Seus cabelos grandes agora estavam brancos e seus olhos escuros sem alma. Ao lado de seu corpo uma estrutura sobrevoava, parecia um braço feito de uma substância desconhecida para mim. Isso é diferente do seu comum, o que aconteceu para ficar assim? Seu corpo estava totalmente coberto por cortes e provavelmente era a minha culpa.

    Era suposto para eu te proteger, e se nem ao menos conseguia fazer o meu trabalho então estava sendo inútil. Corri imediatamente para te ajudar assim que te vi, para mim foi como um piscar de olhos, você estava lutando e desviando de minha marionete e no outro momento estava quase morta à minha frente.

    ― Seven, Seven! ― Cheguei perto o suficiente para fazer com que ela se apoiasse em mim.

    Estava tremendo mesmo naquele corpo de madeira, algo que nunca havia acontecido na vida comigo. Nesse pouco tempo que havia passado com essa garota era definitivamente algo que não iria querer perder agora.

    ― Me desculpe! Me desculpe mesmo, Seven! Por minha incompetência você está ferida por minha culpa… 

    Me agachei o suficiente para colocar a cabeça dela sobre os meus ombros. Ela estava ficando mais calma, estava adormecendo. Seu corpo estava voltando para o estado em que a conheci, com cabelos curtos e olhos verdes com a estrutura ao seu lado se dissipando. Por algum motivo isso me causou um certo temor.

    Seu corpo estava totalmente diferente, sem contar as observações de longe, pude perceber ao segurar ela em minhas mãos uma coisa aterrorizante.

    ― Ela manifestou sua benção então. Que diabos de poder é esse que te deixou nesse estado?

    Até que observei algo realmente assustador em seu corpo.

    ― Essas marcas em todo o seu corpo, linhas e triângulos perto de seus olhos. ― Estava com medo de pensar nessa opção, mas era a mais aceita por mim no momento. ― Psyche, o que diabos você está fazendo aqui..?

    Seus descendentes estão mortos há décadas e ainda deixam marcas até aqui… 

    Estava segurando uma maça de ferro por todo esse caminho. Quando vi isso, retirei imediatamente de sua mão para não sobrecarregar ela com todo esse peso.

    ― Shhh, apenas me deixe descansar, pelo menos dessa vez. 

    ― Não diga coisas assim! Você não vai morrer agora, por favor, não morra na minha frente…! Eu juro que vou encontrar quem fez isso com você.

    Não era o suficiente dizer apenas da boca para fora. Me desculpe mesmo, nem mesmo as mais boas ações não seriam o suficiente para me sentir melhor nessa situação. Nesse momento descanse, Seven, deixe que eu cuido do resto.


    No final do dia não encontrei nada, sempre fui boa com minhas habilidades investigativas e nunca tive problemas como esse, mas eu não encontrei nada. Nem meu machado, o corpo de minha marionete ou até mesmo a pessoa que te machucou, isso me faz pensar se venho fazendo meu trabalho corretamente até agora.

    Tenho certeza que foi uma benção temporal, mas o quão forte deve ter sido para ela ser seletiva? Não me lembro de nenhum caso parecido com isso em toda a história, eu devo revisar tudo novamente uma hora. O quão inútil eu fui agora, uma guia mandada para salvar seus clientes que não pode cumprir seu papel corretamente.

    Por sorte consegui encontrar uma caverna para nós abrigamos. Quando cheguei lá imediatamente rasguei algumas partes de minha jaqueta na tentativa de estancar o sangue.

    ― Só mais um pouco, já vai acabar. 

    Estava em um sono profundo, mas ainda doía o que fazia, dando pequenos gemidos de dor a cada vez que apertava o pano. Apenas terminei as bandagens e enrolei ela no que sobrou do casaco rasgado. Peguei alguns gravetos perto para tentar fazer uma fogueira.

    ― Tenho anos de treinamento, uma fogueira simples não é desafio para mim.

    Total arrependimento, passei muito tempo tentando fazer uma fogueira naquele local frio e úmido. Mas por fim, consegui acender o fogo, mesmo que seja um bem pequeno.

    ― Ah… quem diabos fez isso contigo, Seven?


    [Você sabe quem fez isso, não é mesmo? Apenas não quer aceitar.]

