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    Não sabia onde estava. Minha cabeça estava girando, deixando a situação mais confusa do que o normal.

    O brilho do sol batia em meu rosto, ofuscando meus olhos. Era reconfortante o cheiro do ar e das plantas.

    — Uh… — murmurei, colocando uma mão no rosto e a outra agarrando a terra. — Grama…? 

    Estava atordoada, sem pensar direito no que estava acontecendo. 

    — Já acordou? — perguntou uma voz vinda do além. Olhei de um lado para o outro, os olhos focando.

    A floresta era vasta, alcançando muito mais do que meus olhos poderiam suportar. Por mais lindo que fosse, uma sensação estranha reinava no local.

    — Quem disse isso…? — perguntei, não encontrando a origem da voz. — Isso é um sonho… Tenho certeza disso.

    Talvez eu só quisesse que fosse um sonho. Um sonho do qual pudesse aproveitar para todo o sempre…

    Mas sentia que não fosse esse o caso. O meu purgatório teria uma cara muito pior do que apenas uma floresta refrescante.

    — É um sonho, sim. Só que um sonho muito diferente do que você pensa! — A figura apareceu, sua voz comparada à de uma criança. — Como você se sente hoje, Scarlett Dvooret? 

    Dvooret. Esse era um sobrenome do qual pensei nunca mais escutar na vida, uma vez que veio de meus falecidos pais.

    — Quem é você? — disse, tentando ser amigável. Aquilo era um sonho, e tudo iria acabar quando acordasse.

    Os cabelos prateados reluziam com o sol, os olhos negros mostrando uma falta de alma. Grande contraste que quase me fez pular de susto!

    Por mais que fosse uma aparência curiosa, nada chamava tanta atenção quanto as listras que tinha em seu corpo. Mesmo vestindo uma grande túnica, era possível perceber as grandes tatuagens se estendendo para dentro das roupas.

    — As listras te chamam atenção? — perguntou o garoto. — Ou talvez… minha aparência seja um problema. — Logo, o pequeno garoto cresceu e cresceu. Envelhecendo em segundos como nos filmes! — Assim está melhor?

    Sua aparência agora era de um homem no auge de sua aparência. Poderia dizer que era por volta dos vinte anos? É… Talvez mais.

    Levantei-me, apoiando nos troncos de árvores. 

    A cabeça doía, mas não pelo mesmo motivo de antes. Os cabelos bagunçados e cheios de folhas me incomodaram mais do que pensei.

    Limpei com calma, tirando cada galho e qualquer ninho que poderia ter se instaurado em meu couro capilar.

    — Que sonho mais estranho. Nunca vi um menino virar um homem tão grande quanto você — resmunguei, tirando a terra de minha roupa. — Você ainda não me disse seu nome, pessoa estranha.

    — Ainda não me carreguei por completo em seu corpo.

    — Frase estranha. Você é um assediador? — Cruzei os braços. — Sinto que está pedindo para morrer.

    — Não, que nojo! Me recuso a acreditar que você pensou isso de mim — disse a figura. — Sou uma existência maior do que os humanos, mas ainda não completei a transferência.

    — Transferência? Eu sinto que você está inventando termos para evitar responder seu nome — disse, olhando ao redor. — Meu cérebro é tão teimoso pra ter criado alguém assim?

    Um pássaro pousou em seu ombro. Preto e branco, como se saísse de um filme dos anos 50.

    — Não sou uma criação do seu cérebro — cutucou minha testa. — Se quer saber meu nome tanto, que tal fazermos um jogo? 

    — Odeio joguinhos.

    — Eu sei. Mas vou te dar umas recompensas a mais se conseguir acertar.

    — Assino onde?

    — Ugh… Bem que fui avisado sobre você. Essa sua personalidade ainda vai te matar, Scarlett — disse o homem, seguindo a trilha lentamente. — Vamos começar o jogo, então. 

    Ele andou um pouco mais, interagindo com qualquer animal pequeno que aparecesse no caminho. Desde pequenos insetos, como borboletas, até mesmo esquilos que só queriam sacanear com sua cara.

    — Scarlett, você tem quatro chances. São quatro chances de acertar o meu nome, e, a cada vez que errar, darei a oportunidade de fazer uma pergunta — continuou. — É bem simples, não acha? Ah! E não vale perguntar o meu nome. 

    Que jogo mais fácil, cara! Como não acertar um nome com tantas coisas me favorecendo? São várias perguntas que poderiam me ajudar nesse tipo de situação!

    E, como primeira pergunta, não poderia deixar de pensar em como diminuir as probabilidades. Tinha de ser uma pergunta certeira, mas… a primeira necessitava?

    — Seu nome é comum? — perguntei, olhando para sua reação à pergunta.

    Os olhos tremeram, e um sorriso apareceu no canto de sua boca.

    — Não. Ele não é comum — respondeu, um ar de vencedor, era um claro deboche de minha cara. — Já sabe o meu nome?

    — Leviathan — chutei. — É esse?

    — Uau! — Bateu palmas. Aquilo me trouxe uma fagulha de esperança. — É muito impressionante esse jeito horrível que você errou meu nome. Hahaha!

    Que droga! Por que diabos ele teve de falar dessa forma? Argh! 

    Agora teria de fazer a segunda pergunta. Deveria ser certeira, algo tão incrível que vai fazer ele se chocar na mesma hora!

    Como poderia fazer isso?

    Ah…

    Acho que já sei.

    — O seu nome é relacionado ao abstrato? — disse, colocando a mão no queixo. E o sorriso de canto aumentou.

    — Sim… É relacionado ao abstrato. — Virou-se para frente, como se quisesse esconder sua expressão do momento.

    — Tristeza. — Mais um chute, porém necessário para que tudo desse certo. Minha segunda pergunta seria desperdiçada para que a próxima fosse mais do que certeira! — Seu nome é Tristeza?

    — Não, não é — respondeu. Era óbvio, mas não custava tentar. — Agora estou curioso, muito curioso. Como você associou o sentimento de tristeza a mim? 

    Ah… 

    Não sabia. A verdade era que não sabia de onde tinha tirado essa palavra.

    Foi apenas…

    — Sua expressão. O sorriso que mostra não é nem um pouco misterioso, é só… angustiante — disse, olhando para ele. — Além do mais, suas mãos estão cheias de calos e pequenas cicatrizes. Sem contar a forma como me olha. É como se sentisse pena de mim, mesmo que não o conheça.

    — Ahahaha… Você é bem perceptiva, não é? Isso é incrível, Scarlett — respondeu, e logo uma coroa apareceu em sua mão. — Estou morrendo. A verdade é essa.

    — Morrendo…?

    Não sabia do que estava falando. Uma entidade criada por minha mente estava morrendo? Bem…

    Queria poder acreditar, mas era impossível. Tudo aquilo era só um sonho que iria esquecer assim que acordasse.

    — Sim. Mas vou usar o tempo que me resta para abrigar-me em seu corpo — disse, olhando para o relógio que acabara de aparecer no ar. — Tomei tempo demais. Você deve voltar à sua vida real… Depois continuamos essa conversa.

    E, sem qualquer cerimônia, comecei a acordar. Uma transição rápida, como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que tinha.

    Ainda estava fresco em minhas memórias. Todo o sonho estava preso na mente!

    Sentia um cheiro de comida inundando o cômodo em que estava, além da colônia de morango nas cobertas. 

    Onde estava…?

    O quarto era infantil. Ou melhor, era bem otaku. Tinha aquelas Action Figures para todos os cantos, e tudo estava estampado por pôsteres de garotas mágicas.

    — Mas que…


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