Capítulo 11: Algumas Pedras No Caminho
Com todo esse impulso, Karina pulou para um galho que estava acima de nós. Não parei de gritar por um único segundo, como se eu fosse perder minhas cordas vocais novamente.
Não era uma distância tão grande do chão comparada às árvores do norte, mas o suficiente para me fazer ficar em pânico.
Pendurada no galho, Karina deu um mortal comigo em suas costas e se estabilizou.
Um movimento muito, mas muito arriscado.
— Tá tudo bem aí, mamãe? — perguntou Karina, enquanto segurava a alça do suporte. Virou a sua cabeça e olhou para mim, dando um sorriso malicioso logo após perceber que tremia um pouco.
Essa garota definitivamente não era normal.
— Eu não sei se meu coração vai aguentar mais — disse, enquanto arfava sem parar.
— Esse é só o começo!
Karina se preparou para saltar em direção a outra árvore. Meu coração acelerava no mesmo ritmo de seu pé sendo arrastado no galho.
Exigia uma força imensa para fazer todos esses movimentos. Uma força que ela tinha, e eu invejava só um pouco. Fiquei muito agradecida por ela estar do meu lado.
Karina saltou.
Me vi no ar por bastante tempo, enquanto ela ajeitava suas mãos para se posicionar no galho. Até que ela pousou com segurança, as sandálias minimizando a queda.
Apenas o primeiro pulo foi suficiente para ela pegar um impulso para continuar. Saltou para o segundo, terceiro, quarto e assim por diante.
Estava em um ritmo constante, sem qualquer deslize. Sua expressão indicava que ela, surpreendentemente, estava se divertindo com isso.
O vento batia em meu rosto, jogando todo o cabelo recém-cortado para a nuca de Karina. Enquanto gritava pela emoção, Karina se concentrava cada vez mais na sua diversão de usar os galhos como apoio.
Andamos muito em pouco tempo, mesmo sem saber para qual direção estávamos indo. Ou se pelo menos ia ser rápido.
Em certos tempos, passávamos por dentro das árvores, o que ocasionava as folhas prendendo em meus cabelos.
Havia começado a ficar divertido de repente, um sentimento que não podia explicar de forma alguma. Toda aquela sensação de liberdade e alegria parecia ter vindo com tudo naquela perigosa brincadeira.
O desespero havia virado… diversão.
— Isso é… muito bom! — gritei, logo após gargalhei de felicidade.
— Eu sabia que você ia gostar! — respondeu Karina, rindo junto comigo.
Continuou assim por bastante tempo, era um clima confortável de se continuar. Até que seu ritmo foi diminuindo.
Olhei para seu rosto de canto de olho, e ela observava fixamente uma direção específica, quase como se tivesse enxergado algo muito estranho.
Fiz uma linha mental de seus olhos até o ponto em que estavam observando e pude ver a exata mesma coisa que ela.
Uma carruagem na estrada de terra que havia se formado há pouco tempo ao nosso lado. Até aí, nada incomum. Porém, a carruagem estava rodeada por pessoas, além de estar no meio do nada.
Algo estava acontecendo ali.
Karina parou em uma árvore perto, se agachando comigo logo após.
— Você vê o que estão fazendo? — perguntei. Estava em um ponto cego naquele instante, afinal, todo o tronco da árvore tampava minha visão.
— Sim… são saqueadores.
Karina me tirou do suporte, colocando-me ao seu lado. Quando ia falar algo, ela tapou minha boca com sua mão.
— Eu vou lá — murmurou Karina, estalando os dedos da mão. — Parece ser carruagem de gente rica, devemos ganhar um bolão por ter ajudado.
Ela usava muitas gírias, mas entendia boa parte pelo contexto da frase.
Ainda não havia visto Karina usando seu poder, e essa parte me incomodava. Em Hektar, as bençãos deveriam ser únicas de pessoa para pessoa. Então, o que me diferenciava de Karina?
Não podiam ser as mesmas coisas, é óbvio. Afinal, só eu tenho Hefesto.
[Uma benção está sendo utilizada. Deve ser negado o seu uso?]
Deve ser dela.
Não.
Em minha frente, vi as mãos de Karina se alongarem. Uma cena bizarra e desconfortável de ver.
Os dedos foram se juntando e se moldando, mudaram de textura, chegando a uma aparência mais metálica. Ao finalizar todo o processo, o que antes eram duas mãos, agora eram duas adagas.
