Capítulo 30: Estou Bem, E Você?
Malditos…
Como assim vocês não tem nenhuma informação? Quem diabos fez o cadastro? A merda de um fantasma? Que droga.
Deveria ter saído desse emprego quando tive chance, isso é uma perda de tempo.
“Eu me demito.”
Falar isso para os meus superiores foi aliviador. Não era o meu objetivo me demitir antes do tempo previsto, eu queria me aposentar, mas chegou em um ponto que os nossos valores andaram em direções opostas.
Mas… mesmo presa em um lugar desconhecido, não consegui parar de pensar no seu sorriso.
“Você está bem?”
A minha mente me condena, e você… deve estar fazendo o mesmo.
Eu não posso me perdoar, e nem em meus mais profundos sonhos você me perdoa. Por que? Por que meus sentimentos, das quais tinha certeza que havia reprimido por completo, haviam vindo à tona? E principalmente dessa forma macabra.
Não gosto de ver pessoas se machucando, não desde aquele incidente.
Então por isso, eu procuro aquilo que não pode ser achado: A misteriosa cidade que se esconde através do espaço.
Seu quarto era pequeno, muito pequeno. Podia ver livros acumulados no canto, um pequeno guarda roupa, a sua cama e…
— Você vem aprendendo a escrita daqui? — Apontei para a mesa, que estava cheia de exercícios de caligrafia.
— É, Daiane sempre me ensina quando tem tempo, acho que isso começou desde… — Seven não terminou sua frase, apenas mostrou o seu rosto, angustiado.
Mas, mesmo não tendo o direito total de me sentir incomodada, aquele nome saía de sua boca, não gostava disso.
Sentei em sua pequena cama de solteiro, olhando para todo o seu quarto.
— Tenho algo para lhe mostrar! — Prestei atenção nela. — Aqui, aprendi a fazer isso.
Com alguns restos metálicos que havia trago para o quarto, fez de seu novo braço esquerdo. Uma substituição, e posso dizer, seus olhos brilhavam com essa criação.
Como posso dizer? Acabou que fiquei um pouco orgulhosa dela, que em pouco tempo soube dominar o suficiente de sua benção.
Sorri para ela, em aprovação.
E em resposta, de repente me abraçou. Um movimento inexplicável para ela, que no momento apenas recebia eles.
Seus braços tremiam, até mesmo o metálico, com essa ação dela. Talvez não esteja acostumada com essas demonstrações de carinho ainda.
Antes que pudesse falar qualquer coisa, tentar me explicar, ela só me abraçou mais forte. Era como se sentisse que eu não estava bem, mesmo sem ter falado nada ainda.
— Você mudou seu cabelo, agora não está mais raspado, só está grande e fofinho. Por que?
— Ehe, apenas mudei um pouco meu estilo, estava sentindo-me muito ultrapassada.
Era melhor assim, para você não saber os perrengues que passei. Tudo isso tentando te alcançar, onde quer que esteja, e finalmente eu consegui.
— Seu cheiro está diferente — disse Seven.
Acabei me afastando imediatamente.
Meu rosto se cobriu de vermelhidão. Ninguém nunca tinha dito isso para mim, nem mesmo ter me cheirado em um momento tão inoportuno. Que vergonha!
Me encolhi para o canto da cama, inundada com o constrangimento passado. Mas Seven, me olhava como se tivesse feito algo de errado.
Esse não era o efeito que queria causar, e para tentar criar algum assunto novo, me joguei para a primeira coisa que chamou a minha atenção no pequeno quarto.
Acabei vendo um pequeno dispositivo dentro do armário aberto, que imediatamente reconheci.
— Isso é… um protótipo do leste para captura de um pequeno intervalo de tempo, prendendo o mesmo em um pedaço de papel?
— Que? — respondeu Seven, confusa.
— Quero dizer, uma câmera!
— Ah, você quer dizer isso. — Foi em direção ao dispositivo. — Daiane me deu isso de presente faz uma semana, após eu ter demonstrado um pequeno truque para ela.
