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    Mamãe estava correndo pela grande floresta, abrindo seus braços na tentativa de sentir o vento. Fico feliz que ela tenha aceitado ir comigo até a torre, vai ser muito divertido mesmo!

    — Karina! Olhe, Karina! — mamãe gritou, enquanto olhava para mim com um sorriso no rosto. Estava feliz por ela, feliz por ter conseguido curá-la.

    Pela primeira vez, o feitiço havia funcionado. Só estou com um pouco de receio sobre…

    Olhei para minha mão, fechando e abrindo.

    Está tudo certo, dá para relaxar.

    Chegamos na frente do monumento. Mamãe parecia ter medo, algo que não havia percebido. Ela não gostava? Sinto um pouco de culpa. Queria dar um passo e voltar para trás naquele momento.

    — Vai querer entrar aí mesmo, mamãe? — perguntei.

    A grande torre estava de portas abertas, inclinada e com algumas rachaduras. Não ia cair, li isso em um livro, é apenas uma forma visual de demonstrar que agora a torre está inofensiva.

    — Sim… eu prometi que iria te acompanhar — respondeu. Ela estava fazendo isso por mim.

    A culpa em meu peito aumentou, mas já estávamos ali, então iríamos entrar. Fui na frente, dando o primeiro passo para dentro da torre.

    O local estava escuro, sendo iluminado apenas pela luz do sol que entrava pela porta e de alguns buracos na parede rachada. A falta de luz não iria ser um problema, pelo menos nesse primeiro andar.

    Virei-me para a mamãe, vendo-a hesitar em me acompanhar. 

    Não aguentei vê-la nesse estado. Sentei em um dos degraus da torre, igualando nossas alturas.

    — Mãe — disse. Ela logo olhou para mim. — Não precisa me acompanhar aqui, isso é só um desejo egoísta meu. Posso verificar a lenda e você pode esperar aqui fora.

    Parece que minhas palavras atingiram seu orgulho.

    — Não, não. Está tudo bem, eu vou entrar. — Não parecia nada bem, porém não podia impedir ela de fazer qualquer coisa.

    — Hehehe, pode vir, então.

    Entrei dentro da torre, apoiando um saco de suprimentos nas costas. Mamãe acabou por me acompanhar nesse trajeto, e assim entramos no primeiro andar. O local estava destruído, tendo pedaços de concreto por todos os lugares.

    Sangue era visto por alguns cantos do andar, dando indício de sinais humanos por todo o local. O sol bateu em meus olhos por uma das aberturas, me cegando por alguns segundos. Parei, e a mamãe acabou por bater em minhas costas.

    Talvez não estivesse prestando atenção em sua frente. O senso de perigo dela devia estar a mil.

    — D-desculpa, Karina! — gritou. Sua voz ecoou por todo o local vazio.

    — Tudo bem, tudo bem. Relaxe! — disse, tentando tranquilizar a situação. Parecia ter funcionado. 

    Um dos destroços atrás dela começou a se mover. Me preparei instantaneamente para um ataque, caso fosse um Viajante não-morto.

    Em um movimento rápido, pulou uma pequena criatura verde e humanoide. Uma expressão de raiva e, ao mesmo tempo, desespero. Estava indefeso, e antes que nos atingisse, estendi o braço.

    Logo, criei várias lâminas que se estenderam até o corpo da fera, matando-a empalada no mesmo instante. Evitei ao máximo a mamãe nessa pequena confusão, e no final esse objetivo foi concluído com sucesso. 

    Retraí o metal para sua forma natural: meu braço. O checando para ver se nada havia se transformado de maneira errada.

    Essa consequência é realmente uma bosta.

    Ela se virou para trás no mesmo instante, curiosa para saber o que havia ocorrido. Mas antes que terminasse sua volta, a impedi, tapando seus olhos.

    — O q-que você tá e-escondendo? Usou sua benção para o que? — Várias perguntas, mostrando o quão desconfiada estava da situação.

