— Zzzz! Gelado! — falou Gaia. — Mas… Hummmm… É bom.

    Uoh, então não era apenas para restaurar energias, não é? Ela sentia o gosto também.

    Ela tomou mais sorvete.

    — Tem gosto de quê? — perguntei, olhando fixamente para o copinho. 

    — Esse aqui é meu! Tome o seu viu.

    — Que pena então.

    Finalmente coloquei uma colher da mistura gelada em minha boca. E simplesmente foi a melhor coisa que já tomei. 

    Essas pitadas de chocolate por cima apenas deram um gosto a mais para o sorvete cremoso. 

    Viciante até demais, acabei comendo mais uma.

    Mais uma.

    E mais uma.

    — Cuidado, não coma tão rápido assim — disse Gaia.

    — Hum, o que? — perguntei.

    Ela imediatamente caiu em risadas.

    — Ei! Não ria de mim — Dei um leve soco em Gaia.

    — Pfff… É que você parece um hamster com essas bochechas. 

    — Sei… sei.

    E quando terminei meu sorvete, Gaia olhou para mim com brilho nos olhos. Eu já imaginava o que ela queria fazer, mas… por que não provocar um pouco?

    — Você quer algo?

    — Não… nada até agora. Quem deveria fazer essa pergunta sou eu — disse Gaia, colocando mais uma colher em sua boca.

    — Nem mesmo assistir a peça?

    — …Não quer ir mesmo lá?

    Então ela só estava escondendo esse gosto.

    Gaia tomou mais um pouco de seu sorvete.

    — Não quer ir mesmo, né? — Me olhava fixamente.

    — Quem sabe? Eu só vou lá se você quiser, eu mesma aqui não tenho interesse.

    — Ah… — Imediatamente ficou cabisbaixa.

    Ri mais um pouco dela, e logo após, peguei sua mão. Andei devagar, até chegarmos mais perto da peça, da qual havia acabado de começar.

    Gaia quando me viu a levar até a encenação, imediatamente abriu um sorriso em seu rosto, que não iria desaparecer tão cedo.

    — Mas é porque você quis, viu — Apertou mais ainda a minha mão, como um sinal de empolgação.

    — Tudo bem… é por minha vontade.

    O ritmo dos tambores aumentaram, indicando o início da peça. A multidão agitada, agora havia se calado completamente. Todos com um único objetivo naquela noite, a fuga do mundo real.

    — O Baile de Inverno é realmente um evento importante. E dessa vez, muitos nobres foram convidados para presenciar a coroação do mais novo rei — Contextualizou o narrador. — O Príncipe, ainda imaturo, entrou causando escândalo no palácio.

    Todos os atores usavam máscaras, indicando o que cada um estava interpretando de cara. O Príncipe, antes anunciado, estava com uma máscara de leão.

    — Eu não vou me casar com quem você escolher, Pai! — gritou o Príncipe. — Estou cansado de você controlar as minhas ações. Aqui e agora você deve simplesmente desaparecer!

    Antes mesmo do início da festa, ele foi falar com o seu Pai. E com uma espada em sua mão, continuou gritando.

    O rei, por outro lado, apenas escutava. A sua máscara era igual a de seu filho, com a diferença da coroa posta em sua cabeça.

    — Estou cansado! Você sempre foi assim, sempre. — Continuou a reclamar. — Principalmente quando negligenciou a morte da Mãe! 

    Gaia estava super entretida na peça, olhando fixamente para os atores.

    O Pai, parecia ter se sentido ofendido pela última acusação, então se levantou lentamente de seu trono.

    — Nós não falamos dela aqui! Seu cretino, ingrato! — O Pai chegou mais perto do Príncipe, lhe dando um tapa. — Saía. Vá para seu quarto, à noite você irá receber a sua coroa, e sem falta. 

    O Príncipe se enfureceu imediatamente, e com a espada em sua mão, apenas a apertou. O ódio dele deve ter sido muito, mas sua consciência falou mais alto.

    Andando pelos corredores, ele murmurava palavras de maldição.

    — Que toda a desgraça caia sobre esse reino…

    E, após chegar em seu quarto, imediatamente pegou uma folha para escrever. 

