Capítulo 44: Eu Não Quero Ouvir Sua Voz
Quem era aquela pessoa?
O que ela queria?
Eu estava tão aterrorizada.
Por sorte, Gaia me acalmou. Ela me trouxe para um lugar que não conheço, mas belo.
Uma paisagem da vasta floresta era o que eu via. A harmônica melodia dos pássaros ali perto abençoou meu ouvido.
É claro que o sentimento ruim ainda não tinha passado. A visão daquela máscara estava grudada em minha mente, e não sairá tão cedo.
— Seven… será que podemos conversar?
Ah… então ela estava pronta para falar.
Os pássaros que antes cantavam, agora haviam parado. Assim surgiu um silêncio desconfortável em cima daquele morro.
Seu corpo tremia e gaguejava bastante. Era como se tivesse medo de conversar comigo; afinal, eu fiz realmente algo tão ruim assim?
Eu queria responder não. Talvez se as coisas apenas continuassem assim, seria muito melhor. Mas, o meu lado lógico dizia que era necessário.
Desviei o olhar de seu rosto, arrumei meu cabelo e olhei para a paisagem. A forte brisa não me acalmava nem um pouco, apenas me deixava mais nervosa com o que iria sair daquela situação.
— Gaia.
— Huh? — respondeu-me, instintivamente.
— Você sabe o que acabou de acontecer? — perguntei, tentando evitar o assunto um pouco mais.
Ela hesitou.
Então Gaia sabia o que havia acontecido, e talvez até quem era aquela pessoa. Eu não queria acreditar nisso.
Existem muitas coisas que não sei, mas isso não significa que irei ser levada como uma marionete nesse jogo.
Crack!
Escutei um som de algo quebrando, mas, quando olhei para todos os lados, não vi nada. Era como se tivesse vindo da minha mente, ou até do mais profundo pensamento meu.
Você é forte, Seven.
Aguente mais um pouco.
— Gaia, você realmente sabe o que houve?
— …Sei — murmurou.
— Talvez… até quem me atacou? — Por favor, diga que não.
Houve outro momento hesitante de sua parte. Sinceramente, eu queria poder chorar novamente; mas todas as minhas lágrimas já haviam sido jogadas contra sua roupa.
Crack!
Novamente. Mas dessa vez sabia que era de minha mente. Eu não quero continuar essa conversa, sabendo exatamente o que me espera.
Eu estava me levantando, quando Gaia agarrou meu braço.
— Olha, Seven. Se eu quisesse, eu lhe cont–
— E o que então? Para você simplesmente fugir? Estou cansada já! — gritei.
A sua expressão mudou, parecia que havia entendido o seu erro. E mais uma vez, Gaia tinha falhado novamente.
Seus olhos se arregalaram.
— Você foi embora Gaia. Me deixou só; sem dar uma única explicação de sua partida.
— Eu sei, mas…
— Mas? É só isso? Eu escrevi todos os dias, esperando você voltar. E quando finalmente volta, tenta ir embora mais uma vez… e mais uma vez. — Segurava o meu choro. — Estive feliz por ter você de volta, mas você retornou apenas para esconder mais coisas?
— Não! Claro que não!
Apertei forte minha camisa, tentando descontar a vontade de chorar em um pano qualquer.
— Então fale! Fale, Gaia. Me diga e não esconda mais coisas para mim.
— O mundo é cruel, Seven! Não é fácil. Eu quero lhe proteger para que você não veja o mesmo que eu!
Crack!
— E para isso fugiu? O que você fez, Gaia?
Ela não respondeu.
Evitou meu rosto, mordendo seus lábios. Era um momento doloroso para ela, mas não estava em seu corpo para saber sua dor. Apenas sentia o incômodo do meu coração, e isso era o suficiente para dizer aquelas palavras.
— Eu… não aguentei ver aquelas cicatrizes — sussurrou.
Ah…
Crack!
— Foi por isso? Então, você realmente se incomodava com elas…
Eu quero me esconder.
Eu quero fugir.
Eu quero desaparecer.
Eu quero sumir.
Era doloroso, uma dor sentimental que não podia ser combatida com um escudo. Aos meus olhos, não podia reconhecer a pessoa que estava à minha frente.
Chorei.
Me ajoelhei na neve.
As lágrimas derretiam boa parte do gelo, enquanto algumas caíam em minhas vestimentas. Eu não queria ser a bebê chorona, mas era inevitável.
Por quê? Por que meu coração está assim?
— Claro que não! Eu apenas senti raiva de quem te machucou, mesmo que eu não o conheça. Então…
— Mas adiantou? Você encontrou quem fez? — perguntei.
— …Não — respondeu-me.
Sua expressão nesse momento era inalcançável aos meus olhos. A forma com que pensava era totalmente diferente da minha; mais cruel e menos emocional.
— Então realmente não adiantou de nada. Você simplesmente foi embora.
— … Eu pedi demissão. Acabei saindo da companhia… — Gaia apertou a neve que se estendia no chão.
— E não voltou. Suponho que nada deva adiantar, se você me odeia tanto assim.
Crack!
O sol caía e a noite aparecia no céu. O pior momento para uma discussão acontecer.
O céu tão lindo não contribuía em nada no ambiente. Os pássaros silenciosos e o vento, que agora tinha parado, simplesmente eram um intensificador das flechas que atirava.
— Você não faz sentido… — murmurei.
Ela estendeu sua mão, mas a sua covardia não a deixou continuar. Em troca, apenas observou o meu choro, sem falar uma única palavra.
— Eu sei… — sussurrou.
— “Eu sei”. Você realmente sabe, Gaia? Me importo com você, com o que você fez! Você não é só uma simples ajudante para mim — Estava dizendo agora da boca para fora, exalando todos os sentimentos que um dia foram guardados a sete chaves.
Ah…
No momento em que disse isso, não consegui ver sua expressão. São palavras que iriam me fazer sentir arrependimento de ter dito elas, e eu sabia disso.
— Seven… por acaso…
Não, não sei do que fala. Então, fique em silêncio, por favor.
— Garanto que não é o que pensa! — Doía, mas doía dizer muito isso.
Nunca parei para questionar o que realmente sentia por Gaia. Se era amor, compaixão, empatia. Mas eram sentimentos bons, que aqueciam meu coração.
E se fosse realmente o amor, queria entender por que o mesmo era tão doloroso. Porque o mesmo teria de fazer essa situação acontecer. O porquê do mesmo teria de brincar com meus sentimentos.
Será que algum dia esperei que fosse mútuo?
Não, definitivamente não.
— Me desculpe… eu não sabia que você se sentia assim. — Não importava mais.
— Desculpas e mais desculpas… eu estou totalmente cansada.
Sua expressão, agora visível, mostrava o quanto odiava essa ideia. Ou melhor, repulsa. Seus olhos, cheios de temor pelo conceito, deixavam claros os seus pensamentos.
Eu ultrapassei uma linha que deveria não ser ultrapassada, em hipótese alguma.
Crack!
Mais uma vez, escutei o último estalo. Dessa vez, tinha certeza de onde vinha, e os motivos de estar se quebrando. O meu coração estava rachando, pedaço por pedaço.
E não sabia até onde teria de aguentar.
Eu simplesmente não queria acreditar.
Simplesmente queria que você fosse o ideal em minha mente.
Mas, as coisas na realidade não funcionam assim.
Me levantei, procurando a cidade.
Assim que meus olhos a encontraram, logo comecei a andar. Fiz como tinha pensado: ir embora daquela situação.
Não estava sendo covarde, pelo menos. Estava protegendo meu coração de mais ataques. Afinal, ele já estava em pedaços e não sabia quando poderia se recuperar.
— Eu vou primeiro, tá? Vejo-lhe à noite no festival… talvez.
Mesmo assim, acreditava um pouco que as coisas poderiam continuar dessa forma. Fingir que nada aconteceu, fingir que simplesmente não escutei nada.
— Seven!
Ela agarrou meu braço.
Por favor, pare. Eu não quero ouvir sua voz.
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