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    Hmmmmm…

    O sol batia na minha cara pela manhã, fazendo meus olhos ficarem num estado de quase despertar. Tipo Schrödinger, sabe? Aquele experimento do gato e tals.

    Não lembrava de muita coisa que aconteceu na noite passada, mas, pela dor que sentia em meu corpo, podia pressentir uma realidade dolorosa. 

    Estava muito enjoada, com a cabeça doendo sem parar. E, diante de todos os sintomas de ressaca, não poderia deixar de ressaltar a dor nas costas e nos quadris. 

    A mesma cama de quando havia acordado ontem. Uma cama de otaku! Mas, agora, eu sabia que essa era a cama de Cecília. E, justamente por saber disso, uma preocupação logo veio…

    Por que diabos eu estava na cama dela? E com a porcaria do lençol dela? Isso é ruim, muito ruim!

    Retirei o lençol por alguns segundos, apenas para descobrir que não tinha nada por baixo, e aquilo me obrigou a pôr o lençol mais uma vez! O que estava acontecendo?

    Ah! 

    De repente, uma luz se acendeu em minha mente.

    — Acabei bebendo demais na noite passada… Isso é ruim, muito ruim! E se algo estranho tivesse acontecido? Tipo… 

    Tipo, eu sentir o braço dela agarrando-me pela cintura por debaixo dos lençóis.

    Claramente, eu não pensava aquilo por conta do que estava sentindo.

    — Hmmng… Scar…? 

    Os murmúrios logo vieram, e minha espinha gelou. Escutava-os por debaixo da coberta, e nesse instante pude sentir seu corpo me tocando.

    — Isso… Isso foi um erro! — gritei, levantando às pressas da cama, pegando cada muda de roupa minha que ali se encontrava. — Desculpa, Cecília, mas isso foi um erro! Um grande erro! Dos grandes, viu!? 

    Estava desesperada! O que mais poderia fazer? Tudo indicava que havia acabado de passar uma noite com minha ex-namorada. Isso era ridículo, muito ridículo de se fazer!

    Quero dizer, era muito ruim de minha parte, que havia terminado com ela daquela maneira deplorável. Então, estava me sentindo muito mal pelo que isso poderia trazer de ruim para ela!

    As marcas de chupões eram muito evidentes. Queria não acreditar que estavam ali, mas não conseguia ignorar mesmo! Só era…

    Que se dane! Eu não havia nada para cobrir aquilo!

    Vestia minhas roupas como se tudo dependesse disso. E, talvez, dependesse muito disso. Cecília mal havia acordado, mas aquela já era minha deixa para sair.

    Por mais que parecesse muito babaca, aquela era a melhor deixa que poderia encontrar para sair! 

    Mas isso não era meio cafajeste? Tipo… sair depois de uma noite com a gata, entende? Eu consideraria isso muito coisa de otário. 

    Enquanto vestia minhas calças, eu entrava em um dilema sério: ficava e admitia a responsabilidade ou fugia sem dar qualquer explicação. Por mais que meu cérebro dissesse para seguir a segunda opção, meu coração pendulava para a primeira. 

    Ela ainda me chamou de Scar! Que droga, isso é jogo sujo com meu coração. 

    Assim que terminei de me vestir, corri para a cozinha, pegando um papel e caneta que se encontravam na bancada. 

    Comecei a escrever sem pensar duas vezes! Minha caligrafia era linda, impecável e de se invejar.

    “Obrigada pela noite, Cecília. Agradeço por toda a sua recepção, mas agora tenho de voltar ao meu lar. Quero pedir para que esqueça o que houve noite passada e, se tiver algum problema, ligue para o número abaixo.”

    Deixei o meu novo contato. Ela não tinha esse, pois havia mudado meu número recentemente.

    Terminei o bilhete, pendurando-o como uma nota na geladeira. Fazia isso tudo muito rápido! No final, só queria dar o fora daquele local e não olhar para trás.

    Quem me dera ser o rapidinho nessas horas! Aquele herói superveloz me ajudaria um tanto quanto a esses problemas.

    Droga…

    Espero que ela não me odeie mais. Queria construir uma relação de amizade mais uma vez, porém, estraguei tudo.

    Estraguei tudo!

    Vai se ferrar, mundo!


    Corria pelos corredores do conjunto de apartamentos onde Cecília morava. Era bem localizado, não tão longe, mas não tão perto do campus.

    Sempre tive inveja dessa boboca por ter condições de morar aqui… É tipo a realeza para nós, os pobres e imundos!

    Ainda vou comandar uma revolução por tudo isso. Eu odeio esse sistema com todas as forças!

