Capítulo 24: Você está bem?
Jorge havia ido embora para sua cidade natal, ele entendeu que precisava de tempo para organizar meus pensamentos, e não havia melhor lugar do que alí.
A lua brilhava no céu, e eu estava observando sua beleza de um quartinho na igreja. Eles realmente me trataram bem, me deram comida, água e um cômodo para me estabelecer, era pequeno, mas o suficiente para me caber.
“Gaia, mesmo que você tenha quebrado a nossa promessa, eu não quero que minhas memórias boas de você sumam. Passaram dois meses desde que você foi embora e tudo que posso pensar é se você está bem.
Aqui está tudo indo certo, eles me ensinaram a utilizar minha benção melhor e até aquela santa não é tão mimada quanto pensei. Sinto sua falta, onde você está? É tudo culpa minha, me desculpa.”
― Seven! Está aí? ― Era a voz que sempre escutava todos os dias antes de dormir.
Fui até a porta, abrindo-a.
― Estou sim, Daiane ― disse, coçando meu olho.
― Ah! Desculpe, devo ter te atrapalhado.
― Não, não. Já havia acabado antes de você bater na porta.
― Você ainda está escrevendo essas cartas? Nem ao menos envia elas. ― Por ser menor que eu, Daiane pulava tentando ver o que tinha no quarto.
Por algum motivo ela sempre vem ao meu quarto antes de dormir. Nunca entendi essa sua mania, mas não me importava. Havia nada que precisasse esconder.
Ela entrou indo diretamente até minha cama, se jogando com tudo.
― Sabe o que é amanhã, não é? Está preparada para enfrentar a torre? ― Ela abraçava um dos meus travesseiros enquanto falava isso.
Sentei novamente a cadeira que estava, e então olhei para ela.
― Estou, acabei de ver quem irá comigo. Um lanceiro, uma escudeira e um curandeiro. Definitivamente é estranho o jeito que a igreja nomeia as pessoas em classes.
― É uma tradição comum daqui, em outros estados essas classificações serão em outras. Jeito normal de separar as pessoas por bençãos. ― Parecia estar pegando no sono enquanto dizia isso.
― Ei! Não durma aqui, você tem seu próprio quarto.
Ela ficou chateada rapidamente com o que estava dizendo, logo se levantando.
― Tá bom então, quando for sua vez de pedir para dormir no meu quarto fique sabendo que não vou deixar ― disse Daiane, saindo do quarto.
Aprendi poucas palavras dessa linguagem escrita, mas o suficiente para me fazer praticar todos os dias e noites, escrevendo cartas para ninguém.
Peguei a folha que tinha acabado de escrever e a coloquei em uma gaveta na cômoda que estava, junto a uma dezena delas.
Fechei a porta do meu quarto e logo me deitei na cama, estava cansada mentalmente. Peguei o colar que estava ao lado da minha cama, o inspecionando.
― Sempre me pergunto por que ele me deu isso. Esse colar não faz nada ― disse, enquanto fazia o colar voar através do quarto.
Era divertido poder controlar o metal. Mover de lá para cá, mudar a sua forma, dividi-lo em camadas…
― Talvez se fosse em uma grande quantidade eu poderia fazer disso meu novo braço.
Ideia idiota? Talvez. Mas era algo que queria testar, e se por acaso funcionasse iria me ajudar bastante. Só precisaria de um pouco mais de concentração para manter ele colado ao meu corpo, então devo treinar mais.
― Acorda! Tá na hora!
Tomei um susto ao ser despertada de repente. Daiane tinha adentrado em meu quarto sem que ao menos eu percebesse. Seu rosto estava muito perto, então o empurrei com minha mão.
― Ai… como você entrou aqui? ― disse.
Minha cabeça estava doendo, talvez tivesse dormido muito tarde e acordado muito cedo. Meus horários de sono estavam completamente uma bagunça desde a partida dela.
― Você não precisa saber como entrei aqui, só saiba que está na hora! Está na hoooora! ― Quanto barulho. Coloquei o travesseiro sobre minhas orelhas, impedindo a passagem completa do som.