    — Querida Nobre, sinto muito por não ter conseguido o que queríamos. — Ele lia em voz alta. — Eu a desejo tanto, mas… o Pai não colabora. Estou preso a correntes que controlam meu destino. Você é livre como um pássaro, então espero que voe sem dar uma única pausa, seja livre. 

    Ele começou a chorar, mas em meio a tantas lágrimas no papel, continuou a escrever. 

    — Escrevo essa noite para lhe desejar uma feliz vida. Sei que parece estranho, mas em breve entenderá. 

    Alguém batia na porta.

    — Jovem mestre! O senhor está aí?

    — Estou — respondeu o Príncipe.

    Ele se levantou, indo em direção à porta. E abrindo ela, deu de cara com o Mordomo, estático, com uma máscara de lebre.

    — Você está bem? Soube o que aconteceu no salão do rei.

    O Mordomo falava com delicadeza.

    — Não! Não… Por favor, até você não — falou o Príncipe, triste.

    — … Permite esse humilde servo, a entrar? — A sua postura séria, mudou rapidamente.

    O Príncipe eventualmente deixou ele entrar.

    — … Sabe, se veio aqui por alguma ordem do Pai, ou me colocar mais restrições, por favor saia. 

    — Te acompanhei desde criança, toda a sua trajetória aqui no palácio. Você sempre foi meio problemático, mas… temos que entender o que é o mundo real — disse o mordomo, colocando a mão sobre seu ombro.

    O Príncipe rapidamente se enfureceu.

    — SAIA — gritou.

    — …

    O Mordomo não disse nada, apenas saiu do local, deixando o ambiente silencioso. E quando o Príncipe terminou de escrever sua carta, logo chamou uma empregada.

    E ao chegar no quarto, ele entregou o pedaço de papel selado para ela.

    — Não deixe ninguém ver isso.

    A empregada assentiu, imediatamente indo entregar a carta.

    E então, os tambores do evento logo soaram, indicando o término da peça.

    — Ué? Mas acaba assim do nada? — perguntei para Gaia, confusa.

    — É assim mesmo, a peça é dividida para três noites. Você só saberá o final na última noite de festival — respondeu-me.

    — Que interessante… Então teremos que vir aqui novamente no outro dia?

    — … Apenas se você quiser. — Claramente ela queria vir. Até quando vai se fazer de difícil? 

    Todos começaram a aplaudir a peça.

    Havia quebrado as minhas expectativas nesse início, mas confesso que fiquei curiosa para saber o que iria acontecer.

    E com mais um evento dessa longa noite finalizado, as pessoas se dispersaram para todos os cantos. 

    E comigo e Gaia não foi diferente, olhamos para todos os cantos, tentando encontrar algo interessante nesse grande festival.

    Andamos mais um pouco, mas nunca se afastando do centro da cidade. Encontramos eventualmente uma barraquinha mais trabalhada, e nela, podia ser visto várias espécies de flores.

    Brancas, rosas, vermelhas, todos os tipos que possam imaginar. A fila extensa mostrava o interesse das pessoas nessas plantas. 

    Fiquei interessada, quem sabe podia colocar uma em meu quarto, talvez o deixasse mais vivo. 

    Puxei a camisa de Gaia, indicando para onde queria ir.

    — Huh? Meio infantil, não acha? 

    — Não acho… é que quero fazer uma coisa com elas.

    Acho que nunca tinha visto essa reação de Gaia, pois ela imediatamente havia ficado vermelha. Algo que naquele ponto, nunca havia acontecido.

    Tinha certeza de que ela havia pegado a ideia errada, mas vamos deixar assim por enquanto.

    Entramos na fila, que, não demorando tanto quanto imaginei, chegou a nossa vez. 

    Vestindo um avental, o jovem atendente olhou para nós, esperando o nosso pedido.

    — Então, eu vou querer essa mais branca… talvez com essa vermelha. — Apontei.

    O atendente logo deu um sorrisinho, da qual não entendi o motivo. Ele fez um pequeno buquê de minha escolha, entregando logo em seguida.

    — Boa noite para as pombinhas então! — disse o jovem. 

    E foi nessa hora que havia caído na real.

    Olhei para toda a fila, e entendi o padrão que não tinha percebido antes. Todos eram casais, pegando um buquê para sua amada.

    E então é assim que se cria mais mal entendidos?

    Fiquei tão vermelha que nem ao menos consegui olhar para o rosto de Gaia.


    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota