Capítulo 19: Reconheço Essa Voz!
Eu… já vi esse desenho antes.
Nos meus sonhos. Ele estava lá.
Essa figura me perseguia por todos os lugares que os sonhos me levavam, transformando algo feliz em uma tragédia. Por que ela estava aqui?
Me sinto ligada a esse mundo muito mais do que poderia desejar, e não gosto disso.
— Karina! Você mencionou ter lido algumas anotações, quais eram? — Queria descobrir mais sobre. A curiosidade estava aumentando a cada segundo, me fazendo esquecer de qualquer um dos problemas que rondava minha vida.
“E dos céus ele surgiu, trazendo caos para a civilização amaldiçoada. A sua presença incompreensível fez as flores murcharem e nunca mais se abrirem.”
A primeira que vi.
E qual seriam as outras?
Karina tentava se lembrar, colocando a mão em sua cabeça como sinal de esforço.
— Ah! Eram algumas frases que ele havia descoberto — disse, orgulhosa de seu feito.
— Frases? Quais eram, Karina?! — Estava eufórica por descobrir algo novo, então buscar mais sobre o que me interessou era essencial. Era como se eu me imaginasse escrevendo tudo isso em um quadro, esperando apenas os pontos serem ligados.
— “O Dia do Julgamento virá, e os céus irão se abrir diante a majestade do destino”. — disse Karina. — Ou algo assim.
Dia do julgamento?
Destino…
Abri a tela do complexo, focando apenas em Fantasia.
▷ Fantasia – A Corda do Destino
A Divindade Fantástica lhe abençoa com a habilidade de consertar seus erros. Em troca, ela trabalhará com seus piores medos.
Uh? Tá diferente? Ah, quem liga.
É só uma coincidência. Existem muitas coisas com essa palavra, não é tão incomum assim.
Fechei a tela.
— Existe alguma outra? Era apenas essa?
— Deixe eu pensar mais um pouco…
Vamos… Vamos!
— “O império ruirá quando o escolhido puser de volta o seu véu. Assim, o casamento entre a destruição e a criação será concluído em um novo mundo de esperança” — respondeu Karina.
— Isso!
Os pontos se ligavam lentamente em meu quadro imaginário. As palavras chaves pareciam ainda mais interligadas.
Império.
Véu.
Destruição e criação.
Tudo isso dava direto com… nada?
As peças terminavam por não se encaixar, as linhas chegavam a um ponto específico que estava vazio. Frustrante.
— Existem mais?
— Não? — Voltou a pensar. — É, não mesmo. Apenas esses.
Que droga.
Essa sensação de buscar a peça faltante estava me preenchendo por inteira. Uma curiosidade que não poderia ser cessada com uma simples resposta.
— Foi o suficiente para esquecer dos problemas. Obrigada, Karina — disse, sorrindo em sua direção. Talvez ela não esperasse essa ação vinda de mim, tendo em mente o que havia ocorrido há momentos atrás.
— Que bom! — respondeu Karina, retribuindo o sorriso.
Tenho que pedir desculpas pra ela o quanto antes. É minha culpa eu ter dito aquilo para ela, afinal.
Sempre assim…
Mesmo com minhas pernas totalmente curadas, não deixei de recusar a ideia de continuar viajando em suas costas. Karina se movia pelas árvores, e estávamos mais perto do que nunca de Aguaforte.
Karina estava tão rápida quanto o vento. Nesse ritmo, as horas virariam minutos.
Foi exatamente o que aconteceu.
Antes mesmo que percebesse, Karina deu uma parada brusca, apoiando sua mão no tronco ao lado.
— Chegamos — disse Karina. — Chegamos após dias de caminhada… Finalmente!
Ela se espreguiçou, descendo da árvore logo após. Deu um giro no ar, sem se importar se estava ou não em suas costas. Que perigo, hein!
Karina me tirou de suas costas.
Limpei todas as folhas que haviam grudado em minhas roupas, que não estavam nem um pouco boas para adentrar a cidade. Cheguei mais perto de Karina, que estava se alongando enquanto olhava para a cidade.
Quando a observei, pude ver o que parecia ser uma simples vila. Com casas feitas de madeira e algumas de concreto, não pareciam ter um padrão exato.
Arquitetura comum e sem construções altas. O que eu poderia indicar como maior coisa ali, poderia ser uma grande casa da qual eu imaginei ser a igreja do local.
— Tem dinheiro? — perguntei.
