Capítulo 26: Cair Na Real
Aquele metal se difundia em minha frente na forma líquida que estava pouco a pouco formando fios que se prendiam em partes aleatórias da torre. O Viajante ao perceber o terreno se modificar, rapidamente tentou impedir correndo em minha direção e dos irmãos.
― S-Seven, o que é isso? ― disse Cecilia, que não sabia de minha benção até agora.
― Não perca o foco! ― Me levantei nesse meio tempo, me colocando em guarda alta.
Por sua vez, o ser não conseguiu me alcançar, se prendendo em meio aos milhares de fios feitos a partir da manopla. Ele se debatia, mas não mostrava nenhum sinal de fraqueza ou dor.
Trisquei cuidadosamente em um dos fios perto de mim, e acabei confirmando uma de minhas teorias. Meu dedo se cortou rapidamente ao entrar em contato com os fios, o que significava que se o Viajante não demonstrava nenhuma ferida, então a sua pele era resistente.
Aquela coisa era inteligente, então porque se debatia como uma fera através do vidro? Seu comportamento é como se fosse um predador brincando com o seu almoço.
Ele riu, parando suas tentativas de atravessar o fio, quase sumindo entre as sombras dentro do monumento.
Olhei para Deric, e ele estava totalmente em choque, paralizado. Em suas mãos estava o corpo sem cabeça de seu irmão, ainda jorrando sangue.
O som do vento indicava algo vindo em nossa direção, mas foi tão rápido que nem ao menos consegui acompanhar.
― CUIDADO! ― gritou Cecilia.
[Uma benção está sendo usada em prol da defesa.]
Apareceu uma barreira em nossa volta, partindo do escudo dela. Mas não era o suficiente para impedir.
Os dois estavam em uma linha, dando a oportunidade perfeita para o Viajante conseguir o que queria. Uma grande pedra atirada rapidamente atravessou sem problemas meus fios metálicos, e sem ao menos perder sua força cinética, atravessou a barreira criada.
Eles morreram esmagados em minha frente, misturando todos os seus cadáveres por debaixo da pedra.
O sangue espirrou em mim, fazendo com que eu caísse ainda mais na real. Aquele trabalho custava vidas, e se eu fosse um pouco mais forte, talvez não tivesse custado a vida deles.
Terror, medo, temor, pânico e horror, todos são sinônimos, mas significavam o que sentia agora. Minhas roupas sujas de sangue, mas a que custo?
Precisava sobreviver. Não, eu vou sobreviver.
Ele apareceu novamente entre as sombras, apenas me olhando com um sorriso macabro.
Vários pensamentos de como derrotar essa criatura vieram à minha mente, mas apenas um tinha se sobressaído como o certo para aquela situação.
[Fantasia sente a presença do medo.]
[Ela se incomoda com esse sentimento.]
Transformei a manopla sobrante em líquido, rapidamente movendo para os meus pés. Apenas fazer isso foi o suficiente para mudar seu estado novamente e me impulsionar para cima do monstro.
Seus quatros metros de altura não eram o suficiente para me impedir de chegar em suas costas. Em meio ao ar, utilizei a Ferromancia para transformar de propulsores para a minha manopla novamente, rolando sobre as costas do monstro.
[Forja!]
Uma faca surgiu em minha mão, ajudando a me prender nas costas do monstro. Os fios metálicos foram se retraindo, circulando o Viajante.
[Fantasia está criando novas raízes!]
Ele caiu no chão, sem mover um dedo. Ele estava me subestimando, como se eu não demonstrasse nenhuma ameaça a ele.
― Hihihi! ― Riu o monstro.
Em um piscar de olhos, ele simplesmente havia sumido das amarras metálicas, se projetando a minha frente. Estava perdendo as esperanças a cada segundo que passava.
Seus braços longos vinham em minha direção, tentando me atacar pelas laterais. Mas, por via do destino, o metal dos fios logo se movimentaram como um escudo.
Devido a sua grande força, nem mesmo a Ferromancia pode suportar. Apenas com a palma de sua mão, fui jogada instantaneamente de um lado da sala para o outro.
Tentei amortecer minha queda com o metal sobrando mas ainda não era o suficiente para ter saído ilesa da situação.
