Capítulo 29: Conferência (3)
— Então, a matriarca que vai comandar dessa vez? — perguntou Two, arrumando sua máscara da tragédia. — É sempre o Nine… Cadê ele mesmo? Talvez ele tenha desistido de sua vida?
— Zachery está cuidando de assuntos mais importantes no momento — respondeu a aventureira.
Naquele momento, todos os heróis que se encontravam naquela sala estavam diante de uma situação um tanto quanto curiosa. Ten, o velhote, pegou um dispositivo estranho e o colocou na mesa.
Esse cientista maluco já criou outra coisa?
Havia pouca luminosidade na sala, deixando o local com uma aura ainda mais macabra. Não adiantava ter essa bola de energia e um cara que se esconde nas sombras, era necessário que a sala fosse escura.
Que droga, isso dá medo.
Estava sentado ao lado de Eight, da qual não largava meu braço. Havia puxado nossas cadeiras para perto uma da outra, o que, sinceramente, nem me importei. Tinha assuntos melhores para serem resolvidos.
Eight entrelaçou nossos dedos.
Seu ato repentino me fez sentir um arrepio em meu corpo. Talvez de vergonha, talvez de medo pelo que ela aprontava. Meu coração batia rápido.
— O que você tá fazendo? — murmurei, ajeitando minha máscara.
— Os livros dizem que isso é flertar.
Antes que Eight continuasse com suas loucuras, Ten tossiu.
— Vocês devem conhecer o Projeto Calamidade — disse o velho, ajeitando seus óculos circulares. Bem… olhando para seu corpo, gostaria de perguntar como ele estava vivo até aquele presente momento.
— É aquele que cê tentou juntar duas bençãos em uma pessoa? Você foi louco demais, velhote! — disse Three, brincando. Suas pequenas gargalhadas incomodavam toda a sala, mas ninguém reclamava, até porque era isso que ele queria.
O cientista apenas acenou com a cabeça.
— Nossos corpos aguentam duas bençãos… mas por que os residentes não? — Ten fez uma pergunta a si mesmo. — A resposta é simples… Eles aguentam! O projeto mostrou isso.
— Vá direto ao assunto, não aguento toda essa baboseira. Sou uma mulher muito ocupada — disse Eleven, passando mais maquiagem em seu rosto. — Tirei um tempo da minha agenda só pra vir aqui, sabiam? Sintam-se honrados.
Orgulhosa… como sempre.
— Já que estão tão apressadinhos… Ela fugiu — falou Ten, concluindo seu raciocínio. — A única cobaia que aguentou duas bençãos fugiu.
— Que triste… isso é uma verdadeira tragédia. Chorarei por você hoje, velhote — respondeu Two, colocando sua máscara ao lado de sua cara. — Muito lindo ver que tudo está dando errado… provavelmente, chorarei mais.
— Chora não, irmão! Esse velho aí merece tudo isso! É muito engraçado ver tudo dando errado — Three começou a gargalhar.
As máscaras gêmeas se abraçaram, enquanto um ria, o outro chorava diante da situação. Era um show de horrores mesmo.
— Calem a boca, suas crianças encapetadas! — gritou Four. É… nem ele aguentou, o que me surpreendeu bastante.
Era uma sala caótica, todos tinham objetivos diferentes e pensamentos tão diferentes quanto. Mas… uma coisa movia esse grupo: acabar com as torres.
Era apenas isso. Queríamos que o mundo voltasse ao seu auge, sem que milhares fossem mortos pelos Viajantes.
— Disso todo mundo já sabia! Dá pra dizer algo que realmente importa? — Eleven se enfurecia. Talvez um ensaio de fotos estivesse marcado para aquele dia e ela não quisesse se atrasar… Bem, é sempre essa desculpa. — Tenho um encontro com um cara gato daqui a duas horas!
Ela calou minha boca logo após.
Uma desculpa diferente? Essa é nova!
— Vai matar ele também? — perguntou Two, limpando suas lágrimas. — Vão fazer igual a Romeu e Julieta? Isso seria trágico…
— Seria engraçado! — respondeu a comédia.
— Será que dá pra calarem a boca?! — gritou a matriarca, calando toda a sala.
Eight apenas deu risadas baixas ao meu lado. Seus olhos estavam quase se fechando, mas, mesmo assim, não largava meu braço.
— Tá com sono? — murmurei.
