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    Ela… tinha que fazer aquilo mesmo?

    Estava incrédula ainda com seus atos. Seven estava com raiva e muito charmosa.

    Ah, para de pensar nisso, Gaia! Você não é assim…

    Mas aquela cara…

    Levantei da cama, coçando meu cabelo que nesse ponto já estava bagunçado. Minhas juntas rangiam, então estava quase na hora de fazer uma manutenção.

    Será que eu deveria ter falado para onde Karina foi? Acho que isso poderia ter resolvido as coisas de forma mais fácil.

    Porém, minha filha pediu com tanto carinho pra guardar segredo que não pude evitar. Onde já se viu? Ela até me abraçou!

    Que droga.

    Tenho um ponto fraco por coisas fofas.

    Um pequeno portal se abriu e de dentro dele tirei uma pequena caixa. Feita com material caro.

    Abrindo-a, a luz que exalava logo ofuscou meus olhos.

    — Eu não esperava que fosse ser tão brilhante assim! — resmunguei, tentando focar no conteúdo.

    Assim que a iluminação se esvaiu, logo se formou o que tanto guardava: um anel. Luxuoso e simples, era o outro par do que carregava.

    Será que está na hora de lhe entregar isso?

    Olhava fixamente. Tanta coisa se passava por minha cabeça que… estava confusa.

    Era uma explosão de sentimentos, sendo eles ruins ou bons até demais. Seven havia feito tudo aquilo comigo, mas significava mesmo que esse sentimento era mútuo?

    Tentei ignorar o anel que residia em seu dedo, mas nesse ponto não suportava mais. Ela estava com outra? E mesmo assim fez tudo isso comigo? Estou sendo enganada?

    Não… nada disso importava. Ela estava aqui, viva ao meu lado. Estou feliz por ter essa oportunidade, porque eu a amo, mesmo depois desses cinco anos.

    Melhor parar de ser tão emotiva.

    Ajeitei meu manto, limpando um pouco de poeira que residia em minhas calças logo após.

    Devo achá-la antes que faça alguma coisa constrangedora… Daquele jeito, não duvido que interromperia o encontro de Karina com sua amiga.

    Coloquei meus óculos, ajeitando os brincos que inundavam minhas orelhas. Gostava bastante deles.

    E, antes que pudesse abrir a porta do quarto, um pequeno barulho na janela interrompeu.

    — O que…? — Virei num instante, a guarda alta pelo medo de alguém ter invadido o quarto.

    Alguém teria coragem de fazer isso? 

    A companhia? Não… Eu estou morta para eles.

    Então, quem é?

    Um inimigo maior?

    Criei duas marionetes quase do meu tamanho, fazendo-as ficarem prontas para a batalha.

    — Apareça! — vociferei, tirando a mão do suporte da porta. — Você acha que se esconder é o suficiente para fugir de meu radar?

    Enviei as marionetes na frente, avançando em direções diferentes do quarto. Mas, no final de tudo, não foi necessário.

    — Um… pássaro?

    Pequeno, rechonchudo e azul.

    Era fofo, eu concordo. Ele não cantava e nem nada, apenas bicava a janela de madeira.

    Mandei uma das marionetes pegar ele, da qual não recuou com os avanços. Era calmo e muito belo.

    Uma pequena listra preta acompanhava a pelagem do pássaro.

    Levantei meu dedo, com a ave pousando sobre o indicador.

    Logo, voou até meu ombro, passando sua cabeça pela minha pele. Era macio.

    Com esse novo corpo, podia sentir algumas coisas a mais, e com certeza foi a melhor coisa que pude oferecer para ele. Não só pelo…

    Era fofo ele tentar me acariciar.

    — Por que você é tão fofinho?

    Falava sozinha, óbvio.

    Ah! Eu quero apertar esse pássaro até explodir!

    Tira essa vontade de mim…!

    Uma das minhas marionetes colocou a mão em meu ombro. Olhei para ela, confusa.

    — O que foi? — perguntei. Elas eram controladas por mim, então por que estavam se mexendo sozinhas?

    Olhando em seus olhos imaginários, foi quando eu pude perceber o que estava errado…

    — Ah! Seven! É verdade!

    O pássaro voou do meu ombro após um movimento de virada bruta. Não olhei para onde havia pousado e nem liguei.

    Abri a maçaneta às pressas, correndo por todo o corredor que se sucedia. Precisava encontrá-la, e rápido. Amarrava meu cabelo enquanto isso, descendo as escadas para o saguão.

    Chegando à recepção, me direcionei imediatamente para as atendentes, sem me importar com quem quer que fossem as pessoas em minha volta.

    — Bem… Como eu posso falar isso… — Comecei. Ainda não era boa em falar com pessoas, e é bem provável que nunca serei. — Por acaso vocês viram uma mulher desse tamanho, linda e com cabelos vermelhos? — disse, indicando sua altura com minhas mãos.

    A moça deu uma pequena risada coberta por sua mão.

    — A senhora é o que dela? — perguntou, os olhos quase fechando de tanto abrir o sorriso. — Não posso passar informações de clientes importantes.

    — Eu sou a espo–

    Uma pequena pontada na mente interrompeu minha fala. 

    O que eu era para Seven agora?

    Ah! Que se dane… Isso está incomodando demais!

    — Sou a namorada dela. — Terminei minha fala, vermelha como um tomate pelo constrangimento que acabara de passar.

    — Então, essa é a relação de vocês duas? — retrucou, não parando por um segundo com suas risadas. Ela estava rindo do quê, exatamente? 

    — É… — Que vergonha! Humilhação! — Só me diga onde ela está, tudo bem? — gritei, batendo minhas mãos sobre o balcão.

    Não respondeu. Apenas continuou deixando-me ainda mais envergonhada com suas reações. Pelo menos, até que apontasse para o lado.

    Olhei para onde havia sido informada.

    Ah… Então ela estava ali o tempo todo.

    Comecei a rir junto dela, uma pequena risada calma. 

    Seven estava dormindo na cadeira mais próxima do balcão, e do seu lado repousava uma pequena pilha de pratos sujos. 

    — A moça acabou pedindo muitas fatias de chocolate… Não esperava que caísse no sono tão rápido assim — disse. — Bem, fico feliz que ela tenha uma esposa para ajudá-la.

    Esposa? Ela escutou?

    Ah, não! Que vergonha!

    Droga, droga.

    Mantenha a calma, Gaia, isso não é nada demais!

    Talvez… não seja tão ruim ser taxada dessa forma.

    — Bolo de chocolate, é? Seu favorito, então — respondi, meu coração se aliviando com o estado dela. — Muito obrigada, mas quanto vai dar tudo?

    — Preços? Ah! Não, não. Pode deixar por conta da casa, foi isso que o chefe falou.

    — Sério? É sério isso? — perguntei, incrédula. Aquela pilha era muito, mas muito mesmo. — Tem certeza disso?

    Se eles recusassem o pagamento, seria um prejuízo enorme.

    Ela riu, mais uma vez.

    — “Ninguém nunca tinha reagido dessa forma para minhas sobremesas.” — respondeu. — Foi isso que ele disse. Então, está tudo bem em deixar isso por conta da casa.

    — Ah… Muito obrigada mesmo, moça! — Entrelacei os dedos da mão. — Não sabe o quanto estou grata agora. 

    — Está tudo bem! Você pode buscar aquela dorminhoca ali que tudo estará certo.

    Acenei com a cabeça, concordando com sua ideia. Mas, antes da despedida, dei um leve sorriso.

    Minha aparência real não estava mostrando para ela, então, que mal faria?

    Andei até Seven, que roncava baixo, puxando a cadeira ao seu lado.

    — Está dormindo mesmo? — perguntei, mesmo sabendo que não receberia resposta.

    Seus olhos meio entreabertos e um bucho um pouco à mostra me informaram o quão cansada ela estava. Havia comido bastante agora e nem dormiu na noite passada.

    Bem… para ela deve ser um desafio e tanto.

    Acabei rindo enquanto cutucava sua cara.

    Estava adorável.

    Quero dizer!

    Ah…

    Preciso levar ela para o quarto.

    Agachei-me, colocando meus braços sobre sua perna e cabeça. E, de forma calma, levantei-a da cadeira.

    Estava leve, como sempre.

    Iniciei meus passos de volta para o quarto, mas antes disso, agradeci mais uma vez à atendente, que apenas me olhava muito assustada pela minha força.


    Coloquei-a na cama, cobrindo Seven com o lençol. Ainda roncava mesmo assim.

    — Eu te amo.

    Não sei… Talvez gostasse de falar sozinha. Era menos constrangedor.

    Retirei os cabelos de seus olhos, deitando ao seu lado. O sol iluminava seu rosto naquele instante, deixando-a mais bonita.

    Estava alegre por apenas eu poder enxergar esse seu charme.

    — De novo? — Olhei para a janela, escutando um barulho de asas se aproximando. 

    Assim que pousou, pude ver o mesmo pássaro de antes.

    — Você… de novo. Está aqui para roubar minha mulher? Olha que sou ciumenta. — Brinquei.

    O pássaro assobiou em resposta.

    Acenei com a mão, pedindo para ele chegar perto. Hesitando um pouco dessa vez, o pássaro logo voou para meu braço.

    — Olhe para ela, amigo. Não é linda? — disse, aproximando a ave de Seven. — É a minha… esposa. Hehehehehe…

    Risadas baixas que ecoavam sentimentos escondidos em meu coração.

    Naquele instante, uma motivação maior estava me incentivando a entregar o outro par de anel.


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