Índice de Capítulo


    Então, esses são os nomes de todas as Bençãos existentes? As paredes inundadas de palavras pequenas, algumas em linguagens que eu conhecia, e outras não. Meus olhos não me enganavam.

    Os nomes dos heróis também eram familiares, exclusivamente um, a Estrela da Fantasia. E seus nomes eram respectivamente: Tragédia, Comédia, Mistério, […] além da citada anteriormente. A familiaridade era intensa, e eu sentia isso do fundo da minha alma.

    Era como se eu estivesse ligada a esses seres, e os meus poderes divinos apenas concordavam comigo.


    [Fantasia está alegre em encontrar seus parecidos!] 

    Estava alegre, não era a única realmente a estar nessa situação.

    — Daiane, você se esforçou muito para isso. 

    Virei-me para ela, ficando surpresa com o que segurava. Daiane tremia, e em sua mão, uma faca.

    Não conseguia compreender a gravidade dessa situação. 

    — S-Seven — gaguejava. — M-me perdoe. 

    — Espera, Daiane, se acalme. — Afastava-me dela lentamente.

    Não parecia ter experiência com facas, e muito menos tentando matar alguém. Tinha que ter algum motivo para estar segurando aquilo.

    Sabia que ela não poderia me matar, afinal, eu controlo metais. E entre sua velocidade e a minha Ferromancia, eu confiava em meu poder.

    — Por favor, abaixe sua faca. Você não é assim, Daiane.

    — Eu estou cansada, Seven! É sempre essa mesma coisa.

    Ela começou a chorar. 

    E mesmo chorando, tentava esconder suas lágrimas. Limpando com um pouco de sua roupa.

    — Não tem necessidade disso! Podemos apenas conversar!

    — Se pelo menos tudo fosse resolvido na conversa… — Ela apertou a faca. — Invoque Psyche, Seven!

    Então ela estava com isso na cabeça. Um evento que aconteceu há mais de um mês. Aquele dia em que lhe ajudei com suas feridas, após chegar em Lótus naquele estado.

    É pelo… O que falei?

    Ela não gosta de Psyche?

    — Calma, Daiane! Por que eu devo invocar Psyche?

    As minhas suposições estavam corretas. Ela não queria fazer aquilo. Se tivesse mesmo em sã consciência, lembraria o que posso fazer.

    Mas me pergunto se eu fiz a coisa certa em falar sobre meus poderes divinos para ela naquele dia. Apenas respondi porque a sua expressão era tão dolorosa que… machucou meu coração.

    É egoísmo dizer isso? Espero que não. 

    — Ela… ela é a única que pode me ajudar, droga! 

    Então, seu conhecimento vai além de saber o nome desses poderes. Daiane, você esteve se esforçando esse tanto para o quê? E por que apenas Psyche poderia lhe ajudar? 

    Suas frases faziam menos sentido a cada segundo que passava.

    — Se ela fizer aquilo que os livros disseram, tudo vai acabar. Ninguém mais vai sentir a dor de ter nascido com essa merda! 

    — Eu não entendo ainda, Daiane!

    — Então vai ser assim, não é?

    — Calma! 

    Andei tanto para trás, que foi suficiente para dar de cara com uma estátua. A comédia. Sua estrutura estava completamente destruída na parte da boca, restando apenas seus olhos e cabelos de seu rosto.

    Essa visão bizarra, combinada com a situação de Daiane, apenas me deixava paralisada. Eu sabia que ela não conseguiria me machucar, mas o seu motivo era claro.

    Ela sabe de algo que não sei sobre minha Benção. Seu conhecimento era valioso, mas entre salvar ela e seu saber…

    Corri para ela, sem me importar com o que segurava. Seus olhos se arregalaram ao ver minha ação, e a sua adaga tremeu cada vez mais.

    Mas, ao encostar nela, o ferro da lâmina se dispersou no ar. Ela parecia aliviada com isso acontecer.

    A abracei, como se não houvesse amanhã. Daiane imediatamente soltou o cabo que restou, sem lâmina nenhuma. 

    Seu choro era alto. Ela não tinha vergonha de escondê-lo, como naquele dia. Sentia que finalmente havia alcançado, mas, ao mesmo tempo, a sensação de desconfiança emergia.

    E se…?

    — Mãe… pai… me desculpe — sussurrou em meio ao seu choro.

