Capítulo 43: Uma Quase Tragédia
— Gaia, como você sabe de tudo isso? — perguntou Seven.
Acabei me desajeitando completamente. Uma pergunta simples foi totalmente certeira no que estava tentando esconder.
— Ah… é que… mas aí… — Minha boca não me ajudou nessa hora, embaralhando todas as palavras que da mesma saíam.
Como será que ela reagiria se soubesse que eu meio… acabei espiando a conversa da santa? Suponho que não seria nada legal; então vou deixar esse detalhe oculto por enquanto.
Estava divertido caminhar ao lado dela.
Dessa vez, viemos passear pelas ruas na espera de encontrar uma casa e sair do barraquinho proporcionado a Seven. Não gostava da ideia, afinal, morar aqui é uma péssima opção.
Mas não pude negar a cara que fazia, seus olhos estavam me observando com tanta intensidade que apenas desisti de rejeitar a ideia. Se fosse para recomendar um ótimo local, eu mencionaria as bandas do oeste, banhadas pelo Grande Mar.
De qualquer forma, se ela estava feliz com essa pequena ideia, então eu também estava. Não quero cometer mais erros em relação a ela.
Quero me desculpar, dessa vez apropriadamente, então faça o que quiser; eu lhe apoio.
Cogitei em pegar na sua mão, mas hesitei por vergonha. Ela andava ao meu lado naquela calçada fria.
Naquele horário, os habitantes de Azaleia estavam fechando suas lojas – alguns voltando ao trabalho e outros tendo seu pequeno encontro de casal. A cidade estava viva nesse tempo que estávamos, diferente da última vez.
Seven, eu realmente fico feliz que esteja vendo essa face do mundo, e não a que eu conheci. Vou criar um lugar em que seu sorriso possa ser protegido, sem que ninguém a machuque.
Quando finalmente tomei coragem, toquei levemente em sua mão. Mas não o suficiente para “ficarmos de mãos dadas” como diriam as pessoas.
Mas, a sua reação, ou melhor, a falta de sua reação, me colocou em alerta instantaneamente. Seu corpo havia parado de se mexer.
Havia se mantido intacta, imóvel. Seus olhos estavam sem alma, diferentes do que havia me mostrado.
Entrei em desespero instantaneamente.
— Ei! Seven? — A balançava no meio da calçada.
Algumas pessoas passavam por ali, e elas podiam apenas me olhar com estranheza. Não era a hora de pensar na vergonha que estava passando, pois eu conhecia aquela situação que Seven estava passando.
Não havia sentido nenhuma presença indiferente por perto, talvez meus sentidos tenham falhado?
Olhei para todos os lados, todos os cantos. Cima e baixo, esquerda e direita.
Te encontrei.
Você era familiar. Sua roupa infantil e cômica, como a de um palhaço, me deixava ainda mais atordoada. Mesmo sem saber seu nome, era facilmente dedutível pela máscara.
Que droga…! Mais uma vez, não percebi os pequenos indícios. Aquela criança com a máscara feliz em Lótus foi a primeira pista. Então, me pergunto o que ela falava com a santa Samira?
Não descobri nada.
[A Marionetista foi utilizada.]
Um pequeno portal surgiu próximo à minha mão, da qual lentamente surgiu uma lança. Seu refinamento era belo, assim como havia imaginado.
Me desliguei de Seven por um instante, sabendo que era inútil chamar ela.
A lança em minha mão insistia para ser jogada contra o alvo, e então atendi o seu chamado. Com toda a minha força, taquei em direção à máscara da tristeza.
— Quê? — Não acreditava no que via, seus movimentos tão rápidos desviaram facilmente de minha arma.
Que droga…
Eu deveria imaginar que sua força estava além do normal. Mas aquilo não fazia sentido; por que ele estava interessado em Seven?
Todas as pessoas ao redor da gente começaram lentamente a paralisar. Seus movimentos foram levemente parando, como se pudesse desacelerar o tempo.
