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    Naquele entardecer, o sol já tinha sido coberto pelas nuvens. O céu estava nublado, e as gotas de chuva já haviam começado a cair.

    — Argh… Eu odeio chuva.

    Mesmo com a proteção certa… eu ainda odiava a chuva. Molhava tudo! Onde já se viu isso dar certo? É tão… chato. Molhar o corpo só é permitido no banho, não na rua! 

    Que droga, eu odeio isso.

    — É meio chato mesmo, não acha? — disse a mamãe, colocando a mão na minha cabeça. Estávamos voltando para casa, quando a chuva começou.

    O dia foi muito divertido mesmo! Mas essa maldita…

    — Esquenta não, Karina. É só uma chuvinha — retrucou o papai. Sua altura permitiu que segurasse o grande guarda-chuva.

    Estávamos um pouco longe da pousada, mas tinha certeza de que o caminho seria divertido apenas por estar com elas. Apoiei minhas mãos nos bolsos de minha calça, enquanto a sacola com meu bichinho de estimação balançava.

    Foi o melhor presente que poderia ter recebido. Um hamster! Não poderia pedir animal melhor do que esse comilão!

    — Esse óculos combinou com você, amor — comentou papai. — Fico feliz que tenha dado tempo de comprar ele para você hoje.

    Ela puxou mamãe para mais perto, dando-lhe beijinhos melosos. 

    Que nojo!

    Mas eu tinha que concordar, esses óculos de lentes vermelhas combinaram muito com ela. 

    — Não é tão ruim quanto parece… me remete a aquele outro que usava — respondeu a mamãe. 

    Viramos outra rua em direção à pousada. Passamos tanto tempo naquele local que já considerava minha casa… minha primeira casa.

    Talvez devesse falar com a mamãe sobre comprar uma casa só nossa. Por mais que gostasse de morar lá, estar cheia de gente me deixa um pouco incomodada.

    A cada passo que dávamos em direção da pousada, uma pequena silhueta se formava. Era uma pessoa sentada em um dos bancos próximos.

    — Por que aquela pessoa está no meio da chuva? — indagou mamãe, forçando os olhos.

    Apenas pude identificar quem era quando nós nos aproximamos do banco.

    Era… Kaori.

    Ela estava sentada naquele banco, de cabeça baixa.

    Mas por que?

    As gotas caíam por seu corpo, molhando-a por completo. Podia supor que ela estava ali desde o começo da chuva, levando em conta que nada estava seco.

    Papai e mamãe perceberam imediatamente quem estava ali. 

    Foi uma aproximação calma, tentando ainda entender a situação através de olhares confusos. Talvez… algo muito ruim tenha acontecido com ela.

    As poças eram desfeitas com nossos passos e, por consequência, acabaram alertando-a sobre nossa presença.

    — Karina…? — perguntou Kaori, coçando sua outra mão. — É você mesmo?

    Olhos sem… alma.


    — Pegue uma toalha ali, Karina, rápido! — gritou mamãe, preparando uma muda de roupas.

    Naquele momento, Kaori estava no nosso quarto da pousada, visualmente abalada. Olhos vermelhos e com o corpo trêmulo. 

    Peguei a toalha no banheiro, me aproximei para enxugar ela. Seus olhos estavam fixos em mim a todo instante.

    Poderia supor que chorou bastante, mas as lágrimas acabaram se misturando com a água da chuva.

    Cheguei mais perto dela, colocando a toalha em sua cabeça. Naquele instante, nossos olhos não se encontraram mais.

    O tempo passava, e as dúvidas continuavam em minha mente. Esfregava a toalha por seu corpo, limpando a área encharcada. Não havia perguntado nada para ela desde que chegou aqui, talvez fosse a escolha certa.

    Só de lembrar dela me olhando com aqueles olhos desolados me deixa… bem arrepiada. Assim que terminei, papai chegou ao quarto com um balde de água quente.

    — Espera! — Kaori se afastou. — O que é isso que vocês estão planejando!?

    Papai colocou o balde no banheiro, vindo para fora logo após.

    — Você tomou um belo banho de água gelada. Desse jeito, um resfriado vem rapidinho. — Estalou os dedos, como se a solução fosse óbvia. — Então, é só se banhar com água quente! Sempre funciona assim.

    — B-banho de água q-quente…? — indagou. Sua voz acalmando de um susto repentino. Logo após, balançou sua cabeça em negação.

    — Olha o jeito que você está falando com ela, Gaia! — Mamãe se aproximou, colocando as roupas em cima da cama. — Venha, querida. Eu vou lhe ajudar.

    Kaori segurou sua mão, quase num instinto, deixando o papai de boca aberta. A mamãe logo a conduziu ao banheiro.

    — Eu fiz uma cara muito ruim? — perguntou.

    Pfft! Sim… você fez uma cara muito ruim — respondi, caindo em gargalhadas logo após. 

    Água caindo, gemidos de dor pela quentura voltaram. E, após bastante tempo, mamãe saiu do banheiro.

    Seus olhos estavam tristes, algo que nunca demonstrou em relação a Kaori até hoje. Um modo muito diferente, parando para pensar.

    Por que ela estava agindo assim? Desde o começo, ela estava mais gentil.

    Pegou a muda de roupas que havia preparado, voltando ao banheiro. 

    — Espera… aquelas não eram minhas roupas? — indaguei, apontando para o banheiro. Ainda não tinha prestado atenção naquele detalhe. Pelo menos não até aquele exato momento.

    — Só dessa vez, né? Não tem problema emprestar suas roupas para a amiguinha — respondeu papai, em um tom provocativo. — E então, como está a relação de vocês duas?

    Se aproximou, quase como se quisesse perguntar em segredo. 

    Eu e… Kaori?

    Meu rosto logo ficou vermelho, o corpo se esquentou junto a esse evento. Como estava minha situação com Kaori? Ruim? Ah, não sei!

    — Muito boa… — murmurei. — Ela é uma ótima amiga.

    Assim que disse isso, Mamãe estava parada com ela à nossa frente. Kaori vestindo roupas que mais combinam comigo, totalmente enxuta e longe de qualquer indício gripal.

    Porém, sua expressão mostrava algo diferente… Apenas por um segundo, pensei ter visto algo em seu rosto. Ela escutou o que eu disse…?

    — Como ela está, amor? — perguntou papai, deitando-se na cama.

    — Bem melhor. Tivemos uma pequena conversa e parece tudo estar resolvido — mamãe conduziu-a até minha cama. — Ah, antes que eu me esqueça, ela vai dormir com você hoje, Karina.

    Que!

    — E-espera! Como assim comigo!? — perguntei, meus olhos acompanhando as duas.

    — Não há espaços para discussão nessa hora. — Mamãe se aproximou, deixando Kaori sentada em minha cama. — Sua amiga teve uma desilusão amorosa, Karina. Que tal ter empatia com ela?

    Desilusão amorosa?

    Ah… Kaori havia mencionado um encontro outro dia…

    Será que…

    Engoli em seco.

    — Tudo bem, mamãe.

    Não sabia como reagir naquela situação.


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