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    Andava pelas ruas da cidade, comendo um pequeno salgado que tinha comprado. 

    Mamãe e papai haviam saído para um treinamento na floresta, e eu estava um pouco triste sobre isso.

    Por que eles não me deixaram ir? Sou muito forte! Consigo me proteger… eu acho.

    Dei uma primeira mordida.

    — Hmmm… Bom! — disse. Presunto e queijo, tem alguma combinação melhor? Não tem!

    Aproveitei e sentei em um dos bancos que tinha nas calçadas. Aquela tarde estava calma, muito calma.

    Não sabia o que iria querer fazer agora, eu não tinha um objetivo após ter feito o maior deles: encontrar uma família.

    Comi mais um pedaço do salgado, e o queijo esticou-se o bastante para cair um pouco em minhas roupas.

    — Droga… Maldito seja esse vendedor que fez o salgado perfeito — resmunguei. Limpei minha boca.

    Que tédio.

    Queria ter ido com elas, caçar agora seria perfeito… Já faz alguns dias desde que eu entrei em uma floresta, então está tudo meio chato.

    E também faz alguns dias desde que me encontrei com aquela garota… Como será que ela está agora?

    Amassei a embalagem do salgado após finalizar ele, jogando a bolinha de papel em um lixo próximo.

    — Heh. — Tinha acertado em cheio a cesta. — Ainda não perdi o jeito.

    Apoiei minha cabeça no banco, olhando para o sol que repousava no meio do céu. Uma tarde monótona, sem nada para fazer.

    Imagina se eu…

    — Carina! É você?! — gritou alguém que estava distante. A voz chegou aos meus ouvidos através de ecos pela rua quase vazia.

    Ah!

    — Que? — Cocei meus olhos, tentando encontrar quem me chamava. 

    Tinha quase dormido naquele banco, porém esse evento me deixou mais acordada. 

    Olhei para todos os lados, e na minha direita uma figura baixa se aproximava. Balançava sua mão em minha direção, tentando chamar atenção. Naquele ponto, não pude identificar quem era a figura que chegava, mas tinha algumas possibilidades das quais acreditava.

    Era um assassino! Óbvio! Como eu não pensei nisso antes?

    Não baixei minha guarda diante disso, levantei-me de onde sentava e me posicionei para a batalha. Essa pessoa ia ver se tentasse me matar!

    Quando foi possível identificar a figura, pude ver que não era nenhuma das possibilidades que tinha imaginado.

    — Kaori? — Fiquei confusa, abaixando minhas mãos em vergonha; não esperava a sua presença naquele momento.

    Vestia sua armadura, dessa vez, esperava que ela não tivesse confundido os dias.

    — Carina! Eu te encontrei! — Ela estava correndo muito rápido em minha direção, tanto que quase passou reto por minha pessoa, mas, por sorte, derrapou e parou antes.

    — Ah… Oi.

    De alguma forma, meu coração havia esquentado apenas com seus simples atos. Não entendia o que estava acontecendo comigo, mas era um sentimento bom.

    Cumprimentei-a.

    — Eu não te encontrei desde aquele dia! O que aconteceu? — disse Kaori, sorrindo em minha direção.

    Meu peito ardeu mais uma vez.

    Por que? Por que? Eu não quero isso!

    Tremia, sem saber o que responder. 

    Quero dizer, eu sabia o que responder, mas as palavras não saíam de minha boca. De alguma forma, elas eram impedidas, deixando a situação ainda mais constrangedora.

    Senti meu corpo esquentar.

    — Você tá… vermelha. Tem certeza de que está bem? — disse Kaori, se aproximando cada vez mais. Eu não gostei de sua aproximação repentina. Nossos rostos estavam tão próximos… — Quer um biscoito? Dizem que melhora a saúde — falou, tirando um de seu bolso.

    Respirei fundo.

    Não foi o que eu pensei… que pena.

    Pena? Mas pena do que? Aaah! O que você tá pensando, Karina?

    — Obrigada… — Peguei o biscoito de sua mão, abrindo sua embalagem de papel. — Mas por que você tá aqui? Pelas suas roupas, deveria ser um horário de trabalho.

    — Eu estou trabalhando! Nesse momento, fui convocada para cuidar de algumas missões pela cidade. Foi só uma coincidência ter encontrado você por aqui.

