Capítulo 21: Chorona E Comilona
Enquanto caminhava pelas ruas da cidade, minha mente não poderia parar de pensar no que havia acontecido. Essas duas burras e bobas!
Batia meus pés no chão, enquanto resmungava para mim mesmo.
— Que porcaria de loja é essa! Não encontro nunca também — murmurei, enquanto continuava andando nas ruas, procurando o bendito estabelecimento. A cidade parecia ter virado um labirinto naquele momento, o que não me deixava nada alegre.
Era casa e casa para todo o canto, sem nenhum sinal de uma loja de roupas. Onde elas estão quando a gente mais precisa? Que raiva!
Continuei dando meus passos, enquanto desviava das pessoas.
Eu juro que se alguém esbarrar em mim nesse momento, matarei sem piedade!
— Ah, opa! — No mesmo instante, alguém caiu por cima de mim. Fui jogada ao chão com toda a força.
Talvez eu estivesse muito molenga por sentir raiva, não sei.
Senti o metal batendo em minha pele. Doeu. Meus olhos deram de cara com os da pessoa que havia me empurrado para o chão.
Uma cor castanha e penetrante.
Arregalava os olhos, enquanto suava frio. Talvez eu a tivesse feito sentir medo, assim como todas as outras pessoas.
A empurrei para minha frente, segurando em seus ombros. Cabelos ruivos e pequenos logo se alojaram perto de sua nuca. Sentia um aroma diferente, que não combinava com o meu.
Supus ser dela.
Mas… era cheiroso, pelo que eu pude sentir.
Toda a raiva que sentia estava sumindo, progressivamente.
Quero dizer…
Não posso me deixar levar!
Uma presilha de gatinho era vista em sua franja, deixando-a com uma aparência mais inocente.
— D-desculpa! — disse a ruiva, lacrimejando. — Acabei não olhando para minha frente, eu peço perdão, muito perdão mesmo!
Eu não sabia o que falar.
Estava dividida entre minha raiva e esse sentimento novo que estava sentindo.
Meu coração batia rápido, mesmo que estivesse apenas olhando para seu rosto. Bati em meu peito, tossindo logo após.
— Tá tudo bem! — disse.
— Eu faço qualquer coisa, então, por favor, não me mate! — gritou a mulher. Ela estava desesperada no meio da rua, chamando a atenção de todos.
Balancei seu corpo, tentando acordá-la para a realidade. Após alguns segundos, parecia que havia se tocado do que estava acontecendo.
— Tá tudo bem, só não grite tão alto — murmurei, tentando acalmar seu estado alarmante.
Ela olhou nos meus olhos, e eu olhei nos dela.
Voltou a lacrimejar, dessa vez, se derretendo em choro.
Comprei um sorvete para ela, acalmando o seu estado. Estávamos na beira de uma fonte, ela comia seu sorvete de morango e eu um de baunilha. Custou caro, mas pelo menos foi um dinheiro bem pago se pensarmos por outro lado.
Comia seu sorvete como se nunca tivesse comido um na vida. O que era estranho, mas muito estranho.
Vestia uma armadura e em sua cintura uma espada. No seu peito, o brasão do império, reluzindo como um sol.
— Como é seu nome? — perguntei, sem ao menos perceber que essas palavras saíram de minha boca. Por algum motivo, estava interessada nessa pequena e curiosa pessoa.
— Ah… Ah! — Derramou um pouco de sorvete em sua armadura. — Eu… me chamo Kaori — respondeu, limpando o sorvete que havia caído.
— Kaori, então… — Me encontrei rindo de leve da sua situação. Ela era muito desastrada mesmo, o que era bastante cômico pra mim. — Me chamo Karina, prazer, soldada do império.
Peguei um pequeno lenço que carregava comigo, ajudando-a a limpar sua armadura. Ela olhou para suas roupas e, logo após, olhou de volta para mim, estava com uma expressão confusa.
