Capítulo 42: Medo Do Escuro
“Daqui a cinco dias, uma nova expedição será feita. E agora iremos ajudar outra região, o oeste.”
Ao escutar isso, havia ficado muito confusa. Novamente, outra expedição? Estava traumatizada o suficiente da última, não sei se aguentaria outra.
Mas, se é isso que tenho de fazer, não posso contestar.
“Eles pediram ajuda para concluírem uma Torre há uma semana, e dessa vez decidimos mandar o Herói de Lótus para ajudá-los. Só tome cuidado com uma coisa, Seven, terá outro igual a você nessa expedição.”
Chatice.
Mas pelo menos ia conhecer outro herói, dessa forma, poderia pedir informações para ele. A curiosidade bate em pensar como será que ele é…
Mas vamos tirar o foco disso.
— Aconteceu algo? Sua cara está meio… — disse Gaia.
Tomei um leve susto. Por um breve momento, deixei-me levar por pensamentos intrusivos.
Ela estava comendo um pastel, enquanto andava ao meu lado nas ruas de Azaleia. Estávamos querendo ir atrás de uma casa aqui, afinal, morar em um espaço apertado como aquele é um pouco ruim.
— T-tá tudo bem! Só me perdi em alguns pensamentos — respondi.
— Fala da missão que te deram? Sinceramente, achei muito perigoso.
— … Sim, é sobre ela. Mas, por que perigoso?
— Eles vão querer impedir que ocorra a fratura em uma torre muito forte. Serão mais de cem pessoas apenas para adentrar aquele local, incluindo as duas Estrelas.
— Se não me engano, deram até um nome para aquela torre — falei.
— Positivo.
Vai ser realmente um tempo difícil, talvez devesse treinar um pouco mais para estar preparada o suficiente.
[Todas as informações foram recebidas.]
— Gaia, como você sabe de tudo isso? — perguntei.
Ela logo se embaralhou completamente. Uma pergunta repentina e certeira de minha parte a quebrou.
— Ah… é que… mas aí… — Seus movimentos não ajudavam a situação.
Gestos engraçados, que me fizeram rir instantaneamente. A forma com que agia havia mudado desde a primeira vez que nos encontramos, ela estava se soltando cada vez mais.
Acabei olhando algo que me chamou atenção em nossa caminhada; uma barraquinha que não estava lá na manhã anterior. Apoiada na calçada, era feita de madeira e panos roxos.
A aproximação foi rápida, como um piscar de olhos; parecia até mágica. Dentro da pequena barraca havia uma mulher encapuzada.
O sentimento de familiaridade com ela era evidente para mim, mas ainda assim, não lembrava de onde. Apenas vestia sua longa capa violeta. Os detalhes de sua vestimenta tingidos em cor ouro apenas davam um ar mais misterioso à barraca.
Não adentramos e nem olhamos muito, Gaia nem ao menos ligou para a estranha estrutura. Era como se não a enxergasse mesmo.
A moça fez um gesto, como se quisesse que eu entrasse. A forma com que fez foi bizarra, então dei dois passos para trás.
Ela sorriu abaixo de seu capuz, sorriso esse que viraram gargalhadas logo após. Gaia, ainda assim, não a escutava, apenas me observava com uma cara confusa.
— Olá, criança. Que tal entrar aqui e conversarmos? — falou a misteriosa mulher.
Seu jeito de falar me lembrava aquele homem, será que eles tinham alguma ligação? Não, definirmos não.
Ele não deixaria algo passar assim, e essa situação deixava tudo mais suspeito; afinal, ele nunca havia aparecido no mundo real.
Sombras apareceram por trás da barraca, que, de uma vez só, arrumaram-se em formato cupular. Foi repentino, rápido. Ações que não me deixaram reagir o mínimo que fosse.
Era como se todo o tempo à minha volta tivesse paralisado no mesmo instante. Um evento que só havia visto ocorrer uma vez, impossível para meu pensamento ocorrer uma segunda sem ser por intermédio de Damien.