    — Vamos… Vamos… — Meus pensamentos estavam bagunçados pela pressão que colocava sobre meu corpo. Só de fazer tudo às pressas que me dei conta do quanto sou boa nisso.

    Se bem que… eu devo ser boa em tudo, né? Hehe… Só os invejosos dirão o contrário.

    Passei pela recepção, que me reconheceu no mesmo instante, mesmo que eu nunca o tenha visto na vida.

    — Já vai, mocinha? — perguntou o velhote, colocando seu jornal no balcão. — Está cedo. Poderia aproveitar mais o tempo com sua namorada.

    — N-namorada!?

    Cecília deve ter passado por aqui ontem, mas não entendia o que ela havia dito ao recepcionista. Por acaso…

    — Fique tranquila, jovem. Sou velho, mas respeito essas coisas que os adolescentes propõem hoje em dia — disse, tirando os óculos de sua cara. — Outro dia meu neto se assumiu gay para a família! Sendo sincero, foi um dia muito feliz para ele, e isso me deixou feliz também.

    Que fofinho! 

    Nem poderia chamá-lo de velhote sem me sentir mal… Agora que havia demonstrado tanto afeto, não poderia responder de qualquer forma.

    — Muito obrigada por seu apoio, senhor. Mas venho lhe informar que era apenas uma amiga me ajudando! Não havia nada entre nós, viu? — respondi, chegando mais perto do vidro que separava. — Mas parabéns para o seu neto! Fico feliz que mais gente da comunidade esteja se sentindo confortável com suas famílias e se assumindo. Ver o senhorzinho apoiando é de aquecer o coração.

    Assim que disse isso, voltei minha atenção para a rua, que não estava muito movimentada naquele horário.

    Espera…

    Horário?

    Que horas são?

    Coloquei as mãos no bolso, tentando procurar meu celular, mas não o encontrava. Onde diabos havia deixado ele? 

    Não podia perdê-lo naquele instante! Tipo… Como iria fazer os meus trabalhos?

    Que droga, que droga!

    — Mudei de ideia, senhor. Aquela mulher é mesmo minha namorada e eu estou indo atrás dela agora — disse no desespero, mas era uma desculpa esfarrapada para voltar ao prédio.

    O senhor não respondeu, apenas assentiu, feliz da vida com o que via.

    E, mais uma vez, me pus a correr. Correr uma escadaria imensa!

    Por mais que tivesse elevador, eu não entrava neles. Davam medo… muito medo. Desenvolvi esse temor após um filme de terror que vi na infância.

    É bem justo, não acham?

    Plim!

    Antes que pusesse os pés na escada, o elevador apitou, indicando que ele havia chegado no andar desejado.

    Foi um susto imenso! Um pequeno barulho foi o suficiente para deixar minhas pernas bambas por alguns segundos.

    Ou será que já estava com as pernas bambas?

    Ah… Que se dane!

    — Scarlett! — Escutei meu nome ser chamado e logo reconheci a voz. — Você… Você ainda tá aí?

    Era Cecília, vestida com uma roupa muito bagunçada. Como se tivesse saído às pressas de sua casa.

    Em sua mão, encontrava-se uma mochila. A minha mochila que havia esquecido em seu apartamento.

    Me sentia muito aliviada naquele instante…

    — Cecília! Você não precisava ter vindo até aqui — disse, aproximando-me. E ela se surpreendeu quando me viu!

    Por acaso só gritava meu nome sem pensar em quem estava escutando? Mas que merda ela tem na cabeça?

    — Uh! Uau… Você ainda tá aqui mesmo — disse Cecília, entregando a bolsa em minha mão. — Mas que sorte do caramba você tem, hein!

    — Muito obrigada mesmo. Sério! Eu ia ter que subir todas essas escadas para chegar lá no seu andar para pedir minha bolsa. Isso seria um saco! 

    Era claro que ia buscar o celular, mas falar bolsa me livrava do constrangimento de ter esquecido dela também.

    Cecília apenas sorriu e logo voltou ao elevador sem falar nada. Suas bochechas rosadas indicavam que havia aprontado alguma coisa em minha bolsa.

    Mas o quê?

    Coloquei a mão nas minhas coisas, procurando algo que pudesse ser uma alteração feita por ela.

    Até que…

    — Um papel?

    Era um pequeno bilhete, igual ao que havia feito para ela. Mas não era o meu bilhete.

    Um novo.

    Com sua caligrafia.

    Virei-o, tentando enxergar o que estava escrito.

    Acabei ficando surpresa com o que havia lido. Ela por acaso é uma idiota?

    Hahaha!


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