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    Podia sentir o vento frio se sobressaindo por todo meu corpo. Parecia estar em alta velocidade caindo de algum lugar. Estava cansada, meu corpo estava cansado, não conseguia pensar direito. Então apenas me deixei desmaiar, esperando que não me acontecesse o pior.

    “Minha cabeça doi.”

    Foi a primeira coisa que pensei enquanto acordava em uma cratera no solo. Via o fogo se alastrando diante de meus olhos, descongelando a neve que havia naquele local; troncos de árvores caídos, alguns queimados, outros não. Mas de uma coisa tinha certeza: conseguia sentir o calor. A minha respiração estava pesada e mesmo com todo aquele fogo à minha volta, o frio era inevitável.

    Estava à noite. A escuridão dominava a região, não havendo nenhuma fonte de luz que além do fogo que me rodeava e das estrelas que brilhavam constantemente no céu.

    Me levantei e limpei minha roupa que estava toda empoeirada de terra.

    A ficha do que estava acontecendo ainda não tinha caído até aquele momento, ois tudo o que eu via era uma vasta floresta sem sinal de vida animal ou qualquer coisa iminente.´Era aterrorizante estar naquele lugar, afinal, estava apenas eu e o fogo.

    Olhando para baixo, havia grama queimada. Uma grama que deveria estar coberta de neve. E em meio a toda essa situação, tudo o que eu podia pensar era: eu não deveria estar viva.

    Tudo era tão baixo e isolado, não existia nenhuma possibilidade de ter caído de algum lugar por ali perto. Ainda mais sobreviver de uma queda tão grande quanto.

    ― Não, isso não pode estar certo, é apenas um pensamento bobo. Devo fazer que nem meu pai disse; ele dizia para… o que é mesmo que ele dizia?

    Por que eu não consigo lembrar de nada? Minha cabeça doía, mas não conseguia distinguir se era pela queda ou se era pela falta de minhas memórias. Tentei me manter calma diante toda aquela situação impossível.

    Estava aflita o suficiente para não conseguir demonstrar desespero, e ao mesmo tempo, muito confusa.

    Comecei a andar sobre aquela floresta, sem imaginar chegar em algo. Abandonei o local que deveria ser o meu pouso, de certa forma forçado. E tudo o que eu queria investigar naquele momento não era quem havia me jogado do céu ou porque de estar viva. O meu foco estava em descobrir se existia ou não vida humana por perto, ou seja, alguém que poderia me ajudar.


    Andei o suficiente por aquela floresta para dizer que não sabia onde estava. Todos os lugares pareciam os mesmos. Era como se estivesse em um labirinto infinito…

    Pensava isso até pelo menos até ver uma luz à minha frente. Corri até ela para descobrir uma cidade totalmente iluminada, havia casas e um grande castelo ao centro. Castelo esse que exalava nobreza com suas grandes paredes.

    Estava aliviada por ter chegado em sociedade, mas ao mesmo tempo, senti uma grande pontada vinda de minha barriga. Vomitei sangue, líquido esse que de repente se misturava com a neve, em algumas partes até derretendo. Me ajoelhei de dor imediatamente, tremendo e temendo por minha vida.

    ― Que droga! Eu deveria imaginar que estava machucada ― disse, enquanto tossia mais sangue.

    Olhei para baixo, e mesmo sem levantar a minha camisa, eu pude sentir o ferimento. E em um movimento desesperado de salvar minha vida rasguei rapidamente uma manga de minha camisa na tentativa de estancar aquele sangue.


    [●∘∘∘∘∘∘∘∘∘ 10%] 

    Em minha frente, apareceu uma espécie de holograma, em um formato retangular, que demonstrava um percentual, como uma tela de carregamento. Aquilo era confuso, e, ao mesmo tempo, eu sentia temor pelo que vinha.

    Por conta desses acontecimentos, uma forte dor de cabeça surgiu de repente, causando um grande rompimento em meu foco, fazendo com que eu estivesse prestes a desmaiar.

    Minha última visão antes de perder a consciência foi o avistamento de uma criança, eu podia ver pela sua estatura que deveria ser bem nova. Suas roupas humildes destacavam os seus cabelos marrons, além de uma cicatriz que cobria desde o seu pescoço até o seu olho esquerdo, parecia desesperada, eu a vi correndo até mim e os meus instintos apenas me fizeram dizer:

    ― Por favor, me ajude…

    Enquanto perdia a consciência mais uma vez.


    Senti mais uma vez aquele calor que vem do fogo, mas dessa vez, ao invés de desesperador, era aconchegante. A superfície macia de onde estava deitada, era fofinho, amenizando um pouco da dor que sentia. Que, naquele momento, parecia ter se amenizado um pouco.

    Abri levemente meus olhos. Podia ver que estava em uma casa totalmente feita de madeira, incompatível com minha última visão. Pensei por um momento estar no purgatório ou algo parecido, mas se eu sentia calor, eu definitivamente não havia morrido.

    ― Então eu não morri? ― Estava confusa o suficiente para entender aquela situação, mas só de estar viva trouxe alívio ao meu coração.

    ― Não, você não está morta ― falou uma voz que veio da minha frente. 

    Eu abri meus olhos completamente e me levantei. Pude ver um homem sentado em frente a uma lareira, enquanto me observava. Ele parecia estar na casa dos vinte, cabelos marrons e olhos estranhamente amarelos. Suas roupas eram claramente feitas de couro, e o que mais me chamou a atenção foi a sua espada, a qual carregava apoiada em sua perna.

    ― E então, moça dos cabelos vermelhos, me diga quem é você ― disse a pessoa à minha frente.

    ― Não sei, talvez eu esteja esperando que alguém me diga quem eu sou, senhor dos cabelos marrons ― falei, sem esperança de ouvir uma resposta boa.

    Nem ao menos consegui enxergar seus movimentos, pois quando percebi, a sua espada já estava perto do meu pescoço.

    ― Sabe, eu te salvei, mas não quer dizer que eu não possa te matar…. Vou perguntar novamente. Quem é você? ― disse.

    Pude ver em seus olhos que estava sério sobre isso.

    ― Eu não sei! Já te disse. Não é o suficiente a minha resposta? Eu não sei o meu nome, não sei a minha idade, não me lembro de meus pais, seus nomes, seus rostos, eu não lembro! Não é só você querendo saber quem eu sou. Eu nem ao menos sei o seu nome! ― contei tudo, pelo menos em partes. Engolia o meu choro, com medo da morte.

    Ele parece ter acreditado em mim, pois logo após falar isso ele embainhou a sua espada. Seus olhos pareciam demonstrar pena, como se eu fosse algum gato abandonado ou algo do tipo.

    ― Você… ― Parecia querer dizer algo, mas as batidas na porta naquela casa o interromperam.

    Dois guardas surgiram do nada, vestidos de uma maneira elegante. Eles pareciam estar conversando com aquele moço, ou melhor, o interrogando. Tentei escutar a conversa deles, mas estava muito difícil.

    ― E então, Senhor Klaus, há alguma chance de você ter visto uma mulher de cabelos vermelhos por aqui? Estamos investigando um acontecimento recente ― ouvi um dos guardas dizer.

    O frio na barriga era inevitável, estou em um lugar que eu não conhecia e estava sendo perseguida por guardas, parecia só ficar pior a cada momento em que passava, o meu destino naquele local era incerto.


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