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    Diante todos os anos que dediquei à Companhia, todos os trabalhos que já fiz, nenhum parecia tão complicado quanto esse. Mas eu não me importava quem me dessem trabalhos complicados ou quase impossíveis, desde que realizassem meu único desejo. 

    Quando me enviaram para cá, era de se imaginar que a cliente me faria tantas perguntas devido ao plano selecionado, mas para que tantas? Sinceramente não me importei no momento, pois depois desse pedido eu iria me aposentar. Mas não por que eu não gostava de fazer isso, pelo contrário, eu amo esse trabalho. Mas eu estava perdendo as esperanças, era muito tempo dedicado a nada.

    ― É que… Talvez, só talvez mesmo, eu não me lembre de nada… ― Seven disse com a voz tremendo.

    ―  Mas que merda… Eu pedi para eles me avisarem sobre essas situações… ― murmurei.

    Fiquei um tempo andando e pensando no motivo deles não terem me avisado sobre isso. Se era um teste ou um erro da parte deles. Era uma certeza que eu iria reclamar sobre isso após tudo acabar.

    Pedia para a companhia me avisar sobre esses tipos de escolhas, mas dessa vez foi diferente. Eu estava cansada demais para lidar com alguém nessas condições, mas parecia que eu simplesmente só não conseguia expressar o que eu realmente sentia. Tanto que acabei ultrapassando da linha.

    De repente, Seven me surpreendeu com suas ações, ela tirou de seu bolso um colar metálico. Meus olhos imediatamente reconheceram aquele pingente, era o que eu vinha procurando há tanto tempo, uma pista.

    ― Por que você tem isso? ― perguntei.

    ― Eu não sei, só estava no meu bolso ― disse, mas algo me parecia errado com a sua fala.

    ― Posso dar uma olhada? Claro, se não tiver problema.

    Após eu dizer isso, os cabelos de Seven começaram a crescer. Agora estava me observando enquanto seus olhos estavam lentamente se escurecendo.

    ― Não, sinto muito, mas você não pode pegar ―  disse Seven, de forma agressiva.

    Ela estava sendo selvagem com aquele colar, era visível essa possessividade. Mas eu queria testar até onde isso iria.

    ― Apenas uma olhada, quero verificar uma coisa simples.

    O cabelo dela estava crescendo mais rápido, e seus olhos estavam quase totalmente escurecidos.

    ― Gaia, eu não vou dizer uma segunda vez.

    Algo que não tinha acontecido há mais de dez anos de trabalho foi eu ficar com medo. Pude sentir o frio na minha espinha, algo ali não me agradava. Lembro-me de ter aceitado por ser fácil, mas pelo visto esqueceram-me de me contar que a cliente é um predador em uma jaula de vidro, onde pode quebrar a qualquer momento.

    ― Oh, tudo bem, então, não irei pedir mais.

    Queria parecer calma com as minhas palavras, mas o que eu posso dizer sobre essa experiência é que foi aterrorizador. Mas após eu dizer isso, Seven deu uma pequena pausa, antes de falar novamente.

    ― Por que você tá com essa cara, Gaia? Parece até que algum bicho te mordeu.

    Parecia estar voltando ao normal, seu cabelo agora estava diminuindo e seus olhos voltaram a ser esverdeados. Ela parecia não se lembrar da situação que ocorreu agora, pois estava um pouco confusa.

    Ela tirou a mão do altar, fechando a janela de estatísticas dela.

    ― E então, agora que eu já fiz o que você pediu, que tal me responder uma pergunta, quem são essas pessoas que estão nas estátuas? Estou intrigada com isso desde que entrei. 

    ― São representações dos deuses, foram eles que trouxeram essas bençãos para a nossa terra. Segundo os historiadores, eles vieram cinquenta anos após os surgimento das criaturas, logo após anos de batalhas foram dados como salvadores dessa terra. Mas por algum motivo nenhum nome foi dado a eles, são apenas chamados de Estrelas em sua maior parte. Cada benção é referente a um deles, mas não se sabe exatamente o que cada um representa.

