Capítulo 2: Um Pequeno Passo
― Eu tenho que sair daqui ― pensei alto, mas de certa forma era minha única alternativa no momento. Para preservar minha vida eu deveria fugir.
Tentei me levantar da cama na qual eu me apoiava, foi difícil, mas por conta dos curativos feitos eu tive sucesso. Percebi que não foi apenas uma bandagem utilizada em mim, mas de algum jeito estava curada totalmente, sem cicatrizes ou algo parecido. Mas é claro que ainda sentia uma dor latejante em cada canto do meu corpo.
― Irmãzona, você já vai embora? ― Pude ver aquela mesma criança agora, de perto. Ela parecia estar acordando de um longo sono, com um pijama branco e com uma estampa de bolinhas. Estava andando em minha direção segurando uma pelúcia de coelho pelas orelhas que tinha quase o seu tamanho.
Finalmente pude ver a menininha que eu consideraria a minha salvadora, mas neste momento estava encurralada entre falar com ela, ou talvez fugir daquele local.
A minha mente estava pensando em mil coisas diferentes, talvez em tentar escapar por uma janela? Pude enxergar duas, uma que daria diretamente com o que eu diria uma floresta e outra que estava tampada com uma cortina vermelha. Tem alguma porta dos fundos? Não consegui enxergar do meu ângulo, mas pude ver um cômodo diferente, talvez uma cozinha. Nessa situação, meu corpo apenas fez a escolha que achou certo no momento.
― Bom, eu já estou curada, né, então está na hora de eu partir. ― Me sentia um pouco culpada por conta da criança, mas era necessário se eu ao menos quisesse sobreviver.
― Ah… ― Ela parecia desanimada com a minha resposta.
― Não se preocupe! Eu já estou melhor como pode ver. E eu também não quero incomodar tanto vocês. ― Girei meu braço, para de certa forma demonstrar que já havia melhorado. O tempo corria, e a pressa para deixar aquele local só aumentava.
Me movimentei mais rapidamente até o outro cômodo e chegando lá eu pude ver a minha salvação, a porta dos fundos. Naquela manhã gelada, ela estava aberta. Mas, quando estava prestes a sair, eu pude ouvir uma voz vinda de trás que dizia:
― Bom, eu não lembro de ter dado alta à minha mais nova paciente, não é? ― Klaus. Pelo menos o nome que escutei ele ser chamado. Ele falava isso para mim encostado na parede.
― Eu já estou curada, não é? Meio inconveniente ficar na casa das pessoas assim. Lembro de minha mãe me ensinar isso! ― Claramente não era uma verdade completa, mas eu apenas queria uma desculpa para deixar aquele local.
― Talvez não perceba, mas você é péssima em contar mentiras. Começamos com o pé esquerdo, dessa vez agora iremos ir por partes. Eu me chamo Klaus, e qual seria o seu nome menina dos cabelos vermelhos? ― Era uma clara tentativa de me prender naquele local, mas eu não me deixo por vencida.
― Você já teve todas as respostas da minha boca, porque eu falaria mais que isso. ― Quando eu disse isso, Klaus abriu um leve sorriso, quase imperceptível, enquanto eu saía daquela casa.
Assim que eu fui embora, a porta atrás de mim se fechou. Estava em um beco escuro agora, apesar de ser de manhã. O chão era feito de pedra, e as casas ao redor, predominantemente de madeira e tudo sendo coberto pela neve que ali habitava. Pude ouvir algumas pessoas conversando vindo do final do beco, andei em direção às vozes, até chegar em uma rua de onde via todo o local onde estava.
Tinha aquele mesmo castelo que havia visto, mas agora, de perto. Ele podia ser percebido por todos os lugares, já que todas as ruas vinham daquele local. A cidade estava cheia de pessoas que, nesta época, por conta do inverno, estavam usando roupas contra o frio.
[●●●●●●●●●∘ 99%]
Uma janela apareceu em minha frente, era o mesmo que eu tinha visto noite passada, estava com remorso daquilo, pois não sabia o que iria acontecer.
[Sincronização concluída, iniciando programa…]
Estava confusa, e por conta disso eu corri mais para o fundo do beco em que estava com medo de algo acontecer. Fechei meus olhos esperando pelo pior.
― Senhorita Scarlett! Achei que eu nunca mais iria ver seu rosto novamente. Eu estava muito preocupado com a sua condição no momento! ― ouvi falar.
Abri os meus olhos e em minha frente tinha um coelho que estava flutuando no ar, possuía pelagem roxa e olhos no mesmo tom. Havia uma cartola que flutuava perto de sua cabeça, e o que mais me intrigava era ele saber falar.
― E, eu te conheço por algum acaso? ― Tudo parecia cada vez mais confuso, esses segmentos de acontecimentos deixavam-me ainda mais perplexa sobre o que estaria acontecendo naquele mundo.
― Ah, devo ter lhe confundido com uma pessoa que conheço, sinto muito cliente! ― O coelho falava, enquanto sobrevoava aos arredores.
De repente, ele fez surgir aquelas mesmas janelas que estava vendo na frente dele, parecia estar procurando alguma informação naquele holograma.
― Mmm, você deve ser o cliente sete, pelo visto, suas características batem com as descritas. ― Ele me mostra o que estava procurando, e estava lá, uma ficha com meu rosto, algo que eu não lembro de ter concordado.
Parecia demonstrar bastantes informações, que mesmo que eu quisesse, eu não entenderia. Mas uma coisa que me chamou atenção foi o nome que estava lá.
― Seven? Esse é o meu nome? ― Me parecia incerto, mas eu tinha que me apegar ao mínimo de esperança sobre o meu passado.
― Pelo visto, na hora do cadastro você apenas quis outro nome para manter o anonimato, foram essas as informações que me foram passadas então não posso ajudar muito. Mas você já não deveria saber disso? ― Estava suspeitando de algo desde o início, mas agora ele só queria uma confirmação.
― Eu apenas não lembrava o nome que tinha colocado no cadastro, obrigada por me lembrar. ― Queria disfarçar a falta de minhas memórias naquele momento.
― E então, como posso lhe chamar?
― Pode me chamar de Gaia, fui convocada aqui por você para ser sua guia. ― Ela me parecia inofensiva aos meus olhos, então acreditei rapidamente.
― E agora, como parte do protocolo, eu irei citar todos os termos da nossa companhia, para ter certeza de que não haja desentendimentos […] ― Ela trouxe uma pilha de papel do nada, foi até engraçado, e em seu rosto de coelho surgiu um óculo com lentes redondas.
Acredito que fiquei por mais de vinte minutos ouvindo os termos, mas eu tinha chegado a uma conclusão, que eu deveria apenas acreditar em Gaia, pois se há alguma fagulha de meu passado talvez ela saiba.
― Alguma dúvida? ― Disse enquanto tirava seus óculos e me olhava.
― Nenhuma senhora! E então, qual seria o meu primeiro passo?
― Nesse mundo, existe o que chamamos de dádivas e bênçãos, que são basicamente habilidades ou proficiências. Então o nosso primeiro objetivo é descobrir a sua, por isso vamos à Igreja. ― Gaia apontou para uma construção mais ao fundo.
― E então, Seven, vai encarar esse desafio? ― dizia Gaia, dando um sorriso de lado.
― Pelo visto, eu tenho que estar mais pronta do que nunca.
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