— Hoje é que dia? — falou, confundindo a mim também. Como assim, ela não sabia?
— Quarta. — disse, olhando para seus cabelos grudarem na boca.
— Meu Deus! Por que eu saí com o uniforme hoje? — gritou. Retirei o cabelo que estava grudado em sua boca. — É meu dia de folga! — falou, enquanto tentava arrancar seus cabelos. Mas quando viu que não conseguia, deu mais uma mordida no sorvete.
— Pfft! — Escondi meu sorriso com a mão, tentando evitar que ela visse que estava rindo de sua situação. — Tá com o dia livre, então?
Ela olhou para mim.
Talvez eu tenha errado ao perguntar isso. Rápido demais? Não sei, só saberia quando escutasse sua resposta.
— Por que? Quer me convidar pra um encontro? — respondeu com uma pergunta, em um tom sarcástico.
— Você esbarrou em mim… é justo que tenha de pagar algo.
Ela olhou para mim, colocou a mão em seu queixo e começou a pensar.
— É… você tá certa — disse Kaori, terminando seu sorvete. — Eu prometi que ia fazer qualquer coisa. Então, Karina, o que você quer?
Aproximou seu rosto do meu, enquanto limpava suas mãos uma na outra. Empurrei seu rosto, sentindo meu coração pulsar mais rápido.
Não conseguia falar, sentindo minha força diminuir um pouco. Até que… ela tomou meu sorvete de baunilha.
Pegou de minha mão em um momento de fraqueza, comendo-o logo após. Era uma comilona mesmo.
A deixei comer meu sorvete, afinal, nem estava com fome mesmo. Após terminar, olhou para mim com uma cara de coitada.
— Já decidi o que você vai fazer pra mim — disse, olhando diretamente em seus olhos. — Leve-me… a uma loja de roupas.
— Roupas? Só isso? Eu posso te indicar a melhor loja da cidade — respondeu. Levantou e estendeu sua mão em minha direção.
Agarrei, saltando do banco com o impulso criado. Começou a andar em minha frente, sem soltar minha mão.
Algo inesperado, do qual pensei que ia apenas me ajudar a levantar. Não soltei sua mão, já que ela mesma deixou isso acontecer.
É minha vingança.
— Ah… então era aqui? — perguntei. A loja era em um local muito mais próximo da pousada do que imaginei.
Me sentia muito burra por não ter enxergado isso antes.
Kaori, após me trazer até a loja, tentou sair pelo lado. A impedi segurando em seu braço, enquanto mantinha contato visual.
— Vamos entrar — disse, acenando com a cabeça para o local.
— Entrar? Você disse que era só te levar até a loja — respondeu, brincando mais uma vez com minha cara.
— É, eu menti. Entre comigo — disse.
Ela suspirou.
— Tá bom… Vou entrar com você.
Pisamos dentro da loja.
Era bem diferente do que havia imaginado, mas quem liga?
Várias roupas em cabines, algumas de mesma estampa, outras não. Tamanhos diferentes, assim poderia supor.
Só tinha um balconista, do qual, pelo visto, cuidava de tudo. Cheguei até ele, e Kaori me seguiu.
— Onde é a sessão feminina? — perguntei, levantando meu saco de dinheiro.
Tinha bastante economias pelos assassinatos que fiz. Só espero que ninguém descubra esse fato.
Ele apontou para outro canto da loja, um lugar perto dos vestiários. Levei Kaori até lá.
Assim que chegamos, apontei para as roupas.
— Pode escolher uma.
— Que? Como assim? — perguntou.
— Você pode pegar uma dessas roupas. Deve ser difícil ficar andando com essa armadura por aí, principalmente em sua folga — disse.
Posso dizer que aprendi muitas coisas sobre essa criatura na minha frente. Quero agradecer por essas informações novas.
— Sério!? — Seus olhos brilhavam. Minha ideia acertou em cheio. — Qualquer uma, né?
— É…
Sinto que irei me arrepender dessa decisão.
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