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    Já tinha me acostumado com os giros, nem mesmo me divertia tanto quanto antes. Era apenas comum estar sentada naquele suporte enquanto Karina fazia acrobacias.

    O vento vinha ao lado, não causando mais o problema do cabelo de Karina entrar em meu rosto. Algo que agradeci quase instantaneamente quando começamos a andar naquele dia.

    O sol estava pairando no centro, indicando o início da tarde. Estávamos há horas naquele mesmo ciclo, tentando chegar à cidade de Aguaforte o mais rápido possível.

    Um silêncio havia se instaurado, quase como uma canção de ninar para meus ouvidos; se pelo menos estivesse com sono naquele instante…

    — Eu não consigo parar de me divertir! — Karina gritou. Uma ação inesperada para o momento, mas que já esperava acontecer. — Realmente odeio aquele laboratório nojento!

    São frases que escutava constantemente de sua boca, mas agora um certo nível de curiosidade havia se instaurado em minha mente.

    — Você poderia me falar mais um pouco sobre esse laboratório, Karina? — perguntei em um tom baixo.

    Ela parou de pular naquele instante. Uma queda livre, o alvo? A grama da floresta.

    Talvez eu tenha falado alguma coisa errada! Algo que não poderia ter mencionado… Melhor pedir desculpas logo!

    — Me perdoa, Karina! Não queria ter perguntado algo assim! — gritei, mas ainda estávamos em queda livre.

    Acabei sendo solta de suas costas, ficando cada vez mais desesperador para mim. O solo estava cada vez mais perto.

    Mais perto…

    Mais…

    Até que, quando estávamos quase perto do chão, Karina criou algumas cordas de metal, prendendo-nos a alguns galhos acima. Fiquei pendurada de pé, enquanto Karina estranhamente estava em uma pose deitada.

    Arfei em alívio, não havia me espatifado toda no chão. Porém, ainda necessitava de explicações sobre esse acontecimento.

    — Você finalmente perguntou, né? Não esperava a hora — disse Karina. Estava calma, sem nenhuma expressão ao acontecimento de agora.

    Ela apoiava sua cabeça em seu braço, enquanto todo seu corpo estava ligado a pequenas cordas.

    — É só isso que você tem a dizer? — gritei. — Você quase nos matou! — Balancei-me, tentando chegar até ela com minhas mãos. Se alcançasse, iria descer a porrada! Porém, acabei não concluindo esse objetivo.

    Fiquei frustrada logo após.

    Ela riu.

    — Desculpa! Sempre quis fazer essa piada. Vi isso num quadrozinho.

    Quadrozinho? — perguntei, fiquei confusa com sua afirmação.

    — É, esse era o nome que o cientista deu para umas histórias presas em caixas. Eram muito legais mesmo — falou Karina. — Deixe isso de lado! Você quer saber sobre o que? Posso lhe contar tudo.

    Seus olhos brilhavam diante da minha curiosidade. Não entendia o motivo, mas fiquei um pouco feliz.

    — Nos desça primeiro.

    — Hehe! Tudo bem — Os fios foram se alongando, causando um pouso mais tranquilo ao solo. Não podia bater de frente com o controle de Karina pelo metal, pois, pelas minhas observações, ela tinha mais… força.

    Então, tudo que pude fazer naquela situação foi pedir para que colocasse a gente no chão.

    Assim que coloquei meus pés no solo, logo indiquei para Karina se abaixar ao meu lado. Ela seguiu a ordem sem questionar.

    Puxei sua orelha naquele exato momento, sem hesitação. Não tinha força, mas tinha uma cartada maior.

    — Não faça mais isso sem avisar! 

    — Ai, ai! Me desculpa! — Um provável teatro seu, mas que não fazia mal participar.

    — Prometa que não vai mais fazer isso, mocinha! — disse. — Você quase matou sua mãe!

    Não há mal em dizer isso, né?

    — Me desculpe! Prometo não fazer mais isso! — respondeu Karina, quase mordendo a língua.

    Larguei sua orelha naquele instante. Tinha saído vitoriosa de uma batalha, mas não sei se meus métodos foram justos.