Estava… morta? Ainda não. Meu corpo se mantinha consciente, mas a minha mente desejava descansar eternamente.
— Não, não agora. — Me levantei, com meu corpo totalmente dolorido, estava ferida, mas não sabia onde. Havia tanto sangue em minha roupa que não sabia discernir qual era o meu.
[Psyche está impressionada com o usuário.]
— Se está tão impressionada comigo, então me aju–
Vomitei sangue.
Nenhum desses Viajantes era para ser assim. Daiane me ensinou que eles eram fracos e iam ficando mais fortes a cada andar. Então o que aconteceu aqui?
Tudo estava indo ao contrário do que haviam me ensinado. Eu sabia que não deveria ter confiado neles, talvez isso só fosse uma tentativa de assassinato indireta.
— Desgraçado…! — Apontei para o monstro. — Pare de brincar comigo.
[As raízes de Fantasia permitem o usuário resistir ao medo.]
[Hefesto e Psyche entraram em acordo.]
[Coligação.]
Conseguia ver linhas surgindo ao redor de meu braço. Eu sentia elas, e estavam se espalhando por todo o meu corpo. Em uma situação como essa eu estaria com medo, mas não agora.
[O conhecimento dado é recebido com clareza pelo usuário.]
Ele correu desesperadamente até mim, um monstro bípede correndo como um quadrúpede. Algo em sua percepção havia mudado sobre a minha presença, e isso deveria ter o assustado.
Não sentia mais o frio do local.
Meus olhos enxergavam além do que antes viam.
Sentia a chama em meu coração.
Sentia o metal à minha volta.
— Queime-se.
Uma pequena brasa apareceu em seu ombro direito.
— HIIIC! — gritou o monstro.
Logo, aquela pequena chama se espalhava cada vez mais por seu corpo, o inundando de desespero. Agora, ele parecia mais uma presa do que realmente o caçador.
Seus gritos de dor se espalharam por todo o andar, ecoando o seu sofrimento. O som da chama cada vez mais abafava a sala, conforme se alastrava pelo corpo da criatura.
Eu tinha vencido.
…
Eu tinha vencido?
Ouvi novamente a sua risada, o que destruiu totalmente as minhas esperanças de sair viva.
Não havia nenhum ferimento no corpo daquele ser, a chama havia se apagado completamente do corpo daquele Viajante.
Desde o começo, eu nunca tive nenhuma chance de vencer? Estive na palma de sua mão o tempo inteiro.
[Ativar “O Exército de Um Só”?]
Ah, então é isso. Lembro-me de ver algo parecido…
— Se essa é a minha última chance, então por que não? Vamos, me diga o que você tem na manga.
Olhando para o monstro, tudo que pude ver foi uma nova descoberta para mim. Ele podia modificar seu corpo, e a sua modificação foi transformar o seu braço esquerdo em uma grande foice.
Era rápido.
Sua foice se movia juntamente com o vento, causando uma sensação de fluidez. Em minha direção, apenas via o brilho que refletia na lâmina, vindo em minha direção.
Estava me considerando uma pessoa morta, sem escapatória.
[Contratante recebido.]
O tempo parou no mesmo instante que recebi essa mensagem. A sua foice estava quase me atingindo, e o seu rosto não demonstrava um sentimento além de prazer.
De alguma forma misteriosa, acabei sendo projetada para fora como um espírito. Observando toda a situação como uma espectadora.
Meu corpo não havia caído no chão, do contrário, se mantinha de pé. Nesse estado, conseguia voar por todo o local, mas sem conseguir atravessar qualquer coisa.
— Então eu morri já? Pelo menos não doeu dessa vez.
Cutuquei meu corpo, como se ele fosse acordar.
— MAS QUE MERDA! — gritou. — Tudo que iria imaginar era ser pego pela porcaria de Psyche. Maldição, maldição.
Não era eu que estava falando isso, então quem era?
— Você fala muito alto — disse.
— Vai se ferrar, pirralha.
Essa situação não poderia piorar.
— Quem é você? — perguntei.
— DAMIEN, DAAAAMIEN! Não se esqueça nunca mais desse nome, Scarlett! — A situação havia piorado.
Meu corpo estava na mão desse psicopata então?
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