    Ela estava admirando por um momento, olhando para aquelas cinco estátuas. Representações sem faces dos herois do povo, já fazem mais de dois mil anos desde seus feitos. Mas ainda são lendas em todos os lugares, que, cada dia mais, vem sendo esquecidos.

    ― E então, como eu consigo dinheiro?

    Parecia que era eu que estava admirando demais, pois me perdi em pensamentos rapidamente e quando eu percebi, ela estava me olhando esperando a resposta para a sua pergunta.

    Confesso que fiquei surpresa por um momento, mas meio que nós teríamos que chegar nesse passo uma hora ou outra, então respondi sinceramente.

    ― Seven, o Norte é complicado para qualquer coisa que você queira fazer, ele é atacado frequentemente, diferente da capital e do Oeste. Quero lhe dizer que, não vale a pena ficar aqui. A não ser que você queira lutar com monstros dia e noite para ganhar dinheiro. Se eu fosse recomendar uma forma, seria indo ao oeste, mas mesmo assim, teríamos que conseguir dinheiro aqui para viajarmos até lá.

    Ela pareceu gostar da ideia, mas eu não tinha nenhuma sugestão de como a gente ia fazer isso, pois o lado leste da cidade em que a gente estava continuava sem pessoas, logo sem trabalhos sendo colocados aqui para nos recolhermos.

    ― Venha cá, deixa eu lhe explicar mais um pouco como a gente pode ganhar dinheiro.

    Ela veio, calada, mas me seguiu até um quadro na entrada da igreja, que não dava para ser visto no ângulo da porta.

    ― Aqui, é onde os caçadores normalmente conseguem dinheiro, é onde os trabalhos surgem, e é daqui que nós tentaremos tirar seu primeiro trabalho, e é claro, evitarmos os monstros.

    Eu olhei para o quadro, talvez porque eu não tivesse prestando atenção ou porque eu estava muito esperançosa, mas não tinha nada, apenas um folheto no canto do quadro, que poderia ser a última gota de salvação naquele momento.

    Cheguei mais perto para ver do que se tratava e foi exatamente o que eu mais temia, uma solicitação de exterminação de monstros naquele lado da cidade em que estávamos, feita por um nobre que ali residia.

    ― Então, só existe essa solicitação mesmo, não é? Sobre o que se trata, Gaia?

    ― Acho que você não vai gostar de saber, mas é um extermínio que vai ter a mando do Senhor daquele local, pelo visto é uma expedição para caçar um ninho que tem aqui por perto ― disse, esperando uma resposta negativa.

    ― Então eles vão dar os equipamentos, não é? Pelo visto, é um bom negócio se a gente vai para o leste, eles vão pagar bem.

    ― Seven, você… consegue ler isso? ― perguntei, as suspeitas que antes haviam se apagado, agora voltaram na minha cabeça.

    ― Eu não sei, eu só consigo ler essa língua, é estranho até para mim.

    De acordo com a minha experiência, já é motivo para suspeitar até demais de Seven, pois já estive em várias situações como essa, mas meu lado moral só não quer desacreditar em uma menina sem casa em um mundo desconhecido, a viagem dela até aqui já está completa e não pode ser desfeita, então o mínimo de minha parte é tentar lhe dar algum apoio, estou indecisa sobre o que pensar.

    ― Você vai querer mesmo ir nessa expedição? Vai ser perigoso, e você não deve ter nenhuma experiência de luta até onde eu sei.

    Ela parecia estar pensativa por um momento, mas pelo visto é certa em seus objetivos. Pegou o papel e olhou para mim.

    ― Não quer pensar mais um pouco? Eu não sou tangível e nem visível para os outros. Além de que não tenho permissão para usar minhas bençãos, você vai estar sozinha nisso ― disse.

    ― Eu vou ter que ganhar dinheiro, de uma forma ou outra.


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