Subi o próximo andar, apenas para dar de cara com uma grande e vasta área nevada.

    Todo aquele local não era compatível com o resto da torre, tendo um sol logo acima de nós. Era como se tivesse teleportado para alguma outra dimensão assim que adentrei o andar.

    Levei na tranquilidade essa informação, a dor simplesmente me deixava longe do senso comum.

    Meus olhos se encheram de ódio. Por que justo agora onde minhas roupas feitas para o frio estão totalmente rasgadas?

    Estou esgotada. 

    Vasculhei o que era possível chamar de deserto gélido, sem nada, sem vegetação e sem sinais de vida animal.

    Dei sorte? Talvez.

    — O que está fazendo aqui? — Essa voz fez todo o meu corpo arrepiar.

    Virei para trás imediatamente, olhando quem eu não esperava ver.

    Segurando um guarda chuva em uma mão e na outra uma bengala, o senhor havia de estar com roupas diferentes dessa vez. Vestia um grande casaco felpudo e um chapéu de se invejar.

    — Uau, que inesperado — disse.

    — Eu digo o mesmo. E então, novidades? Já faz um tempo que nós vimos.

    — Ah, nenhuma. — Fiquei cabisbaixa.

    — É, jovens são assim mesmo. Tudo vai dar certo, aproveite e fique tranquila com esse assunto que atormenta seu coração, minha criança.

    — Sempre tive curiosidade, por que desse “minha criança”? 

    — Força do hábito — disse sem hesitar.

    Estranho… mas melhor não questionar mais que isso no momento.

    — O que é esse lugar? — perguntei, cobrindo meu rosto do sol.

    — Era só ir direto ao ponto então… não precisa fingir que veio aqui por mim. — Andou para frente lentamente, cadenciando seus passos a de sua bengala. — Venha, me siga.

    Passeamos por todo o local deserto, e não vou mentir não, foi chato demais. 

    — E então, o que acha? — perguntou, e mesmo que não desse para ver seus olhos, dava para sentir a sua pressão sob mim.

    — Ué? Nada? Está deserto.

    — Bom ponto. — Estalou seus dedos.

    À nossa frente, surgiu a mesma mesa de quando nós encontramos pela primeira vez. E em cima dela havia duas xícaras com bebidas quentes.

    Sentei a mesa.

    — Dessa vez eu falo, né?

    — Que piada. É óbvio que sim.

    Bebi o que havia na xícara, que se revelou ser café sem açúcar.

    — Eugh! — Expeli parte do café que tinha em minha boca. — Não dava para ter adocicado um pouquinho não?

    — Dava, mas aí perde a graça.

    Aconteceu alguma coisa com esse velho? Ele estava muito astuto com suas respostas.

    — E então, como foi se ver lutar? — disse, colocando alguns cubos de açúcar do depósito que apareceu em sua frente.

    — Ah, foi legal. A ideia é boa, mas a parte de colocar outra pessoa para batalhar por mim em meu corpo é assustador. — Coloquei os cubos de açúcar em meu café também.

    — É, eu sei. Agora com o surgimento de outros heróis você deve se preparar para o que vai vir.

    — Espera, espera, espera… O que você quer dizer com isso?

    Ele abriu um sorriso, que cobria de um lado do seu rosto até o outro. 

    — Acho que você não precisa saber mais do que isso.

    — Espera? O que? 

    — Vá, a sua amiga deve estar te esperando.

    Ele estalou seus dedos, me enviando de volta ao primeiro andar.

    Soube na hora a minha posição por conta do corpo do Viajante, que ainda estava alí.

    Estava exausta naquele momento, então tudo que eu fiz foi me jogar ao chão, apoiando minha cabeça nos restos que sobraram da minha bolsa.

    Muita coisa havia acontecido naquele instante, minha mente ainda estava processando tudo, principalmente a morte repentina das pessoas que estavam ao meu lado.

    Veio tão rápido e repentino. É tenebroso pensar que nós morremos tão facilmente, e tão… fragilmente. 

    Havia sido informada dos níveis que poderíamos enfrentar, e essa torre era para ser uma dos mais baixos níveis. Será que eu errei? Eu matei eles por um erro meu? Pensamentos como esse surgiam em minha mente.

    É, tudo isso acabou agora. Mas o sangue ainda não parava de escorrer, as tosses e a lesão inferida em mim continuavam exalando o líquido.

