Capítulo 12: Você Conhece Ela?
Agradeceria por ter encontrado um quarto vazio na igreja de Chamabrava, a santa daqui foi muito legal em me receber.
Estava à frente de um cômodo parecido com o que eu ficava com Seven. Isso me trazia boas memórias e péssimas sensações por ela não estar aqui.
Coloquei a chave na maçaneta, pensando mais uma vez em Seven. Girei a chave, imaginando mais uma vez que ela estaria jogada naquela cama, dormindo como um gato.
Abri a porta. Cômodo pequeno, apenas tinha uma mesa e sua cadeira, uma cama e guarda-roupa.
Por que todos eles tem que ser iguais? É um padrão, e eu odeio isso.
Coloquei meu pé sobre o quarto, e lembranças boas vieram à minha mente. Pisei mais uma vez, e o rosto de nojo daquela mulher que acabei confundindo com Seven apareceu em minha consciência.
Andei até a mesa e coloquei meu manto sob a cadeira do quarto.
O cômodo vazio me incomodava bastante. Pelo menos desde que você sumiu. Onde você está, Seven? Não encontro rastros em nenhum lugar… os locais onde posso te procurar estão cada vez menores.
Por um lado, eu sinto que isso é bom, significa que estou cada vez mais perto de te encontrar. Por outro lado… eu não quero nem pensar nisso.
Sentei-me na cadeira da mesa, colocando a bolsa que carregava apoiada. De dentro dela, retirei o mesmo mapa que venho trazendo comigo até então.
Pense, Gaia… Pense.
Por que nada vem à minha mente? Eu não aguento mais esperar… esperar e esperar.
Ao segurar o mapa, tudo que pude sentir foi angústia. Queria poder chorar.
Com o lápis que sempre utilizei para marcar o mapa, comecei a rabiscar todo aquele papel. Eu não suporto mais.
Amassei e o joguei para longe, deitando-me na cama logo após.
Me sentia perdida em pensamentos, só eles me faziam companhia agora. A sensação de estar só é horrível. Mesmo que eu tenha passado vários anos nesse estado, por que dessa vez é mais… doloroso?
Puxei o desenho que havia feito e, ainda com o lápis, tentei aperfeiçoar minha arte. Não deu certo, a superfície macia do lençol não permitiu. Perfurei o desenho de tanto tentar.
— Eu não queria… não queria que tivesse sido assim. — Segurei o pano que cobria a cama com força.
Estava em um abismo deplorável, um estado humilhante. Queria que lágrimas caíssem nesse pano. Seria melhor do que sentir essa dor no peito.
Tô acabada.
Levantei-me da cama, não podia ficar parada. Enxuguei as lágrimas irreais de meus olhos e andei até a mesa, sentando novamente na cadeira. De dentro da mochila, tirei mais uma folha em branco.
Desenhei um pequeno esboço de seu rosto; agora iria sair algo bom, algo perfeito. Porém…
Mais uma vez, amassei o desenho, jogando o papel na parede mais próxima.
— Não… não era assim que ela parecia. Tenho que ser melhor.
Puxei mais uma folha, rabiscando novamente.
No meio do desenho, amassei em uma bolinha e joguei para trás.
— Está ruim, tenho que ser melhor.
Isso durou horas.
O canto do quarto que antes estava limpo, agora estava um pequeno amontoado de papéis amassados. Assim que amassei mais um desenho, coloquei minha mão na bolsa.
— Ah… acabou o papel.
Fiquei triste. Não podia melhorar assim.
Precisaria comprar mais, não posso ficar sem desenhar. Não posso decepcionar.
Peguei um saco de dinheiro que carregava na bolsa. Estava quase vazio, não tinha nada além de algumas moedas de bronze, porém, era o suficiente para comprar algumas folhas.
Fui até a porta do quarto, a abrindo. O sol da tarde raiava sobre o céu, ofuscando meus olhos. Retirei meus óculos, limpando eles na camisa branca que usava.
Tranquei a porta, saindo pelos corredores da Igreja de Fogo logo após. Ela estava cheia de pessoas, assim como esperado.
