Sentia o movimento da carroça, havia sido movida para o móvel antes mesmo que percebesse. Naquela situação o sol bateu em meus olhos, me fazendo acordar e quando os abri apenas pude ver Gaia, lendo um livro. Não sei o que deu em mim, mas um pequeno sorriso involuntário surgiu ao meu rosto.

    Estava com a cabeça apoiada nas coxas dela, tentei disfarçar imediatamente quando a percebi, fingindo ainda estar em um sono profundo. Mas não foi preciso muito para ela me notar.

    ― Já está acordada? ― disse Gaia.

    ― … ― Continuei fingindo, como se nada estivesse acontecendo.

    ― Tudo bem, durma mais um pouco. ― Colocou suas mãos sobre meus olhos, impedindo a luz solar.

    ― Não… agora não dá mais. Dormi muito? 

    ― Nem tanto, entramos na estrada há duas horas. 

    Me sentei no banco, ao lado de Gaia, esticando meu corpo para me manter acordada. Ela parecia estar lendo alguma história de bolso, comparando o tamanho de seu livro que parecia do tamanho exato de sua palma. 

    ― Oh! Eu vejo a primeira cidade em que iremos passar, meninas! ― disse Jorge da frente da carroça.

    Levantei-me e fui em direção a ele, para tentar enxergar a cidade que mencionava. Parecia bem diferente da que estava antes, mesmo com toda a neve no local, suas construções eram totalmente diferentes. 

    Cidades tão perto e arquiteturas tão diferentes, era incrível pensar o tanto de histórias da qual esse povo esconde. Meus olhos brilhavam de curiosidade e minha mente não parava de pensar em possibilidades. Casas de pedra e madeira, uma coisa simples mas parecia um avanço muito grande comparado a outra. 

    ― Sabe qual é o nome dessa cidade? ― disse Jorge.

    ― Não é o Leste? ― perguntei totalmente confusa.

    ― Hahaha! Você gosta de contar piadas. Ainda temos muito caminho pela frente até irmos a essa região, afinal o leste é dividido em estados ainda mais pequenos. Essa é Azaleia, a capital de Tyrael, o local em que estamos.

    Então apenas tinha entendido tudo errado… que vergonha. 

    ― Então, temos que passar por quantos estados a mais para chegarmos na região leste?

    ― Hektar é pequeno, minha filha! Os Estados geralmente são menores ainda, passaremos por dois após Tyrael. ― Hektar, usando todas as informações que tinha, poderia supor que era o nome do continente em que estávamos. 


    [Informações recebidas: Psyche, a Vigarista de Almas.]

    Fingi não estar vendo essa tela e continuei observando a cidade se aproximando cada vez mais. Não queria me envolver mais com esses nomes, ele só me lembrava do apagão e voltar toda machucada, não queria sentir isso novamente. 


    [Os tolos duvidaram de seus mitos, mas seus descendentes irão olhar as entrelinhas de suas mensagens.]

    ― Que? ― disse em voz alta sem que percebesse.

    ― O que houve? ― retrucou Jorge, olhando para mim.

    ― Nada, nada… ― respondi.


    [As almas estão aprisionadas, e tudo que precisam é de uma revolução. Seu corpo se transforma em um receptáculo de um exército enfurecido com seu mestre.]

    Isso estava ficando estranho, Gaia já havia me repreendido por ter falado com ela antes sobre o Complexo e não queria tomar outra bronca dela. Essas informações definitivamente explicam muita coisa do que estava em dúvida, me deixando ainda mais com medo da verdade completa. 

    Todos esses questionamentos me deixaram intrigada, andei em círculos por um bom tempo naquela carruagem.

    ― Seven…? Chegamos à Azaleia. ― Meu deus, não percebi a carruagem se movendo tanto assim, e quando vi já estávamos na cidade.

    Gaia me segurou para não dar mais uma volta, foi quando me toquei na situação em que estava. Logo desci da carroça com a ajuda dela, que segurou em minha mão. 

    Agora estava de frente com as construções que tinha visto de longe, elas eram escuras comparado às outras. A circulação de pessoas também era diferente, podia enxergá-las em todos os lugares, era uma cidade viva. 

    ― Para onde Jorge vai, movimentando a carruagem? ― perguntei, vendo ele sair lentamente com os cavalos.