    Ela fazia carinho em sua orelha, enquanto olhava com uma cara de coitada para mim.

    — Voltando ao assunto, o que você queria saber? — Ela se ajeitou ao meu lado, sentando-se em uma pose mais confortável.

    Meus pés estavam estendidos na grama, afinal, com aquelas hastes, eles só poderiam estar assim.

    — Quero saber mais como você foi criada, Karina… Me diga apenas se for algo confortável de compartilhar. 

    — Que nada! Foi algo muito simples, olha.

    Ela alongou seu dedo até criar uma espécie de palco com o metal que havia surgido. No primeiro cenário, pequenas cápsulas surgiram, e dentre elas estava um corpo flutuando em líquido.

    Era algo sem cores, mas o relevo ajudava a identificar.

    — Essa aqui era eu — apontou com a outra mão. O cenário mudou para a cápsula sendo quebrada, e a humana caindo do rombo. — Tive consciência de mim mesma nesse instante. Várias memórias me preencheram naquele momento, porém, não era algo emotivo, e sim informativo.

    — Nossa, eu… não sabia. — Estava incrédula com o cenário.

    — Tive educação básica e todo um ensinamento sobre matar em segundos. Uma dor de cabeça tremenda para mim… Lembro dela até hoje. No final, deu tudo certo.

    Um pequeno cientista chegou. Ele vestia um jaleco e tinha óculos em sua cara. Pegou Karina com suas mãos e a colocou em frente a um aparelho desconhecido.

    — Isso aqui foi muito chato. Tive que testar meu conhecimento diversas vezes.

    Ela estava feliz me contando isso, mesmo que tenha passado por tantas coisas ruins. Como se gostasse da minha presença, ou de compartilhar sua história comigo.

    Criada artificialmente.

    Ela era uma humana mesmo? Poderia considerar isso? Seus atos nunca demonstraram tanta humanidade, matar sem qualquer remorso não é para qualquer um. Olhei para Karina, que demonstrava um grande sorriso em seu rosto. Um sorriso inocente.

    É, ela é humana.

    Cenas de luta, ação e mais luta. Apenas isso seguiu os próximos cenários criados por Karina.

    Até que cheguei à pergunta principal.

    — Existe uma outra assassina chamada Karina, né? — perguntei.

    Ela parou naquele instante, sua boca hesitava em falar algo, mas sentia que coisa boa não era.

    — S-sim, existe. É muito mais provável que ela tenha matado os pais dos irmãos, e não eu. Afinal, foi você que me deu esse nome.

    — É… disso eu imaginava. Desculpe, acabei pensando demais e nem me toquei que esse nome partiu de mim.

    — O que você pensava quando me deu esse nome? Naquele momento eu tinha estranhado, mas pensei ser só uma coincidência.

    — Não pensava em nada, só surgiu esse nome na minha mente — respondi, coçando meu queixo.

    — Foi uma coincidência, então?

    — Pelo visto… sim.

    Um silêncio sufocante começou. Nem o vento passava mais naquele instante.

    Até que…

    Karina quebrou o clima com uma pequena risada, que logo virou algo em escala muito maior. Sua risada ecoava por toda a floresta, lembrando um pequeno acontecimento do passado.

    Logo fui contagiada por sua risada.

    Acabei rindo em um tom mais baixo, porém perceptível. Ria da vergonha que passei.

    — Agora sou eu quem peço desculpas — disse, ainda rindo. — Bem que eu imaginava que seria isso mesmo, me perdoe mesmo por ter desconfiado de você.

    — Relaxa! Quando se ganha o nome de uma assassina sendo uma assassina, é normal se imaginar esses tipos de confusão.

    Continuamos naquela situação por bastante tempo, admirando toda a paisagem enquanto ríamos sem pretensão. 

    — Karina, você tem algum nome que lembra esse pequeno passado?

    — Mas que tipo de pergunta, hein… O cientista nunca revelou seu nome, mas o local em que estávamos era chamado de “A Companhia” — disse, voltando seus dedos à forma normal.

    — A Companhia… Onde eu já escutei esse nome?


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