Capítulo 38: Uma Detetive Lutando Contra A Tragédia
Ah… que vergonha.
Eu confundi tudo.
Não sabia que, antes de ir, um pequeno treinamento entre heróis havia sido criado. Que droga. Deveria ter ido embora quando tinha chance.
Pelo visto, a minha ida é em uma semana, não imediatamente como imaginei.
Vergonhoso…
Não gosto dessa sensação.
— Anunciando a próxima luta… — bradou Six, ecoando sua voz por toda a sala. — Eight e Two! Uma luta um tanto quanto reveladora e triste. Aqui e agora teremos a própria investigação lutando contra a tragédia!
Um salão encontrado no subsolo do castelo.
O cômodo era imenso, perfeito para aguentar qualquer poder diferente vindo de Heróis. Bem, não posso negar que tem várias bençãos estranhas nesse quarto.
Algumas armas de madeira eram colocadas de acordo com as vontades das Estrelas, deixando a luta menos letal.
Se posicionando nos locais indicados, Two não segurava nenhuma arma e Eight havia pegado uma foice. Esperado, só vi esse tipo de arma em suas mãos.
Me ajeitei no banco de madeira, o tédio me consumia naquele instante. Lutar era chato…
— Five, tá torcendo pra sua namoradinha ali? — perguntou Three, gargalhando de minha cara. — Ela vai tomar uma surra do meu irmão!
— N-namoradinha? — perguntei, vermelho por trás da máscara. Tentei me acalmar um pouco, respirando fundo. — Eu n-não sei se somos n-namorados… Eu confio que Eight ganhe isso, ela é forte.
Na arquibancada, o resto dos heróis se sentava em locais diferentes. Poderíamos fazer parte do mesmo grupo, mas nossos objetivos eram muito distantes.
— Não vai estar com nada, pirralho! — disse Eight, girando sua foice. — Nada se esconde do faro da detetive aqui!
Two se posicionou, erguendo os punhos para frente.
Nunca tive interesse em lutas, muito menos em saber o que os outros faziam.
Mas… um estilo corpo a corpo? Isso é bem diferente do que imaginava.
— Se você perder, não vai ser uma grande tragédia? — respondeu Two, choramingando. — Talvez passar vergonha na frente do seu namorado seja pior do que perder sem ele ver.
Eight fechou a cara, seus olhos mirando fixamente no garoto. Não parecia ter gostado dos comentários.
— Três… dois… um. Podem começar! — gritou Six, cortando o vento com a mão para dar início à primeira luta do treinamento.
No mesmo instante, Eight apareceu na frente de Two. Antes o que era foice de madeira, agora era uma espada.
Tentou dar uma estocada, mas a tragédia se moveu mais rápido do que ela. Seus olhos estavam arregalados, como se não esperasse essa reação.
— O que? — resmungou, revertendo a transformação da espada. Com a foice, atacou de lado.
— Você é lenta — disse Two, desviando de seu ataque.
Não era possível enxergar que expressão mostrava, até porque, seus olhos estavam por trás da máscara da tragédia.
Os olhos de Eight começaram a escurecer, modificando todo o solo do campo. Arrancou mais uma vez, estendendo a lâmina de sua arma. Two utilizava os espinhos como apoios para se esquivar de seus ataques.
— Isso não é ruim para ela? Que diabos… — murmurei.
— Meu irmão… está passando sufoco?
Sufoco?
Virei para Three, que estava suando frio. A comédia havia perdido o sorriso em sua cara pela primeira vez.
Como assim ele está passando sufoco? A luta nem iniciou direito. O que ele quis dizer com isso?
Eight vai ganhar!
Pensava isso até enxergar um sorriso abrindo em sua cara. Ponta a ponta do rosto.
— O que…? — Voltei a ver a partida no mesmo instante. Algo estava errado.
Assim que voltei a olhar, Eight tomou um soco de Two em sua barriga. Cuspiu no chão, perdendo seu ritmo.
O que havia acontecido? Me virei apenas por alguns segundos e isso aconteceu…
— Você é fraca — disse a criança, direcionando mais um golpe para sua cabeça.
Eight voou pelo campo de batalha, mas… caiu em pé.