Corri, tentei desviar e fugir antes que aquilo me alcançasse. Mas minha velocidade não fora o suficiente, e nunca foi.
Um lugar escuro logo dominou todo o local, o sentimento de solidão subiu em minha pele.
Não estava despencando infinitamente, apenas flutuava em um ambiente escuro. Estava sozinha, pelo menos até sentir uma mão na minha costa.
O ar daquele local era áspero, impossibilitando a respiração completa. Me sentia sufocada, a cada segundo que passava era um tormento a mais.
Eu não tinha medo do escuro, pelo menos era o que achava. O grande abismo deixava-me ansiosa, suando frio.
Não era igual às outras vezes que o enfrentei, agora ele não possuía nada; um eterno vazio. E esse conceito me assustava.
Não… eu não tinha medo do escuro.
Me abaixei, colocando a mão sobre meu ouvido. Não podia tapar o outro, isso me incomodava; fazia a ansiedade tomar todo o meu corpo.
Os barulhos me incomodavam, e o silêncio era como uma facada completa em meio peito.
— Não tenha medo, minha criança… Não tenha medo, pois aqui estou…
Uma cantiga que não sabia de onde teria vindo. Apenas escondida no fundo, de meu subconsciente; e foi o suficiente para acalmar lentamente o meu coração.
— Sempre estarei ao seu lado… Sempre te apoiarei em todos os passos… O escuro vem pra te assombrar, mas eu cheguei para te ajudar […]
Não era eu que cantava naquele momento.
— A noite vem, a noite vai, mas seus sonhos serão legais…
Repetia seus versos incessantemente, apenas na tentativa de escapar de uma realidade momentânea.
— Mas quando o medo te assombrar, você me chama para assustar… A sua força vem de dentro… confie em si a todo momento.
— Eu não tenho medo dele, eu não tenho medo — disse, soluçando.
Podia sentir meus dentes rangendo, minha carne tremendo, o medo me dominando e meu coração voltando a bater mais rápido.
Não era para ser assim. Vamos… cante a música novamente…
— Não tenha medo, minha criança… — E como era o resto?
Não lembrava o que tinha acabado de cantar, esse sentimento de inutilidade me deixou ainda mais desesperada.
Engasgava com a saliva de minha boca, tentando mais uma vez relembrar a cantiga que acalmou meu coração.
Cof… cof!
Sentia todo meu corpo coçar, cada parte, todos os cantos. Aquilo me impossibilitava de pensar direito, de tentar entender a situação.
Até que, de repente, senti uma grande mão me puxar. A luz surgir dentro daquele ambiente foi uma salvação.
Um alívio correu em minhas veias, e a ansiedade se esvaiu. Gaia havia me puxado e me salvado novamente.
Mas não sabia o que havia ocorrido, e muito menos queria entender esse fenômeno. Estava naquele momento perplexa com o que havia passado.
Via Gaia em minha frente, mas não escutava suas palavras. Apenas um zumbido forte, que, por mais alto que fosse, não tinha forças o suficiente para combater seu volume.
Ela me balançava, tentando chamar minha atenção desesperadamente. Seus lábios queriam realmente me dizer algo.
Gaia percebeu em um certo momento que seus esforços eram inúteis, uma vez que as respostas obtidas foram zero. E então, como um último gesto, me abraçou.
Não sabia o que tinha de diferente dessa vez, chutava a situação, pois meu coração se acalmava rapidamente.
Minhas forças eram zero para retribuir. Estava caída ao chão, e Gaia me abraçava com toda a sua força.
Minha visão embaçada logo se focou, e tudo que pude ver em primeiro lugar foi uma figura misteriosa. Ela estava em cima de um dos telhados ao fundo; seus olhos brilhavam para mim, apontando o seu interesse.
Uma estatura infantil, que, ao mesmo tempo, se escondia por trás de uma máscara estranhamente triste.
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