Índice de Capítulo


    E lá estávamos, andando sobre as ruas daquela cidade, para chegar até a Igreja, onde seria o nosso primeiro objetivo.

    ― E então, Gaia, né?

    ― Correto.

    ― Nada a dizer? Sabe, desse mundo, nada a me explicar mesmo? ― dizia, enquanto colocava o capuz de meu moletom.

    ― Ah sim, Seven, muito bem lembrado, devo falar antes cedo do que tarde. ― Gaia estava arrumando seus óculos novamente, parecia que vinha muito falatório pela frente.

    ― Irei falar em uma linguagem mais simplificada para você, Seven, devido à sua condição. Nesse mundo, existe o que chamamos de dádivas e bênçãos, e isso lhe garante a nobreza ou a pobreza, dependendo do que vier para você em seu nascimento. Segundo as pesquisas, a pessoa só nasce com uma, sendo uma benção ou uma dádiva. ― Parecia estar empolgada demais em falar isso, estava meio bizarro.

    ― Mas qual a diferença? ― perguntei, com medo de receber uma longa resposta.

    ― A diferença é simples, dádivas são passivas, que estão sempre ativas e bênçãos são ativáveis, que você pode escolher usar ou não. ― Essa coelha dizia aquilo com muito orgulho e com um tom de superioridade enquanto estufava o peito.

    ― Ah, eu entendi… ― Não entendi nenhuma daquelas palavras que ela tinha dito.

    Continuamos a andar até chegarmos na rua da Igreja, até que eu me fiz um pequeno questionamento.

    ― Por que esses poderes existem mesmo? ― disse baixo enquanto colocava a mão no queixo.

    ― Às vezes para ajudar no dia a dia ou em certas profissões. Mas também é bastante útil enfrentando monstros em Torres como um Caçador! ― Eu já falei que Gaia parecia estranha respondendo às perguntas de forma alegre? Essa coelha parecia estar bastante obcecada em como esse sistema funciona.

    ― Monstros? ― perguntei confusa.

    ― Sim, mas isso é melhor ver mais para frente, você definitivamente não vai querer lutar contra eles. ― Fiquei mais tranquila com essa resposta.

    ― E aqui, chegamos, este é o local onde vamos começar a nossa jornada. ― Ela admirava o local.

    Olhei para frente, e parecia muito maior do que eu imaginava. Toda aquela arquitetura gigantesca contribuía para a localidade em que se encontrava, pude observar grandes vitrais e o que seriam cinco seres desenhados neles, além de não deixar de reparar na coloração branca que aquele local tinha, destacando-se de tudo a sua volta.

    A porta à minha frente era imensa, tinha mais ou menos uns três metros, algo que, em minha percepção era exagerado e que combinava com o ar de imponência. Empurrei a porta, em primeiras impressões da qual eu vi quando entrei, foi as grandes estátuas que estavam localizadas no meio. E atrás de cada uma delas, alinhados, tinham vitrais, com uma representação de cada um ali esculpido na pedras. Estava pisando em um tapete vermelho, que percorria até aquelas estátuas e um altar mais no centro ainda.

    ― Está tão vazio. ― Algo que me incomodava um pouco, mas só me toquei agora. Durante todo esse caminho, em um certo ponto, pararam de aparecer tantas pessoas quanto o outro lado daquela cidade.

    ― O Norte é assim mesmo Seven, não se preocupe, mas o maior motivo mesmo deve ser que nessa época esse lado da cidade é constantemente atacado por hordas e hordas de monstros. ― Ela parecia familiarizada com esse local, mas quis evitar esse assunto por enquanto. ― Pode seguir, vá naquele altar, é lá que veremos o que viemos procurar.

    Fui andando até lá, o altar parecia ser feito de algum metal, e em sua parte superior era possível ver uma silhueta de mão. Entendi imediatamente o que era para fazer, e assim fiz. Logo em minha frente, pude ver o que seria uma…

    ― Janela de status ― disse Gaia.

    Aquelas palavras pareciam completar o que ia falar perfeitamente, mesmo que eu não as entendesse.

    ― E o que seria isso?

    ― São suas estatísticas, relaxe, e as observe com cautela.

    Antes que eu pudesse virar para a tela que estava sendo projetada do altar, eu já não estava mais naquele local. Estava em uma floresta, que agora, não era mais aquela floresta congelada em que eu estava quando acordei. Podia observar que havia claramente uma trilha ali, que se estendia para dentro da flora.

    Tentei gritar e pedir por ajuda, mas minha voz não saía. Uma situação desesperadora surgiu na minha frente, e eu não podia fazer nada. Então minha única opção era seguir aquela trilha, algo que me dava calafrios.

    Podia ver inúmeras árvores, mas havia algo estranho com elas. Eram estranhamente iguais. Aquela trilha parecia infinita, mas em algum momento andando sobre aquele lugar, havia chegado em algo. Em minha frente havia uma mesa de madeira e uma cadeira, e nela havia uma pessoa sentada nela tomando alguma bebida quente.

    Sua aparência não era memorável, suas características se resumiam a um monóculo e seu terno. Seu rosto não era visível, algo incomum para aquele local pois o sol batia em cada canto. Ele parecia estar tranquilo, tomando sua bebida, até perceber a minha presença, da qual olhou para mim.

    ― Não se assuste, criança, você está segura ― Ele disse calmamente, de forma acolhedora.

    ― Venha, sente-se, existem assuntos pendentes a sua pessoa. ― Parecia uma pessoa nobre, falando assim.

    Ele estalou seus dedos e logo a sua frente, uma névoa surgiu em um formato de cadeira se dissipando e realmente se transformando no objeto, algo impressionante.

    ― Talvez essa cadeira não seja de seu agrado? ― Ele disse, e parecia estar prestes a estalar seus dedos. Então me sentei rapidamente, pois não sabia o que ele poderia fazer.

    ― Posso perceber sua falta de fala, mas não há o que se preocupar, pois é normal isso acontecer nesse local. ― De repente, houve uma grande pausa antes de ele falar de novo, eu podia sentir que ele estava olhando para mim, mas não de um jeito ruim. ― Minha criança, você cresceu tanto…

    ― Você não precisa saber quem eu sou, mas desde sempre eu venho lhe protegendo. E o que pude observar, você definitivamente está melhor agora. Quem dera eu pudesse deixar as coisas assim… Mas, tudo tem o seu propósito, e por isso eu peço perdão desde já pelo o que vai acontecer. ― Ele parecia pegar algo embaixo da mesa, e logo colocou tal coisa sobre a mesa, era um colar.

    ― Por favor, lembre-se.

    Eu peguei aquele colar, à primeira vista ele era feito de metal. A corrente era algo bem detalhado, tendo vários símbolos desenhados em cada canto daquela corrente. E como pingente daquele acessório eu podia ver uma moeda, feita do mesmo material da corrente, em um dos lados havia um rosto feminino lateralmente, e do outro havia um templo. Aquilo era estranhamente familiar.

    Estava olhando para baixo para observar o colar, e quando eu olhei para frente eu não estava mais lá. De volta no templo, minha mão estava agora no altar, como antes. Ao meu lado estava Gaia, que parecia perplexa olhando para a minha tela de estatísticas.


    『 Seven Fortune
         19 Anos.        |        Lvl. 1

         Estatísticas:
            █████████████████████████
         ██████████████████████████

         Dádivas:
              ▷ Fantasia
            ██████████████████████████
         ███████████████████████████

          ▷ Hefesto – A primeira chama da criação.
            █████████████████████████
         ██████████████████████████

         Bênçãos:
          ▷ ████████████████████
            █████████████████████████
         ██████████████████████████
         ██████████████████████████ 』

    ― Merda, merda, merda, você tinha dito no seu cadastro que você nunca havia estado nesse mundo. Mas agora o que é isso? Por que você já está cadastrada? E também como diabos você tem duas dádivas e uma benção? ― Ela parecia visualmente alterada.

    ― Isso é ruim?

    ― Não sei, ninguém sabe. Pelos registros que eu tenho essa é a primeira vez que isso acontece. Mas não fuja do assunto, por que você mentiu quando enviou a solicitação de guia para a companhia? ― Sua impaciência era visível, parecia que estava prestes a me esgoelar com aquelas mãos felpudas.

    ― É que… Talvez, só talvez mesmo, eu não me lembre de nada… ― Eu disse com a voz tremendo.

    Gaia parecia surpresa com essa informação, mas ao invés de descontar isso em mim, acabou apenas em um ciclo de sussurros, roendo sua unha, e andando em círculos no ar.

    Eu tirei minha mão do altar e a coloquei no bolso, pude apenas sentir algo ali. E quando eu puxei, lá estava aquele colar que havia visto na floresta, sem nenhuma diferença.

    ― Por que você tem isso? ― Pude ouvir Gaia dizendo ao fundo.


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