Senti um pouco de nojo, óbvio. Não parecia doloroso e nem nada, mas um arrepio passou pela minha espinha.
Então… ela pode usar seu corpo para fazer metal? A única coisa que é semelhante entre nós é a manipulação dele.
Isso era muito curioso.
Eu queria ver mais. Estava muito curiosa.
Karina destransformou um dedo.
— Shhhhh! — Colocou na frente da boca, indicando para eu ser a mais silenciosa possível. Deu um sorriso maligno, como se esperasse mesmo por uma luta.
Após isso, as mãos voltaram a ser adagas.
Karina pulou na árvore em minha frente, totalmente silenciosa. Era diferente de quando estávamos nos divertindo, do qual fazia bastante barulho apenas de pisar em cada árvore.
Fez cambalhotas até o chão, sem deixar qualquer rastro sonoro. Após pisar no solo, pegou uma pedra que estava ali perto.
Não escutava o que os bandidos estavam falando, apenas cochichos chegavam em meu ouvido. Não demorou muito para que eles tirassem duas silhuetas de dentro da carruagem.
Um homem de cabelos loiros e uma menina mais nova semelhante a ele. Pareciam irmãos. Se vestiam de forma chique e glamourosa, porém, a carruagem não condizia com a elegância deles.
Puxaram os cabelos da garota em uma cena horrenda, em seguida, jogaram o garoto para longe. Uma carruagem sem cocheiro, da qual supus que havia fugido antes mesmo dessa confusão se instaurar.
Karina jogou a pedra na direção deles. O barulho alto logo fez com que todos prestassem atenção na origem do som.
Eles levantaram suas espadas rapidamente, percebendo que não estavam sozinhos no local. Apenas aproveitei o show, sabendo que não havia muito que pudesse fazer.
Mas tinha uma coisa que não mudava…
O ferro.
Karina se movimentou pelas sombras da floresta, chegando a um ponto cego dos inimigos. Seu rosto mostrava uma expressão um tanto quanto eufórica com a ideia de lutar.
Ela jogou a adaga que havia sido criada pela sua mão em direção a eles. A lâmina foi em toda a velocidade, acertando o pescoço de um dos bandidos.
— Menos um. Faltam oito. — É… estava me divertindo com esse espetáculo. — Mesmo assim, é muito para ela lidar. Será que Karina consegue? Melhor eu dar uma ajudinha.
Sentia o ferro dentro daquele bando.
Antes mesmo que fizesse qualquer coisa, Karina saltou para o meio deles, criando uma espada com sua mão.
Ela pegou a adaga que havia jogado rapidamente, incorporando-a em seu corpo. Começou a atacar um por um.
Seus golpes pareciam lentos, algo que não esperava dela. Estava cansada? Não… não parece isso.
Uma expressão de prazer pela luta.
Jogou um dos bandidos para longe, enquanto matava mais dois com cortes certeiros. Apenas o sangue de suas gargantas cortadas foi espalhado para o solo.
Faltavam seis.
Sua velocidade estava aumentando exponencialmente, era possível notar isso.
Ela avançou contra aqueles que ficaram ao seu redor, se movimentando quase como o vento. Suas aparições eram como flashes, apenas surgindo quando os golpes eram defendidos.
— Ela é louca! — gritou um deles. Agora eu pude escutar a voz dos bandidos, pelo menos de um.
Ataque pela nuca.
Menos um.
Karina ria alto enquanto realizava esses atos. Para ela… a morte não significava nada.
Limpou o sangue que havia sujado seu rosto, se preparando para mais uma arrancada. Dessa vez, pulou no bandido que havia se afastado.
Ele estendeu a mão, brilhando em azul.
[Negar a benção que está sendo usada?]
Vou te ajudar dessa vez.
— Sim, negue — disse.
Sua mão logo parou de brilhar, e os olhos de Karina acenderam em alegria. A espada atravessou seu peito numa perfuração seca, sendo tirada logo após.
Karina olhou na direção dos outros bandidos com um sorriso amedrontador. Ela não parava de sentir tantas emoções diferentes ao mesmo tempo, mesmo que isso a levasse ela para um único final.
Ela estava suja de sangue, o que deve ter contribuído para os bandidos sentirem medo. Nem usaram suas bençãos contra ela ou a atacaram mais, apenas correram.
Seja rastejando, seja correndo como uma lebre, eles desapareceram da minha visão em segundos.
Logo após, Karina apenas olhou para mim com um sorriso fofo, evidenciando seus dentinhos separados.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.