Limpou seu nariz com a mão, pegando a espada que havia caído ao seu lado.
Two se preparou para uma arrancada.
— Pé direito, ataque frontal e esquiva — disse a investigação, colocando seus cabelos para trás. — É isso que ia fazer agora, né?
Assim que escutou isso, parou no mesmo instante.
— Como você…
— É fácil analisar o que você faz. É previsível.
— Desgraçada! Pare com isso agora! — disse Two, fazendo birra. — Não é assim que deve ser feito! A tragédia não se desenrola assim! Nunca leu nenhuma!? Desgraçada!
Era uma ameaça.
Se não fosse um treinamento, podia dizer que Two iria tentar matá-la no mesmo instante.
Correu, se misturando com o ar.
— Já disse… Tudo é tão previsível. — Ela dividiu a espada em dois, deixando mais poeira cair ao chão. Em um estilo de duas mãos, Eight se preparou para os ataques.
Ela vai ganhar… né?
O sorriso malicioso de Three não saía da minha cabeça. Estava cravado na minha memória.
Em vultos, Two aparecia em minha visão tentando atacar a ela, mas todas as suas tentativas acabaram falhas. Naquele ponto, Eight conseguia acompanhar Two com seus olhos.
Ou talvez… ela só estivesse prevendo a lebre.
A tragédia parou, derrapando pelo chão da arena.
— Toma cuidado por onde pisa, rapidinho — apontou Eight, usando o solo como arma.
Espinhos logo surgiram embaixo de Two, o que fez ele recuar ainda mais de onde estava Eight. A cada salto, Eight previa onde ele ia parar, criando um looping de cansaço.
Em segundos, a grande arena já estava modificada mais uma vez.
Hipnos, é? Que inveja…
Mais um espinho, dessa vez, ele quebrou a máscara de Two em duas.
— Você quer me matar? Sua vad–
— Two — gritou Three, interrompendo seu irmão —, tome cuidado com suas palavras!
Pegando sua máscara no chão, a tragédia mostrava sua expressão chorona e frustrada. Eight, vendo isso, apenas riu.
— Agora está ficando divertido!
— Você ainda é lenta, muito lenta. Estava tentando evitar utilizar a Tragédia, mas acho que não tenho escolha…
— An? O que você está falando? Não te escuto! — provocou Eight, uma expressão sarcástica diante daquilo.
Meus olhos não conseguiram descrever o que aconteceu depois.
Two, que estava a muitos metros de Eight, havia aparecido na sua frente em menos de um segundo.
— Cacete! — Levantei da arquibancada, preocupado com o que poderia acontecer.
Com as mãos posicionadas, Two estava pronto para socar Eight para fora da arena. A palma envolvida em uma névoa estranha que me deixava… triste.
Ao invés de mostrar uma reação, Eight apenas sorriu.
Seus olhos acompanhavam o punho da tragédia.
— Na mosca! — disse Eight.
Um clarão surgiu em todo o campo.
Consegui evitar de ser cego por conta de minha máscara.
— O vencedor então foi…
— Eu! — gritou Eight, colocando o casaco em suas costas. — Quem mais ganharia essa luta se não a detetive perfeita? Esse caso está mais do que completo!
Queria abraçá-la naquele instante, parabenizar por todo seu esforço ter sido compensado, mas… era o suficiente ver aquele sorriso em seu rosto.
Tenho que seguir seu exemplo de esforço.
Two se mostrava caído ao lado, preso a algemas.
— Meu irmão está inconsciente? — disse Three, se materializando ao lado dele no próximo instante. Começou a murmurar no ouvido da tragédia, puxando o mesmo pela gola para fora da arena.
— Parece zangado… O que será que vai acontecer com o menino Two? — murmurou Four, com sua voz inconfundível.
Arrepiei-me por um instante.
— Sinto pena dele um pouco.
— Não devia, aqueles dois são o diabo e o capiroto.
Six voltou ao palco, preparada para chamar mais dois nomes para a luta.
— Dessa vez, quero chamar uma pessoa muito especial que não participa muito das lutas! Porém, temos uma pequena regra de obrigatoriedade para impedir que ninguém fique muito de fora — disse. — Venha ao palco, Five!
Que?
Eu!?
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