Capítulo 30: Um Bolo De Chocolate, Serve?
— Ahh! Eu estou cansada, muito cansada agora! — disse Kaori, sentando na calçada.
Sentei-me ao seu lado. Não me sentia exausta e nem nada, devia agradecer ao meu corpo por isso.
— Você é só uma fracote, Kaori… — disse, brincando com sua cara.
Ela riu de minha piada. Sua risada doce ecoou pelos meus ouvidos.
— Eu não sei como seus músculos cresceram tanto, Karina! — respondeu, pegando meu bíceps com sua mão. — Olha isso… que inveja.
Engoli em seco.
Sua aproximação repentina me fez perder a voz, causando-me ainda mais constrangimento diante da situação. Ela apalpava meus músculos de forma insensível, sem ligar se ao menos me importasse com aquilo.
Parecia estar entretida.
— Ka…ori. Será que dá para…? — murmurei. As palavras saíram pela minha boca. Escondia meu rosto vermelho com a outra mão, esperando que ela percebesse seu erro.
Arregalou os olhos, entendendo a situação.
— Desculpa! Eu não queria fazer nada disso. Não sou assim, juro! — respondeu, largando meu braço de nervosismo.
— Está tudo bem… — Minha voz saía trêmula.
Um cheiro doce subiu para o ar, enquanto na minha visão tudo parecia mais lento. Não me sentia em perigo, apenas muito confortável.
Foi como se em seu rosto tivesse aparecido uma coroa de flores, o que combinava com ela.
Bati na minha cabeça.
Isso tudo é só uma alucinação, Karina! Acorda!
Kaori se assustou com meu ato.
— Desculpa. Apenas estava conversando com as vozes da minha cabeça — disse, tentando tranquilizá-la da situação. Apenas percebi o que havia dito segundos depois, o que me trouxe ainda mais constrangimento. — Quero dizer! Ah… esquece tudo o que eu acabei de fazer!
Me sentia confusa.
As palavras não saíam como eu desejava.
Meu coração batia rápido, às vezes, errando a batida.
Sentia meu corpo esquentar, meu rosto avermelhar.
O que são todos esses sintomas? Eu não gosto disso!
Tô doente! É, só pode ser isso. Eu claramente estou doente. Terei que contar para mamãe e papai quando voltarem, eles vão com certeza saber como me ajudar.
— Seu rosto ficou vermelho de novo — comentou Kaori, abraçando seus joelhos na calçada. — É alguma doença? Me sinto mal por ter lhe trazido até aqui…
Me virei para o outro lado, evitando seu olhar.
Tapava minha boca com a mão, abafando minha voz que já saía em murmúrios.
— Não sei.
— “Não sei”? — Kaori indagou, mas logo depois mudou de assunto. — Bem, já que não está doente, que tal irmos a um café para comer um pouco? Você já fez muito por mim hoje.
— Só salvei um gatinho, não foi nada demais — respondi. Um tom mais orgulhoso.
— Foi incrível! Ver todas as cambalhotas de perto foi muito lindo. Algum dia me ensina a fazer aquilo, viu? — Ela deu um leve soco em meu braço, passando seu recado.
Meu rosto ficou mais vermelho, meu coração batendo cada vez mais rápido.
Não sabia o que responder…
Mas eu queria responder.
— Você falou que café agorinha, né?
— Sim… E aí, vai querer? Oportunidade única.
Um café? Um local normal, né? É só um café, afinal.
Posso aceitar, então.
— Eu conheço uma cafeteria próxima com um dos melhores bolos que já comi — disse, tomando iniciativa.
— Bolos, é? Eu gosto dessa ideia.
Kaori se sentou à minha frente na mesa, apoiando sua cabeça ao braço. Seus olhos se fixaram aos meus, como se esperasse algo.
Estava nervosa… muito nervosa. Eu não sabia o que fazer! Foram todas palavras ditas da boca para fora, não esperava que ela fosse aceitar assim.