    ― Ele vai nos encontrar em um restaurante aqui perto, vai apenas deixar a carruagem em um local apropriado.

    A nossa frente havia um portão, com o nome gigantesco da cidade escrito em uma chapa de ouro logo acima. Com isso, Gaia pegou em minha mão, se movimentando para o portão.

    Não sei o que meu coração queria me dizer naquele momento, estava totalmente vermelha de vergonha com as ações dela. Apenas a deixei tomar o rumo por estar desorientada demais. 

    ― Não acho que precisava segurarmos as mãos ― disse.

    ― Ah, não gostou? ― respondeu Gaia, soltando a minha mão.

    Segurei rapidamente antes que as soltasse completamente.

    ― E-eu não disse que não gostei ― estava gaguejando naquele momento.

    Andar pela cidade, conhecer novos lugares juntamente a ela. Aquele momento deixava meu coração quentinho.


    Era bem óbvio que o estabelecimento à nossa frente era uma taberna. Havia uma placa ao lado do local que estava ilustrada um copo de cerveja nela, tem como ser mais óbvio que isso?

    ― Então, Jorge vai nos encontrar aqui…? ― disse.

    ― É, foi isso que ele falou pelo menos. Primeiro as damas? ― Se curvou levemente diante de mim, como se quisesse tirar sarro da minha cara.

    ― Sim, primeiro as damas.

    Entrei primeiro ao estabelecimento e não havia tanta gente quanto pensei. Talvez era antes do meio-dia, o horário em que realmente iria se aglomerar naquele local.

    Havia um pequeno rapaz de cabelos pretos limpando algumas mesas no local. Não parecia ter notado a gente, então eu fui até ele.

    ― Oi menininho, já está aberto o restaurante? ― Ele se assustou imediatamente quando cheguei perto. 

    Parecia ter receio em suas ações, pois ele se movimentou para trás imediatamente após me ver. Seus olhos demonstravam medo, mas não para mim, parecia estar olhando para atrás de…

    ― Gaia, pode parar de assustar a criança? 

    Virei-me para trás e foi quando ela virou seu rosto, como se estivesse emburrada comigo. Realmente não entendia suas ações.

    ― Paaaai! ― gritou o menino.

    Um homem desceu as escadas ao fundo, seus passos eram lentos, imaginei alguém idoso ao escutar isso. E quando sua figura apareceu em meu campo de visão, pude ver um homem apoiando sua parte direita do corpo em uma bengala.

    Tinha cabelos longos, amarrados por um grampo atrás, corte esse que era incomum até para mim. Diferente do que pensei ele não era alguém de idade, mas sim uma pessoa que estava mais ou menos na casa dos vinte, aspirando a juventude.

    Ele não disse nada, do contrário se sentou em uma das cadeiras de sua taberna e fez gestos para a criança.

    ― Meu pai quer saber se vocês são clientes ― disse a criança.

    Que? Por que a criança estava falando por seu pai? Estava muito confusa.

    ― Somos sim, viemos apenas esperar um amigo aqui para fazermos o pedido ― respondeu Gaia atrás.

    Após ouvir sua resposta, o homem fez gestos novamente ao garoto, da qual transmitiu novamente a mensagem que queria passar.

    ― Ele quer falar que vocês são bem vindos a nossa taverna e que fiquem à vontade esperando o seu amigo. ― O homem chamou a atenção do menino novamente. ― Ele disse para não acharem estranho ele não falar, é que o pai é mudo.

    Ah… tudo fazia sentido agora. Meu coração derreteu ao ver essa situação, um menino que sempre ajudou seu pai com a sua condição, mesmo que ele ainda seja uma criança.

    ― Você é realmente um bom garoto ― disse, me agachando.

    Realmente me comoveu toda aquela situação, esse homem era um guerreiro por aguentar tudo isso até hoje.

    A porta atrás da gente se abriu, revelando ser Jorge que havia chegado em nosso ponto de encontro.

    ― Ah, Henry! Velho amigo, como vai? ― disse Jorge.

    Henry fez alguns sinais com suas mãos para Jorge, mas um deles eu entendi, pois no meio daquilo tudo ele apontou para mim e para Gaia.

    ― Estou bem sim, que bom que perguntou ― Jorge o puxou para um abraço.


    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota