Capítulo 25: Péssimas Lembranças
A cidade não mudou tão rápido assim em dois meses. Continuei almoçando com Henry em sua taberna, a comida dele era realmente boa, além de me comunicar de vez em quando com Beatrice, que me passa algumas dicas de roupas. Recebo de vez em quando algumas cartas de Ester, preocupada comigo, mas queria estar perto dela para dizer que está tudo bem por aqui.
Queria ir aos estados do leste por sugestão de Gaia, mas desde que ela partiu eu comecei a gostar bastante desse local. Sinto-me meio extrema por não conseguir superar, sendo que nós conhecíamos apenas por uma semana, mas essa dor no meu peito é inevitável.
Os três irmãos conversaram atrás de mim por boa parte do caminho até o portão da cidade, não vou mentir, senti inveja da relação deles. A bolsa que Deric tinha em suas costas era enorme, quase do seu tamanho, aquilo me tirou umas boas risadas.
― Olha, olha irmão! ― disse Cecilia, apontando para uma barraquinha na estrada.
O pequeno estabelecimento estava vendendo sopas, e parecia particularmente famoso na região. Uma bebida quente nesse inverno infinito, é a forma perfeita para alguém ganhar dinheiro, você se esquenta com a comida e o vendedor ganha alguns trocados de volta.
Chegamos mais perto do senhor vendendo seu produto, e ele não vendia apenas sopa como o banner de sua barraca dizia. Havia alguns espetinhos queimando sob o pequeno fogo, apenas um, mas o suficiente para me fazer pagar por ele.
Ah! O dinheiro! Viver aqui me garantiu algumas moedas como pagamento, mas nem perto do que eles ganhavam por mim.
Entramos na pequena fila, esperando nossa vez de fazer o pedido. E mais uma vez, deixada de lado da conversa.
― Erm, Seven… ― disse Taric. ― Por que seu cabelo tem algumas mechas brancas?
Espera, que? Mechas brancas…? Lembrava de meu cabelo totalmente vermelho, sem quaisquer sinais dela.
― É a minha benção. ― Uma mentira, apenas não sabia o que causava esse evento misterioso.
Os três me olharam com admiração, como se fosse a coisa mais legal do mundo, isso me causou um pequeno momento de empoderamento que me deixou de nariz empinada. Esse sentimento durou até pelo menos eles voltarem a conversar entre si, sem falar comigo até chegar a nossa hora de pedir as comidas.
Os dois gêmeos pediram uma sopa igual, com carne e batatas, e Cecilia um pote menor feito com frango e ovos.
― E você ai! Vai querer o que? ― perguntou o velhinho.
― Esse espetinho é bom mesmo? ― Apontei para o de carne.
― Haha! É bom até o talo, feito do mais belo bovino da capital!
[Fantasia sente uma leve mentira na fala do senhor à sua frente.]
Ah, tinha esquecido do fato de minhas bençãos começarem a falar comigo. Confirmei que apenas eu podia ver essa janela do Complexo, então deve ser por isso que eles estavam ativos agora.
Curioso eu diria, nunca imaginei que essas habilidades poderiam pensar em respostas e me ajudar no dia a dia, esse é um outro evento que quero me aprofundar.
― Vou querer então. ― Entreguei algumas moedas na mão do idoso, da qual me devolveu o troco e dois espetos.
― Mas eu só pedi um? ― disse confusa.
― Esse aqui vai de brinde pra você, moça bonita. ― Peguei e saí da barraca, indo de encontro com os três que estavam mais ao longe.
Após todos nós terminarmos de comer, tivemos algum tempo a mais para checar se estávamos preparados ou não para essa longa jornada. Então ao chegar no portão, esperamos uma carroça que sempre viajava de cidade em cidade, como forma de ganhar dinheiro.
― Está chegando! ― Apontou Taric.
― Wow! Nunca andei em uma, como será que é?
― Parece velha, será que é seguro andar nela?
― Relaxa, vai tudo dar certo.
Os três falavam simultaneamente, era difícil discernir quem dizia o que naquela situação… Me perguntava se estava lidando com adultos ou com crianças.
A pequena carroça desembarcou várias pessoas ao chegar na cidade, coletando todo o dinheiro individualmente. Logo após assoou seu sino, avisando para os novos passageiros entrarem.
A viagem não durou tanto quanto imaginei, de acordo com as informações dadas a gente deveria parar quase no meio da trajetória do veículo. Mas diante tudo isso um único problema surgiu.
― Então vamos ter que ir a pé? Tsk ― resmungou Deric. ― Já não bastasse o tanto de coisa que carrego em minha bolsa, e agora isso…
― Vamos logo irmão! É só uma pequena andadinha, não machuca ninguém ― disse Taric, abraçando ele de lado.
― Só levar essa bolsa não vai te fazer entrar em forma não ― falou Cecilia, enquanto limpava o seu escudo.
É… se você pensou que eles ficaram nessa até sairmos do móvel, você está certo. Descemos e pagamos corretamente o cocheiro, pronto para começarmos a nossa jornada a pé na neve alta.
― Seven! Já estamos chegando? ― perguntou Cecilia, colocando o braço sob o rosto para impedir a neve forte.
Uma das coisas que não poderia prever, era a nevasca iminente.
― Estamos quase lá, o mapa diz que é apenas terminar de subir esse morro para chegarmos na torre! ― Gritei para tentar me comunicar em meio a tempestade de neve.
Posso dizer que foi sorte sempre ter meu casaco como um velho amigo. Ele me protegia perfeitamente contra o frio, e juntamente com o óculos novo que ganhei de Daiane, se tornava um conjunto perfeito para a neve alta.
― Eu consigo ver! Consigo ver a torre! ― disse Deric, que estava usando todos os seus esforços para manter a bagagem em suas costas.
Ele estava certo, um monumento como as torres eram inconfundíveis de longe. Uma estrutura gigantesca, que poderia chegar até mais de trezentos metros de altura.
Minha respiração estava totalmente pesada por conta do ambiente, e provavelmente dificultava os irmãos também, pois pareciam estar totalmente cansados.
A estrutura à nossa frente era rústica, feita de pedras e musgos adentrando pela porta. Mas, o sentimento que aquilo me trazia era assustador.
Adentramos a torre lentamente, tentando evitar qualquer tipo de barulho que possa acordar algum monstro.
Estava certa em pensar que esse silêncio iria durar para sempre, pois no minuto seguinte Taric pisou em um graveto no chão.
Me virei rapidamente em desespero, pensando em que tipo de Viajante poderíamos ter acordado.
― I-irmão? ― O desespero tomou conta não só de mim, mas dos outros dois.
O sangue de Taric estava jorrando em Deric e Cecilia, sem parar. Ele não teve tempo de gritar ou demonstrar desespero, sua morte foi tão rápida quanto o som. A sua cabeça não estava mais em seu corpo, sendo jogada para trás, e a sua lança estava na mão daquele ser.
À nossa frente, havia uma figura totalmente assustadora. Ela estava de frente para nós com seus olhos totalmente negros, sua pele era viscosa e seu corpo esguio. Mantinha em sua cara um sorriso sádico, que me trazia um arrepio na espinha.
Não me mexia, estava paralisada com aquela cena. Nunca havia visto uma morte até agora, e essa vai sempre me trazer péssimas lembranças por ser tão brutal.
Cecilia, tremendo todo o seu corpo, levantava o seu escudo para a criatura. Olhares transmitiam sentimentos, e se fosse dizer o que via agora nos olhos dela era o temor.
Estava com tanto medo que acabei caindo ao chão. Minha bagagem continha algumas coisas felpudas, o que amorteceu minha queda.
O Viajante não demonstrava um único sinal de movimento, estava parado e encarando a gente sem nenhuma reação além de seu sorriso.
Puxei minha bolsa para frente e peguei minhas manoplas no puro desespero, uma vestindo em minha mão e a outra pairando sob o ar.
[Hefesto está alegre com seu uso!]
[Em uma sintonia de emoções, Hefesto deliberadamente transforma a sua manopla aérea.]
― Não começa..! ― Em um pequeno piscar de olhos, a criatura já tinha se movido para longe.
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