O que será que eu falo para minha amiga? O que se faz quando se tem uma amiga?! Eu nunca tive uma! Sempre tive amigos, mas só falamos sobre matar, matar e matar…
Ela não é uma assassina, Karina! Pensa, burra. Não posso falar com ela sobre métodos de tortura ou armas novas para assassinar no mercado.
Não… mesmo.
Pensando sobre eles, como será que está o Ismael? Nunca mais tive notícias dele.
Kaori ficou emburrada, fazendo biquinho.
— Me chamou para o restaurante e não vai falar nada? — perguntou. — Você é assim mesmo, é?
— E-eu… Desculpa! — falei. — Nunca t-tive uma amiga.
— Nós somos amigas, é? — respondeu Kaori, dando um leve sorriso.
Será que eu entendi tudo errado?
Nós não somos amigas? É isso? Ah…
Eu… não sei como me sentir sobre isso.
Meu coração errou mais uma batida, mas de uma forma diferente. Prendia a respiração, com medo do futuro.
Pelo menos… estava difícil de respirar.
Sentia meu suor esfriando.
— Não somos? — perguntei, temendo sua resposta. Cocei minha nuca.
— Hehehe. Somos, claro! — Ela abriu um sorriso, tirando todo o peso das minhas costas.
Abri um sorriso bobo em resposta, falhando. Me sentia muito humilhada diante daquela situação, meu rosto avermelhando cada vez mais.
— Ah.. Sim, eu entendo.
— Seu rosto tá ficando vermelho de novo! — apontou Kaori, rindo. — Fica muito fofa assim.
F-fofa?
Fofa? Como assim, fofa? Eu não sou fofa? Ela é fofa! Eu não pareço nenhum pouco fofa.
Senti como se uma chave de meu cérebro tivesse desligado de repente. Era como se meus circuitos internos tivessem dado pane… e provavelmente eles deram.
— Eu… não sei do que você está falando. Não sou fofa — respondi, escondendo o rosto com as duas mãos.
Kaori riu… mais uma vez. Talvez nunca mais a visse rindo tanto quanto hoje. Desejava nunca esquecer sua risada… que ela ficasse presa à minha mente.
Ah… Fala sério! Eu não sei o que está dando errado comigo. Por que eu tô pensando nisso? Esses pensamentos apenas invadem minha cabeça, e eu não gosto disso!
Kaori chamou o garçom, que veio quase instantaneamente. Estava bem vestido, com terno e gravata. Cabelos amarrados atrás e segurando um papel e lápis.
— Qual seria o pedido das jovens? — perguntou o homem, inclinando-se em nossa direção. Seus cabelos caíram sobre seus olhos, causando uma cena um tanto quanto constrangedora.
Peguei o cardápio ao lado, vendo todas as opções possíveis que tinha nele.
Bolos, salgados, café… Tudo que era possível.
Não gostava de nenhum. Ou melhor, nunca provei nenhum.
Em toda a minha vida, apenas aproveitei o saboroso sabor da carne e de comida enlatada. Bem… hora de experimentar algo novo, então.
— Vou querer esse bolo de chocolate — disse.
— Esse é seu gosto? Bolo de chocolate? — perguntou Kaori, pegando o cardápio de minhas mãos.
Não sabia o motivo de ter escolhido essa sobremesa… Pelo nome, parecia ser bem deliciosa.
— Tenho que experimentar coisas novas — respondi. Olhei para ela, esperando que terminasse seu pedido. — Mas e você? Vai querer comer o que?
— Acho que eu já sei — disse Kaori, chamando o atendente para mais perto. Ela murmurava para ele, apontando para um dos itens na lista.
O homem concordou com ela.
— Então, vai ser isso mesmo? O pedido estará pronto em alguns minutos.
Ficaria mais tempo com Kaori? Isso é… ruim! Pare de pensar nesse tipo de coisa, Karina!
Ela já gosta de alguém!
Espera? Por que eu pensei nisso!?
Não! Não!
Nananinanão!
Ah… Eu já me arrependo de ter vindo com ela.

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