Capítulo 16: O Lugar dos Sonhos!
“Você é bem gatinha. Que tal sairmos juntos amanhã? Prometo que lhe farei se sentir bem.”
Era isso que estava no bilhete. Por mais que só parecesse babaquice, esse bilhete significava muito pra mim.
Foi dessa forma que Cecília chegou em mim: pediu para o garçom entregar um bilhete por ela. E, de certa forma, deu certo, pois saí em um encontro com ela no outro dia após trocarmos contato.
Nosso romance, aquele que já passou, foi marcado por muitos sentimentos e momentos bons que prefiro guardar na memória. Mas ainda sentia saudades, muitas saudades do que já vivi com ela.
Por um tempo, acreditei em um amor verdadeiro, sonhando com um futuro que hoje não posso alcançar. É difícil explicar… mas algo me prende.
Como uma voz que fala mal de mim ao pé do ouvido. Um diabinho dos desenhos reclamando de cada uma das minhas ações… Era isso que sentia.
Fiz força na mão, amassando um pouco o bilhete, mas não o suficiente para rasgá-lo. Logo, o pus dentro de minha bolsa.
— O que ela quer com isso? Não existe motivo para trazer essas memórias de volta.
Não existe, né…?
Tudo só parece muito doloroso.
Queria cair em prantos por algo que perdi, mas sabia que minhas lágrimas não iriam cair, pois já havia perdido elas também. É algo do qual odeio, odeio e odeio! Odeio ter que pensar muito nisso.
Só queria… só queria ser feliz.
Me movimentei até a porta, passando pelo senhor mais uma vez, dando um sorriso desconfortável.
Até quando eu teria de aguentar para me perdoar?
Era um grande questionamento, mas não era eu quem deveria responder a essa pergunta. É só idiotice pensar nisso agora.
Só idiotice, né?
Pelo menos era nisso que acreditava.
E acreditava com todas as minhas forças.
Como uma pessoa poderia conseguir seus remédios sem dinheiro? Bem, era difícil. Muito difícil. Meu dinheiro havia acabado por completo! E esse poderia ser o meu fim.
Não conseguiria comprar os remédios para ansiedade que vinha tomando, assim como não poderia pagar o aluguel que logo mais chegava. Me sentia cada vez mais próxima de tocar o chão dessas ruas.
Andava sem rumo pela cidade, tentando encontrar onde ficaria a parada de ônibus mais próxima. Isso se existisse esse tipo de pobreza nesse lado…
Sabe? Nem deve existir ônibus por aqui. Todo mundo deve andar de carro esportivo ou a cavalo. E andar a cavalo é chique, viu? Não é qualquer coisa, não!
Oh…
Naquele local pacato e rico, tinha uma coisa da qual me chamava muito atenção. Era… maravilhoso.
Meus olhos brilharam ao perceber que era mesmo o que parecia.
— Um… Arcade!? — murmurei, a surpresa evidente ao falar. — Mas por que tem um aqui?
Esse era o pior local no qual poderia estar. Pelo menos, era o que pensava.
Um design mais rústico e, ao mesmo tempo, bastante espelhado aos videogames antigos.
Chegando mais próximo, pude ver que o Arcade estava um pouco vazio, como o esperado, mas os funcionários ainda estavam lá dentro.
E, grudado no vidro, um folheto estava pendurado.
— “Contratam-se funcionários para o Arcade.”
Uh?!
Era isso mesmo que tinha lido? Contratando funcionários! Estavam contratando funcionários, caceta!
Só podia ser o destino essa bosta. Fui demitida ontem do meu trabalho pra hoje ver um estabelecimento com vagas abertas.
Isso que é vida! Trabalhar na porcaria de um arcade.
Já pensava alto, como se, de alguma forma, já tivesse sido contratada. Mesmo sem ter posto o pé para dentro.
Era ridículo, eu sei, mas costumava fazer muito isso. Pensar sobre um futuro era incerto pra mim.
— Está procurando algo, moça? — perguntou uma voz masculina, assustando-me.
Quase caí no chão! Foi algo tão de repente que meu coração ia sair pela boca.
Era um funcionário. Vestia um uniforme que podia pressupor ser da loja: uma camisa verde e um avental amarelo, junto de calças jeans.
Uma escolha de cores questionáveis, eu diria. Eles, com certeza, estavam ferindo várias leis da moda… Mas quem ligaria? É a droga de um Arcade!
Tá bom…
Confesso que estava me animando demais para uma coisa simples. Mas não poderia deixar de ficar feliz, entende?
A última vez em que estive em um foi quando tinha cinco anos. E olha que eu nem lembro! Só sei porque… minha tia me contou.
Espero que ela esteja vivendo feliz com a mamãe no paraíso.
— Ah! Não, não. Só estava dando uma olhada neste folheto aqui — disse, apontando para o que estava escrito. — Poderia saber se ainda estão aceitando funcionários?
Assim que disse isso, os olhos dele brilharam.
— Isso é sério? Você está disposta a trabalhar aqui? — Parecia surpreso, mas não entendia o motivo disso. — É claro que estamos aceitando! Só espere um segundo, vou conversar com a gerente sobre isso.
Ele correu para dentro da loja, me deixando largada na rua, sem entender o que havia acontecido.
Mas…
Conversar com a gerente, né?
— Significa que tenho uma chance de trabalhar aqui…? Isso é maneiro demais! Cacete, estou muito ansiosa!
Era um sonho de infância se realizando. Já disse isso? Nem sabia mais. Só sei que é um sonho se realizando!
Hahahaha!
Olhei mais uma vez para o panfleto, idealizando uma realidade que estava próxima de acontecer. Me senti muito feliz por isso estar acontecendo!
Sabe…
Poderia até esquecer que tinha dormido com a Cecília.
…
Que droga, cara! Eu acabei de lembrar!
Vai se ferrar, mundo!
Coloquei a mão na cabeça, repensando sobre tudo que tinha acontecido hoje. Hoje não! Nesta manhã, no caso.
Foi só em uma manhã que tudo isso aconteceu.
Argh! Como não posso lembrar de nada? Isso é uma tortura e tanto! Mas… não é como se eu quisesse lembrar das sensações, né…
Só digo isso porque não consigo me lembrar de como ocorreu! Foi tudo tão rápido… Bebi um gole e no outro dia acordei nua na cama da minha ex.
Essa sim era uma história que daria certo no teco-tico. Com o jogo quadrado de fundo, era a fórmula do sucesso!
Ugh…
Olhei para o lado e vi aquele livro. Por acaso eles tinham um jogo também?
— A fera…
Minha cabeça doía ao pensar sobre isso. Como um livro poderia existir antes dos humanos? Sentia uma certa conexão com esse acontecimento não humano.
Talvez fosse só coisa da minha cabeça.
E, ao longe, olhava o mesmo funcionário correndo até mim. Sua expressão demonstrava felicidade, muita felicidade. E me contagiou!
Devia dizer… eles terem pego um cara modelo pra cá foi uma ótima forma de atrair clientela. Posso ver que muitas das pessoas lá dentro devem ter vindo só pra olhar esse cara.
Sua mandíbula era bem definida e tinha até mesmo olhos verdes! Caso gostasse de homens, esse com certeza seria meu tipo.
— Senhora! — Ele se aproximou, parando na minha frente. — Trago notícias sobre a solicitação de emprego.
O emprego!
Isso. Eu quero trabalhar aqui, então, só me diga que estão aceitando!
— E…?

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