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    Pegou um dos vestidos e rapidamente se aprontou em um dos provadores. Não consegui olhar como era, o que é uma pena. Retirou as armaduras, com o som alto do metal ecoando pelo chão.

    — Tá tudo bem aqui, viu! — disse, tentando tranquilizar a quem? A mim? 

    Continuou tirando as partes da armadura, até que, por fim, terminou de vestir a peça de roupa. Kaori abriu o provador, fazendo uma pose de modelo.

    Vestia uma roupa com estampas de gato, tendo todas as variáveis que meu cérebro poderia pensar. 

    Ela tava linda, mas não queria aceitar isso.

    — Gostou desse? — perguntei, me aproximando.

    — É fofo demais. Não sei se gostei tanto assim — respondeu, enquanto pegava outro conjunto de roupas do cabide.

    Queria falar alguma coisa, elogiar seu vestido ou talvez… mas as palavras não saíam de minha boca. Hesitava, e com razão.

    É um sentimento novo, devo ter cuidado.

    — Que tal uma roupa mais limpa? Sem estampas e tal — disse, enquanto segurava um vestido diferente. Era um tom mais esbranquiçado, com algumas rendas em certas partes.

    Seus olhos brilharam mais uma vez, era possível ler seus pensamentos sem ao menos ter o poder de fazer isso, suas expressões valiam muito mais do que as palavras que saíam de sua boca.

    — Eu gostei dessa ideia! — respondeu, enquanto tomava o vestido que estava em minha mão.

    Foi rapidamente até o provador, vestindo-se.

    Minha mente não deixou de criar expectativas sobre o quão bom o vestido ficaria nela, e essas expectativas não foram quebradas. Kaori abriu as cortinas, vestindo a peça de roupa que eu tinha indicado.

    Parecia uma nobre.

    Uma roupa com rendas que ressaltava ainda mais a beleza de quem a usava, e com ela não foi diferente. Só sentia falta de uma coisa…

    Peguei um pequeno guarda-chuva que fazia parte do conjunto que ela estava usando e, me aproximando dela, entreguei ele em sua mão. Era um acessório essencial, afinal, deixava ainda mais com uma cara de senhorita nobre.

    Tinha rendas, assim como o vestido que usava.

    Se ela fosse a nobre aqui, poderia combinar vestindo uma roupa de mordomo, não…? 

    Essa pequena ideia fez meu coração acelerar, algo que não gostei muito.

    Melhor parar de pensar nisso, eu nem a conheço direito.

    — Fica melhor com isso — respondi.

    Kaori pegou de minha mão, abriu o guarda-chuva e posicionou ele em seu ombro. Fez mais uma pose de modelo para o espelho encontrado dentro do vestiário, como se admirasse sua própria beleza diante daquela roupa.

    — Eu achei maravilhoso! — Rodopiou em alegria. — Mas isso não vai ser muito caro pra você, não? É um conjunto bem nobre, ou seja, é caro.

    — Dou um jeito. Vai querer levar esse?

    — Eu me sinto meio mal por isso… Está pagando de tudo pra mim até agora, enquanto eu só lhe mostrei onde ficava a loja — Se entristeceu.

    — Disse que dou um jeito. Vai querer ou não levar esse conjunto?

    Coçou sua cabeça, como se iniciasse uma série de pensamentos naquele momento. Provavelmente estava dividida entre aceitar ou não um presente de uma estranha. 

    Estava se esforçando, e isso era mostrado em suas expressões. Franziu sua testa.

    Até que parou, hesitando em responder minha pergunta.

    — …ero.

    — O que? Não escutei muito bem.

    — Eu disse que quero! — gritou, finalmente respondendo minha pergunta. — Mas eu com certeza vou lhe pagar de volta, anote isso!

    Ela ficou emburrada, mas tinha respondido minha pergunta após um longo tempo.

    — Vou comprar pra você, então. — Comecei a andar pela seção feminina, procurando roupas para minha mamãe. 

    Kaori me seguiu logo atrás, curiosa sobre o que estava fazendo.

    — Vai comprar outra pra mim? — perguntou. Era mais uma de suas brincadeiras.

    — Quer outra roupa? — respondi, brincando de volta. — Eu posso pagar, se quiser.

    Ela se desesperou.

    — Não, não! Que isso. Não esperava que essa fosse ser sua resposta. — Calou-se logo após.

    — Quero comprar roupas pra minha mãe — disse, deixando claro meu objetivo naquela loja. 

