Capítulo 13: É Estranho, Sim!
O que foi aquele sonho? Sério… Pensei que fosse esquecer assim que acordasse, mas continuava lembrando. Sonho lúcido?
É… Deve ser algo assim.
— Ugh… — Coçava os olhos, a preguiça me impedindo de levantar da cama com cobertas mágicas. — Blergh!
Em minha boca, um gosto ruim se impregnava, era nojento, mas reconhecia-o. Remédios, o gosto era de remédios, mas não eram o que tomava.
Tossia um pouco, mas nada tão grave. Parecia que tinha dormido por bastante tempo, o suficiente para meu corpo descansar o suficiente.
Espreguicei-me, os membros do meu corpo esticando como nunca! Fazia tempos que não tinha um sono como esse, e agradecia muito quem quer que tivesse me ajudado.
Se bem…
Conseguia imaginar quem era o dono desse quarto. Mesmo que nunca estivesse aqui, o cheiro da comida era familiar, muito familiar.
Sem que eu percebesse, já havia levantado e movimentado até a porta, apoiando-me nela.
— Cecília… Por que estou em sua casa? — perguntei, mesmo que não a enxergasse. Minha visão se embaçava em sincronia com a respiração.
— Já acordou, Scarlett? — respondeu, e logo escutei o som dos talheres e pratos. — Um segundo, só!
As panelas se moviam às pressas. Escutei o fogo se apagar e mais talheres serem pegos. Sentia uma certa nostalgia disso.
— Você… — Desequilibrei-me, indo em direção ao chão. Não sabia como havia escorregado, mas aconteceu!
Mas, antes que alcançasse o solo, Cecília me segurou pelo peito.
— Está tudo bem!? — Ela apareceu num instante em meus olhos. Com calma, ela me apoiou na parede, as mãos nos meus ombros. Naquele instante, pude ver seu rosto. — Scarlett…?
— Só um pouco cansada — respondi, tirando as mãos de meus ombros. — O que estou fazendo em sua casa? Ugh…
— Ah… É isso que você quer saber? — falou, como se estivesse desanimada. — Você desmaiou no shopping. Uh… Dai eu te trouxe até minha casa, só isso. Já fiz a janta e estava só lhe aguardando acordar.
— Mas… O cinema…?
— Daiane viu o filme por nós, ela me contou pelo Insta que achou ele horrível. Era um filme trash mesmo!
— Eu estraguei o filme, não é? Hoje deveria ser um dia mais tranquilo…
— Nah! Está tudo bem da minha parte. Sua saúde é mais importante do que qualquer coisa, Scarlett.
Aquelas palavras tocaram o meu peito. Me sentia acolhida, aquilo sendo diferente do que sempre experenciei por tanto tempo.
Desviei o olhar, virando-o para o vaso de planta que estava na frente de seu quarto. Eram rosas, rosas muito bem cuidadas.
Era vermelho vibrante, e aquilo causaria inveja a qualquer um! Vermelho não era minha cor favorita sem motivos, não é?
O tom que marcou minha vida. Mostrou-me, por meio de artes, sentimentos novos. Sem contar suas representações…
Me sentia conectada com essa cor.
— Gosto dessas rosas.
— Eu sei — murmurou Cecília. — Que tal comermos agora? — Desviou de assunto no mesmo instante. — Preparei um pouco de carne assada para nós.
Como assim você sabia? Espera… Espera! Você guardou esse vaso de rosas em homenagem a mim?
Queria falar isso, mas não conseguia. Era só uma fantasia de adolescente, uma vez que esse vaso poderia ter sido comprado pra qualquer outra pessoa, ou até mesmo por fins estéticos.
É… Só de pensar um pouco, poderia dizer que era impossível aquilo ser por mim. Será que sou babaca por ser tão emocionada?
Acho que devo fazer que nem naqueles vídeos do teco-toco. Minha história iria viralizar!
— Tem cerveja? — perguntei na maior cara de pau. Só depois que percebi o que havia falado! — Desculpa! Não queria ser tão insensível assim…
— Ainda tá pensando nisso, Scarlett? Essa sua obsessão por bebidas alcoólicas não é algo legal — respondeu, um tom brincalhão, mas com pitadas de verdade.
— Não sou viciada em bebidas alcoólicas… Só gosto de relaxar quando tomo uma. Sempre funciona, então sempre fiz.
Cecília não respondeu dessa vez. Apenas pegou em meu braço e puxou-me até a mesa, emburrada com o que havia falado.
Sabia que tinha falado merda… mas já era tarde pra resolver isso.
Sentou-me em uma das cadeiras, colocando pratos e talheres na minha frente. Só faltava ela implorar para que eu comesse agora!
— Agora coma. Só não diga nada — disse Cecília, sentando-se na cadeira à frente da minha. — Melhor dizer que está bom, viu?
Bingo, cacete!
— Está me ameaçando agora? — brinquei, colocando arroz em meu prato. — Seria estranho?
— Estranho o quê? — retrucou, colocando feijão no seu prato. — Jantar na casa de sua ex?
…
Outro bingo, mas esse eu não queria comemorar.
— É…
— Você acha estranho jantar comigo, Scarlett? — perguntou, um sorriso no canto de seu rosto. Uma óbvia cilada!
— Uh…
Seu olhar era intenso. Como se fosse uma raposa olhando para uma presa, e eu era a presa! Que droga, o que havia feito pra ter chegado até aqui?
— Não… Claro que não — respondi, suando frio. — Por que seria estranho? Afinal, você é uma amiga querida!
Parecia que só havia piorado a situação. Seu olhar ficou ainda mais intenso, demonstrando o puro ódio. O que diabos havia feito?
Não fiz nada! Nada!
— Vou aceitar essa resposta. Mas só dessa vez, viu? — disse Cecília, colocando o arroz por cima do feijão. E olha… isso foi uma heresia e tanto.
Confesso: era muito desconfortável. Do tipo… que se fosse pra explodir, eu explodiria. Isso faz algum sentido…?
Sei lá.
— Você já teve algum sonho lúcido, Cecília? — perguntei, olhando para seu rosto.
Assim que disse isso, seu rosto passou por várias emoções ao mesmo tempo, terminando na pura vergonha.
— Mas que perguntinha, hein? Não sei se quero responder a isso.
— Cê tá parecendo uma safada com essa reação. Você teve algum sonho erótico e lúcido, foi? — disse, brincando com a situação.
E, assim que disse isso, Cecília corou mais. Aquilo foi uma confirmação de que tinha ocorrido.
Com quem? Por que? Como?
Não. Não deveria perguntar esse tipo de coisa, afinal, nem estamos juntas mais.
— Não é nesse sentido, Cecília — continuei. — Outro tipo de sonho lúcido, que não envolve nada de erotismo.
Ela parou, colocando a mão no queixo.
— Talvez… Acho que tem uns sete dias desde meu último sonho lúcido. Foi muito estranho… Lembro até hoje — respondeu. — Era com uma pessoa listrada e de cabelos brancos. Bizarro, não é?
Bizarro?
Essa…
Essa é a figura que vi no meu sonho.
Mas que cara–

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