Havia garantido que nossa distância era grande, mas ainda, sim, não foi o suficiente. Na menor fração de segundos, a criança estava em minha frente.
Sua aura melancólica e ameaçadora era demais para mim, foi como se tivesse parado como as pessoas, mas ainda podia ver o que fazia.
Não mostrava nenhum sinal de hostilidade, apenas andou com as mãos nas costas. E, em direção a Seven, analisou toda a sua estatura.
Odiei isso.
Não gostei nem um pouco de sua ação.
Então, rompendo o efeito, corri para ele.
O soco que tentei desferir foi tão forte que me fez perder o equilíbrio. E, como imaginei, também desviou de meu ataque novamente.
Ele havia terminado seu trabalho, e no mesmo instante voltou para o telhado de onde veio. Suas intenções não foram claras, mas com certeza não eram boas.
Me levantei, olhando com ódio para seu rosto. Aquela máscara estranha me lembrava apenas de sua contraparte que havia visto antes.
Lutar nesse momento pode acabar ferindo as pessoas ao redor, o que seria uma catástrofe.
O tempo corria novamente, e Seven caía ao chão. Percebendo sua queda, segurei pela gola da camisa.
Não pude impedir por completo, mas havia amortecido o impacto. Seven completamente confusa com o ambiente em sua volta.
Eu sabia o quanto aquela habilidade era predadora.
— Seven! — A abracei com toda a minha força.
Coloquei minha mão sobre sua cabeça, tentando impedir que forçasse seus olhos contra a luz.
— Respira… vamos! Relaxe, eu estou aqui — murmurava em desespero.
Naquele pôr do sol, essa era a pior coisa que poderia imaginar. Meu mundo estava se fechando.
Os vários pensamentos que vinham em minha mente apenas me atrapalhavam, pois nenhum deles conseguiria resolver essa situação.
[O Portão Das Marionetes está se ativando!]
Farei tudo o possível para lhe acalmar, mesmo que fosse necessário utilizar essa Raiz.
Havia trazido Seven a um local que estava frequentando em segredo. Um pequeno monte, não tão distante de Azaleia, mas localizado dentro da floresta.
Sentia o vento frio, mas não era esse o ponto que tinha vindo mostrar. O sol estava se pondo naquele morro.
Coloquei Seven em meu colo, baixando sua cabeça sobre meu ombro. Uma vez que fiz isso, logo desabou em choro.
— Gaia…! — gritava.
Suas lágrimas de medo eram facilmente escutadas a longas distâncias. Os seus soluços mostravam o quão real era sua situação.
Não sabia o que havia visto dentro daquela bolha, mas independente do que seja, é algo ruim. Uma grande tragédia criada dentro de seu subconsciente que nem o mais forte dos homens poderia aguentar.
Pode chorar, Seven.
O bater de seus dentes contra minha pele de madeira provavelmente a acalmava. E apenas com essa situação, pude saber que teria de trocar essa roupa mais tarde.
Provavelmente ela vai ficar totalmente suja de lágrimas e catarro.
Havia me aliviado um pouco, Seven lentamente retomava seus sentidos e meu objetivo era vagarosamente cumprido.
— Senti tanto medo… tanto medo! Mas tanto! — exclamou Seven.
— Eu sei… — Continuei a acariciar sua cabeça.
Apenas digo que vou encontrar quem um dia te machucou, mas nunca encontro. Qual é a minha função se não posso fazer nada disso?
O seu rosto foi marcado, assim como o que fez a Seven.
E quando eu lhe encontrar…
Assim que parou de chorar, a situação havia ficado totalmente desconfortável.
Seven, já sentada ao meu lado, não falava nenhuma palavra. Apenas observava o sol no céu, quase se pondo.
Eu quis começar a conversa, mas a minha covardia não permitia. Aquele era o momento certo mesmo?
Um local vazio, sem interrupções.
Toquei em sua mão.
— Seven… será que podemos conversar?
Palavras que saíram da boca para fora; que gostaria de retirar. Mal sabia o quanto iria me arrepender delas.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.