    ― Já pedi para não falar informalmente comigo assim. Você está trabalhando e eu também, saiba o seu lugar.


    [Suponho que sim, mas você acabou se apegando muito ao cliente, isso é contra as normas.]

    ― Que se dane essas regras, eu já vou me aposentar mesmo.


    [Espera, o que? Você vai se aposentar?]

    ― Pensei que já soubesse, ouvi rumores recentes sobre mim.


    [Não mesmo, e você sabe mesmo o que significa se aposentar, não é?]

    ― É, eu sei, não preciso que fique me dando sermões agora.


    [Tudo bem então. Boa sorte na sua jornada.]

    Olhei para Seven, e naquele momento ela parecia estar bem.

    ― Então essas tatuagem só estão se dissipando agora não é… Duraram mais tempo do que dizem nos registros ― disse enquanto fechava um livro histórico, cheio de anotações.

    Tudo estava tranquilo até Seven passar por complicações no meio da madrugada. Suas tosses ecoavam por toda a caverna e o que mais me deixou desesperada na situação foi que eram acompanhadas por uma grande quantidade de sangue.

    ― Que merda! Não imaginei que a sua condição iria piorar logo agora. 

    Peguei o embrulho em que estava e a apoiei em minhas costas vagando sem rumo naquela floresta. Estava pensando em todas as possibilidades de como isso aconteceu, mas estava esquecendo de algo importante, algo que apenas percebi após uma boa caminhada com ela.

    ― Não deve ter ninguém vivo que me conheça nessa era pra me ajudar a tratar estes ferimentos.  

    Havia conseguido tampar a maioria deles quando ela adormeceu, não sangrando mais como antes, mas era algo temporário que deveria ser enviado a um médico de verdade.

    ― Aguente firme, Seven, mesmo que eu tenha prometido fazer isso apenas com a sua permissão apenas aguente dessa vez.


    [O Portão das Marionetes está sendo ativado.]

    ― Preciso de um médico, rápido!

    À minha frente estava a porta da pousada em que nós estávamos. Essa raíz de minha benção apenas me leva para o melhor lugar no momento, então apenas podia confiar no que estava à minha frente.

    As luzes estavam acesas então eu abri a porta. O local estava lotado de gente pra lá e pra cá nas mesas, bebendo e comendo nesta caída da noite. Assim que pus meu pé para dentro todos começaram a me olhar instantaneamente, talvez seja por que eu não era uma cliente local ou pela a minha estatura grande que não era comum.

    Não pareciam ter percebido que estava carregando alguém ferido, tentei falar mas as palavras apenas fugiram da minha boca. 

    ― E então moça gigante, vai querer uma bebida? ― Uma pessoa se aproximou de mim pela frente, com um copo de cerveja em sua mão.

    Assim que ele disse isso, todos começaram a rir, como se estivessem olhando para uma novata nesse mundo do álcool.

    ― Essa daí não bebe é nada! ― disse uma pessoa ao fundo.

    Não era fã de um local com muitas pessoas, tinha esse medo desde quando me conheço por gente. Sempre aceitei trabalhos individuais por esse motivo, por eu simplesmente congelar em meio a uma multidão.

    ― P-por favor, alguém me ajude. ― As palavras saíram de minha boca em meio a multidão.

    Após falar isso foi quando perceberam a minha situação, eu não precisava de festas ou de bebidas e sim de um médico. Talvez o que deu esse tique a todos no bar foi minhas costas cobertas de um sangue que não era meu. 

    Coloquei Seven à minha frente para carregá-la no colo.

    ― Oh meu deus! ― O nome dessa moça era Ester, não? Ela estava na minha frente, e pelo visto acabou deixando cair os pratos que carregava.

    Correu imediatamente em minha direção ao ver o que carregava, sem ligar pras coisas que derrubava. 

    ― O que aconteceu e quem é você e o que está fazendo com ela!? ― Muitas perguntas ao mesmo tempo e sem focar no que estava a sua frente.

    Me abaixei e coloquei Seven ao solo.

    ― A condição dela piorou no meio da noite, daí tudo isso aconteceu e… Você pode ajudar ela, não pode? ― disse, desesperada.


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