    — Nada não. Vamos seguir para o próximo andar, mamãe — respondi. Ela não olhou para trás e apenas me seguiu até a escadaria.

    Parecia ter começado a confiar em mim… Fico feliz, mas muito feliz mesmo. É a primeira vez que isso me acontece, que não me tratam como uma arma. Sinto carinho vindo dela, um verdadeiro e amoroso carinho.

    Enquanto subíamos a escada, mamãe acabou parando em um dos degraus.

    — Tenho medo.

    Ela finalmente havia dito o que estava sentindo.

    — Tenho muito medo, Karina. Eu não quero subir. — Continuou. Sentou-se em um dos degraus. 

    Faltava muito pouco para chegarmos ao segundo andar, mas ela havia chegado ao seu limite.

    Sentei ao seu lado.

    — O que lhe dá medo, mamãe? — perguntei, já imaginando qual seria a resposta. Pelas suas expressões, parecia ser…

    — Eu vi pessoas morrerem aqui, Karina — ela falou. Fiquei surpresa com sua resposta, afinal, não imaginava receber uma tão facilmente. — Por minha culpa.

    — Ah… — Estava sem palavras para a frase que ela acabara de dizer. — Foi isso…

    — Não sou boa o suficiente, Karina. Perdoe sua mãe por isso.

    O que eu faço? O que eu faço? Eu não sou boa com essas coisas! 

    Não sei o que dizer.

    Ela olhou para mim.

    — Desculpe por fazer você ouvir esse tipo de coisa, não era minha intenção. Deve ser muito chato para você ter cuidado de mim por todo esse tempo — disse a mamãe, que, por sua vez, levantou-se.

    Segurei em seu braço, impedindo que ela continuasse a subir. Suas últimas palavras eram inverdades, eu tinha certeza disso. Mesmo escutando seus sonhos, tudo que pude fazer para fugir daquela realidade dolorosa da qual você descrevia foi fingir que não sabia de nada.

    — Eu não me incomodei nenhum pouco de ter cuidado da senhora! — gritei. 

    Ela limpava lágrimas que caíam de seus olhos. 

    — Vamos seguir com essa bobagem logo! Não quero escutar mais nada sobre minha situação deplorável. — Suas palavras machucavam, mas não poderia contestar sua decisão naquele momento. Era algo para ser resolvido internamente, e não vejo onde minha participação seria interessante nessa discussão.

    Continuamos a andar até o segundo andar, vendo a mesma cena do primeiro. Mais destroços, sem qualquer sinal de vida existente. Pelo menos, dessa vez, não havia nenhum Viajante se escondendo em meio às ruínas.

    Mamãe acabou por não falar comigo naquele andar, outra decisão que respeitei. Não puxei assunto, querendo que todo o constrangimento da situação anterior desaparecesse.

    Subimos à terceira escada.

    Antes de completar todo o trajeto, meus olhos logo deram de cara com um grande destroço. Seven paralisou diante daquilo.

    Seus olhos se arregalaram, como se estivesse reconhecendo aqueles desenhos de algum lugar. Cheguei mais perto do monumento gigantesco, o qual cobria toda a parede do andar. 

    Mamãe me seguiu, dando passos lentos.

    Não sentia medo diante do desenho, apenas confusão.

    — Uma figura com três linhas no olho esquerdo? Uau, que história boa — disse. — Nem ao menos é legível essa língua em que está escrito. É muito diferente das anotações do carinha de óculos. 

    Parecia uma cidade pegando fogo… mas deve ser apenas coincidência.

    Mamãe não me respondeu, apenas andou para trás, como se estivesse tentando ler o que estava escrito.

    — “E dos céus ele surgiu, trazendo caos para a civilização amaldiçoada. A sua presença incompreensível fez as flores murcharem e nunca mais se abrirem” — disse a mamãe, sem gaguejar. — O autor é alguém que se denomina “O Poeta”.

    — Espera! Você conseguiu ler isso?

    — Eu… não sei.


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