― … ― Ela murmurou.
Tirei o travesseiro de minha cara, e a luz solar bateu instantaneamente em meu rosto e me cegando temporariamente.
― O que você disse?
― Hehe, vou pensar se algum dia te falo! Mas você vai acabar se atrasando assim. ― Saiu do quarto logo após me dizer isso.
Desde que virei uma fábrica de dinheiro para a igreja só tive tempo para fazer o que eles pediam, e dessa vez era essa maldita exploração em uma torre. Garanto que não posso ser das melhores, mas de alguns meses para cá fiquei muito boa em controlar os metais.
O metal realmente domina todo esse mundo, é possível encontrar ele em qualquer lugar. Eles estão ligados com os heróis em realmente tudo. E de alguma forma existe uma tradição de escolher sua arma como um símbolo, para todos os habitantes que entrarem nesse mundo de exploração…
Lembro-me quando perguntaram qual arma conseguia usar com apenas um braço, e respondi com a maior sinceridade que nenhuma. Claro que todos ali iriam soltar pequenas risadas, mas como consequência aprendi um pouco de combate.
Devo agradecer a Kaleb, ele me ensinou um pouco de pugilismo em seus dias livres. E então quando me perguntaram qual arma iria utilizar, eu disse com firmeza que seria a manopla.
“Uma pugilista de uma só mão, essa daí não vai durar uma hora nas torres”, Era o que escutava. Eles não haviam divulgado a informação sobre os heróis para o povo, então tinha que aguentar ser um poço de ouro às escondidas e ser tratado pior que lixo em sociedade.
Me reuni ao pátio atrás da igreja. O local era grande o suficiente para suportar bastante pessoas vivendo em pequenos quartinhos.
E assim me encontrei com o grupo que iria comigo a mando de Daiane. A mulher com um escudo me comprimentou com um aperto de mão, da qual aceitei.
― Prazer, me chamo Cecilia! ― Uma mulher de cabelos curtos e marrons. Vestia algumas ombreiras de metal e tinha um grande escudo em suas costas.
― Muito bom lhe conhecer, me chamo Seven. Provavelmente informado para vocês como a pugilista do grupo.
― Ah! Esses são meus irmãos: Taric e Deric ― disse, apontando para os dois rapazes ao seu lado. Eles eram idênticos, sendo a sua única diferença notável o óculos redondo em Taric, além da lança metálica que o mesmo segurava.
Era um trio amigável de irmãos, os dois eram tímidos e não conversavam comigo sem ser por intermédio de Cecília.
Daiane chegou logo depois, totalmente trocada para a sua aparência santa e calma. Ela nem abriu os olhos para olhar para nós, apenas ficou com suas mãos atadas uma na outra.
Não falou nada, mas sua presença no local já foi o suficiente para notar o que deveria fazer.
― Vamos indo, não temos tanto tempo ― disse.
Os três apenas concordaram. Então saímos pela porta da igreja, descendo suas longas escadarias.
Como forma de me manter ali, Daiane sempre tentava me mimar com algumas coisas, e todas elas eram sempre constrangedoras. Dessa vez havia uma linda carruagem na frente do palácio, cara e cheia de bijuterias em suas portas.
Sabia que havia sido enviado por ela, e sinceramente não tinha como dar uma explicação clara para os irmãos.
Passei reto, e o cocheiro da carruagem apenas me olhou com uma cara de desentendimento.
― Mas essa não era a pessoa que ela me mandou buscar? ― resmungou de longe.
Por sorte os irmãos não escutaram, e seguimos nosso caminho a pé. Iria demorar dias, pois a área isolada era relativamente longe, além do tempo de conclusão total que iria ser ainda maior.
As ameaças de uma fratura vindo daquela torre era grande, por isso estava fazendo isso. Mas se fosse tão grande assim, porque enviar amadores? É para me adaptar aos primeiros níveis e ir evoluindo? Não, não era isso. Tinha um motivo muito maior e eu vou descobrir.

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