Capítulo 20: Tô Muito Brava!
Por que a mamãe tá grudada com essa daí?
Essa pessoa diferente estava tirando a mamãe de mim, prendendo-a entre seus braços. Por que ela deixou essa entrar no quarto?
O cômodo estava preenchido por três pessoas: eu, mamãe e essa pessoa… familiar, eu acho. Nunca a vi na vida, mas tô sentindo algo estranho em meu peito.
— Solta a mamãe! — vociferei, com raiva. Não aguentava mais esse lenga-lenga na minha frente.
— Você, quem é? — perguntou a mulher desconhecida. Ambas estavam sentadas na minha cama, enquanto mamãe se encontrava presa em seus braços. — E mãe? O que é isso? — disse, olhando para a mamãe.
Ela começou a cochichar no ouvido dessa estranha, falando alguma coisa sobre mim, eu sentia isso. Mas não devia ser coisa ruim, então tá tudo bem.
— Presta atenção aqui! — gritei para mamãe. — Quem é ela?
— Eu? Não, não. Me responda primeiro quem é você! — disse mais uma vez a intrometida. Tava ficando emburrada já, não aguentava mais!
Puxei a mamãe pelo braço e, ao mesmo tempo, aquela enxerida a agarrou pela cintura. Ficamos nessa briga por bastante tempo, disputando quem teria a guarda da mamãe.
Não falou nada, apenas ficou rindo que nem uma boba. Ela também é outra boboca! Eu estou ficando irritada, muito, mas muito mesmo.
Estalei a língua.
— Fica com essa daí, então!
Soltei sua mão, que voltou no mesmo instante a se esconder entre o abraço daquela pessoa. Parou de rir e olhou para mim.
— Essa seria a pessoa que você consideraria seu pai — disse, utilizando sua mão como se fosse uma bandeja de apresentações.
Pai?
Papai?
Fiquei surpresa, e aquela enxerida teve a mesma reação que eu.
— Que?! — gritei mais alto. — Como assim “papai”?!
Elas voltaram a cochichar, cada vez mais perto uma da outra. Me aproximei em um susto, desgrudando-as.
— O que vocês tanto falam, hein? — perguntei. Minha raiva tava tão… — Sua idiota! Procure me explicar melhor sobre ela ser meu pai!
Sentei-me ao lado delas na cama, puxando a mamãe lentamente para meu lado.
— Você deve ter mencionado uma certa energia espiritual para Seven, enquanto conversavam? — perguntou a intrometida.
Fiz beicinho. Não queria falar com ela.
— Cala a boca! Nem sei seu nome! — disse, enquanto puxava a mamãe para perto de mim cada vez mais.
— É… Gaia — respondeu, de forma calma.
— Gaia? Sua boba! Seu nome é tão ruim quanto essas suas articulações de boneca. Por acaso é estética?
Ambas se surpreenderam com o que falei. Mamãe hesitava em falar algo, enquanto a boboca arregalava os olhos.
— Você consegue ver meu corpo real? — ela perguntou.
— É óbvio! Com esse cabelo raspado do lado e esses óculos na cara. Roxo é sua cor favorita? Deu pra ver também — respondi, abraçando a mamãe. Ainda continuavam surpresas com minha resposta, o que me deixou bastante preocupada. — O que foi? Não era pra eu ver…?
Um leve frio correu pela minha espinha.
— Não… Está tudo bem. Me surpreendo que consiga passar pela visão distorcida daquela benção.
Ela começou a me explicar tudo desde o início. Me disse como conheceu Seven e um pouco de suas aventuras, mas, por algum motivo, sentia que ela escondia certos fatos dessa história. Deve ser apenas intuição.
— Você acredita em mim agora? — perguntou a boboquinha, fungando com o nariz.
— Não sei… — Apertava a mamãe, protegendo-a do perigo.
Ela revirou os olhos, o que me deixou ainda mais com raiva do que estava acontecendo. Por que ela está aqui? Eu não a aceito como meu pai!
— Só me responda isso: você mencionou alguma energia espiritual enquanto conversava com Seven?
— Sim! E daí? Não é da sua conta isso!
— Talvez… algo parecido com isso? — Ela estendeu a mão em nossa direção. Do seu braço, não pude deixar de reparar as juntas de marionete.
— Por que você tá me mostrando isso? É só um bra–
Antes que terminasse de falar, fui interrompida por um evento curioso. Do nada, o braço daquela mulher começou a brilhar.
Faíscas azuis, que logo se transformaram em uma parte de membro astral… Ou sei lá como se fala isso. Era muito bonito e hipnotizante.
Seu braço de boneca havia perdido vida, enquanto a figura astral se mantinha intocável.
— Eu já vi esse tipo de coisa antes… Pensava que só eu conseguisse fazer isso.
Mostrei meu braço para ela e, com muita concentração, fiz o mesmo processo que ela. Joguei meu membro para fora em formato de espírito, enquanto o real decaiu como se tivesse morrido.
— Você… é igual a mim — disse Gaia, surpresa. — Mas como? Nem ao menos é uma marionete, muito menos isso seja possível pelo sistema de rotação! — Ela se levantou em um pulo, andando em círculos sob o cômodo. — Isso muda tudo… mas tudo mesmo. Quebra todas as regras que conhecíamos até então. Se a igreja descobrir, quem sabe o que f… — Continuamente, ela abaixava seu tom de voz, chegando a murmúrios.
Mamãe levantou e logo se aproximou da boboca. Pegou em seu rosto, puxando para perto. Não vi o que aconteceu após isso, pois estavam de costas para mim. Mas aquela enxerida saiu toda vermelha de seu ato.
— Pare de pensar demais. Não é isso que você me disse uma vez? — disse a mamãe, enquanto limpava seus lábios.
— Isso é o que chamam de brincadeiras de adultos? — perguntei, confusa pelo que havia acabado de acontecer.
Ambas ficaram vermelhas. Talvez tivessem esquecido que eu estava no quarto.
— Ehrm… Karina.
— Oi, G a i a — soletrei seu nome, em um tom provocativo. Logo após, dei língua para essa boba.
— Karina, você pode comprar algumas roupas para a sua mamãe? — perguntou.
— Eu nunca recusaria um pedido seu, mamãe! — respondi, orgulhosa de meu ato. Parei para pensar um pouco no que havia acabado de acontecer. — Mas por quê? A senhora não me quer no quarto? Assim eu fico triste…
A mamãe se aproximou, colocando sua mão em meu ombro.
— É que eu e seu papai temos algumas coisas para conversar, sabe? — Era mentira a sua afirmação, minha intuição nunca mente!
Me levantei, emburrada com a situação. Fiquei muito chateada.
Fui até minha bolsa, puxando mais um saco de dinheiro.
— Qual é o tamanho que você usa, mamãe? — perguntei, ainda com raiva de toda aquela situação.
— Mais ou menos isso aqui — respondeu a boboca, indicando o tamanho com suas mãos.
— Quem te deu o direito de saber o tamanho das roupas dela?! — perguntei, com raiva.
Deu um sorriso cínico em minha direção, como se já tivesse ganhado a batalha.
— Karina — falou a mamãe, em um tom firme.
Percebi os sinais e saí pela porta, fechando com toda a força pelo lado de fora. A minha última olhada foi quando observei a mamãe se abraçando ainda mais com aquela mulher.
Duas bobocas.
Não aguento!
Desci as escadas com raiva, indo em direção à porta de saída. Coloquei minha mão na maçaneta, girando-a.
Estava indo contra a minha vontade, e isso me irrita muito.
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