Novamente esse nome.
Ao lado do aparelho, ela pegou o que tanto denominavam de “fotos”. Trazendo uma pequena pilha delas.
— Aqui, olha!
A primeira foto era ela tomando um sorvete. Estava sorrindo, mas não do mesmo jeito que a vi.
— Acho que isso foi há umas 3 semanas atrás, quando Kaleb me levou para tomar um sorvete. Foi quando eu finalmente pude movimentar uma grande quantidade de metal.
— Kaleb? — perguntei.
— Um pugilista daqui, ele me ensinou alguns movimentos e a como defender eles. Considero ele realmente um amigo meu.
Outro nome para eu pesquisar sobre, parece que cada vez mais a lista aumenta.
— Você parece ter tido momentos felizes aqui.
— Ah, não… não é bem assim.
Ela ficou cabisbaixa novamente, e eu, com medo disso, tentei puxar outro assunto à tona.
— E essa outra foto aqui? — Puxei da pilha de papeis.
— Essa foi quando Henry veio me visitar aqui! Ele trouxe o seu filho e acabei sendo a babá dele por um longo dia.
Ela ria das situações como se fosse a primeira vez que as via. Seu sorriso me dava uma repentina satisfação em meu peito.
E pelas próximas horas, Seven continuou a falar comigo sobre suas pequenas aventuras nessa cidade. A cada foto passada, o meu coração apertava, mas o jeito com que você falava sobre, acendia uma pequena chama em meu coração.
Você estava feliz, mesmo que não concordasse com essa afirmação. E apenas isso, era o suficiente.
— Me perdoe. Voltei apenas para ver a sua saúde, agora sei que está feliz, não tenho motivos para continuar aqui.
Apenas disse, sem imaginar as consequências.
Levantei-me, preparando para sair do local.
— Não! Por favor, espere! — Seven agarrou em minha blusa.
Não diga nada.
— Eh…
Não complete essa frase.
Não diga o que o meu cérebro quer que você diga.
— …
— Eu vou apenas tomar um ar — disse.
— Então… sem ir embora?
Não consigo dizer não para você.
— Sem ir embora.
Saí do quarto de Seven, a deixando para fazer suas coisas.
E, andando para o grande pátio que havia atrás da Igreja, vi inúmeros caçadores que voltavam de suas expedições totalmente feridos.
Alguns totalmente destruídos por conta de Viajantes, e outros até sem partes de seu corpo.
Uma visão aterrorizante para quem não conhece o quão doloroso esse mundo é. Mesmo com todos esses poderes, não estamos nem pertos de enfrentar frente a frente aqueles que têm os vulgos desconhecidos.
Principalmente o que destruiu a minha cidade, milênios atrás.
Andei nos longos corredores da catedral, percebendo a grande mudança desde a última vez que vim aqui.
Agora estava digna de ser considerada um grande ponto turístico e comercial para todo o norte.
Acabei dando de cara com uma porta, que não estava lá em meu último encontro. Estranho, mas não incomum.
Cruzei meus braços na frente da porta, tentando entender o motivo da existência dessa sala. Mas quando menos esperei, ouvi passos vindo de dentro dela.
— Vá com saúde, Three! — Ugh, é a voz daquela pessoa que Seven vem sempre falando.
Passos pesados sob o piso de mármore, parecia ser uma pessoa extremamente forte saindo do local.
Ao girar da maçaneta, pude apenas sentir a grande presença de sangue no ar. Uma aura assasina e perigosa e também…
— Uma criança? — Sua estatura pequea contribuia para a minha teoria, e suas roupas tão infantis quanto as de um palhaço de circo apenas me fizeram dar gargalhadas mentalmente.
— Oi tia! — Uma fofurinha com esses olhos grandes.
Não conseguia distinguir seu gênero, mas não era esse o problema maior. O que diabos havia causado essa sensação que tinha sentido? A minha intuição nunca esteve errada, até hoje.
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