Capítulo 37: O Que Ele É Pra Você?
Mamãe está estranha.
Está com olheiras, não está dormindo muito bem a noite. Tudo começou faz uns… dois dias, quando ela acordou eu e papai com seus choros.
Eu to preocupada com ela, óbvio, mas papai disse que ia cuidar disso. Desde então, nunca mais tive atualizações sobre o que aconteceu de verdade naquela noite.
Isso me frustra muito! Merda, merda mesmo! Eu queria tanto saber o que fez mamãe ficar daquele jeito.
Pelo menos, não está pior do que o jeito que a encontrei.
Amassei a caixinha de suco que estava tomando, olhando para Kaori, que terminava de comer seu salgado.
Agradeço por não estar pior do jeito que a encontrei.
— Pensando em algo? — perguntou Kaori, as bochechas cheias de comida.
— Ah… nada demais. Mamãe acabou tendo alguns problemas em casa, apenas estou um pouco preocupada com isso — respondi olhando para o céu.
Uma pequena brisa passava naquele momento, levando meus cabelos ao ar.
— Aah! Pufft! — gritou, assoprando alguma coisa.
Olhei para ela, percebendo o que acabara de acontecer. Seus olhos fechados e uma cara de espirro.
— Desculpe pelos meus cabelos, não foi minha intenção — falei, amarrando ele em um rabo de cavalo. — Pronto, está melhor assim?
— Atchim! — O nariz de Kaori estava vermelho apenas de ter espirrado uma vez. Lembrava uma rena… Que fofo. — Sim. Você fica muito melhor assim.
Senti meu rosto explodir no mesmo instante.
Ela coçava os olhos, ainda abatida pelo espirro que tinha acabado de dar. Fungava o nariz.
Por que? Por que ela teve que falar assim?
Tô realmente apaixonada? Eu falei aquilo pra meus pais na brincadeira!
Virei para o outro lado, colocando minhas mãos nas bochechas, sentindo as mesmas queimarem de vergonha.
— Hehehehe… — murmurava involuntariamente. — Será que e–
Espera.
O que é aquilo ali?
De um beco, duas silhuetas me observavam de longe.
Assassinos?
Tentei focar meus olhos e…
— Pfft! — Quase caí em gargalhadas.
Mamãe e papai… O que vocês estão fazendo ali?
Estão querendo conhecer minha amiga também? Nossa, isso é muito bom!
Mas hoje não. Hoje vocês não podem!
— An? O que foi, Karina? — perguntou Kaori, sua voz perto de meu ouvido.
Me virei para falar com ela quase no mesmo instante, ignorando aquelas duas. Porém, ao me virar, acabei dando de cara com seu rosto muito próximo do meu.
Lábios quase encostando, olhos fixados um no outro.
Explodi mais uma vez.
Minha cabeça girava de tanta vergonha. Não aguentava nem com ela falando tudo aquilo, quem dirá aproximando seu rosto.
— Pode s-se afastar um p-pouquinho? — disse, a voz trêmula.
Kaori voltou para seu assento do banco. Estávamos no local onde sempre nós encontramos.
Aquela mesma rua vazia.
— Você não gosta de mim, é? — respondeu, fazendo beicinho.
— Não disse isso… — murmurei baixo o suficiente para nem mesmo eu escutar.
— O que você falou? Não deu pra ouvir
— N-nada!
Kaori deu uma última mordida em seu salgado, puxando a sacola de comidas que estava ao seu lado.
Parecia procurar alguma guloseima diferente dessa vez.
Ela ia comer tudo aquilo mesmo?
De dentro, puxou uma fatia de doce.
— O que é isso? — perguntei, curiosa sobre o formato da comida.
— É um Parfait!
— Parfait…?
— Sim! É bem gelado e doce. Esse aqui é meu favorito.
Morangos…
Esse é seu sabor favorito? Depois eu que sou infantil.
Acabei gargalhando baixo.
