Não sabia como estava fazendo aquilo, de algum jeito os socos sempre pegaram de raspão, nunca me atingindo completamente. Soco pela esquerda, baixo, direita, chute frontal, era fácil de entender após alguns ataques daquilo, pois parecia que essa cópia minha tinha um certo padrão.

    Foi bastante tempo evitando a minha morte contra eu mesmo, mas parecia não ser o suficiente para satisfazer a Gaia.

    ― Você só tá se desviando como uma barata tonta, vamos logo com isso! ― gritou. 

    ― Como que eu ataco algo assim? Ele vai me matar se algum desses socos chegar em mim! 

    ― Você consegue garota! acredite em vo-… ― Sua frase não foi terminada, e isso poderia ter sido por vários motivos.

    Mas não havia aberturas para tentar golpeá-la e parecia que minha doppelganger sabia disso, pois em toda essa luta um sorriso sádico estava estampado em seu rosto. Ela de repente se virou de costas para mim, andando lentamente para longe.


    [Uma ameaça foi detectada, deve ser ativado o protocolo de segurança?]

    A cada passo seu parecia cada vez mais silencioso, um detalhe muito assustador. Uma ameaça? Esse fantoche na minha frente era a ameaça que estava se referindo, foi o que havia entendido da situação.

    Os seus passos silenciosos não eram apenas coincidência, pois ao olhar nos arredores tudo que pude sentir era essa situação ficando cada vez mais perigosa.

    ― Que diabos… 

    O tempo havia parado naquele momento, e tudo que se mexia era apenas eu e a minha cópia. O motivo do silêncio era esse, podia ver claramente Gaia parada quase perto de mim como se quisesse me proteger, mas não foi o suficiente.


    [A ameaça foi detectada como uma forma muito acima do que o Complexo pode processar.]

    Meu corpo começou a tremer sobre aquilo que estava à minha frente, estava pálida de medo. Aquela marionete não parecia mais uma cópia minha, e agora ele parecia ter finalmente a intenção de virar-se contra mim.

    Aquele fantoche estendeu suas mãos para mim, 

    ― Nos encontramos novamente, não é mesmo irmã? Fiquei sabendo de sua condição recente.

    Minha cabeça passava um monte de coisas naquele momento, irmã? Ela me conhece? Mas eu não a conheço. Se fosse algo como minha irmã definitivamente teria aparecido antes, ela não era confiável. Me posicionei com meu punho cerrado para frente, mas não esperando ganhar aquela luta.

    ― Não me chame de irmã quando nem ao menos te conheço. ― Palavras que saíram da boca para fora no momento, até porque as minhas pernas não respondiam, elas estavam paralisadas de medo.

    ― Descobri de sua condição recente… Embora não possa ajudar com isso, acabo podendo com outras coisas.

    ― Me dê motivos para acreditar em você.

    ― Sou a sua parente de sangue, já é mais do que o suficiente para você acreditar em mim.

    ― Vá embora, por favor.

    ― Suponho que essa enfermidade tenha afetado muito a nossa relação, foram apenas seis dias, não seja dramática. 


    [O ser à sua frente ultrapassa quaisquer entendimentos guardados no Complexo.]


    [Uma benção será usada inconscientemente caso necessário.]

    Ele estava andando para perto de mim, mas se aquilo chegasse perto, por que diabos havia se distanciado? Não era algo que deveria pensar nessa ocasião, não conseguia focar no que via na minha frente, certamente algo mais assustador que um monstro horrendo é ver ele disfarçado de você.

    Ele pegou em meu rosto como se estivesse analisando algo, e tudo que eu podia fazer era aguentar. Estava mantendo uma pose de luta mas tenho certeza que nem chegou perto de o intimidar, tinha certeza que qualquer movimento brusco ele iria me matar ali mesmo.


    [Uma benção está sendo usada no usuário.]


    [Tentando desativar o uso dela.]

    ― Ceda a permissão, Scarlett.

    Eu já ouvi esse nome antes, mas não conseguia dizer exatamente quando. Minha cabeça doía a cada palavra que ela dizia, ainda era estranho ver eu mesma na minha frente dizendo aquelas coisas.


    [Erro.]


    [Falha crítica.]

    Era a primeira vez que me mostrava essa tela de falha crítica. A minha cópia só parecia cada vez menos eu. 

    ― Scarlett, ceda a maldita permissão.

    ― Q-quem diabos é Scarlett de quem você tanto fala…? ― Sua mão em meu rosto atrapalhava minha fala, fazendo com que eu gaguejasse.

    ― Huh? Como assim você não sabe? Deve estar brincando comigo ― disse tirando a mão do meu rosto.

    A pressão foi tanta que apenas agora minhas pernas perderam totalmente suas forças, me jogando involuntariamente ao chão nevado, que naquele momento estava sólido por conta do tempo parado.

    ― Então ele é seu capanga? Deve ter mandado ele para me matar então.

    ― Que droga, O pai me falou que foi apenas uma contusão na cabeça, e agora você parece mais uma debilitada na minha frente! Pare de brincadeiras e falemos sério.

    Aquele ser parecia desesperado com a minha condição?

    ― Já te falei, eu não te conheço e nem tenho fragmentos de memória de quem um dia fui.

    A marionete se agachou, pelo jeito que agia parecia totalmente desesperada e ansiosa. Dessa forma não parecia tão imponente quanto antes.

    ― Que droga, que droga… Que droga! Me diga que está brincando, por favor. ― Murmurava de prantos ao chão.

    Me levantei nesse meio tempo, olhando para aquele fantoche e ele estava… tremendo. Parecia alguém muito indefeso naquele instante e tudo o que consegui sentir agora não era medo, mas sim pena.

    ― Então se você não se lembra, que valor tem? ― O autômato estava se virando contra mim agora, e definitivamente iria me matar.

    Corri o mais longe que pudesse assim que ele disse isso, mas não foi o suficiente. Acabei dando de cara com o corpo de Gaia parada no tempo. Sua expressão naquele momento demonstrava desespero, como se algo tivesse dado errado. 

    Virei-me para trás e ele estava parado em pé, como se tivesse relaxado todos seus membros. 

    ― Então você foi descartada pelo pelo pai! Merece a morte. ― Pelo seu tom de voz, era raiva o que sentia. ―  Venha até mim, oh chama da criação! 


    [Erro.]


    [Uma benção está sendo usada.]


    [Complexo não pode desativar a benção do portador.]

    Com a suas duas mãos posicionou-se com elas para cima, esperando que algo acontecesse. E naquele momento um fogo surgiu em formato de lâminas com uma corrente para trás ligando as duas.

    ― Nem ao menos posso utilizar minhas bençãos mais, esse corpo patético já me deixou fraca só por manter essa barreira. Pelo menos essa burra que você chama de guia deixou um pequeno presente nesse fantoche.

    Corri em uma direção contrária à de Gaia e daquele corpo, tentando evitar ser morta. A floresta mesmo com tempo parado parecia uma ótima opção para fugir, e então eu fiz. 

    Adentrei o mais fundo que podia com a minha energia restante, apenas para descobrir que de um certo ponto havia chegado no que ele tinha mencionado antes.

    A lâmina foi lançada. Era possível ouvir o fogo chegando cada vez mais perto, um fogo que parecia carregar o meu destino.

    E quando finalmente olhei ela em minha direção, aquela lâmina que antes era flamejante parecia ter dissipado seu fogo antes de me acertar. Era uma lâmina de metal puro e claramente afiada. Foi quando aceitei que não dava para desviar, então fechei meus olhos e coloquei minha mão para frente, tentando evitar o inevitável.

    Tudo que pude escutar após aquilo foi o som do metal, um som metálico chocando em algo do mesmo elemento.

    ― Não ferra! Você era a mais útil de todas, e agora mesmo sem as suas memórias você consegue utilizar a sua benção! Você já é um projeto falho, por que não aceita o seu destino logo? 

    Abri meus olhos sem acreditar que ainda estava viva. Saí de uma situação de quase morte e mesmo que voltasse no tempo, preferia não sentir a dor novamente. 

    Na minha frente estava o machado de Gaia, mas ela não estava lá. Era como se ele tivesse me protegido do ataque do fantoche, mas como? Ele tinha vida ou alguma coisa assim?


    [A benção “Hefesto” se manifesta em seu portador.]


    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota