homem segurava firmemente as rédeas do cavalo, aparentando ser sério e misterioso.

    Enquanto o vento frio cortava seu rosto; o cavalo galopava rapidamente pelas montanhas geladas de Yeni.


    As Montanhas de Yeni, cobertas de neve, erguiam-se como muralhas naturais. Ao redor, uma floresta densa se estendia, suas árvores gigantescas cobertas por camadas de neve brilhante. 

    O som do vento assobiava entre os troncos, misturando-se ao ruído distante de galhos que se partiam sob o peso da neve.

    Seus cabelos longos e escuros balançavam no meio da tempestade de neve, enquanto o seu cavalo se esforçava para desviar das árvores e continuar subindo. 

    A neve caía pesada, e ele sabia que precisava ser mais rápido; atrás dele, passos ficavam cada vez mais próximos.

    Ele gritou:
    — Vamos, garoto, não podemos parar agora!
    — Ya! Ya!

    Sentia o cavalo escorregar na neve, mas não podia parar. Os barulhos atrás dele ficavam mais intensos. Arriscou-se a olhar para trás e viu a sombra da criatura tomando forma na tempestade.

    — Não pode ser… — sussurrou, com a respiração lenta e pesada. Sabia que precisava subir antes que fosse tarde demais.


    No horizonte, entre as árvores cobertas de neve, avistou a barreira mágica  e vários vislumbres de luz. 

    — Já consigo ver as tochas mágicas — disse com um sorriso determinado — estamos perto, amigão.

    As luzes brilhantes estavam distantes, porém era possível vê-las.

    De repente o cavalo foi atingido na perna esquerda, fazendo-o sangrar e cair, lançando o homem para frente, que afundou na neve profunda.


    Com rapidez, ele levantou e puxou o machado da cintura e esperava agoniado que “aquilo” reaparecesse.

    — Droga, Joe, eu vou te ajudar, aguenta aí! — O cavalo agonizava de dor, relinchando no meio da floresta de neve.

    Você não pode morrer, Joe…, Kael pensou, vendo seu cavalo sofrer de dor. Você tem que levar meus filhos com você. Eles precisam de você…


    O homem se concentrou, fechando os olhos na tentativa de sentir onde a criatura estava. Um silêncio tomou conta de sua mente, até que…

    — Por baixo! — gritou alto, saltando.

    A criatura, no instante seguinte, destruiu o chão e fez com que a neve se espalhasse por todo lado, revelando sua aparência. 

    Era um monstro com um corpo humanoide, uma boca enorme e dentes afiados. Não era maior que o homem que o enfrentava, mas sua velocidade era impressionante.

    A criatura desferiu um ataque com suas garras afiadas na direção da perna dele; ele retirou a perna do ataque, levantando-a para cima, e chutou o braço do monstro.

    O ser, antes de cair no chão, tentou mordê-lo com seus enormes dentes e seu rosto horrorosamente deformado; o homem desviou jogando-se para trás, pousando sobre um galho de árvore.

    — Ok, ok, muito bem, então é você. 

    Preciso terminar isso com um ataque.

    Com a mão direita, o homem ajeitou o machado, na horizontal, com a lâmina voltada para frente.

    Em seguida, várias linhas de energia começam a circular ao redor do machado, cobrindo-o completamente.

    — Venha!


    A criatura saltou na direção do homem; ele pulou ainda mais agressivamente em direção à criatura, quebrando todo o galho sob o qual estava e derrubando toda a neve por todas as árvores  em volta.

    O ataque da criatura vinha da esquerda, na direção do machado do homem. As garras extensas da criatura acertaram o machado, mas foram destruídas facilmente ao contato. O homem intensificou sua energia e cortou o corpo da criatura ao meio, horizontalmente, finalizando a batalha.

    Ele caiu no chão em pé e após isso ele gritou:

    — Droga! Joe! — Correu em direção ao seu cavalo ferido, que já estava sem salvação.

    — Joe, não… Joe… — sussurrou, ajoelhado ao lado do cavalo caído; lágrimas corriam por seu rosto enquanto ele acariciava suavemente o corpo inerte do companheiro. 

    — Você foi tão importante para mim… Me perdoe por não ter te protegido.

    Respirou fundo, tentando conter a dor, e continuou:
    — Vou escrever todas as nossas aventuras juntos. Nunca vou esquecer o quão importante você foi para mim.

    Kael ficou ali por um momento, em silêncio, despedindo-se de seu fiel amigo antes de levantar.

    — Me perdoe, Joe, me perdoe, por favor — disse, a voz sufocada, enquanto pegava seu machado e, com um golpe preciso, colocou fim ao sofrimento de seu cavalo, Joe.

    Observou o corpo inanimado de Joe, sentindo um peso no peito.
    — Desculpe… Eu falhei.

    Com o machado em mãos, o homem começou a subir a montanha coberta de neve a pé.

    — Daquela vez… você me salvou por ser rápido demais — murmurou, perdido em pensamentos.

    Ele se vislumbrava com as memórias de Joe, lembrando-se dos inúmeros dias que passaram juntos. A lembrança de Joe era uma mistura de gratidão e dor.

    Vestindo o agasalho que Joe carregava em suas costas. Cada passo era uma luta contra o frio implacável; ele caminhava lentamente subindo a montanha.

    — Vamos, Kael, você consegue! Vamos, ela… precisa… de você! — ofegante pela dificuldade de respirar devido ao frio cortante. 