— Ei! Você tá rindo de mim!? — Kaori bufou, suas bochechas enchendo de ar. — Esse doce é muito bom, você que não sabe apreciar!
Kaori tirou um pedaço do doce, levando a colher para perto de minha boca.
— Aqui, come um pouco — disse, aproximando pouco a pouco.
Ela está me dando comida na boca? Isso não é tipo… muito romântico!?
O que eu faço?
Isso é muito ruim!
Nhom.
No final, acabei comendo.
Era muito bom mesmo.
Toda a mistura de recheios junto a textura deixava tudo tão bom. O gosto de gelado deixava ainda melhor.
— Então, o que achou? — perguntou Kaori, abrindo um sorriso. — Muito bom, né?
Não sabia expressar o quanto havia gostado do doce em palavras.
Lambi meus lábios que ainda residia um pouco da cobertura. Todo o mínimo de recheio que poderia comer eu comi.
— Hehe…
— Por que você tá rindo assim? É estranho! — retrucou Kaori, comendo duas colheres seguidas do doce.
— Por que foi bom. O doce é bom, como você falou.
— Nem eu fico assim! Sua estranha!
Ela levantou, terminando a sobremesa que havia acabado de começar. Comia bastante rápido…
Deve estar acostumada com isso.
Por uma pequena fração de segundos, enxerguei uma pequena cicatriz que residia ao lado de seu pescoço.
Tentei falar algo, mas nada saiu da minha boca. Talvez fosse muita invasão de privacidade…
Minha consciência havia me impedido de estragar tudo naquele instante.
— Já vai? — perguntei, hesitando em falar o que realmente me incomodava.
— Eu combinei de encontrar um garoto daqui a pouco — respondeu, seu rosto ficando vermelho com o tempo.
Falava de forma tão alegre de uma pessoa que não conhecia… Meu peito dói.
Não gosto disso.
Não gosto… disso.
Meu coração dói.
— O que ele é… pra você?
Não queria ter dito isso.
Meus pensamentos vazaram para fora de minha cabeça.
Ah…
O silêncio tomou conta da rua.
Kaori não me respondia, e eu não tinha coragem de olhar para seu rosto. Meu coração batia rápido, quase pulando para fora de meu corpo.
— Ele? Ele é…
— Você é a amiga de minha filha? — mamãe interrompeu.
Me virei no mesmo instante para ela, vendo-a com uma cara nada amigável para Kaori. Papai estava atrás, assustada ainda com as ações da mamãe.
— Nós c-combinamos de não atrapalhar, Seven! — disse papai, movendo suas mãos de forma desajeitada no ar.
— Mamãe! — Saíu de forma involuntária de minha boca.
— Mamãe? — murmurou Kaori, confusa sobre a situação. Não sabia para onde olhar. — Então, a senhora é a mãe de Karina? Muito prazer! — Uma voz empolgada, diferente do tom que tinha escutado.
— Tsk! Você é a amiguinha dela mesmo…
— Amor! — disse papai, batendo nas costas da mamãe.
— Amor? Você nunca me chamou assim!
Ela estava brava.
Muito brava.
Kaori estendeu sua mão.
— Muito obrigada por terem criado Karina tão bem assim! Ela é uma boa garota mesmo — disse. Mamãe logo apertou sua mão. — Até queria continuar a conversa, mas acabou que tenho um encontro logo mais! Não posso me atrasar de forma alguma.
A expressão da mamãe mudou na mesma hora. Ao invés de ficar brava, ela ficou triste com o que acabou de escutar.
Dessa forma, Kaori correu para longe.
Ela ia no encontro com outra pessoa com aquele vestido? Mas não foi o que eu lhe dei de presente…?
Ah…
Meu coração está doendo.
Mamãe apenas me olhava com uma expressão triste. Seus olhos logo se encheram de lágrimas.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, ela me abraçou.
Eu quero chorar.

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