    — Ah! Foi para isso que você queria encontrar uma loja de roupas? Que boa filha você é! — Começou a rir. Sua doce risada ecoou pelos meus ouvidos, e senti que nunca mais iria esquecer aquele som.

    — É, pode ter certeza disso. — Escondi minha boca com a mão, querendo evitar que ela visse meu sorriso bobo.

    Andei mais um pouco, finalmente encontrando algumas roupas que serviriam na mamãe. Um casaco verde e uma calça muito maneira. Imaginei ela vestindo isso e, pelo menos na minha cabeça, ficou perfeito.

    Peguei a calça do tamanho que me foi falado, segurando a blusa com a outra mão.

    — Me siga, agora é a hora em que pagarei sua roupa.

    Kaori veio atrás de mim, alegre por ter um novo vestido. Em sua mão, carregava a armadura, ou melhor, o uniforme do império. Chegando até o caixa, coloquei as roupas no balcão, apontando para a que Kaori usava logo após.

    — Quanto deu? — perguntei. Estava apressada.

    — Espera! — O vendedor se surpreendeu. — Você vai levar essa roupa aí? — apontou para Kaori. — Ela é muito cara! E você… não parece ter dinheiro pra isso.

    Kaori me olhou, confusa sobre o que estava acontecendo. Talvez ele não tivesse percebido que ela era uma soldada e podia muito bem prender ele por discriminação. 

    Mas, dessa vez, queria evitar algumas brigas.

    Coloquei o saco de dinheiros no balcão e, de dentro dele, caíram duas moedas de ouro.

    — Eu perguntei quanto deu. Responda — disse, sendo propositalmente rude com aquele cara.

    Arregalou os olhos, não acreditando no que estava à sua frente.

    Cruzei os braços, evidenciando meus músculos. Queria que ele entendesse uma única coisa: se continuasse falando baboseiras, iria tomar só uma na cara.

    — Peço perdão! — Começou a soar. — Deu uma moeda de ouro, apenas isso!

    Peguei o resto do saco de dinheiro, deixando apenas uma moeda de ouro no balcão. Enquanto isso, olhei para Kaori, que estava aliviada por tudo ter dado certo. Ele colocou tudo em sacolas, com exceção do vestido de Kaori.

    Antes de sair da loja, acabei vendo um casaco preto muito bonito. Peguei ele e coloquei no balcão.

    — Quero isso também — disse.

    Ele sentia medo de mim, era visualmente perceptível. 

    — Não precisa pagar… pode levar esse por conta da casa! — gritou. Talvez apenas quisesse que eu fosse embora.

    Não discuti sobre o que tinha acabado de acontecer, essa situação só me favorecia.

    Kaori me esperava do lado de fora da loja, com o guarda-chuva aberto.

    — Karina! — Sorriu.

    Me aproximei dela.

    — Por que falar meu nome tão de repente? — perguntei, enquanto coçava minha cabeça.

    — Quero agradecer por tudo que você fez hoje! Foi muito divertido… — disse em um tom alegre, mas hesitava em terminar sua frase. — Será que… podemos nos encontrar em algum outro momento?

    Escutei meu coração pulsar mais forte.

    Ba dum.

    — Se assim o destino permitir, senhorita — respondi em um tom sarcástico.

    — Agora eu preciso ir embora… Já que é folga, visitarei a pessoa de quem gosto — Ela começou a dar pequenas risadas, seu rosto avermelhado.

    Meu coração apertou no mesmo instante.

    Não sei o que eu esperava, sou apenas uma estranha para ela.

    Bati em meu peito.

    “Deixa de frescura!”

    Era o que eu pensava.

    Era muito óbvio perceber que ela tinha outra pessoa em seu coração.

    Minha boca estava com um gosto amargo, desconfortável.

    É… vamos deixar essa história para lá.

    — Tudo bem. Desejo muita boa sorte para você, Kaori — respondi.

    — Ah… — Ela olhou para mim, sua expressão mudando bruscamente. — Por que você tá lacrimejando? 

    — Eu? Não, não. Apenas uma pequena poeira voou em meu olho — disse, coçando meus olhos. Não acreditava que estava querendo chorar… isso nunca aconteceu.

    Ânimo, Karina! Cadê seu orgulho?

    Ela sorriu.

    — Vou indo! Cuide-se! — Correu para longe. Após chegar a uma certa distância, olhou para trás. — A gente se vê! — gritou em minha direção.

    Não respondi, apenas sorri mais uma vez.

    — Fofa…


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