    Enquanto subia a montanha, com a neve cobrindo seus joelhos tornava cada passo mais difícil, ele não conseguia afastar os pensamentos sobre seu cavalo. 

    As lembranças de Joe, seu fiel companheiro, pesavam em sua mente, trazendo uma mistura de saudade e culpa que o acompanhava a cada movimento.

    Após se esforçar muito, ele ultrapassou a barreira mágica. 

    A luz suave das tochas mágicas iluminava o caminho; o ar gelado que cortava sua pele dissipou, dando lugar a um ambiente mais calmo.

     Ah, a barreira, se o Joe tivesse chegado aqui…

    Agora, dentro do abrigo, ele andou em direção à sua casa. Perto da porta, o som de bebês chorando chegou até seus ouvidos, um lembrete da vida que o aguardava, da razão pela qual ele continuou a lutar.

    Eu deveria estar feliz, não é? Eles estão aqui, vivos. Joe… Como posso ser feliz sabendo que ele não está mais aqui para me ajudar? Como posso sorrir?

    Kael fechou os olhos e respirou profundamente, tentando se acalmar antes de abrir a porta.

    Ao abrir a porta, viu sua esposa e os cinco bebês. O rosto de Mila estava cansado, mas o brilho nos olhos dela quando ela o viu fez sua dor parecer menos opressiva.

    Quando ele segurou Pearl e Luca, dois dos seus cinco filhos, pela primeira vez, não foi um momento de pura alegria, mas uma mescla de sentimentos. 

    Enquanto segurava ambos no colo, observou atentamente os detalhes dos dois. Notou como os olhos de ambos eram azuis, mas havia algo único nos olhos de Pearl: as bordas de suas íris tinham um brilho roxo, um traço incomum para um bebê que acabara de nascer. 

    Os poucos fios de cabelo de ambos também chamavam a atenção. 

    — Brancos como a neve.

    Porque nasceram assim? Kael estava confuso.

    Com delicadeza e carinho, os colocou de volta nas caminhas confortáveis feitas para os bebês.

    — Eles são incríveis… Meu anjo — disse, com um sorriso emocionado.

    Kael então pegou os outros dois filhos Lótus e Karl nos braços, admirando os poucos fios de cabelo escuros que eles tinham, idênticos aos seus próprios.

    Seus olhos  castanhos brilhavam com vida. Enquanto os observava, notou um pequeno sinal no peito de Lótus e mostrou a Mila, fascinado e sorridente.

    Após admirar ambos, Kael os acomodou na cama particular que dividiam, com o cuidado de um pai que prezava cada detalhe.

    Então segurou Yuki, a última das crianças. 

    — Magnífica… ela é igual a você, meu amor. Olhe para esses cabelos caramelos e esses olhos castanhos… incríveis!
    — Eu te amo, Kael. — respondeu suavemente, emocionada com as palavras de Kael. 

    Kael olhou para Mila com ternura, sentindo o peso da responsabilidade.

    Nesse momento, Mila desmaiou, e Kael, tomado pela preocupação, se apressou para ajudá-la, o coração apertado pela súbita mudança.

    — Está tudo bem, Kael, — disse uma voz conhecida que respondia seus pensamentos — ela só está descansando agora, estava esperando você chegar 

    Emocionado com a conquista de seus filhos, não percebeu a presença de Hia, sua vizinha elfa. 

    — Hia? Você que…

    Hia se aproximou com um sorriso tranquilo, apesar da situação tensa. 

    — Você tem se sobrecarregado, Kael. Todos vemos isso.

    — Não é fácil. Sempre sinto que, se eu parar, tudo pode desmoronar.

    — Ninguém consegue carregar o mundo sozinho. Às vezes, precisamos permitir que outros nos ajudem.

    Ela moveu-se até Mila e a cobriu com um lençol. 

    — Ela foi muito corajosa, Kael. Não se preocupe. Mila está só exausta. Você sabe como ela é forte.
    — Tudo está bem agora. Todos os cinco estão aqui, são saudáveis, e Mila vai se recuperar.
    — Eu… eu não sei o que faria sem você, Hia. Você foi incrível.
    — Você não está sozinho. E, se precisar de ajuda, estarei aqui, como sempre estive.

    Hia dá um tapinha amigável no ombro de Kael, olhando para ele com confiança, antes de se afastar um pouco para dar espaço a ele e à sua família.

    E em um piscar de olhos, tudo começou a se formar aos poucos. 

    Diariamente, enquanto as crianças cresciam, Kael se dedicava à floresta, derrotando toda criatura hostil que ameaçasse a segurança de sua família. 

    Ele sabia que, quanto mais as crianças cresciam, mais perigoso o mundo ao redor se tornava, e ele precisava garantir que pudessem viver em um ambiente seguro quando chegasse o momento de explorar por conta própria.

    Além das lutas e caçadas, Kael enfrentou grandes dificuldades para reconstruir a casa, adaptando-a para acomodar sua crescente família. 

    Cada dia trazia novos desafios, desde reforçar as paredes até aumentar o espaço disponível. 

    Enquanto os filhos cresciam, Kael lhes ensinava sobre caça e luta.

    Ele não acreditava apenas em habilidades comuns, mas queria que seus filhos aprendessem a ser espertos o suficiente para usar o ambiente a seu favor e a entender o equilíbrio entre força e inteligência. 

    Por vezes, os treinamentos eram exigentes, testando seus limites, mas sabia que cada desafio era uma preparação para o que viria.

    E o tempo passou…

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