    Coloquei a mão sobre minha barriga, após sentir uma grande pontada nela. Minha mente esvaziava levemente, mas me mantinha de pé.

    — S-sangue?

    Ela tinha escondido outra arma, mas dessa vez, não era metálica. Por isso, meus sentidos não avisaram de uma segunda.

    Havia baixado minha guarda, e dessa vez, esperava não ser fatal.

    Em sua mão, segurava uma estaca de madeira, afiada o suficiente para perfurar o corpo humano. Seus olhos não mostravam arrependimento, mas sim libertação.

    Uma linha de raciocínio se rompia. Essa estaca definitivamente não era normal, tinha mais alguma coisa.

    Minha visão ficou turva.

    Não doía, o choque era tão grande que toda a dor foi totalmente amenizada. Mas o sangue não parava de escorrer.

    Cof…

    Sangue foi expelido de minha boca, e no instante em que percebi, já havia caído ao chão.

    Minhas pernas perderam a sua força, meu corpo esfriava. Conseguia manter minha consciência de pé por um único fio, que estava se rompendo assim como todos os outros.

    A dor se transformou em algo crescente, invadindo todos os lugares a que podia ir.

    Ela largou o pedaço de madeira, talvez percebendo o que havia feito.

    Mas na minha frente eu podia ver uma mensagem.


    [Psyche atingiu suas condições de uso, deverá ser usada?]

    Eu não estava em uma batalha.

    Não queria machucar ela.

    Mas essa situação não me deixava escolhas.


    [Contratante recebido.]


    [Ela está aqui.]

    Me projetei para fora do meu corpo, intacta. Fiquei surpresa de que, por um pensamento intrusivo, a Benção realmente foi ativada.

    Me arrependi imediatamente de minha decisão.

    — Ei! Não, não! Me volte ao meu corpo!

    Ele estava diferente de quando Damien apossou. Com o metal retirado da adaga, o ser fez um elmo, que cobria parcialmente seu rosto. 

    Não, eu não quero que ela se machuque.

    — Ser imundo. O que te faz pensar que pode chamar a essa terra? — disse o ser.

    Daiane lentamente se agachou, demonstrando respeito a quem quer que seja. E em todo esse momento que fiquei com ela, essa situação foi uma das poucas em que ela sorriu. 

    Ela tinha alcançado o seu objetivo, que poderia ser impedido facilmente se eu não tivesse me deixado levar.

    — Senhora das Almas… — Começou Daiane. — Assim, eu lhe mostro respeito à sua aparição.

    — Você ainda não me disse por que me chamou.

    Ela soluçava.

    — Utilize a sua habilidade única…

    Eu nunca havia ouvido falar sobre isso, então o que era? Mas não era uma hora boa para perguntas.

    Cheguei mais perto do meu corpo, batendo nele.

    — Cancele! Cancele imediatamente isso! — Implorava.

    — Hahaha! Fantasia, você tem uma ótima história acontecendo aqui. — Sua risada maléfica ecoou por toda a sala. — Então, você quer que eu utilize A Vigarista de Almas, não é? Corajosa, nem deve saber o que isso significa, afinal.

    — Eu sei o que isso significa! Faça isso como um dia fez. 

    Psyche abriu um sorriso malicioso em seu rosto. Ela tinha acabado de achar uma nova presa há muito tempo, e provavelmente não iria perder essa oportunidade.

    — Não! Saia de meu corpo já! — gritava em desespero.

    — Você faz muito barulho. Sua encarnação parece uma trombeta dessa vez — Ela estalou os dedos, e um tampão de boca apareceu em minha cara. — Você é interessante, eu confesso. Mas o que tens de oferecer para mim?

    — Eu posso oferecer minha sabedoria. 

    — Uma Condessa que quer a todo custo perder seu título. Realmente inesperado, todas as outras transformaram o mundo humano em caos. 

    — Eu sei, Senhora.

    — E você quer mesmo apagar a linhagem delas para sempre? Sua coragem é imensa.

    — … Eu sei.

    — Pois bem, farei o solicitado.

    E naquele instante, o meu mundo parou.

    O que eu me lembro dos últimos segundos antes de apagar completamente, foi olhar para Daiane, totalmente coberta por lágrimas. Mas em algum lugar desse oceano de tristeza, ela havia encontrado sua liberdade.

    — Agradeça-me quando acordar, Estrela da Fantasia — disse Psyche.

    E a minha visão escureceu. 


    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (5 votos)

    Nota