    — Fico feliz que tenha se lembrado de mim.

    — Eu não esqueço tão facilmente assim não! É claro que eu ia me lembrar da pessoa que me deu um vestido caro daqueles — respondeu Kaori. — Brincadeiras à parte, agora eu preciso ir.  Tenho um gatinho preso numa árvore aqui próximo, precisando ser salvo.

    — Posso ir? — As palavras saíram como um vulto de minha boca. Foi uma frase que não pensei duas vezes antes de falar, mas me arrependi após ter falado.

    Kaori arregalou os olhos em um sinal de surpresa.

    — Você viria comigo? — Estava brilhando como nunca. — Você realmente viria comigo!?

    Evitei seu contato visual. Olhar mais para ela deixava meu coração estranho.

    — Vou…


    Era um centro médico, pelo menos, o símbolo estampado dava a entender isso. Grandes paredes e dois andares.

    Na porta, uma grande árvore se estendia, tendo um pequeno balanço apoiado em um de seus galhos. Uma pequena multidão se acumulava no pé da árvore.

    Kaori foi na frente, empurrando com cuidado cada pessoa ali perto com o objetivo de chegar no meio da confusão.

    — Carina! Venha cá! — gritou. Eu não entendo como essa garota não consegue perceber as coisas… 

    Todos olharam para mim, levando-me ao constrangimento extremo.

    Ter esse tanto de gente me olhando é muito ruim!

    Andei até ela, emburrada com sua ação. 

    Uma árvore antiga e gigante, com seus galhos passando o teto do centro médico. Procurei o gato de que falava, encontrando-o preso no galho mais alto que pude enxergar.

    — Por favor! Salve o Floquinhos! — disse o médico. Aparência bem cuidada e usava óculos. Ajeitou seu jaleco, implorando com as mãos logo após. — Eu não sei como ele subiu ali!

    Não o respondi, apenas olhei para Kaori.

    — Espera… Você vai subir lá? — perguntei, olhando para ela. Já estava com quase toda sua armadura retirada. 

    — Vou, né. Faz parte do meu trabalho.

    Estralou os dedos de sua mão, logo após, seu pescoço. Estava decidida mesmo, mas com esse corpo magricelo… Não acredito que vá conseguir fazer isso.

    — Kaori, deixa que eu vou — falei, impedindo ela com minha mão.

    Antes mesmo que respondesse, peguei impulso no chão, jogando-me no primeiro galho. Segurei nele, girando no ar para chegar até a superfície dele.

    Olhei para o chão, orgulhosa do que tinha feito.

    Kaori estava surpresa.

    Heh… Esse nem é o começo do show.

    Pulei da árvore, pegando impulso em seu tronco. O Floquinhos se mantinha parado, estático, lambendo sua pata em vitória.

    Pousei no segundo tronco, certificando-me de que ele era seguro logo após.

    — Venha cá, gatinho fofo… — murmurava.

    Coloquei minha mão no tronco da árvore, preparando-me para uma boa e velha escalada. Criei pequenas garras nas pontas de meu dedo, as quais auxiliariam minha subida.

    Minhas mãos já tinham força o suficiente para aguentar o peso de meu corpo, então foi fácil continuar subindo.

    Hehehe! Estou cada vez mais perto dele.

    Kaori já estava longe nesse ponto, apenas se parecendo um borrão aos meus olhos.

    Chegando ao galho onde o gato repousava, sentei-me ao seu lado, cansada.

    Não sabia como havia me cansado tão rápido, mas quem liga? 

    — Oi, Floquinhos — disse, olhando para o gato. — Você tá bem?

    Apenas recebi um miado em resposta.

    Ele olhava diretamente para uma fresta que tinha nas folhas da árvore. E, tentando ver o que tanto admirava, me virei para o mesmo lado.

    Ah… Eu entendi agora o motivo de você estar aqui em cima. 

    — É lindo mesmo, né?

    Naquela altura, era possível observar toda a cidade, acompanhada por um belo canto de pássaros. Queria eu poder ficar ali por muito tempo, afinal, deve ser muito bom dormir nesse local.

    O gato se aproximou, deitando em meu colo. Deu um miado manhoso, logo após, um bocejo.

    — Hehehe… está na hora de descer, gatinho.


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