Meus passos estavam lentos. Andei, desviando de todas as freiras que ali passavam por perto. Minha altura não ajudava a desviar de meu corpo, então eu meio que fiz esse esforço por todos ali.
Pelo menos, até alguém esbarrar em meu corpo. Um movimento rápido, mas acidental. Caí até o chão.
Minha cabeça girava com o atordoamento repentino, o suficiente para não enxergar quem pudesse ter feito isso. Meus olhos tentavam focar em algo, porém só foi possível visualizar o rosto de uma das freiras que se propôs a me ajudar.
Seu rosto… era igual ao de Seven.
Não.
Não era.
Agora eu estava entendendo o que estava acontecendo com minha mente. Não vou deixar ela me enganar mais uma vez.
Cocei meus olhos, virando de novo para o rosto da freira. A alucinação de Seven havia sumido logo após ter feito isso.
Ela estendia sua mão para mim, como se quisesse ajudar. Mas… eu não vou me relacionar mais com humanos.
Bati em sua mão, jogando o braço dela para o lado. Levantei rapidamente do chão em que havia caído, limpando toda a parte traseira de minha calça.
Sua expressão logo mostrou confusão. Talvez ninguém tivesse recusado sua ajuda na vida.
Nossa jornada na terra é feita de surpresas mesmo, lide com isso.
Andei para a portaria, saindo pelas grandes escadarias da igreja. Olhei pelo alto as lojas que ali cercavam.
Estava em um lugar que se chamava “O Círculo Mercantil de Chamabrava”. É bem aqui onde as maiores lojas se encontram.
E também as coisas mais caras…
Desci degrau por degrau, procurando uma papelaria de longe. Até que meus olhos encontraram uma.
Só não espero que ela seja cara como as outras… tenho muito pouco dinheiro.
Andei até ela, desviando mais uma vez da multidão que se alastrava no local. Era gente pro lado do vento mesmo, como diria minha falecida mãe.
Passos e mais passos.
Escutava conversas e mais conversas. Pessoas dizendo sobre como foi seu trabalho para seus esposos e esposas, e filhos mostrando coisas que achavam maneiras para seus pais.
“Aquela mulher foi muito legal com a gente, né?”
Escutei mais uma conversa, isso estava se tornando indesejável para meus ouvidos.
“Seu nome era… Seven, eu acho.”
Uma menininha disse.
Ela passava por perto de mim naquele instante, e por um instinto meu, segurei em seu ombro.
— O que você quer dizer com… Seven? — perguntei, minha fala hesitava.
Assim que disse isso, meu cérebro lembrou do novo herói que havia sido colocado como membro do quinteto: Zachery, o sétimo.
Fiquei muito furiosa com a notícia quando vi.
— Moça? — respondeu a criança. Cabelos loiros e olhos azuis.
— Desculpa, desculpa. Eu só me confundi — disse. — É que eu tenho uma amiga chamada Seven, e eu estava procurando por ela.
— Seven? Olhos verdes e vermelhos com cabelos ruivos? — falou o garoto ao seu lado. Eles pareciam irmãos.
Eu não conseguia expressar minha felicidade ao escutar isso. Meu corpo exalou esperança em mais uma vez saber de seu paradeiro.
— Com algumas mechas brancas, talvez? — Esperava muito que estivéssemos falando da mesma pessoa. Por favor, diga que sim.
— Ah, então você conhece a senhorita Seven!
É isso?
Estamos falando da mesma pessoa?
— Por favor… vocês aceitariam tomar um café comigo?
Eles aceitaram… e agora?
Não esperava que isso acontecesse.
— V-você tem um p-papel aí? — perguntei. Meu pequeno toque em relação a falar com pessoas havia voltado momentaneamente.
Eles mostravam expressões confusas, mas o irmão maior acabou cedendo.
Peguei o papel e comecei a desenhar com o lápis que havia levado junto comigo. Eles olhavam fixamente para meus atos.
Até que, em alguns minutos, havia acabado meu desenho.
— Olhe. — Estendi o papel com o braço. — A m-moça que vocês viram e-era parecida c-com essa?
Um desenho de perfil, apenas mostrando as características de seu rosto.
— Sim…? — Pegou o papel com a mão, analisando. — É, é ela mesmo.
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