— Não… — disse, bocejando. — Talvez só um pouco…
Ten clicou no botão central de sua engenhoca e logo um holograma apareceu. Uma tela, parecida com o Complexo.
— Ela foi feita a partir de Scarlett.
Uma foto apareceu no telão.
Cabelos vermelhos, mechas brancas, pele cheia de cicatrizes.
Sim… essa era a pessoa que eu lembrava.
Era ela mesmo.
— A anomalia? Por que mencionar ela aqui? — perguntou Eleven, ajeitada no sofá.
— Fugiu. Ela fugiu da Fortaleza.
Assim que Ten disse isso, a comédia caiu em gargalhadas.
— Você deixou ela fugir? Que burro! Burro, burro, burro! — Puxava a camisa do irmão, não parando com suas gargalhadas. — Vamos! Diga algo pro burro ali, Two!
A tragédia apenas começou a chorar.
— Que pena… Ela fugiu, isso é triste… Mais um motivo para chorar hoje — falou Two, limpando suas lágrimas.
— Seu bebê chorão! Pode rir dele também!
Levantei a mão, interrompendo a interação dos gêmeos.
— Como ela fugiu? — perguntei, tentando fazer com que a conferência progredisse.
— Excelente pergunta, Five! — respondeu Six, apontando pra mim. — Cansou de ficar flertando e finalmente decidiu interagir, é?
— Eight tá aprendendo certinho comigo. Agora ela sabe fisgar o coração masculino com muita precisão… — disse Eleven, passando batom… de novo?
— F-fisgar? Como assim!? — respondi, envergonhado.
Olhei para o lado, pensando em qual seria a resposta de Eight a isso.
Mas… ela tava dormindo.
Pegou no sono, dormindo em meu ombro.
— Scarlett fugiu após ter matado todos os guardas da prisão. A Companhia enviou equipes até lá e tudo que encontramos foram corpos mortos, dilacerados. Guardas e prisioneiros… — disse o velho. — Ela é uma ameaça muito maior do que pensávamos.
A sala ficou em silêncio.
Ela já está nesse nível? Que surpresa! Significa que logo, logo…
— A gente tá pagando pelos pecados… Prender pessoas é triste — disse Two, chorando. — Por que não poderíamos ter trazido ela para nosso grupo? Ela não havia dito que seu nome era Seven?
— Por que ela é uma anomalia! Ela invadiu esse mundo sem consentimento, merece ser morta mesmo — respondeu Four, com um jeito amargurado.
— É verdade que nunca achamos o sétimo… Então, Nine vai só ocupar esse cargo. Seu mundo dos sonhos é o suficiente para que todos acreditem nisso.
Ainda tem essa tradição de bosta. Um quinteto, é sempre um quinteto.
Cinco são mostrados ao público, apenas falando seus números quando quiserem. E Zachery, disse que é o sétimo.
Bem, se ele morrer, outro entra no lugar dele.
“Vão enviar pessoas para lidar com ela?”
Uma frase apareceu em minha mente. Todos se surpreenderam naquele instante.
— Twelve? — perguntou Four. — Pensava que nunca mais iria interagir com a gente.
Era uma conexão mental feita pelo apocalipse. Twelve, a bola de energia, finalmente havia falado.
“Estava cuidando de uns circuitos internos. Se eu tentasse manter a telepatia, provavelmente explodiria todos aqui.”
— Agora tá de boa, né? — disse Three.
“Sim. Claro, Three.”
Enfurnado em uma cápsula feita pelo cientista, Twelve se protegia e nos protegia.
— Respondendo à sua pergunta: sim, mandaremos pessoas para lidar com ela — disse Ten. — A Companhia já está lidando com esses assuntos, mas… não achamos que isso vá ser o suficiente. Precisamos enviar um herói para lidar com isso, então, necessitamos de uma cooperação.
— Na lata, assim? — disse Three. — Meu irmãozinho já falou com ela uma vez!
— Eu… apenas coletei informações. Não foi nada demais ter usado a Tragédia nela — respondeu, choramingando.
Encontrar essa tal de Scarlett…
Bem, eu tenho um objetivo muito maior do que todos aqui. Eu quero voltar pra casa, e se ela, uma invasora desse mundo, puder me ajudar?
É uma pequena corda de esperança, na qual quero me agarrar.
Levantei a mão.
— Eu posso ir.
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