    Ainda é estranho todo esse tipo de coisa, lembro-me dele me chamar de irmã e de Scarlett. Não sei se posso acreditar nessas informações, mas a sua raiva por mim era verdadeira. 

    Heh, Scarlett… é realmente um bom nome, mas não me traz nenhuma lembrança de quem um dia já fui. Talvez se eu tivesse aceitado a proposta de Klaus teria descoberto esse nome? Quem sabe.

    Então é assim que tudo vai acabar?

    Ah…

    É claro que a porta ainda está fechada.

    Tsk, isso ainda não acabou. 

    Não tinha mais cabeça para lidar com isso,  e sinceramente nem o meu corpo iria aguentar lidar com quaisquer coisa que existisse no andar acima da área nevada, isso se existisse.

    Retirei a bolsa que estava sendo usada de apoio e logo a abri. E de dentro tirei algumas ataduras que trouxe comigo.

    — Se pelo menos… — Usei o metal sobrando para fazer a ideia do braço protético.

    Era difícil controlar, tendo em conta que minha mente estava fazendo esse trabalho. Um foco a mais a se fazer em uma luta se quisesse, poderia tirar totalmente minha concentração.

    Mas nessa situação a utilização dele era perfeita, da qual o usei para enrolar as bandagens por todos os meus ferimentos.

    Doía? É claro que sim. Perdia o controle por alguns segundos e simplesmente apertava mais do que o necessário, o que causava arrepios por todo o meu corpo.

    — Que droga! Agora vou ter que comprar novas roupas. 

    Em meio a uma pequena esperança, minha mente queria acreditar que poderia viver naquele instante. Pensar em comprar coisas novas trazia um sentimento, mesmo que fosse pequeno, de alguma hora sobreviver.

    — Gaia… onde você está agora? — murmurei.

    Peguei a pequena marionete que estava em meu bolso, da qual levava para todos os locais que ia. Naquele ponto havia virado um pequeno amuleto de sorte. 

    Meio infantil, não é? Mas era algo em que podia depositar o que estava sentindo.

    — Eu juro que não vou ficar brava com você. Só quero saber se você está bem…


    [Uma habilidade está sendo usada próxima à estrutura.]

    — Agora só porque estou quase partindo você decide fazer piadas? Ha, estou realmente alucinando.

    Estava perdendo a consciência, mas antes que isso pudesse acontecer a porta logo se destruiu por completa, deixando cada destroço cair no chão.

    Cômico, eu diria, aquilo manteve minha consciência de pé novamente.

    — Santa, Não faça isso. Ela ainda está em período de treinamento! 

    — Me largue! Eu pedi para ninguém me seguir. — Era Daiane, essa voz é irreconhecível. — Seus loucos, idiotas, babacas! Como vocês pensaram que daria tudo certo enviar ela para uma TORRE COMO ESSA? Existe um motivo bem óbvio para nunca termos botado o pé aqui desde cinco anos atrás!

    Ela parou de falar, mas estava brigando seriamente com o guarda ao seu lado. 

    — O que? Ela conseguiu? 


    [Os traços de Zeus foram deixados em seu corpo.]


    [Informações são incompatíveis com seu corpo.]


    [Tentando outros métodos…]

    Ouvia os seus passos desesperados de longe, e quando me avistou, a sua cadência aumentou ainda mais.

    — SEVEN! — gritou, enquanto se agachava ao meu lado. — Aqui, tome.

    Ela puxou uma pequena garrafa de seu manto, a colocando na minha boca. Por outro lado, rejeitei imediatamente o líquido estranho.

    — Vai logo! Isso vai melhorar suas feridas. 

    Tinha um gosto doce, parecia ser morango.

    — Você… por que? — Tentei empurrá-la de cima de mim, mas não tinha força o suficiente para fazer tal ato.

    Perdi a consciência por alguns segundos, mas tempo o suficiente para não estar mais no chão.

    — Quem é você? — perguntou Daiane. — Não, isso não importa. Solte ela agora! 

    — Eu não vou soltar. — Meu rosto encheu-se de lágrimas rapidamente.

    Era a voz que vinha sempre procurando, e esperando todo esse tempo. E finalmente estava aqui, na minha frente e de volta para mim.

    Ela havia me colocado no seu colo apenas em instantes, e se pudesse ficaria daquela forma para sempre. A abracei, tremendo todo o meu corpo, seja por feridas ou seja por estar emocionalmente abalada naquele instante.

    — Gaia…! — Não contive o meu choro em sua blusa.


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