— Claro. Pra que você quer dinheiro?
— Comprar roupas, essas aqui me incomodam bastante.
— Eu pensei que você tinha gostado delas… — disse, fazendo uma expressão triste.
Mesmo que Karina tivesse me dado alguma de suas roupas, os tamanhos eram diferentes, o que acabava por incomodar bastante. Vestia um maiô da qual ela havia me dado, enquanto Karina voltou sua moda para uma camisa mais curta e calças longas.
Seu abdômen estava mais evidente do que nunca… Já disse que tenho inveja?
Por fim, vesti um dos sapatos reservas e uma de suas calças. Calça essa que, por sua vez, estava um pouco suja de sangue.
Não liguei para esse detalhe naquele momento.
— Como se alonga as pernas, Karina? — perguntei, querendo deixar meu corpo tão forte quanto ela.
— Está interessada nisso?
— Depois de ter ela quebrada, sinto que devo fortalecer meus ossos o quanto antes.
— Gostei disso.
Por um certo tempo, aprendi com Karina como alongar minhas pernas. Acabei repetindo seus movimentos com calma, sentindo meus músculos racharem de tanta dor.
Após uma longa sessão de aquecimento, Karina me ensinou alguns exercícios que poderia fazer com a perna e braços.
Exercícios esses que deveriam ser feitos diariamente. Sentia que um grande fardo havia sido imposto em minhas costas.
Enquanto realizava a série de exercícios que ela tinha proposto, acabei vendo seus olhos, que me observavam com total admiração.
Após terminarmos todo o processo, tudo que eu queria era um pouco de água. Estava cansada e exausta, porém ainda tinha um longo caminho até a cidade.
Quero dizer, ela estava no nosso campo de visão, mas não estávamos tão perto assim para dar dois passos e entrar nela.
Andávamos até a cidade, lado a lado. Karina me contava mais sobre suas aventuras como assassina, novamente, descrevendo as cenas sem menor pudor.
Não pude deixar de ficar desacreditada de tudo que foi descrito, mas deveria me acostumar com esse seu lado, mesmo que me causasse um certo desconforto.
Entramos na cidade, da qual não tinha guardas a protegendo. Suponho que não ter torres ao redor dela cause isso.
Era exatamente como havia visto de longe, com a diferença das ruas serem feitas de pedra, detalhe que passou imperceptível aos meus olhos. Procuramos algo que indicasse ser uma pousada no local.
Caminhamos o suficiente, não encontrando nada parecido com o que procurávamos. Como última tentativa, dei a sugestão de irmos à igreja local, em busca de abrigo.
Andamos até lá, dando de cara com o local mais movimentado da cidade. Dois andares de muita gente presa em paredes de concreto.
Não é o padrão que havia visto em igrejas, nem mesmo a arquitetura combinava. Mas estamos em outro canto, era pressuposto tudo ser diferente mesmo…
Esperamos um pouco até que parasse de sair pessoas pela porta, e assim que parou, adentramos o local.
Assim que entramos, fui direto à recepção. Estava ansiosa por receber um quarto, do qual pudesse sentir o conforto de um travesseiro.
— Como eu consigo pegar um quarto, aqui? — perguntei. A balconista ficou surpresa com minha pergunta, talvez tenha sido burra demais ao perguntar aquilo.
Karina chegou ao meu lado logo após, colocando um pequeno saco de moedas no balcão.
— Sete bronzes ao dia, né? Aqui tem o suficiente para uma semana — disse Karina. É, foi burrice de minha parte ter perguntado aquilo.
— I-Isso — respondeu a balconista, assustada. Talvez os músculos de Karina tivessem a intimidado.
Ela pegou o saco, verificando todo o conteúdo. Após dar como verídico, pegou uma ficha e começou a escrever no papel.
— Qual o nome de vocês e a relação? — perguntou, enquanto segurava uma caneta.
— Seven e Karina, com c. Somos irmãs — disse, enquanto observava ela escrever o que havia acabado de falar.
Escutei passos se aproximando, das quais não liguei. Apenas me importei quando uma silhueta maior que eu fez sombra no balcão.
— S-Seven? — perguntou a figura. — Eu finalmente te encontrei.
Tinha um tom melancólico, e ao mesmo tempo, reconfortante.
Virei-me imediatamente, reconhecendo a voz que me chamava.
Não pude acreditar em quem estava vendo.
— Gaia? É você?
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