Capítulo 3: As Dores Acabaram
Cinco anos? Não era possível.
Já imaginava essa faixa de tempo, era óbvio. Mas, de alguma forma, ter essa informação jogada na minha cara sem preparação era tão…
Comecei a chorar.
Estava sem ninguém agora… apenas uma alma só. Será que, após cinco anos, Ester me perdoaria?
Não…
Aquele olhar matador acabou com tudo aqui dentro. Cinco longos anos.
A ficha ainda não tinha caído direito, estava tão aterrorizada e confusa. Meus valores se entrelaçavam cada vez mais. Talvez, alguma hora, eles iriam ficar tão emaranhados que eu nunca iria conseguir desfazer o nó feito.
“Novo herói […]”
De alguma forma, essa informação não me surpreende.
Colocar tudo aquilo em jogo era insuportável.
— Você. Esse jornal é de hoje? — perguntei, não querendo aceitar a realidade que estava na frente dos meus olhos.
— S-sim, senhora… — respondeu, gaguejando.
Cortei o jornal em picadinhos com um pouco do metal, caindo apenas os pedaços no chão.
Aguenta, Seven…
Segurei as lágrimas, impedindo que fosse só mais uma bebê chorona.
Eu tenho que ser forte por ela. Vou ser forte por ela. Honrarei tudo que me mostrou.
— Irá me ajudar a sair daqui — disse.
— Que!? N–
— Eu disse que você vai me ajudar a sair desse lugar. — Aproximei mais os espinhos. — Entendeu?
Ela engoliu em seco.
— M-mas…
— Mas? Não é uma sugestão. Eu vou sair daqui, e você vai me ajudar.
Ela se encolheu ainda mais.
— T-tudo b-bem… só não me mate — respondeu.
Andei mais um pouco na sala, revistando as gavetas da mesa. Nelas, encontrei coisas normais de escritório, como uma pena e tinta, papéis e mais documentos estranhos. Ainda teve uma bela participação de um retrato diferente do que vi anteriormente.
Mexi nas fechaduras, todas feitas do mesmo material. Não era ferro, pelo contrário, era algo que parecia muito menos resistente que ferro.
Pelo menos, meus instintos diziam isso.
— O que tem nessas caixas metálicas? — perguntei, apontando para os cadeados que as trancavam.
— Aí… não tem nada, senhora.
— Não me chame de senhora, e isso não é uma resposta para minha pergunta. Por que não leva a sério isso tudo? É melhor que faça isso o quanto antes. — Aproximei ainda mais os espinhos.
— T-tudo bem. São todas as documentações que temos de pessoas que já pisaram e que irão pisar aqui! — gritou e, logo depois, começou a respirar forte devido à falta de pausas.
Ela parecia ter chegado ao seu limite devido a toda pressão colocada em suas costas. Mas ela ainda é uma soldada deles.
Eles que…
Arrepios correram em minha espinha apenas de pensar um pouco sobre os acontecimentos que me assombraram.
Toda essa dor não vai ser resolvida assim facilmente.
— E onde a gente está!? — Tossí um pouco. — Hein!?
— Uma prisão s-sem nome! Eles nunca t-tiveram que colocar nome nela por ser tão secreta!
— Bom saber…
Vasculhei ainda mais cada gaveta.
— Tem algo pra comer aqui? — perguntei.
Ela apontou para a prateleira que estava ao meu lado. Me senti humilhada por não ter percebido ela antes. Naquela prateleira, continha algumas rosquinhas frias.
Coloquei uma na boca sem hesitar. E se tivesse veneno? Que se dane! Eu estou com fome.
Mesmo que fria, cada mordida era um pedaço de meu corpo se reconstruindo. O gosto não era dos melhores também, mas o suficiente para me saciar em meio a todas aquelas comidas podres.
— Vamos, está na hora — disse com firmeza.
Seus olhos arregalaram assim que eu disse isso. Talvez não estivesse acreditando muito bem nessa situação em que estava.
— O que você vai fazer comigo…?
— De novo com essas perguntas? Apenas siga o que eu digo — disse.
Ela foi até a porta, abrindo-a como havia mandado. Foi na frente e, tendo em vista o grande espinho a ameaçando, não fez nenhum movimento brusco.
Cada passo seu era cheio de temor pelo futuro e… mesmo que inconscientemente, conseguia me ver nela.
Andei logo atrás, indicando que mostrasse o caminho até a saída da prisão. Ela acenou em resposta, mostrando uma trajetória totalmente diferente da que imaginei.
Andamos por muito, mas muito tempo. Corredores infinitos, ou quase isso. Mas, mesmo que tivesse todo esse labirinto, não impedia que eu sentisse tudo que chegava perto.
Antes que entrasse em um cômodo que havia indicado, a mandei parar. Seu corpo, que estava tranquilo em todo o caminho, voltou a tremer.
Era como se ela soubesse que eu iria fazer algo naquele momento. Mas… eu não ia fazer?
— Você acha que eu não sei?
— O-o que?
— Essa sala está cheia de soldados bem armados. Se acha esperta o suficiente para me levar até uma armadilha?
Não eram apenas soldados que sentia, celas estavam incluídas nessa reunião. Odiava esse poder de sentir todos os metais e blá blá blá.
Ele estava sendo útil, pelo menos.
Facas, espadas, armaduras e barras. Como não se assustar com todo esse armamento? O pior era que quase todos não partiam do ferro.
Uma enrascada perfeita para uma Ferromante.
A joguei contra a parede, forçando-a para que respondesse.
— A s-saída é após esse cômodo! Não t-tem como não passar desse s-salão de c-celas — respondeu-me.
— Então vá.
— O que?
— Vá.
Seguindo o que disse, a moça foi na frente, dando de cara com todos os guardas que repousavam ali.
Começou a conversar com eles de forma desesperada, algo muito bruto para alguém que sentia estar a salvo.
O espinho perto de suas costas não foi o suficiente para segurar as pontas soltas. Então, mesmo de longe, controlei todo aquele pouco metal que tinha no grande salão.
Tudo que era ferro estava indo para os céus, formando uma bola metálica. Desarmando um por um, ou pelo menos os que tinham ferro na sua estrutura.
As armaduras não escapavam de minha caçada, então, em poucos segundos, a maioria da sala estava desarmada.
Eram quantos…? Cinco?
Mas não importava.
Tinha munição para essa batalha.
Apareci na frente deles, dando de cara com todos os guardas desesperados ao ver a situação. Provavelmente estavam com medo do que eu podia fazer; mesmo que meu corpo não correspondesse às suas expectativas.
Mas não podia mostrar isso.
Os prisioneiros logo começaram a gritar em euforia, como se algo interessante estivesse finalmente acontecendo em suas vidas chatas e monótonas.
De todas as opções que apareciam na minha cabeça, como: matar todos eles, libertar os prisioneiros ou só impedir seus golpes, uma se sobressaiu em minha mente.
— Venha para cá. — Puxei a mesma mulher para perto, colocando uma faca feita naquele momento em sua garganta.
Alguns soldados com armas tentaram interferir, mas um os impediu. Ele tinha uma máscara diferente, como se fosse o comandante de algo.
— Não! Não faça nada. Temos que prezar os nossos companheiros. Nenhuma vida irá morrer aqui. — Continuou por mais alguns segundos.
Seu discurso heróico me deu tédio.
— Me deixem sair — gritei. — Ou eu vou…
A moça começou a chorar, deixando a situação muito mais desesperadora para o lado deles. Mas, de alguma forma, sua próxima reação foi deveras esperada de minha parte.
Eles correram em minha direção com um aceno de seu comandante. Todo aquele discurso não serviu de porcaria nenhuma se no final ele apenas queria me distrair.
Em um pensamento rápido, recorri à ideia de criar fios metálicos para que sua passagem fosse impedida, e funcionou.
Tive a certeza de fazer eles serem tão cortantes que não poderiam dar um único passo sem ter um membro cortado; isso se um tentasse a sorte, é claro.
O brilho que refletia, mesmo naquela sala apenas iluminada por tochas, os fez perceber que havia algo de errado com todos aqueles fios.
Podia ver a porta da qual tanto imaginei minha saída. Já me sentia liberta, só faltava dar alguns passos até essa tão esperada liberdade.
Apontei para ela, certificando-me de que a faca ainda ficava em seu pescoço.
— É ali? — perguntei.
Ela acenou com a cabeça, confirmando minha teoria. Comecei lentamente a dar passos até a porta.
E, a cada passo meu, eles me seguiam com os olhos. Mesmo mascarados, ainda dava muito medo.
Cabelos presos e olhos escondidos, eram como se quisessem sair dessa identidade de humanos, ou pelo menos se afastar ao máximo de quem um dia já foram.
Ao chegar à porta, a abri.
Incrivelmente… estava destrancada? Tudo parecia perfeito demais.
Os prisioneiros vaiaram os guardas incessantemente. Toda aquela humilhação de não poderem fazer nada diante de um sequestro foi… muito.
Olhei para o conteúdo da porta, dando de cara com uma escadaria. Algo diferente do que pensei. Não era uma saída?
As escadas iam para cima, indicando que estava em um subsolo ou andar inferior.
Indiquei para a moça ir na frente, enquanto eu fechava a porta.
Aquela sensação de tudo estar dando certo continuava me incomodando, mas por quê? Tinha que ficar feliz, afinal, estaria finalmente livre.
Fugitiva, mas livre.
Fechei a porta, retirando todo o metal que estava transformado em fios naquela sala. E, ao andar mais para cima nas escadas, os transformei em objetos de impacto.
Fui quebrando cada lugar que passava, no intuito de impedir uma perseguição indesejada. Até que finalmente pude enxergar uma luz no final de tudo.
Luz essa que era ofuscada pela guarda que estava mantendo de refém, mas, ainda assim, era algo.
Eram poucos passos até a saída.
Assim que dei o último, pude enxergar algo que trouxe um grande alívio para minha alma. A luz do sol ofuscou meus olhos, mas após alguns segundos atordoada, pude enxergar realmente.
Era uma floresta.
Estava finalmente do lado de fora, depois de todo esse sofrimento que passei. Eu estava… livre.
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